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Quinta-feira, 7/9/2006
Blog
Redação
 
Pregos

Da mariana massarani, do Muitos Desenhos, um blog que eu descobri só agora...

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Postado por Julio Daio Borges
7/9/2006 às 11h33

 
Nêumanne contra a Wikipedia

O Nêumanne sempre foi um grande amigo do Digestivo. Devemos a ele um dos nossos primeiros reconhecimentos públicos. E o Nêumanne ajudou a inaugurar, junto com o Daniel Piza, o Giron e o Sérgio Augusto, a seção Ensaios do site - cedendo, sempre de bom grado, seus textos para republicação.

Mas eu recebi, por e-mail, um texto do Nêumanne sobre a Wikipedia (ou, em português, "Wikipédia") e me vejo, agora, quase na obrigação de rebater algumas críticas que ele fez à conhecida enciclopédia livre e, mais genericamente, à internet.

Dentro dos temas de sempre do Nêumanne, é, na verdade, mais uma crítica às iniciativas do ministro Gilberto Gil, sistematicamente em direção ao Creative Commons, e aos candidatos do horário eleitoral gratuito (mais especificamente, aos petistas, mensaleiros e sanguessugas, que se (re)apresentam como se nada fosse...).

* * *

Partindo de uma hipótese apocalíptica, Nêumanne começa seu artigo afirmando que vivemos "sob a égide da desconstrução", e da "desinformação" - que o conceito de "enciclopédico" está perto do fim e que a organização do conhecimento está, hoje, "fora de moda".

É verdade que os "desconstrucionistas" de plantão andaram muito em voga no século XX, e eu concordo que a "evolução" das fontes de informação no mesmo período (jornal para revista, rádio para televisão) não contribuiu em nada para a educação do povo. Mas, depois da internet, da WWW e, principalmente, do Google, não dá para simplesmente dizer que "a organização do conhecimento está fora de moda".

Nem entrei na Wikipedia ainda, mas o Google, por exemplo, é um esforço - como certamente nunca houve - de organizar o maior repositório de informações sobre a humanidade até hoje: a internet. E o Google é, coincidentemente, a mais bem sucedida empresa de internet hoje em dia. (E o Google vai dominar o mundo, como a Microsoft dominou, você tem alguma dúvida?)

O tamanho do Google, sua influência e seu valor de mercado são, portanto, a prova de que o desejo de organização, a "fome por conhecimento" e até a ambição "enciclopédica" estão mais vivos do que nunca. Ninguém tem Diderot ao alcance do Messenger (ou do Skype), mas tem o Google e tem a internet. Eu prefiro; e você?

* * *

Nêumanne então introduz subliminarmente alguns conceitos do Creative Commons - um movimento que procura conferir maior flexibilidade ao direito autoral (nos EUA, às leis de copyright) - mas interpreta tudo à sua maneira. Segundo ele, Gilberto Gil estaria, no fundo, trabalhando pela "demolição da autoria" e tirando definitivamente o direito de quem produz de viver da sua própria produção.

Nem vou entrar aqui no mérito de que, no Brasil, só uma meia dúzia (Gil entre os poucos) vive de "arrecadação" de direito autoral. Vou entrar, sim, na discussão do Creative Commons...

Para começar, o Creative Commons não é obrigatório para todos. Depois: quem define o tipo de licença (que determina o "uso" da obra) é o próprio autor. Ou seja: o Creative Commons não acaba com o direito autoral - apenas abre mais uma possibilidade para quem quer compartilhar, mais livremente, sua própria produção.

* * *

Logo adiante, Nêumanne proclama que, atualmente, a "criação estética está submetida à coletivização" e que vivemos "sob o domínio do apócrifo". Então, para ele, a Wikipedia seria nada mais que "uma brincadeira de hackers", e que, devido à "criatividade" (no mau sentido do termo) e às "idiossincrasias" dos autores dos verbetes eletrônicos, a Wikipedia é, em resumo, uma "anti-enciclopédia".

Para início de conversa, ninguém está submetendo ninguém à "coletivização". Na internet, a propósito, os blogs são hoje, pelo contrário (!), a maior manifestação de vozes individuais em muito tempo (ainda, claro, que muitas não tenham nada a dizer e que muitos só ressuscitem ultrapassadas escolas de pensamento...). Depois: embora haja muito pseudônimo na Web, há mais gente aparecendo, no balanço, do que se escondendo - mais assinaturas do que apócrifos.

