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Segunda-feira,
25/9/2006
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Redação
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A Canção Pobre
Sintam-se em casa, nobres amigos! A partir de hoje, esse é meu blog oficial, e é aqui que vocês poderão ler o que já foi chamado por algum anônimo pedante de "elucubrações" de "um aspirante a jornalista malogrado, um beócio escritor de idiotices".(...)
Continuarei a fazer o que sempre fiz, falando de livros aqui, discos ali, cotidiano acolá... flertando com contos vez por outra, sendo polêmico quando tiver que ser, e por aí vai (e o melhor: agora tudo devidamente dividido por categoria!).
Ponham links em seus blogs, divulguem para seus amigos e continuem com as visitas e os comentários.
É isso. Estamos aí!
Jorge Wagner, inaugurando seu blog (porque ele Comenta aqui no Digestivo...).
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Julio Daio Borges
25/9/2006 à 00h26
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El dia que me quieras
Termina neste final de semana a temporada do espetáculo El dia que me quieras, belíssimo trabalho do grupo Folias d'Arte. No texto, do venezuelano José Ignácio Cabrujas, o famoso cantor de tangos Carlos Gardel faz uma viagem à Venezuela. A peça foca a tradicional família Ancizar, que tem suas relações botadas em xeque com a chegada do astro.
A montagem é estruturada como os próprios musicais de Gardel, com músicas executadas no decorrer da trama. Uma das irmãs Ancizar está se preparando para ir à União Soviética com o marido. A irmã mais velha reprova este desejo, ocupada com os preparativos para a chegada de Gardel. A sobrinha órfã não tem olhos para outra coisa que não seja o cantor. O irmão, um fanfarrão idealista, consegue inclusive se aproximar dele.
Com um tom cômico, a peça é uma bela reflexão sobre a morte das utopias. O marido de Maria Claudia, Pio, aparece na primeira parte com óculos escuros como um cego, que assume uma postura revisionista e bota, melancolicamente, seus valores e crenças em uma nova perspectiva. Maria Claudia é uma deslumbrada encantada pelo discurso do marido - ela sonha com a vida no campo nos kholkozes da Ucrânia -, mas que vacila ao ficar próxima de Gardel, que visita a casa.
A decadência da família emerge entre discursos inócuos e uma cegueira para o mundo circundante. Os Ancizar estão presos a um tempo que passou, em uma cidade colocada a escanteio no desenvolvimento econômico e cultural. Seus horizontes não ultrapassam aquela Caracas nostálgica que endeusa Gardel.
Todos ali são no fundo figuras vazias ilhadas em um país colonizado, agarrados desesperadamente a tradições empoeiradas pelo tempo. Tanto o nome do finado General Ancizar quanto a grandeza da casa, um palacete decadente, com móveis cobertos, são evocados com freqüência.
O texto alcança grandes dimensões na inteligente e sensível montagem de Marco Antonio Rodrigues, que carrega no registro expressivo de seus atores. O elenco é talentoso e celebra a alegria de se fazer teatro, com um belo trabalho musical e lindas imagens, além de interagir com o próprio entorno do galpão, quando se abrem as portas do teatro.
O Folias, responsável por alguns dos melhores espetáculos paulistanos dos últimos anos, acerta em cheio em El dia que me quieras. Teatro de discussão política sem nem sequer passar perto de ser panfletário ou leviano. Aqui, a reflexão vem do riso e da poesia.
Para ir além
El dia que me quieras - Galpão do Folias - R. Ana Cintra, 213 - Santa Cecília - Tel. (11) 3361-2223 - R$ 20 - 150 min. - Sexta e sábado, 21h; domingo, 20h - Até 24/09.
Para quem quiser conhecer melhor o trabalho do grupo, há algumas boas oportunidades. Até o dia 24 de outubro acontece o projeto "Latinitudes e Longitinidades", com uma série de debates, filmes e show com a Améria Latina em questão. No dia 13 de outubro reestréia a montagem de Otelo, de Shakespeare. E também em novembro acontece a quinta edição da Mostra do Folias, evento anual que traz outros trabalhos do grupo e peças de conjuntos convidados. Em 2006 virão os grupos As Graças, Caixa de Imagens, Farândola e Barracão Teatro.
