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Quinta-feira, 21/9/2006
Blog
Redação
 
LiveMarks

...is a project to show del.icio.us and other services' bookmarks live. Porque... você quer ver as pessoas guardando links agora?

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Postado por Julio Daio Borges
21/9/2006 à 00h04

 
Patrícia Palumbo e o rádio

Jornalista que faz rádio costuma ser louco por rádio. Os primeiros anos da profissão normalmente são de salários mais baixos e horas de trabalho mais puxadas, o que espanta quem não tiver um encanto natural por esse meio. A jornalista Patrícia Palumbo, da Eldorado, gosta tanto de rádio que coleciona aparelhos. Coleciona também belas entrevistas em sua trajetória, com vozes inconfundíveis da música brasileira. Patrícia mostrou algumas delas no último dia 15, no curso de jornalismo cultural promovido pelo Centro de Estudos da Revista Cult.

Patrícia começou a carreira na rádio Cultura AM há 18 anos, e lá aprendeu a fazer "jornalismo com responsabilidade". Por ser transmitida em AM, FM e ondas curtas, a Cultura tem um alcance enorme, até mesmo fora do País. Ela diz que hoje só trabalha com o que gosta, e que ganha bem para isso. "Minha independência foi um pouco de sorte e muito de postura. Desde o começo procurei lugares onde pudesse buscar essa especialização". Na discoteca da Fundação Padre Anchieta, por exemplo, ela extraiu o que pôde do acervo de 40 mil LPs da rádio.

Aprendeu logo que "você tem de trabalhar a linguagem, seduzir seu ouvinte". Depois de conquistá-lo, o jornalista ganha confiança suficiente para entrar no não habitual, em assuntos mais variados e sair da pobreza da agenda cultural que domina as rádios hoje. Embora haja exemplos esparsos de bons programas no ar, as rádios estão cada vez mais massificadas, se agregando a redes que padronizam o conteúdo. É um público muito grande para o alcance ínfimo existente de programas culturais atraentes e com conteúdo. Uma emissora como a rádio Transamérica, por exemplo, chega a atingir 160 mil pessoas por minuto. Patrícia informa também que, segundo o Ibope, cerca de 99% dos domicílios brasileiros possuem aparelho de rádio - um contingente enorme de ouvintes em potencial para bons programas de cultura.

Ela cita os exemplos do Planeta Som, na rádio USP FM, com Magda Pucci (do grupo musical Mawaca), que explora só o terreno na música, ou o Show da Manhã , na Jovem Pan, que tem o jeitão da rádio: rápido, popular, lúdico. Mais sóbrio, o Estação Cultura , na Cultura FM, com Gioconda Bordon (que antes fazia Espaço Informal na Eldorado), achou um ritmo próprio, mais lento; Patrícia acredita que é contraponto interessante à loucura do trânsito urbano, no horário do programa (das 18h às 19h, de segunda à sexta-feira).

Na rádio em moldes mais tradicionais, Patrícia levou ao ar o Vozes do Brasil, por um ano, às terças-feiras à noite, na rádio Eldorado. O programa tinha entrevistas com grandes vozes da MPB. Rendeu filhotes, como o Vozes ao Vivo, parceria com o Sesc Vila Mariana, e o Vozes na Biscoito, com a gravadora Biscoito Fino. O último veio a partir de entrevistas de Patrícia em que ela perguntou a artistas como Chico Buarque ("Eu aprendi a cantar ouvindo rádio") e Maria Bethânia ("Eu me criei ouvindo rádio 24 horas") qual era a relação deles com o rádio.

Patrícia Palumbo ouve e produz rádio para internet. Além de ter suas preferidas, envia boletins de música brasileira contemporânea para a rádio Grenouille, em Marselha, na França. Contudo, não se entusiasma muito com podcasts. "O podcast ainda não é uma alternativa de trabalho, é só diversão", afirma. Se o podcast vai se tornar um fenômeno sério no Brasil, como os blogs de jornalistas têm se tornado, só dá para saber com o tempo.

Uma curiosidade: ela não escreve os roteiros antes de ir para o ar. Abre o programa apenas com a primeira música na cabeça, e deixa que uma "puxe" a outra. "Você tem de estar preparado todo o tempo, saber que vai entrar ao vivo. Esse negócio de precisar ter alguma coisa escrita, senão você não dá conta, é uma armadilha. Você tem que ter firmeza, saber do que está falando."