Por último, a Wikipedia, se for mesmo uma brincadeira, é uma brincadeira séria - que já dura meia década. Não foi fundada por hackers, não é alimentada só por eles e não é possível que o velho Nêumanne não conheça a comparação que a revista Nature fez entre a Wikipedia e a Enciclopédia Britânica... Tanto na profissional quanto na "amadora", em verbetes aleatórios de ciência, foi encontrado o mesmo número de erros. A Wikipedia, portanto, é tão falha quanto a outra.

* * *

Por fim, não é a vitória das "versões" sobre os "fatos" (embora Nélson Rodrigues, por exemplo, preterisse futebolisticamente os fatos: "Se os fatos estão contra mim, azar dos fatos - pior para os fatos".) Os fatos, aliás, nunca estiveram tão à disposição das pessoas como estão hoje (fatos, inclusive, que nem gostaríamos de revelar - fatos que dizem respeito à nossa privacidade...).

A diferença é que, com a abertura dos canais de comunicação, você encontra versões, em número praticamente infinito, para tudo o que quiser. Todo mundo pode, em princípio, dar sua versão de qualquer coisa.

O Nêumanne, volto a repetir, é alguém muito importante na história do Digestivo. E eu sei que sua crítica é, no fim das contas, política (usando, como gancho, a WWW e a Wikipedia).

Mas me preocupa, ainda assim, certa mentalidade, originalmente da classe jornalística, que persiste, para com a internet (como se ela e a imprensa fossem inimigas...). O Nêumanne teve apenas a coragem de expor. O fato - e não a versão - é que os jornalistas estão mais preparados do que qualquer outra categoria para a World Wide Web. Pena que nem todos perceberam ainda...

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Postado por Julio Daio Borges
6/9/2006 às 10h08

 
Jornaleiros


Pois é, depois de meses de preparo, conversas, espera, idéias geniais... (que rufem os tambores) está no ar o mais novo projeto de blog da internet brasileira!

Viajante, anunciando o Jornaleiros que, naturalmente, linca pra nós.

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Postado por Julio Daio Borges
6/9/2006 à 00h17

 
A música em pauta no CCBB

Setembro é mês de discutir música no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB - São Paulo). Dentro do programa Cronicamente Viável, no qual são realizados encontros mensais para discutir a crônica no Brasil, o tema deste mês é A Crônica na MPB . O debate terá a participação da jornalista e escritora (autora de Vozes do Brasil) Patrícia Palumbo, e do radialista, apresentador de TV e músico Kid Vinil, com mediação do escritor e cronista Marcelo Rubens Paiva. Entre os assuntos a serem debatidos estão a música de Noel Rosa, Adoniram Barbosa, Chico Buarque, entre outros autores/cronistas da nossa MPB.

Do popular passamos ao erudito por meio do projeto Caminhos da Música, que em seu primeiro encontro traz o tema: Formação de Platéia em Música. As musicistas Clarice Miranda e Liana Justus pretendem esclarecer ao público informações que uma platéia bem formada deve saber, como: diferença entre sinfonia, concerto e sonata, obras essenciais, as vozes do canto lírico, a orquestra sinfônica e o posicionamento dos instrumentos, principais teatros do mundo, grandes intérpretes da atualidade (regência, vocal e instrumental), entre outros assuntos.

É interessante a iniciativa discutir a formação de público, pois atualmente este é um problema não só para a música, mas também para o teatro, as artes plásticas, entre outras formas de manifestação artística. O precário ensino oferecido nas escolas públicas brasileiras não permite a crianças e jovens adquirir referências para entender importantes obras da história da arte. Dessa forma, são criadas gerações condicionadas a cultuar os ídolos eleitos pela grande imprensa, sem ter acesso à diversidade de produção cultural existente, e sem desenvolver o senso crítico.

Não só para os jovens, discutir a formação de platéia em música também é importante para todos que desejam aprender ou aprimorar seus conhecimentos sobre música erudita, assim como a professores de Música e de Educação Artística, para que possam transmitir esses conceitos a seus alunos. Ambos eventos são gratuitos, com distribuição de senhas meia hora antes do início.

