DIGESTIVOS
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Segunda-feira,
4/7/2005
Menos fé e mais razão
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 234 >>>
Também para quem acha que só blogueiro da internet pode ser dândi, a revista da Argumento preparou uma edição com Antonio Callado na capa. Antes de começar, vale tentar chamar a atenção para a presença da livraria Argumento no Rio – algo, naturalmente, inapreensível para quem nunca foi lá, principalmente para leitores de outros estados. O charme que inspirou Manuel Carlos, entre outros (apesar da Globo), talvez não esteja 100% refletido nas páginas da revista – o que, por outro lado, justifica a atitude, digamos, “superior” de não fazer concessões e de não se pautar, at all, pelas publicações de agora. A revista Argumento, embora plena em bons momentos, insiste – talvez por convencimento, talvez por comedimento (quem sabe?) – em fechar-se numa cápsula. “Não é pra todo mundo? Azar de todo mundo”, a frase de Paulo Francis sobre Harold Pinter parece ecoar da primeira à quarta capa. Assim, entender a Argumento – e suas razões – pode ser um exercício de paciência, evidentemente, nada imediato. Mas compensador. Sempre uma rememoração do inconseqüente Jaguar e do até anacrônico Moacir Werneck de Castro; sempre uma crônica erudita ou um artigo mais livre de Ruy Castro e Sérgio Augusto; sempre um papo com um “correspondente internacional” (que, no número 9, pode ser Sílio Boccanera) e sempre um texto republicado que vale a pena (como, atualmente, um Baudelaire poderoso) – todos, em seções que nunca falham, já bastariam para justificar a Argumento e seus esforços (ou o do leitor imagético de hoje). Na presente edição, para entrar num tema contingente, como já se disse, desfilam os dândis: de Cole Porter a Oscar Wilde; de João do Rio a Beau Brummell – e por aí vai. O termo andava esquecido, ou, por outra, gasto, e o time da revista vem em nosso socorro para provar que dândi pode ser até uma coisa boa e não um janota perdido entre aparências e gostos do século passado (ou retrasado). Talvez o dandismo, no que ele tem de mais positivo, se aplique, também, à publicação da mais célebre livraria do Rio. Que ela permaneça nesse impulso, mas que ela, igualmente, busque se comunicar com as novas gerações – são os nossos votos.
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Julio Daio Borges
Editor
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