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Postado por Verônica Mambrini
20/9/2006 às 12h35

 
Exposição coletiva

Se eu fosse artista, convidava 27 curadores para encher o espaço vazio de um museu e deixava eles à vontade. O título da minha obra seria 27 curadores e eu teria criado a primeira exposição coletiva invertida do mundo.

Sheila Leirner, no seu Quando, Onde e Como, que, óbvio, linca pra nós.

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Postado por Julio Daio Borges
20/9/2006 à 00h06

 
6 anos esta noite

Cenumlembra? Celembra! Claro que celembra...

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Postado por Julio Daio Borges
19/9/2006 às 10h22

 
Inactivism

Eu tenho um projeto de leitura: autores consagrados, pouca literatura contemporânea. Não que eu deplore obras de escritores iniciantes (essa aversão, de tão difundida, me parece antes um defeito que uma qualidade), mas tenho muito medo de errar e valorizo o dinheiro que gasto.

Uma das conseqüências desse projeto é que leio críticas como quem desfruta de uma obra em si mesma. E é aí que está o problema: resenhistas freqüentemente lançam mão de expressões que, de tão vulgarizadas, perderam completamente o sentido, não persuadem mais, e isso me deixa muito, mas muito irritado.

Se fôssemos levar os críticos das nossas revistas impressas de cultura a sério, os lançamentos literários se encaixariam quase sempre no esquema da "prosa afiada", "ácida" e blablablá. Parece que a beleza não é uma qualidade admirada pelos resenhistas de hoje em dia. Uma pena. É como se a sordidez e a contundência de um realismo chulo fossem as únicas coisas que interessassem. Os leitores que freqüentam os melhores blogs já devem ter ouvido essa lamentação uma dúzia de vezes. Endosso.

Quando não assinala a crueza da "prosa", o resenhista parece não encontrar outro caminho senão aquele do adjetivo milagroso, que define o livro de uma maneira tal - "maravilhoso", "delicioso", "imperdível" etc. - que até parece que é a primeira vez que toma contato com alguma obra de relevância. A síntese absoluta do crítico sempre me pareceu a mais pobre expressão das suas sensações.

Cleber Corrêa, no seu blog, que linca pra nós.

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Postado por Julio Daio Borges
19/9/2006 à 00h10

 
Jotabê Medeiros e o som

Jotabê Medeiros, Jerônimo Teixeira e Luiz Carlos Merten, palestrantes do curso de jornalismo cultural promovido pelo Centro de Estudos da revista Cult, são jornalistas de veículos respeitados da grande imprensa, vêm do Sul do País e escrevem sobre cultura. A respeito do métier de cada um, respectivamente jornalismo especializado em música, livros e cinema, os três obedecem ao mesmo mandamento: paixão é fundamental. Aí se encerram as semelhanças mais óbvias. A palestra de Jotabê - que escreve sobre música para o Estado de S. Paulo desde 1994 - foi a quarta de um ciclo que contou com a abertura de Carlos Graieb, editor-executivo da revista Veja e, embora não tenha tirado o pé do chão, voltou-se à teoria, citando referências teóricas em autores como Susan Sontag, Greil Marcus e Tony Parsons.

Jotabê Medeiros é formado em Comunicação pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), no Paraná. Começou na crítica musical quase por acaso. Mandou para a revista SomTrês uma resenha de The Wall, disco antológico de 1979 do Pink Floyd (que não era mais lançamento na época), e recebeu uma resposta de Maurício Kubrusly, então editor da publicação. Kubrusly tinha gostado do texto de Medeiros e chamou-o para escrever na revista. Antes da abertura das importações (e da internet, claro), manter-se atualizado sobre música era caríssimo. Só viajando para fora do Brasil ou pedindo uma ajudinha para amigos. "Disco, nos anos 1980, era quase um contrabando", conta Jotabê. Desanimado, ele declinou o convite de Kubrusly: "Eu não tenho dinheiro para comprar os álbuns". "Não tem problema, a gente vai mandar toda semana uma caixa de CDs para você para você escolher sobre o que quer escrever", respondeu o editor. Dadas as circunstâncias, um convite irrecusável para qualquer apaixonado por música, nem que fosse de graça. Não era, e começou formalmente a carreira de Jotabê na crítica musical.

