Mentira de tudo, em tudo e por tudo. Mentira na terra, no ar, no céu, onde, segundo o Padre Vieira, o próprio céu mentia no Maranhão, e direis que hoje mente ao Brasil inteiro. Mentira nos protestos. Mentira nas promessas. Mentira nos programas. Mentira nos projetos. Mentira nos progressos. Mentira nas reformas. Mentira nas convicções. Mentira nas transmutações. Mentira nas soluções. Mentira nos homens, nos atos e nas coisas. Mentira no rosto, na voz, na postura, no gesto, na palavra, na escrita. Mentira nos partidos, nas coligações e nos blocos. Mentira dos caudilhos aos seus apaniguados, mentira dos seus apaniguados à Nação. Mentira nas instituições. Mentira nas eleições. Mentira nas apurações. Mentira nas mensagens. Mentira nos relatórios. Mentira nos inquéritos. Mentira nos concursos. Mentira nas embaixadas. Mentira nas candidaturas. Mentira nas garantias. Mentira nas responsabilidades. Mentira nos desmentidos. A mentira geral. O monopólio da mentira.
Rodrigo Amarante, vocalista, guitarrista e compositor do grupo Los Hermanos, ao ouvir a pergunta "incomoda vocês vocês serem sempre lembrados por Anna Julia?" diversas vezes, vinda de um mesmo jornalista, fala sobre o "jornalismo preguiçoso" e o "jornalismo baseado na polêmica".
Eu diria que este pode ser considerado o "momento lucidez do ano". Do Amarante, claro.
Eu não sou muito de falar da natureza, essas coisas. Mas ontem, ao deitar-me para dormir, esforcei-me para pensar nas árvores balançando com o vento lá fora, no verde da coisa toda, no frescor da coisa toda, e no friozinnho agradável que devem sentir as plantas. Isso por efeito do sono, devido à vontade tresloucada de dormir, de desligar, de turn out... Eu sou muito urbano. Se passo um dia na roça, digo, roça mesmo, sou bem capaz de enfiar o nariz no cano de descarga do caminhão mais próximo, só para sentir um pouco o cheiro da cidade. Sei o quão doentio é isso, eu sei. Mas quantos hoje não fazem assim? Valha-me!
Incrível como situações excepcionais, como o aniversário de cinco anos do 11/09, podem causar um certo desequilíbrio emocional. Sempre fui um grande crítico do trompetista norte-americano Wynton Marsalis, por seu posicionamento reacionário, despótico e nefasto em relação à história do jazz e o futuro do gênero. Ademais, acho seu estilo frio, redondinho demais, sem qualquer espaço para emoção - culpa talvez do afã de soar como os velhos mestres. Ontem, contudo, estava assistindo ao minuto de silêncio em Nova York pela CNN, e logo após Marsalis surgiu, tocando sozinho ao trompete a comovente "Just a Closer Walk With Thee", canção tradicional americana, daquelas que eles chamam de "spiritual songs" e gravada por centenas de artistas, da musa country Patsy Cline ao mestre Louis Armstrong... Não sei se pela gravidade do evento, Wynton pareceu colocar-se inteiro naquela rendição. E eu, que nunca gostei lá muito dele, senti os olhos cheios d'água.
Dias atrás estava conversando com um amigo meu de São Paulo, músico também. E dizia para ele da minha tristeza com relação à qualidade do que se toca na maioria das rádios brasileiras hoje em dia. O sentimento que tenho certamente é compartilhado por milhares de brasileiros que gostariam de não estar vendo o que aconteceu com os canais de TVs, rádios, jornais e revistas que abriram de forma escancarada as oportunidades para a divulgação, venda e apoio ao que está no mercado hoje.
Por outro lado temos as gravadoras que se renderam ao mercantilismo, ao lucro desvairado e imediato, e passaram a jogar no mercado enchuradas e mais enchuradas de uma coisa que chamam de música, com letras chulas, muitas vezes com palavras de baixo nível e muito mais. Entre um acordo espúrio aqui e outro ali, estamos sendo obrigados a assistir a este triste capítulo da nossa história musical, num país de Chiquinha Gonzaga, de Pixinguinha, Noel Rosa, Cartola, Caymmi, Elis, Guinga, Aldir Blanc, Paulinho da Viola, João Gilberto... e por aí vai. Nossos melhores frutos musicais, e cito aqui pessoas de gerações passadas e dessa nova geração, como Guinga, estão à margem das gravadoras e produtoras musicais, rádios, TVs, revistas e jornais, sites de música, blogs, etc. e tal.
Onde vamos parar com tanto lixo? O que será das gerações que hoje escutam "calcinhas pretas" e "calipsos" por todos os lados? Que tipo de formação cultural essas pessoas terão? Como será a nossa música daqui há 30 anos?