Cronicamente Viável - A Crônica na MPB
Local: Cinema
12 de setembro às 19:30

Caminhos da Música - Formação de Platéia em Música
Local: Teatro
20 de setembro às 19:00

Centro Cultural Banco do Brasil
Rua Álvares Penteado, 112 Centro - São Paulo
Fones: (11) 3113-3651 e 3113-3652

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Postado por Fernanda da Silva
5/9/2006 às 14h32

 
Falsários

Foi segunda passada que nos deu o estalo: "porque não ter um blog?"

Rapidamente, reunião de cúpula: "qual será o nome? a URL? Qual ferramenta vamos utilizar?". Vieram a tona todos aqueles medos tradicionais que bate em blogeiros virgens, vcs sabem como é...

..mas quem diria, ele está no ar!

Dos Falsários - que comentam sobre nós - em seu novo blog.

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Postado por Julio Daio Borges
5/9/2006 à 00h24

 
Castorf ousa ao reler Brecht

Frank Castorf é um daqueles diretores sobre quem é difícil ficar indiferente. Por onde passa é amado ou odiado. Suas ousadas montagens costumam atrair narizes torcidos dos puristas e adeptos da tradição em geral. Com este Selva das cidades, texto de Bertolt Brecht, apresentado neste fim de semana em São Paulo, não foi diferente.

O trabalho de Castorf é marcado por atualizações e leituras pouco deferentes aos convencionalismos. Ele já havia causado algum barulho por aqui ano passado com o belíssimo Estação Terminal América - baseado em Um bonde chamado desejo, de Tennessee Williams - em que havia referências às lutas sociais na Polônia nos anos 80 e canções de Lou Reed embalavam o espetáculo.

Com este Brecht, Castorf e o grupo berlinense Volksbühne foram além em seus radicalismos - para o bem e para o mal. A montagem aposta no humor nonsense presente no texto do jovem dramaturgo (a peça é de 1923, quando Brecht contava 25 anos). É uma das peças de Brecht com imagens mais alegóricas, quase delirantes: narra uma luta imaginária entre um funcionário de uma biblioteca de empréstimos e um madeireiro malaio na Chicago de 1912.

A Selva de Castorf não tem lugar ou época definidos. Sua concepção é livre, carregada de sarcasmo e ironia. Aqui seus personagens não têm vontade de lutar, fazem-no por inércia. Suas vontades são aniquiladas pelo espectro de imobilidade e passividade reinantes. O vazio da cultura e da sociedade como assassinos de nossos ímpetos.

Sua direção é bruta, rústica (e até com alguns exageros). O palco vai ficando entulhado ao longo do espetáculo. E o talento de Castorf para a criação de imagens impactantes encontra poucos paralelos no teatro contemporâneo. Seu hotel chinês, com fundo de luzes vermelhas, é memorável.

Destaque para o elenco alemão, com um nível técnico apuradíssimo, sobretudo nas figuras de Milan Peschel (George Garga) e Herbert Fritsch (Shlink, o negociante de madeira malaio). Fica evidente a competente direção, para a harmonia em um espetáculo de difícil execução. Pena que haja tamanha disparidade em relação aos participantes brasileiros. Nelson Triunfo, embora não seja ator, segura o papel de John Garga com seu carisma. Já Sandra Santos decepciona com uma fraquíssima atuação no papel de C. Maynes.

O registro negativo fica por conta do ineficiente sistema de legendas, que chegou ao ponto de irritar boa parte da platéia. O descompasso para com as falas foi tamanho que quem não conhecia o texto beirou - ou atingiu - o incompreensível. E não é obrigação do público conhecer a obra. A absoluta falência das legendas contribuiu em grande parte para que fosse constante o fluxo de pessoas abandonando o espetáculo em seu decorrer.

Se não tem o mesmo brilho de Estação Terminal América, Na Selva das Cidades ainda assim é mostra do talento de um criativo e corajoso diretor. Uma visão para lá de original de uma obra de um dos grandes dramaturgos do século XX.

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Postado por Guilherme Conte
4/9/2006 às 17h28

 
Contratodos Reloaded

mas então que estou às catas de me reorganizar.

criei dois novos sítios pra agrupar o palavrório em prosa e verso (tipo:desconverso).