A SomTrês foi uma das primeiras revistas especializadas em música e áudio do Brasil. A primeira edição, de janeiro de 1979, trazia as chamadas: "As músicas proibidas pela censura", "Inédito: o verdadeiro hit-parade do rádio", "Mais de 30 páginas com os novos equipamentos" e "Zezé Motta: a receita do segundo LP". Além da chamada de capa "Os racks estão chegando", ilustrada pela foto de dois racks no meio de papel de presente prateado desembrulhado, com a própria Zezé Motta (pouco) vestida de oncinha, atirada languidamente entre os racks. A revista se equilibrava entre a cobertura de música, instrumentos e equipamentos de áudio, mix que não existe mais no mercado editorial brasileiro. Durou até 1989, com 132 edições.

As revistas de música no Brasil costumam ter pouca variedade ou solidez, com altos e baixos marcados - caso da Bizz. Desde novembro de 2005, a revista está de volta ao mercado, pela editora Abril, em mais uma "reencarnação". Depois de ser referência nos anos 1980, teve uma sobrevida bastante criticada na década de 1990 - em 1995, a mudança chegou ao nome, que se tornou ShowBizz. Para outubro, a Rolling Stone lança uma edição brasileira, mensal, que vai se espelhar na versão norte-americana. Segundo Jotabê, "o principal problema dessas revistas é a falta de ousadia", e a relação incestuosa com as gravadoras. Daí, um pulo para ficarem como "conteúdo igual ao catálogo das gravadoras".

E não é fácil escapar dessa relação, já que uma das fontes na área de cultura atualmente é a assessoria de imprensa. A redação do Estado, por exemplo, recebe de 20 a 30 CDs e livros sobre música por semana de assessorias ou gravadoras. É muito material para poucos jornalistas fazerem o filtro - no Estado há quatro cobrindo música - sem contar ainda o que chega ao jornalista por outros meios, como indicação de conhecidos e contatos do meio musical. "Essa é a realidade do mercado: não dá para cobrir tudo que é relevante. Com a abundância de informação, as coisas não adquirem relevância", diz Jotabê. "Panic At The Disco! é a grande banda do momento, para a molecada. Daqui a alguns meses, não vai ser. Eu escreveria isso".

Um tipo de preocupação freqüente entre os estudantes é como o crítico separa as preferências pessoais do trabalho e se a crítica é capaz de influenciar o sucesso comercial de um produto cultural - o fato é que a crítica tem quase nenhum poder perto do impacto dos investimentos em marketing feitos pelas gravadoras. Mesmo reconhecendo esse fato, Jotabê lamenta, por exemplo, um músico do naipe de Paulinho da Viola estrear espetáculo com casa vazia. "Tem artistas que parece que não foram talhados para a multidão. Eu acho uma heresia ter lugares vazios no show do Paulinho da Viola." Arremata com um sorriso melancólico: "Os caminhos do destino na música são meio tortuosos".

De acordo com Jotabê, existem quatro tipos de críticos: "Tem o crítico que escreve para convencer alguém, que trata o leitor como se fosse um consumidor; tem o crítico que é fã de uma banda ou de determinado gênero; tem o crítico intelectual, que é o crítico com a pretensão de pensar a sua época; e tem o crítico que escreve porque precisa do dinheiro. Eventualmente, se enquadra ao mesmo tempo em alguma das outras categorias". E sobre seu próprio trabalho, diz que o que espera a cada show ou álbum, é uma "música mais desafiadora, mais independente, mais incômoda".

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Postado por Verônica Mambrini
18/9/2006 às 14h58

 
Me, Myself And I

Oito pequenas coisas a saber sobre mim:

1) Sou um leitor compulsivo, e não consigo esperar acabar um livro para começar outro.

2) Quem não me conhece bem dirá que sou sério, que tenho cara de bravo.

3) Sou competitivo. Nunca pratico esportes nos quais eu não possa ganhar de alguém.

4) Sempre tive grande atração pela ciência.

5) Sou bastante emotivo, mas em situações-limite sou a pessoa que mantém a calma e o raciocínio.

6) Sofro de sinceridade patológica, em níveis que não são socialmente aceitos (mas deveriam).

7) Sou de extremos, e completamente passional.

8) Sou cheio de manias.

Donizetti, no seu blog, que, claro, linca pra nós.