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Guilherme Conte
22/9/2006 às 15h43
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Um dia na vida
Eduardo acorda. Ao seu lado, no criado mudo, disputam o pequeno espaço um pen drive, celular, dois livros, um caderno e no topo da pilha, seu notebook. Sentado na cama, desliga o despertador do celular, puxa o notebook para o seu colo e acessa o primeiro site que lhe vem à cabeça, verificando a conexão wireless. Ainda tem tempo de sobra antes de sair para a primeira aula da semana. Abre dois endereços de webmail distintos e em um deles resolve finalmente, e agora com bastante calma, responder ao e-mail irritado que a namorada enviara ontem. Antes mesmo de terminar, percebe que o download de um cd importado que deixou executando durante a noite já encerrou e começa a escutar as músicas. Conecta o seu mp3player no notebook para carregar as músicas enquanto terminar de escrever. No outro webmail uma mensagem da Bianca enviada para ele e mais dez amigos tenta combinar um dia para um jantar em grupo. Verifica sua agenda eletrônica e vota pela próxima quarta. Acessa um site que agrega informações sobre as músicas que ele escuta no computador e vê sugestões de artistas similares. Percebe que seu contato foi adicionado na lista de um amigo, e acessa a página deste para ver o que ele está escutando. Enquanto isso sua namorada e ex-colega de trabalho entram no chat. Conversa com os dois, intercalando seu tempo entre um e outro. Na lista de discussão de tradutores do Gnome dá o seu palpite sobre o uso de verbos em imperativo ou infinitivo. Agora está na pagina inicial da wikipedia e resolve que ainda dá tempo para corrigir aquele último parágrafo sobre sua cidade natal. Já está meio atrasado, mas entregar o trabalho do professor no site da disciplina não leva mais que dois minutos. Quando sai de casa percebe que esqueceu de pagar a fatura do cartão...
Vinicius Pinheiro, em (por extenso) "Um dia na vida de um indivíduo social imerso na emergente economia da informação em rede", no blog (dentro do site) que linca pra nós.
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Julio Daio Borges
22/9/2006 à 00h02
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Podcast: carta de alforria
Os podcasts estão crescendo no mercado mundial como uma nova forma de distribuição de arquivos multimídia, tanto para áudio quanto para programas de vídeo. Eles estão demonstrando que a população cibernética procura assuntos específicos para ouvir ou ver, pinçando o ouro do rio.
Mas será que isto é produtivo? Uma leitura rápida do título diria que sim, é uma carta de alforria. Carta, esta, dada aos escravos para comprovarem a liberdade, e, no nosso caso, retirando os péssimos programas veiculados nas emissoras, sobrando só os que, no nosso ponto de vista, possuam qualidade.
Desta forma, não precisamos, teoricamente, nos preocupar com entretenimento, este sempre será "legal", utilizando, propositalmente, uma expressão nada criteriosa. Ninguém fará um download e arquivará, periodicamente, um programa que julgue de profundo desinteresse.
Nesta linha de raciocínio, encontramos a primeira carta de alforria, ou seja, liberdade e qualidade para nossos sentidos.
Por outro lado, dependendo da nossa disposição em pesquisar novas podcasts e tempo hábil para descobertas (estamos falando do comodismo), nos confinaremos, inconscientemente, em uma caverna semelhante à de Platão.
Ou seja, dogmatizaremos nossa linha de raciocínio à opinião do criador do postcast. Enquadraremos nosso gosto ao poder de crítica e persuasão deste mentor escolhido para nos entreter.
Em suma, por meio do podcast teremos aprisionado a nossa possibilidade de conhecer o novo. Como sairemos desta redoma? A carta de alforria desta vez se inverte: a liberdade, talvez, esteja em ver também porcarias. Estamos diante de uma faca de dois gumes.
Como se entreter sem se chatear?
Ora, a palavra chave é proporcionalidade. O tempo, o seu tempo, cada vez mais precioso, deve ser economizado com podcasts, realmente interessantes no seu ponto de vista.
Mas não se esqueça da maravilha de descobrir o porquê da expressão "gosto não se discute", e, principalmente, que novas culturas surgem a todo o momento.