é tão estranho... eu me odeio muitão, e sinto vergonha até do espelho. sei lá, até de me ouvir, de me ver, etcs.

e também acho que eu sou a pessoa que menos consegue focar na face da terra. que é tal um pato ou ornitorrinco ou canivete de camelô: faço de quase tudo e quase tudo mal. eu não consigo me achar pra dizer o que eu tenho que dizer.

porém treino é treino e jogo é jogo, né? e treino pai mei deve servir pra alguma coisa quando a gente cair no limbo de torloni e fagundão d'a viagem.

então ao treino.!

os filhotes são os escritos escrotos em prosa e verso. tem coisas legais e ilegais.

vai lá, se não tiver mais muita coisa pra fazer. quem sabe vc se anima e não começa a publicar suas próprias agruras, hã?

escrever não é "tuuuudo" isso que falam pra vc, mas garanto-vos que melhor que palavras-cruzadas, é. ;)

deniseritta, que voltou (ou voltaram?) com seu blog, lincando pra nós.

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Postado por Julio Daio Borges
4/9/2006 à 00h00

 
O poder transformador da arte

Peça de Antonio Ermírio de Moraes quer provar como a arte e a educação podem modificar a realidade social

Heliópolis, maior favela da cidade de São Paulo, abriga uma população superior a 120 mil pessoas. Diferente do senso comum, não é pela criminalidade e miséria que a comunidade é conhecida, mas sim pela Sinfônica Heliópolis, orquestra formada por jovens carentes do local. Este é o mote utilizado por Antônio Ermírio de Moraes para escrever Acorda Brasil!, sua terceira peça teatral.

O espetáculo estreou no dia quatro de maio, no Teatro do Shopping Frei Caneca, em São Paulo, com temporada prevista até 30 de julho. No entanto, o sucesso de público prorrogou as apresentações até dia três de setembro. De carona nesse sucesso, no dia 18 de agosto, Antônio Ermírio lançou, durante entrevista coletiva, o livro Acorda Brasil!, que traz o texto integral da montagem para o teatro.

A obra conta com apresentação do autor, do diretor José Possi Neto e do maestro Silvio Baccarelli - pioneiro no trabalho com a comunidade de Heliópolis - e com interessantes artigos e reportagens publicadas sobre o espetáculo por jornalistas e pesquisadores da dramaturgia brasileira como Newton Cannito, Luiz Fernando Ramos, Neyde Veneziano, Sergio Salvia Coelho, Beth Nespoli, Ivaldo Bertazzo, entre outros. Também há uma seleção de fotos com cenas da peça e dos atores. Acorda Brasil! não será comercializado, foram impressos 1000 exemplares, os quais serão distribuídos para escolas de arte dramática.

Além de Antônio Ermírio de Moraes, participaram da coletiva de imprensa José Possi Neto e os atores Arlete Salles e Petrônio Gontijo. Todo o elenco da peça estava presente no evento, inclusive, os atores e músicos da comunidade de Heliópolis. Durante a coletiva, Antônio Ermírio conta que se aproximou da comunidade no intuito de colaborar de alguma forma; quando conheceu a Sinfônica, entendeu ser essa uma boa opção. A orquestra é um projeto do Instituto Baccarelli, uma organização que trabalha pelo desenvolvimento pessoal e social de crianças de baixa renda e em situação de risco social, por meio de manifestações artísticas.

Petrônio Gontijo, em boa atuação como o protagonista Laerte, declarou ter sido uma alegria fazer este trabalho: "O melhor que pode acontecer com uma pessoa é ela se despertar e a peça prega que através da arte várias pessoas podem chegar a isso. Eu acredito que o teatro tem essa função, de chegar ao espectador e levar algo de transformador a ele." Compartilha do mesmo entusiasmo Arlete Salles, em brilhante atuação como Marta, uma ácida diretora de escola. A atriz confessa ser o tema da peça o motivo que a instigou a atuar, pois ela desejava falar de algo que considera importante para as pessoas.