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Postado por Julio Daio Borges
18/9/2006 à 00h56

 
A paixão de Luiz Carlos Merten

"Para ser crítico de cinema, ou cineasta, é preciso muita paixão pelo cinema." Luiz Carlos Merten, crítico do Estado de S. Paulo, faz-nos lamentar nossos cerca de 20 anos - nós, na platéia do curso de Jornalismo Cultural promovido pelo Centro de Estudos da revista Cult. A maior parte dos alunos é formada por universitários que, não tivessem visto motivo de inveja nos milhares de filmes já assistidos pelo jornalista que assina a maior parte dos textos de cinema do grupo Estado, teriam encontrado um na defesa apaixonada que Merten faz de sua profissão.

"Tudo bem, eu não ganho uma fortuna. Mas ganho bem, e para ver filmes, viajar pelo Brasil e para o exterior, conversar com estrelas de cinema, ver festivais. Mas isso não resolve a questão inicial: de onde eu tirei autoridade para escrever sobre cinema?" (aos que se animaram com a descrição do cargo, Merten manda tirar o cavalinho da chuva. Não tem planos de se aposentar no Estado de S. Paulo, onde escreve há 17 anos, tão cedo). Essa autoridade vem, de um lado, pela própria forma de trabalhar: Merten se considera mais um repórter do que um crítico. Gosta da redação, e já recusou a oferta de escrever de casa. Conversa muito com fontes, faz entrevistas, apura. Mas quem acompanha seus textos sabe que ele nunca é puramente referencial.

"Eu não sigo nenhuma teoria do beltrano, do sicrano. Eu sigo a minha", conta o crítico, que lançou cinco livros sobre cinema. Merten começou sua carreira jornalística no Rio Grande do Sul. Já tinha começado a faculdade de arquitetura, mas escrever sobre cinema ganhou a parada quando seus textos, divulgados informalmente, primeiro num mural da faculdade e depois numa página no Diário de Notícias, começaram a ser lidos e comentados. Logo surgiu a necessidade de cursar jornalismo, por conta da exigência do diploma. Merten teve períodos em outras editorias que não a de cultura - passou por política, polícia, esportes. Dessa experiência ganhou uma agilidade tremenda; quando morre alguma personalidade do cinema, é ele quem costuma ser chamado para preencher, em coisa de uma hora, uma página do "Caderno 2" sobre o recém-falecido, à beira do fechamento.

Merten desanca a faculdade e as fórmulas prontas para se aprender a escrever sobre (e a fazer) cinema. Sobra mais ainda para a maldição das estrelinhas usadas para classificar a qualidade de um filme, que grassam na imprensa apesar de serem ridicularizadas por qualquer jornalista cultural ou crítico de arte. Essa falta de critérios objetivos talvez seja desapontadora para quem gosta de cinema e quer ser crítico, mas não sabe como começar. A única dica objetiva de Merten é: "escreva. Faça um blog". Ele inclusive, acaba de lançar o seu; para um redator compulsivo como ele, talvez só a web mesmo seja o limite. Contudo, Merten é avesso à Internet; não abre e-mails e normalmente confia o suficiente na memória para não se sentir obrigado a checar cada nome ou data que menciona.

O melhor de uma palestra como essa está nas entrelinhas. Ao elogiar Munique, O Terminal e Guerra dos Mundos, os três últimos filmes de Steven Spielberg, o jornalista acabou dando a maior pista do que deve importar a um crítico. Ele diz que essa tríade venceu a desconfiança que ele tinha com relação ao cineasta, causada principalmente pelo fato de que em A Lista de Schindler e Parque dos Dinossauros, o campo de concentração e a ilha com sua fauna artificial têm basicamente a mesma essência. Sobre o Spielberg desses filmes, diz: "eu sempre acreditei que ele era um cara democrático, no sentido calhorda". Mas nas três obras mais recentes, Merten vê um diretor que compreendeu os Estados Unidos pós 11 de Setembro e faz um cinema de "reflexão à sociedade norte-americana atual", sem precisar de uma única menção direta a esse acontecimento.

O olhar crítico sobre a sociedade, a relação com as fontes, o conhecimento das especificidades do cinema como arte, sua relevância econômica e social, tudo isso fica para trás diante da reiteração da idéia que iniciou e concluiu a palestra: "Para ser jornalista de cinema ou diretor de cinema, tu tem que gostar pra caralho, mesmo, mesmo. Tem que ter um grau de envolvimento, porque é um exercício de paixão".

