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Segunda-feira, 11/9/2006
Blog
Redação
 
11 de Setembro: 5 anos depois

Porque vale a pena ler de novo...

[2 Comentário(s)]

Postado por Julio Daio Borges
11/9/2006 às 10h09

 
Terminais

Minha mãe é tarada por auto-ajuda. O único livro que ela me deu de presente foi: Alegria de Viver. Jesus... é o tipo de literatura que te faz cagar em um minuto. A orelha do livro já basta pra dor de barriga se materializar. Bem... hoje meio-dia ela veio com a história de que eu e meu irmão precisávamos ouvir um CD... eu logo pensei... lá vem bomba. Era o depoimento de um médico que trata de pacientes em fase terminal. O tema era: do que eles se arrependiam antes de morrer. Ficar mais tempo com os filhos, amar mais, e realizar sonhos. Os três maiores arrependimentos dos pacientes. O que me faz ter certeza de que sou feliz é que, se eu morresse hoje, meu único arrependimento seria não ter comprado um Fiat 147. Mas este sonho eu ainda realizo antes de morrer.... Ah realizo. (Isso foi sacanagem, OK? Eu queria mesmo era ter colocado silicone na bunda...)

A Malvada, no Sem Salvação, que linca pra nós.

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Postado por Julio Daio Borges
11/9/2006 à 00h50

 
A linguagem de Shakespeare

A verdade é que eu ainda não parei para ler Shakespeare. Sei a importância que tem o poeta e dramaturgo inglês para a literatura, óbvio, mas ainda não o conheço, a bem dizer.

Dele, li apenas Hamlet e, mesmo assim, para fazer um trabalho da faculdade. Passei uma noite em claro, lendo o mais rápido possível as páginas da edição pocket-genérica do livro, apenas com a intenção de fazer um bom texto e obter um conceito que me aprovasse na matéria. Talvez isso tenha sido um sacrilégio, mas foi o que deu pra fazer na época (em que eu era um escravo de shopping). Não muito distante, é bom frisar.

E é por saber da importância de Shakespeare que resolvi indicar, mesmo não tendo lido por inteiro, o livro A linguagem de Shakespeare (Record, 2006, 462 págs.), do crítico literário (também britânico) Frank Kermode. Não tenho vergonha alguma de dizer que não li a obra por inteiro. Até porque, a meu ver, A linguagem de Shakespeare é um livro de referência. Você pode lê-lo do início ao fim, em uma só balada, claro. Mas pode também ir lendo aos poucos, à medida que for lendo (ou relendo) as obras de Shakespeare.

O alvo, como diz o título, é a linguagem de Shakespeare, e não a análise de personagens e seus conflitos, ou a história das peças do bardo. Frank Kermode deixa isso bem claro, no prefácio do livro:

Este livro é endereçado a um público não-profissional interessado em Shakespeare que não tem sido, creio eu, bem servido pelos críticos modernos, que de modo geral parecem ter tido pouco tempo para sua linguagem; tendem eles a falar nela de passagem em termos de tecnicalidades, ou menosprezá-las em termos de platitudes recônditas. Qualquer outro aspecto de Shakespeare tem sido estudado até a morte, ou quase, mas o fato de ele ter sido um poeta por algum motivo deixou de ser levado em consideração.

Considerada a obra-prima de Kermode, A linguagem de Shakespeare é dividida em duas partes e foi publicada originalmente em 2000, sendo este ano traduzida para o nosso português, por Bárbara Heliodora.

Na primeira parte, o crítico analisa peças mais antigas do dramaturgo, como Henrique VI, Ricardo III e Rei João, em um único ensaio. Na segunda são analisadas, separadamente, dezesseis peças do bardo.

Como as obras de Shakespeare são atemporais e não se esgotarão jamais, o livro de Frank Kermode terá o mesmo destino que elas, sendo já hoje considerado como um dos maiores estudos feitos sobre a obra shakespeariana.

[1 Comentário(s)]

Postado por Rafael Rodrigues
11/9/2006 à 00h15

 
Trabalho Para Casa

I

Tinha a guitarra partida, luto na voz distorcida, espaço para uma canção antiga. Comia carne, vestia peles. A sua missão era mais fumada do que batida. Passeava descalço enquanto compunha a calça para baixo da tatuagem. Diziam que era vegan.

II

Tinha a braguilha aberta, soprava na corneta, tinha cafeína e nicotina na palheta. Ensaiava discreta, aconchegava a saia enquanto caía o pano. Dava autógrafos, pregava bíblias. Ligou a pulga, carregou o sono, apagou a luz na Pensão Cuenca. Dizem que era santa.