Ao tratar da precariedade da educação no país, Acorda Brasil! dá continuidade a uma dramaturgia voltada aos problemas do Brasil. Antônio Ermírio de Moraes iniciou como dramaturgo 1996, com Brasil S/A, discutindo os problemas econômicos do país. Em 2000, foi a vez de denunciar o deficiente sistema de saúde em S.O.S. Brasil. Em ambas montagens o autor teve a ajuda de Marcos Caruso para orientá-lo na redação do roteiro. Já em Acorda Brasil! Antonio Ermírio contou com o apoio de Juca de Oliveira.

A Peça
O autor utiliza a estrutura melodramática e personagens um tanto caricatos, desde o início definidos como bons e maus, para contar a história. A única figura dramática que foge desse padrão é a diretora Marta. Ao longo da trama, a funcionária pública preconceituosa e ranzinza se transforma na determinada diretora de escola disposta a lutar pelo direito e por condições mínimas para que seus alunos levem adiante o projeto da orquestra. Essa mudança de atitude só foi possível pelo convívio e resultado do trabalho de Laerte e do professor Romão (Riba Carlovich), ambos sempre confiantes no potencial dos adolescentes.

É por meio do personagem de Romão, na maior parte texto, que Antônio Ermírio expõe suas idéias de esperança, tolerância e organização social para transformar a realidade vigente, visto que os governantes e elite não se preocupam com as disparidades sociais do país. Estes são os principais valores os quais o autor pretende arraigar no espectador durante a peça.

A idéia de utilizar os jovens da comunidade de Heliópolis para atuar foi de José Possi Neto e teve aprovação imediata de Antônio Ermírio de Moraes. O diretor foi feliz na preparação dos atores principiantes, que esbanjam vivacidade no palco. Segundo Possi, uma das principais dificuldades para montagem do espetáculo são as inúmeras mudanças de cenário em curto espaço de tempo. Essa é a mesma impressão obtida em uma primeira leitura do texto, ficando, então, a curiosidade sobre como Possi solucionaria a questão. Para acompanhar a agilidade do roteiro, são montadas estruturas de ferro que percorrem o palco, garantindo a rapidez proposta pelo autor. A iluminação e trilha sonora também foram muito bem executadas, enfim, uma boa produção, compatível com o nível de investimento de um generoso patrocinador.

No entanto, o ponto mais interessante de Acorda Brasil! não está nos detalhes cenotécnicos, mas sim na temática e na interação entre atores e platéia. A cada intervenção musical dos jovens atores/músicos, o público se comove e aplaude calorosamente. O final espetacular acontece quando entram em cena cerca de setenta músicos da orquestra de Heliópolis, regida pelo maestro Edílson Venturelli (no papel do maestro Romam Gupta), tocando desde a Quinta Sinfonia de Beethoven a Aquarela do Brasil. Este é o momento no qual o público, predominantemente formado por pessoas instruídas e com grande poder aquisitivo, se choca com a realidade encenada, percebendo que aquelas pessoas, aquelas histórias, realmente existem.

Embora o problema da educação e da desigualdade social no Brasil seja tratado de uma forma simplista, na medida em que se apresenta como um conflito entre personagens bons e maus, e não como um complexo emaranhado de questões políticas, econômicas e culturais estabelecidas ao longo da formação do país, a iniciativa de discutir um tema de vital importância para a atualidade é válida para não deixar o assunto cair na banalidade, indiferença e letargia que permeiam nossa sociedade frente aos problemas sociais.

Acorda Brasil! - Teatro Shopping Frei Caneca (600 lug.)
Rua Frei Caneca nº 569, 6º andar - Consolação. Fone: (11) 3472-2226. Sexta e sábado às 21:00, domingo às19:00. Duração: 110min. Preço: R$50,00. Até 03 de setembro.

Acorda Brasil!
Antônio Ermírio de Moraes
Editora: Gente - 2006
272 páginas

[3 Comentário(s)]

Postado por Fernanda da Silva
1/9/2006 à 00h53

 
O Joca me adora


Joca mostra como se faz "literatura" hoje (foto de João Wainer)

Joca Reiners Terron me xinga no seu blog, Hotel Hell, sem mais nem menos...

Eu fico contente de estar sendo lido e de estar, finalmente, incomodando a Geração 90. Obrigado, Joca, pela deferência.