Para não se enclausurar, para se ter a real carta de alforria, deve-se, sim, adotar um podcast, porém, sem perder a capacidade de criticar, positiva ou negativamente, tudo o que se ouve ou vê, dando oportunidade ao vôo mágico do livre arbítrio e da respectiva liberdade que isto nos trás.
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Daniel Bushatsky
21/9/2006 às 15h02
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LiveMarks
...is a project to show del.icio.us and other services' bookmarks live.
Porque... você quer ver as pessoas guardando links agora?
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Julio Daio Borges
21/9/2006 à 00h04
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Patrícia Palumbo e o rádio
Jornalista que faz rádio costuma ser louco por rádio. Os primeiros anos da profissão normalmente são de salários mais baixos e horas de trabalho mais puxadas, o que espanta quem não tiver um encanto natural por esse meio. A jornalista Patrícia Palumbo, da Eldorado, gosta tanto de rádio que coleciona aparelhos. Coleciona também belas entrevistas em sua trajetória, com vozes inconfundíveis da música brasileira. Patrícia mostrou algumas delas no último dia 15, no curso de jornalismo cultural promovido pelo Centro de Estudos da Revista Cult.
Patrícia começou a carreira na rádio Cultura AM há 18 anos, e lá aprendeu a fazer "jornalismo com responsabilidade". Por ser transmitida em AM, FM e ondas curtas, a Cultura tem um alcance enorme, até mesmo fora do País. Ela diz que hoje só trabalha com o que gosta, e que ganha bem para isso. "Minha independência foi um pouco de sorte e muito de postura. Desde o começo procurei lugares onde pudesse buscar essa especialização". Na discoteca da Fundação Padre Anchieta, por exemplo, ela extraiu o que pôde do acervo de 40 mil LPs da rádio.
Aprendeu logo que "você tem de trabalhar a linguagem, seduzir seu ouvinte". Depois de conquistá-lo, o jornalista ganha confiança suficiente para entrar no não habitual, em assuntos mais variados e sair da pobreza da agenda cultural que domina as rádios hoje. Embora haja exemplos esparsos de bons programas no ar, as rádios estão cada vez mais massificadas, se agregando a redes que padronizam o conteúdo. É um público muito grande para o alcance ínfimo existente de programas culturais atraentes e com conteúdo.
Uma emissora como a rádio Transamérica, por exemplo, chega a atingir 160 mil pessoas por minuto. Patrícia informa também que, segundo o Ibope, cerca de 99% dos domicílios brasileiros possuem aparelho de rádio - um contingente enorme de ouvintes em potencial para bons programas de cultura.
Ela cita os exemplos do Planeta Som, na rádio USP FM, com Magda Pucci (do grupo musical Mawaca), que explora só o terreno na música, ou o Show da Manhã , na Jovem Pan, que tem o jeitão da rádio: rápido, popular, lúdico. Mais sóbrio, o Estação Cultura , na Cultura FM, com Gioconda Bordon (que antes fazia Espaço Informal na Eldorado), achou um ritmo próprio, mais lento; Patrícia acredita que é contraponto interessante à loucura do trânsito urbano, no horário do programa (das 18h às 19h, de segunda à sexta-feira).
Na rádio em moldes mais tradicionais, Patrícia levou ao ar o Vozes do Brasil, por um ano, às terças-feiras à noite, na rádio Eldorado. O programa tinha entrevistas com grandes vozes da MPB. Rendeu filhotes, como o Vozes ao Vivo, parceria com o Sesc Vila Mariana, e o Vozes na Biscoito, com a gravadora Biscoito Fino. O último veio a partir de entrevistas de Patrícia em que ela perguntou a artistas como Chico Buarque ("Eu aprendi a cantar ouvindo rádio") e Maria Bethânia ("Eu me criei ouvindo rádio 24 horas") qual era a relação deles com o rádio.
Patrícia Palumbo ouve e produz rádio para internet. Além de ter suas preferidas, envia boletins de música brasileira contemporânea para a rádio Grenouille, em Marselha, na França. Contudo, não se entusiasma muito com podcasts. "O podcast ainda não é uma alternativa de trabalho, é só diversão", afirma. Se o podcast vai se tornar um fenômeno sério no Brasil, como os blogs de jornalistas têm se tornado, só dá para saber com o tempo.