III

Tinha os lábios arroxeados do vinho, encaroçados do fumo, hálito-uva-pisada. Os dedos afinavam-se-lhe no filtro, o polegar amansava-lhe a barba. Os olhos enterravam-se-lhe no rosto. Tinha umas olheiras bravas. A mão esquerda mergulhada nas entranhas, a espinha esmagada sob os ombros. Sonhos que serviam para nada. Dizem que é stripper.

Henrique Manuel Bento Fialho, na nova revista minguante (via hoje há conquilhas, amanhã não sabemos, que linca pra nós).

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Postado por Julio Daio Borges
8/9/2006 às 08h55

 
Pregos

Da mariana massarani, do Muitos Desenhos, um blog que eu descobri só agora...

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Postado por Julio Daio Borges
7/9/2006 às 11h33

 
Nêumanne contra a Wikipedia

O Nêumanne sempre foi um grande amigo do Digestivo. Devemos a ele um dos nossos primeiros reconhecimentos públicos. E o Nêumanne ajudou a inaugurar, junto com o Daniel Piza, o Giron e o Sérgio Augusto, a seção Ensaios do site - cedendo, sempre de bom grado, seus textos para republicação.

Mas eu recebi, por e-mail, um texto do Nêumanne sobre a Wikipedia (ou, em português, "Wikipédia") e me vejo, agora, quase na obrigação de rebater algumas críticas que ele fez à conhecida enciclopédia livre e, mais genericamente, à internet.

Dentro dos temas de sempre do Nêumanne, é, na verdade, mais uma crítica às iniciativas do ministro Gilberto Gil, sistematicamente em direção ao Creative Commons, e aos candidatos do horário eleitoral gratuito (mais especificamente, aos petistas, mensaleiros e sanguessugas, que se (re)apresentam como se nada fosse...).

* * *

Partindo de uma hipótese apocalíptica, Nêumanne começa seu artigo afirmando que vivemos "sob a égide da desconstrução", e da "desinformação" - que o conceito de "enciclopédico" está perto do fim e que a organização do conhecimento está, hoje, "fora de moda".

É verdade que os "desconstrucionistas" de plantão andaram muito em voga no século XX, e eu concordo que a "evolução" das fontes de informação no mesmo período (jornal para revista, rádio para televisão) não contribuiu em nada para a educação do povo. Mas, depois da internet, da WWW e, principalmente, do Google, não dá para simplesmente dizer que "a organização do conhecimento está fora de moda".

Nem entrei na Wikipedia ainda, mas o Google, por exemplo, é um esforço - como certamente nunca houve - de organizar o maior repositório de informações sobre a humanidade até hoje: a internet. E o Google é, coincidentemente, a mais bem sucedida empresa de internet hoje em dia. (E o Google vai dominar o mundo, como a Microsoft dominou, você tem alguma dúvida?)

O tamanho do Google, sua influência e seu valor de mercado são, portanto, a prova de que o desejo de organização, a "fome por conhecimento" e até a ambição "enciclopédica" estão mais vivos do que nunca. Ninguém tem Diderot ao alcance do Messenger (ou do Skype), mas tem o Google e tem a internet. Eu prefiro; e você?

* * *

Nêumanne então introduz subliminarmente alguns conceitos do Creative Commons - um movimento que procura conferir maior flexibilidade ao direito autoral (nos EUA, às leis de copyright) - mas interpreta tudo à sua maneira. Segundo ele, Gilberto Gil estaria, no fundo, trabalhando pela "demolição da autoria" e tirando definitivamente o direito de quem produz de viver da sua própria produção.

Nem vou entrar aqui no mérito de que, no Brasil, só uma meia dúzia (Gil entre os poucos) vive de "arrecadação" de direito autoral. Vou entrar, sim, na discussão do Creative Commons...

Para começar, o Creative Commons não é obrigatório para todos. Depois: quem define o tipo de licença (que determina o "uso" da obra) é o próprio autor. Ou seja: o Creative Commons não acaba com o direito autoral - apenas abre mais uma possibilidade para quem quer compartilhar, mais livremente, sua própria produção.

* * *

Logo adiante, Nêumanne proclama que, atualmente, a "criação estética está submetida à coletivização" e que vivemos "sob o domínio do apócrifo". Então, para ele, a Wikipedia seria nada mais que "uma brincadeira de hackers", e que, devido à "criatividade" (no mau sentido do termo) e às "idiossincrasias" dos autores dos verbetes eletrônicos, a Wikipedia é, em resumo, uma "anti-enciclopédia".