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Postado por Verônica Mambrini
15/9/2006 às 13h10

 
Der Destruktive Charakter

Walter Benjamin é modismo acadêmico; mate o pastor e as ovelhas serão dispersadas. Apenas no caráter destrutivo há possibilidade de caminho frente a um muro. O caráter destrutivo não supera barreiras, elimina com violência impensada e catártica. O caráter destrutivo é a vingança contra o falatório, meio pelo qual os homens se fazem entender. O caráter destrutivo não entende, provoca desentendimentos. Roubo cultural não é crime.

Mate o pastor e as ovelhas serão dispersadas; os oráculos são instituições destrutivas. O academicismo é uma instituição destrutiva.

Fazendo versos em Shangai os poetas brasileiros de modismo doces bárbaros divertem-se mais do que vingam-se. Um doce bárbaro com molho tártaro? Não sei, mas creio que estou pendendo para a vingança auto destrutista; você é um comunista pela cara de artista?

Gabriela W. Linck, no seu Teufelswerk, que linca pra nós.

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Postado por Julio Daio Borges
15/9/2006 às 08h52

 
A crítica de Jerônimo Teixeira

"Nós não somos tão importantes assim." Jerônimo Teixeira, crítico de livros da Veja, começou sua palestra relativizando a importância do crítico literário. A segunda aula do curso de Jornalismo Cultural promovido pelo Centro de Estudos da revista Cult, nessa terça-feira, deu um bom panorama do cotidiano de quem tem como trabalho comentar livros. A relativização de Teixeira, no entanto, não vai muito longe: ele não deixa esquecer que a Veja é lida semanalmente por um milhão e meio de pessoas. E sobre a função do crítico, diz que ele tem de "mostrar, de alguma maneira um verniz de autoridade para o leitor", ao indicar o que ele deve ler, o que é relevante.

Essa aparente contradição é só um aperitivo do que acaba sendo cobrir literatura e livros no Brasil. Há que se fazer a diferença entre literatura e livros em casos como o do crítico da Veja, que além de ficção cobre livros de assuntos variados, como história e política. E ocupar esse cargo, na Veja, significa receber de editoras uma média de 100 livros por semana, para submeter a filtros e critérios. Em edições mais trabalhosas, são duas ou três resenhas, mais a seção Veja recomenda, com pequenos blocos de texto sobre dois ou três livros - a revista é bastante setorizada, então todo o trabalho ligado a livros fica na mão de uma pessoa só. Não ficaram muito claros quais são os critérios para a pauta de livros da Veja - falou-se muito em "interesse do leitor", o que é bastante vago no caso de uma revista que atinge um público tão genérico e difuso.

Há possibilidades variadas de cobertura da produção em livros do Brasil, claro, presas a especificidades de outros públicos e outras mídias. A palestra em parte reteve-se na rotina de trabalho daquele que é possivelmente o crítico literário mais lido do Brasil. E a dificuldade mais geral que ele enfrenta não deixa de ser a do jornalismo cultural e da crítica em geral: a crise do "homem de cultura", em favor de uma especialização cada vez maior e mais cedo. Nas palavras de Teixeira, "especialização que chega às raias da idiotia".

Livre de preocupações como a busca de novos autores e, em certa medida, das reclamações de escritores supostamente incompreendidos, restam outras dificuldades como o abismo entre o leitor que pouco ou nenhum contato teve com o mundo das letras e o iniciado, problema comum no jornalismo especializado.

Com um tom irônico presente quase o tempo todo, Teixeira se classifica como misantropo, avesso aos contatos com assessorias de imprensa (aos quais sobram petardos como "os releases são muito ruins em geral" e "eles dizem que o livro é interessantíssimo, e o livro não é nada interessante"). O olhar sobre os escritores também é de soslaio: brincando, diz que não freqüenta, sob hipótese alguma, a Vila Madalena, por questões de integridade física.

Resta a paixão pelos livros e o respeito pelos leitores. A primeira, manifestada nas indicações de leituras que pontilharam a palestra e pelo conselho dado em resposta à pergunta da platéia, sobre como avaliar os livros: "não é você quem vai matizá-los, são os livros que são matizados ou não". Frase que, ainda que discretamente, abre um caminho bastante genuíno para a crítica literária: que falem os livros.

[1 Comentário(s)]

Postado por Verônica Mambrini
14/9/2006 às 11h37

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