Da Ava Araujo, que divulga compositores novos e que nos convida a conhecer seu blog...
Minha mãe é tarada por auto-ajuda. O único livro que ela me deu de presente foi: Alegria de Viver. Jesus... é o tipo de literatura que te faz cagar em um minuto. A orelha do livro já basta pra dor de barriga se materializar. Bem... hoje meio-dia ela veio com a história de que eu e meu irmão precisávamos ouvir um CD... eu logo pensei... lá vem bomba. Era o depoimento de um médico que trata de pacientes em fase terminal. O tema era: do que eles se arrependiam antes de morrer. Ficar mais tempo com os filhos, amar mais, e realizar sonhos. Os três maiores arrependimentos dos pacientes. O que me faz ter certeza de que sou feliz é que, se eu morresse hoje, meu único arrependimento seria não ter comprado um Fiat 147. Mas este sonho eu ainda realizo antes de morrer.... Ah realizo. (Isso foi sacanagem, OK? Eu queria mesmo era ter colocado silicone na bunda...)
A verdade é que eu ainda não parei para ler Shakespeare. Sei a importância que tem o poeta e dramaturgo inglês para a literatura, óbvio, mas ainda não o conheço, a bem dizer.
Dele, li apenas Hamlet e, mesmo assim, para fazer um trabalho da faculdade. Passei uma noite em claro, lendo o mais rápido possível as páginas da edição pocket-genérica do livro, apenas com a intenção de fazer um bom texto e obter um conceito que me aprovasse na matéria. Talvez isso tenha sido um sacrilégio, mas foi o que deu pra fazer na época (em que eu era um escravo de shopping). Não muito distante, é bom frisar.
E é por saber da importância de Shakespeare que resolvi indicar, mesmo não tendo lido por inteiro, o livro A linguagem de Shakespeare (Record, 2006, 462 págs.), do crítico literário (também britânico) Frank Kermode. Não tenho vergonha alguma de dizer que não li a obra por inteiro. Até porque, a meu ver, A linguagem de Shakespeare é um livro de referência. Você pode lê-lo do início ao fim, em uma só balada, claro. Mas pode também ir lendo aos poucos, à medida que for lendo (ou relendo) as obras de Shakespeare.
O alvo, como diz o título, é a linguagem de Shakespeare, e não a análise de personagens e seus conflitos, ou a história das peças do bardo. Frank Kermode deixa isso bem claro, no prefácio do livro:
Este livro é endereçado a um público não-profissional interessado em Shakespeare que não tem sido, creio eu, bem servido pelos críticos modernos, que de modo geral parecem ter tido pouco tempo para sua linguagem; tendem eles a falar nela de passagem em termos de tecnicalidades, ou menosprezá-las em termos de platitudes recônditas. Qualquer outro aspecto de Shakespeare tem sido estudado até a morte, ou quase, mas o fato de ele ter sido um poeta por algum motivo deixou de ser levado em consideração.
Considerada a obra-prima de Kermode, A linguagem de Shakespeare é dividida em duas partes e foi publicada originalmente em 2000, sendo este ano traduzida para o nosso português, por Bárbara Heliodora.
Na primeira parte, o crítico analisa peças mais antigas do dramaturgo, como Henrique VI, Ricardo III e Rei João, em um único ensaio. Na segunda são analisadas, separadamente, dezesseis peças do bardo.
Como as obras de Shakespeare são atemporais e não se esgotarão jamais, o livro de Frank Kermode terá o mesmo destino que elas, sendo já hoje considerado como um dos maiores estudos feitos sobre a obra shakespeariana.
Tinha a guitarra partida, luto na voz distorcida, espaço para uma canção antiga. Comia carne, vestia peles. A sua missão era mais fumada do que batida. Passeava descalço enquanto compunha a calça para baixo da tatuagem. Diziam que era vegan.
II
Tinha a braguilha aberta, soprava na corneta, tinha cafeína e nicotina na palheta. Ensaiava discreta, aconchegava a saia enquanto caía o pano. Dava autógrafos, pregava bíblias. Ligou a pulga, carregou o sono, apagou a luz na Pensão Cuenca. Dizem que era santa.
III
Tinha os lábios arroxeados do vinho, encaroçados do fumo, hálito-uva-pisada. Os dedos afinavam-se-lhe no filtro, o polegar amansava-lhe a barba. Os olhos enterravam-se-lhe no rosto. Tinha umas olheiras bravas. A mão esquerda mergulhada nas entranhas, a espinha esmagada sob os ombros. Sonhos que serviam para nada. Dizem que é stripper.