Para início de conversa, ninguém está submetendo ninguém à "coletivização". Na internet, a propósito, os blogs são hoje, pelo contrário (!), a maior manifestação de vozes individuais em muito tempo (ainda, claro, que muitas não tenham nada a dizer e que muitos só ressuscitem ultrapassadas escolas de pensamento...). Depois: embora haja muito pseudônimo na Web, há mais gente aparecendo, no balanço, do que se escondendo - mais assinaturas do que apócrifos.

Por último, a Wikipedia, se for mesmo uma brincadeira, é uma brincadeira séria - que já dura meia década. Não foi fundada por hackers, não é alimentada só por eles e não é possível que o velho Nêumanne não conheça a comparação que a revista Nature fez entre a Wikipedia e a Enciclopédia Britânica... Tanto na profissional quanto na "amadora", em verbetes aleatórios de ciência, foi encontrado o mesmo número de erros. A Wikipedia, portanto, é tão falha quanto a outra.

* * *

Por fim, não é a vitória das "versões" sobre os "fatos" (embora Nélson Rodrigues, por exemplo, preterisse futebolisticamente os fatos: "Se os fatos estão contra mim, azar dos fatos - pior para os fatos".) Os fatos, aliás, nunca estiveram tão à disposição das pessoas como estão hoje (fatos, inclusive, que nem gostaríamos de revelar - fatos que dizem respeito à nossa privacidade...).

A diferença é que, com a abertura dos canais de comunicação, você encontra versões, em número praticamente infinito, para tudo o que quiser. Todo mundo pode, em princípio, dar sua versão de qualquer coisa.

O Nêumanne, volto a repetir, é alguém muito importante na história do Digestivo. E eu sei que sua crítica é, no fim das contas, política (usando, como gancho, a WWW e a Wikipedia).

Mas me preocupa, ainda assim, certa mentalidade, originalmente da classe jornalística, que persiste, para com a internet (como se ela e a imprensa fossem inimigas...). O Nêumanne teve apenas a coragem de expor. O fato - e não a versão - é que os jornalistas estão mais preparados do que qualquer outra categoria para a World Wide Web. Pena que nem todos perceberam ainda...

[3 Comentário(s)]

Postado por Julio Daio Borges
6/9/2006 às 10h08

 
Jornaleiros


Pois é, depois de meses de preparo, conversas, espera, idéias geniais... (que rufem os tambores) está no ar o mais novo projeto de blog da internet brasileira!

Viajante, anunciando o Jornaleiros que, naturalmente, linca pra nós.

[1 Comentário(s)]

Postado por Julio Daio Borges
6/9/2006 à 00h17

 
A música em pauta no CCBB

Setembro é mês de discutir música no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB - São Paulo). Dentro do programa Cronicamente Viável, no qual são realizados encontros mensais para discutir a crônica no Brasil, o tema deste mês é A Crônica na MPB . O debate terá a participação da jornalista e escritora (autora de Vozes do Brasil) Patrícia Palumbo, e do radialista, apresentador de TV e músico Kid Vinil, com mediação do escritor e cronista Marcelo Rubens Paiva. Entre os assuntos a serem debatidos estão a música de Noel Rosa, Adoniram Barbosa, Chico Buarque, entre outros autores/cronistas da nossa MPB.

Do popular passamos ao erudito por meio do projeto Caminhos da Música, que em seu primeiro encontro traz o tema: Formação de Platéia em Música. As musicistas Clarice Miranda e Liana Justus pretendem esclarecer ao público informações que uma platéia bem formada deve saber, como: diferença entre sinfonia, concerto e sonata, obras essenciais, as vozes do canto lírico, a orquestra sinfônica e o posicionamento dos instrumentos, principais teatros do mundo, grandes intérpretes da atualidade (regência, vocal e instrumental), entre outros assuntos.

É interessante a iniciativa discutir a formação de público, pois atualmente este é um problema não só para a música, mas também para o teatro, as artes plásticas, entre outras formas de manifestação artística. O precário ensino oferecido nas escolas públicas brasileiras não permite a crianças e jovens adquirir referências para entender importantes obras da história da arte. Dessa forma, são criadas gerações condicionadas a cultuar os ídolos eleitos pela grande imprensa, sem ter acesso à diversidade de produção cultural existente, e sem desenvolver o senso crítico.