Uma curiosidade: ela não escreve os roteiros antes de ir para o ar. Abre o programa apenas com a primeira música na cabeça, e deixa que uma "puxe" a outra. "Você tem de estar preparado todo o tempo, saber que vai entrar ao vivo. Esse negócio de precisar ter alguma coisa escrita, senão você não dá conta, é uma armadilha. Você tem que ter firmeza, saber do que está falando."
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Verônica Mambrini
20/9/2006 às 12h35
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Exposição coletiva
Se eu fosse artista, convidava 27 curadores para encher o espaço vazio de um museu e deixava eles à vontade. O título da minha obra seria 27 curadores e eu teria criado a primeira exposição coletiva invertida do mundo.
Sheila Leirner, no seu Quando, Onde e Como, que, óbvio, linca pra nós.
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Julio Daio Borges
20/9/2006 à 00h06
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6 anos esta noite
Cenumlembra? Celembra! Claro que celembra...
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Julio Daio Borges
19/9/2006 às 10h22
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Inactivism
Eu tenho um projeto de leitura: autores consagrados, pouca literatura contemporânea. Não que eu deplore obras de escritores iniciantes (essa aversão, de tão difundida, me parece antes um defeito que uma qualidade), mas tenho muito medo de errar e valorizo o dinheiro que gasto.
Uma das conseqüências desse projeto é que leio críticas como quem desfruta de uma obra em si mesma. E é aí que está o problema: resenhistas freqüentemente lançam mão de expressões que, de tão vulgarizadas, perderam completamente o sentido, não persuadem mais, e isso me deixa muito, mas muito irritado.
Se fôssemos levar os críticos das nossas revistas impressas de cultura a sério, os lançamentos literários se encaixariam quase sempre no esquema da "prosa afiada", "ácida" e blablablá. Parece que a beleza não é uma qualidade admirada pelos resenhistas de hoje em dia. Uma pena. É como se a sordidez e a contundência de um realismo chulo fossem as únicas coisas que interessassem. Os leitores que freqüentam os melhores blogs já devem ter ouvido essa lamentação uma dúzia de vezes. Endosso.
Quando não assinala a crueza da "prosa", o resenhista parece não encontrar outro caminho senão aquele do adjetivo milagroso, que define o livro de uma maneira tal - "maravilhoso", "delicioso", "imperdível" etc. - que até parece que é a primeira vez que toma contato com alguma obra de relevância. A síntese absoluta do crítico sempre me pareceu a mais pobre expressão das suas sensações.
Cleber Corrêa, no seu blog, que linca pra nós.
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Julio Daio Borges
19/9/2006 à 00h10
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Jotabê Medeiros e o som
Jotabê Medeiros, Jerônimo Teixeira e Luiz Carlos Merten, palestrantes do curso de jornalismo cultural promovido pelo Centro de Estudos da revista Cult, são jornalistas de veículos respeitados da grande imprensa, vêm do Sul do País e escrevem sobre cultura. A respeito do métier de cada um, respectivamente jornalismo especializado em música, livros e cinema, os três obedecem ao mesmo mandamento: paixão é fundamental. Aí se encerram as semelhanças mais óbvias. A palestra de Jotabê - que escreve sobre música para o Estado de S. Paulo desde 1994 - foi a quarta de um ciclo que contou com a abertura de Carlos Graieb, editor-executivo da revista Veja e, embora não tenha tirado o pé do chão, voltou-se à teoria, citando referências teóricas em autores como Susan Sontag, Greil Marcus e Tony Parsons.