Na verdade - que eu me lembre -, nunca falei mal dele especificamente, nem critiquei um livro seu. Ou critiquei? (Joca, infelizmente, não me lembro tanto assim de você.)

Ah, teve aquela vez, em que o avistei na Flip 2004, pensei na Ana Elisa Ribeiro (amiga dele, amiga minha), e terminei chamando o Joca Reiners Terron, junto com outros dois ou três nomes, de escritor entre aspas (em comparação com o Michel Laub...).

Penso que o Joca nunca me perdoou... E continuou lendo, assiduamente, o Digestivo Cultural. Como acabou de terminar a Flip 2006, deduzo que ele vem lendo - há dois anos, pelo menos - minhas críticas à Geração 90 e vem vestindo, sistematicamente, a carapuça.

Vocês me ajudam? "Joca Reiners Terron", em textos meus, aparece apenas três vezes (uma, até, elogiosamente), segundo a busca avançada do próprio Digestivo. Já "Geração 90" aparece, em textos meus, mais de meia-dúzia de vezes (o dobro, portanto).

Ah, teve outro episódio, agora me lembro. Lendo o Mário Bortolotto (eu gosto dele, fazer o quê?), encomendei um livro da editora do Joca - e ele me destratou por e-mail. Disse que não ia mandar a tal coletânea porque, segundo sua própria avaliação (eu nem folheei o livro), só tinha "escritor meia-boca".

Ora, Joca, assim fica difícil. Quando eu tento ler você - e os seus amigos -, você me proíbe... Como quer que eu mude de opinião sobre a sua "literatura" (e a deles)?

Para terminar, o Joca implica com a minha blusa preta de gola alta (e, conseqüentemente, com a minha foto, no meu CV). Joca, francamente: se é pela minha malha preta de gola rulê, eu te arranjo uma igual em troca das suas "obras completas", que tal? Pode ser?

A culpa, pela gola rulê no Brasil, nem é minha: é do Caetano Veloso, que introduziu a moda no Festival da Record, na performance de "Alegria, Alegria". (Você escreve pra Folha, você deveria saber.)

E, ah, ao contrário de você, eu nunca usei "bigodinho"...

(Coloca óculos, Joca. Quem sabe isso não te ajuda a escrever?)

[1 Comentário(s)]

Postado por Julio Daio Borges
1/9/2006 à 00h47

 
Reposta ao Edgard Costa


Perdido: é como se sente o Edgard Costa

O Edgard Costa não gostou que eu falei que ele "se perdeu", no meu texto "Melhores Podcasts", fazendo referência ao seu podcast, o GavezDois.

Não tenho razões pessoais para atacar o Edgard Costa (não o conheço pessoalmente), e nem acho que foi um ataque, estava apenas comentando que "postar" todos os dias, em formato podcast, pode não ser uma boa coisa - porque você se sente na obrigação de postar diariamente e acaba sacrificando seus próprios critérios em nome da última novidade. (Já sofri esse tipo de pressão e sei do que estou falando.)

O Edgard Costa também ficou incomodado, claro, porque eu não incluí seu podcast na minha lista de "melhores". Se ele olhasse bem, perceberia que, de certa forma, ele está lá. Ele é tão citado quanto, ou até mais, do que os outros. (Mais ou menos como aconteceu com o Rafael Lima, quando do meu texto "Melhores Blogs": o Rafael, mordido na época (por não estar na minha lista), declarou, depois de ler, que eu havia aprendido tudo, sobre blogs, com ele...!)

Por último, o Edgard Costa insinua que eu não deveria "pretender" fazer "jornalismo" se nem sei o nome do podcaster que assina o Íntima Fracção (o nome é Francisco Amaral). Ora, que culpa eu tenho se ele - Edgard Costa - inclui o programa Íntima Fracção (originalmente de uma rádio de Portugal) como podcast seu (de Edgard Costa) sem nem explicar, aos ouvintes, o que está acontecendo...? Aposto que muito mais gente não entendeu; só que não falou para ele...

Para encerar, adotei o tom pessoal no meu texto, justamente, para tomar esse tipo de "liberdade". É a minha lista de "melhores" mas, como quase sempre acontece, as pessoas tomam como "os melhores podcasts segundo o Digestivo Cultural"...

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Postado por Julio Daio Borges
31/8/2006 à 00h13

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