Não só para os jovens, discutir a formação de platéia em música também é importante para todos que desejam aprender ou aprimorar seus conhecimentos sobre música erudita, assim como a professores de Música e de Educação Artística, para que possam transmitir esses conceitos a seus alunos. Ambos eventos são gratuitos, com distribuição de senhas meia hora antes do início.

Cronicamente Viável - A Crônica na MPB
Local: Cinema
12 de setembro às 19:30

Caminhos da Música - Formação de Platéia em Música
Local: Teatro
20 de setembro às 19:00

Centro Cultural Banco do Brasil
Rua Álvares Penteado, 112 Centro - São Paulo
Fones: (11) 3113-3651 e 3113-3652

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Postado por Fernanda da Silva
5/9/2006 às 14h32

 
Falsários

Foi segunda passada que nos deu o estalo: "porque não ter um blog?"

Rapidamente, reunião de cúpula: "qual será o nome? a URL? Qual ferramenta vamos utilizar?". Vieram a tona todos aqueles medos tradicionais que bate em blogeiros virgens, vcs sabem como é...

..mas quem diria, ele está no ar!

Dos Falsários - que comentam sobre nós - em seu novo blog.

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Postado por Julio Daio Borges
5/9/2006 à 00h24

 
Castorf ousa ao reler Brecht

Frank Castorf é um daqueles diretores sobre quem é difícil ficar indiferente. Por onde passa é amado ou odiado. Suas ousadas montagens costumam atrair narizes torcidos dos puristas e adeptos da tradição em geral. Com este Selva das cidades, texto de Bertolt Brecht, apresentado neste fim de semana em São Paulo, não foi diferente.

O trabalho de Castorf é marcado por atualizações e leituras pouco deferentes aos convencionalismos. Ele já havia causado algum barulho por aqui ano passado com o belíssimo Estação Terminal América - baseado em Um bonde chamado desejo, de Tennessee Williams - em que havia referências às lutas sociais na Polônia nos anos 80 e canções de Lou Reed embalavam o espetáculo.

Com este Brecht, Castorf e o grupo berlinense Volksbühne foram além em seus radicalismos - para o bem e para o mal. A montagem aposta no humor nonsense presente no texto do jovem dramaturgo (a peça é de 1923, quando Brecht contava 25 anos). É uma das peças de Brecht com imagens mais alegóricas, quase delirantes: narra uma luta imaginária entre um funcionário de uma biblioteca de empréstimos e um madeireiro malaio na Chicago de 1912.

A Selva de Castorf não tem lugar ou época definidos. Sua concepção é livre, carregada de sarcasmo e ironia. Aqui seus personagens não têm vontade de lutar, fazem-no por inércia. Suas vontades são aniquiladas pelo espectro de imobilidade e passividade reinantes. O vazio da cultura e da sociedade como assassinos de nossos ímpetos.

Sua direção é bruta, rústica (e até com alguns exageros). O palco vai ficando entulhado ao longo do espetáculo. E o talento de Castorf para a criação de imagens impactantes encontra poucos paralelos no teatro contemporâneo. Seu hotel chinês, com fundo de luzes vermelhas, é memorável.

Destaque para o elenco alemão, com um nível técnico apuradíssimo, sobretudo nas figuras de Milan Peschel (George Garga) e Herbert Fritsch (Shlink, o negociante de madeira malaio). Fica evidente a competente direção, para a harmonia em um espetáculo de difícil execução. Pena que haja tamanha disparidade em relação aos participantes brasileiros. Nelson Triunfo, embora não seja ator, segura o papel de John Garga com seu carisma. Já Sandra Santos decepciona com uma fraquíssima atuação no papel de C. Maynes.

O registro negativo fica por conta do ineficiente sistema de legendas, que chegou ao ponto de irritar boa parte da platéia. O descompasso para com as falas foi tamanho que quem não conhecia o texto beirou - ou atingiu - o incompreensível. E não é obrigação do público conhecer a obra. A absoluta falência das legendas contribuiu em grande parte para que fosse constante o fluxo de pessoas abandonando o espetáculo em seu decorrer.

Se não tem o mesmo brilho de Estação Terminal América, Na Selva das Cidades ainda assim é mostra do talento de um criativo e corajoso diretor. Uma visão para lá de original de uma obra de um dos grandes dramaturgos do século XX.

[2 Comentário(s)]

Postado por Guilherme Conte
4/9/2006 às 17h28

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