Jotabê Medeiros é formado em Comunicação pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), no Paraná. Começou na crítica musical quase por acaso. Mandou para a revista SomTrês uma resenha de The Wall, disco antológico de 1979 do Pink Floyd (que não era mais lançamento na época), e recebeu uma resposta de Maurício Kubrusly, então editor da publicação. Kubrusly tinha gostado do texto de Medeiros e chamou-o para escrever na revista. Antes da abertura das importações (e da internet, claro), manter-se atualizado sobre música era caríssimo. Só viajando para fora do Brasil ou pedindo uma ajudinha para amigos. "Disco, nos anos 1980, era quase um contrabando", conta Jotabê. Desanimado, ele declinou o convite de Kubrusly: "Eu não tenho dinheiro para comprar os álbuns". "Não tem problema, a gente vai mandar toda semana uma caixa de CDs para você para você escolher sobre o que quer escrever", respondeu o editor. Dadas as circunstâncias, um convite irrecusável para qualquer apaixonado por música, nem que fosse de graça. Não era, e começou formalmente a carreira de Jotabê na crítica musical.
A SomTrês foi uma das primeiras revistas especializadas em música e áudio do Brasil. A primeira edição, de janeiro de 1979, trazia as chamadas: "As músicas proibidas pela censura", "Inédito: o verdadeiro hit-parade do rádio", "Mais de 30 páginas com os novos equipamentos" e "Zezé Motta: a receita do segundo LP". Além da chamada de capa "Os racks estão chegando", ilustrada pela foto de dois racks no meio de papel de presente prateado desembrulhado, com a própria Zezé Motta (pouco) vestida de oncinha, atirada languidamente entre os racks. A revista se equilibrava entre a cobertura de música, instrumentos e equipamentos de áudio, mix que não existe mais no mercado editorial brasileiro. Durou até 1989, com 132 edições.
As revistas de música no Brasil costumam ter pouca variedade ou solidez, com altos e baixos marcados - caso da Bizz. Desde novembro de 2005, a revista está de volta ao mercado, pela editora Abril, em mais uma "reencarnação". Depois de ser referência nos anos 1980, teve uma sobrevida bastante criticada na década de 1990 - em 1995, a mudança chegou ao nome, que se tornou ShowBizz. Para outubro, a Rolling Stone lança uma edição brasileira, mensal, que vai se espelhar na versão norte-americana. Segundo Jotabê, "o principal problema dessas revistas é a falta de ousadia", e a relação incestuosa com as gravadoras. Daí, um pulo para ficarem como "conteúdo igual ao catálogo das gravadoras".
E não é fácil escapar dessa relação, já que uma das fontes na área de cultura atualmente é a assessoria de imprensa. A redação do Estado, por exemplo, recebe de 20 a 30 CDs e livros sobre música por semana de assessorias ou gravadoras. É muito material para poucos jornalistas fazerem o filtro - no Estado há quatro cobrindo música - sem contar ainda o que chega ao jornalista por outros meios, como indicação de conhecidos e contatos do meio musical. "Essa é a realidade do mercado: não dá para cobrir tudo que é relevante. Com a abundância de informação, as coisas não adquirem relevância", diz Jotabê. "Panic At The Disco! é a grande banda do momento, para a molecada. Daqui a alguns meses, não vai ser. Eu escreveria isso".
Um tipo de preocupação freqüente entre os estudantes é como o crítico separa as preferências pessoais do trabalho e se a crítica é capaz de influenciar o sucesso comercial de um produto cultural - o fato é que a crítica tem quase nenhum poder perto do impacto dos investimentos em marketing feitos pelas gravadoras. Mesmo reconhecendo esse fato, Jotabê lamenta, por exemplo, um músico do naipe de Paulinho da Viola estrear espetáculo com casa vazia. "Tem artistas que parece que não foram talhados para a multidão. Eu acho uma heresia ter lugares vazios no show do Paulinho da Viola." Arremata com um sorriso melancólico: "Os caminhos do destino na música são meio tortuosos".
De acordo com Jotabê, existem quatro tipos de críticos: "Tem o crítico que escreve para convencer alguém, que trata o leitor como se fosse um consumidor; tem o crítico que é fã de uma banda ou de determinado gênero; tem o crítico intelectual, que é o crítico com a pretensão de pensar a sua época; e tem o crítico que escreve porque precisa do dinheiro. Eventualmente, se enquadra ao mesmo tempo em alguma das outras categorias". E sobre seu próprio trabalho, diz que o que espera a cada show ou álbum, é uma "música mais desafiadora, mais independente, mais incômoda".
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Postado por
Verônica Mambrini
18/9/2006 às 14h58
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