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Segunda-feira,
2/10/2006
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Redação
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Circuito Editorial Literário
Frequentemente (pelo menos uma vez por semana), alguém me escreve perguntando como se tornar um escritor, como publicar um livro, como escrever um livro que possa ser aceito pelas editoras, se um agente literário poderá realmente ajudá-los a conseguir publicar, que tipo de livro as editoras publicam mais, qual o tamanho que um romance deve ter para ser mais facilmente aceito por editoras, que tipo de editora é a mais adequada ao livro em questão, qual gênero é mais difícil de emplacar, etc. Sem dúvida, há uma carência gigantesca de informações sobre o assunto, o que é uma pena, pois acaba por desestimular muitas pessoas com talento - e às vezes até com bons originais prontos - a se aventurarem no mundo da literatura profissional, digamos assim. Os aspirantes a escritores ficam perdidos, sem saber a quem recorrer e o que fazer para ter mais chance neste concorrido mercado.
De fato, não sou a pessoa mais capacitada para responder essas perguntas. Entretanto, indico algumas palestras que ocorrerão nos meses de outubro e novembro na cidade de São Paulo e que poderão ajudar os novos escritores nas questões lançadas acima, ou mesmo escritores que já conseguiram publicar mas querem se atualizar sobre o atual momento do mercado editorial brasileiro. Para um assunto carente como este, sem dúvida essa é uma iniciativa bastante interessante e pertinente.
O 1º Circuito Editorial Literário, promovido pela Agência Literária, pretende, através de quatro palestras relevantes, promover a interface entre escritores e envolvidos no mercado editorial, discutindo os principais aspectos relacionados a criação e publicação de uma obra literária, a partir de uma visão da realidade do mercado editorial nacional.
Abaixo, as palestras agendadas:
* Livro infanto-juvenil e as exigências do mercado, dias 17 e 24 de outubro, com a editora Ceciliany Alves, responsável por Literatura e Projetos Especiais da Editora FTD.
* Como criar um bom romance e ter uma boa edição, no dia 31 de outubro, com o professor Jiro Takahashi, editor com passagem nas principais editoras do país, além da sua recente atuação como diretor editorial da Geração Editorial.
* Dicas de um editor: escrevendo obras de não-ficção, nos dias 7 e 8 de novembro, com a diretora editorial da Larousse do Brasil, Soraia Reis.
* Como ter seu livro publicado e as exigências do mercado, dia 21 de novembro (finalizando o Circuito), com a agente literária Alessandra Pires, completando os temas abordados.
As palestras ocorrerão na Livraria Martins Fontes - Al. Jaú, 1742 - Cerqueira César - São Paulo/SP e mais informações (e inscrições) estão disponíveis no (11) 3675-8347 ou pelo site O Agente Literário.
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Marcelo Maroldi
2/10/2006 à 01h00
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Genet no Satyros
Uma cela. A solidão de um homem. Expectativas que se contradizem. O que dizer diante do tribunal na manhã seguinte e quando o carcereiro chegar ordenando a saída pra tomar sol parecem duas questões desoladoras. O falar sozinho redunda no ambiente tosco composto por duas privadas e paredes sujas. Alucinações, idéias de grandeza, desejos impossíveis e incorporações onde autor se confunde com sua obra parecem ser as soluções para um cenário desesperador.
Pedro Vieira traduz os abundantes desejos do escritor francês outsider Jean Genet (1910-1986), que vivia de roubos e prostituição após ser abandonado pela mãe, com o lirismo que é próprio de sua literatura no monólogo Três Paredes e Meia, última semana em cartaz no Espaço Satyros 2. Com um jogo de cena primoroso, o cenário pobre e fidedigno à história de Frank Dezeuxis torna-se extremamente dinâmico. A luz é essencial na peça, assim como o jogo corporal do protagonista, obra de Valéria Jouse, que se desnuda e se recompõe com incrível naturalidade e leveza de gestos.
A idéia de encenar um espetáculo baseado na obra de Genet surgiu do próprio ator em uma turnê por presídios com o grupo Teatro da Vertigem, que tem mais de uma década de vida e se tornou famoso por encenar uma trilogia bíblica que discute o limite entre o sagrado e o profano, relacionando-os a temas como o massacre do Carandiru. Na ocasião, Pedro participava da peça Apocalipse 1,11 e, em um destes presídios, um polonês lia com emoção Nossa Senhora das Flores, obra de Genet na qual se inspira a livre-adaptação e que se tornou conhecida principalmente entre os próprios presidiários por seu retrato fiel e autobiográfico dos sentimentos contraditórios da "vida bandida". Pedro chamou, então, Emerson Rossini, ator da Companhia do Latão com experiências anteriores de direção, e o dramaturgo Sérgio Pires, responsável pelo texto, dentre outros espetáculos, de Cadência (2004), e produziu o espetáculo.
Ernestine e Divine são personagens da obra repetidamente clamadas pelo ator no espetáculo, sempre em estado de puro torpor. Por fim, vemos uma fusão e não a encarnação de diferentes personagens. É o autor alucinado, no fundo do poço, que conversa e confidencia com o espectador imaginário, além de se revoltar com outros presos fora de cena e cochichar consigo mesmo. Ele sente suas personagens, sofre com elas e se preocupa com o que lhe acontecerá diante do tribunal. Ao mesmo tempo, deseja o carcereiro ardentemente e se fantasia de Divine.
Genet choca não por sua crueza, mas pela intensidade de seus desejos, expressos em sua resumida carreira como escritor, que o transformou de pária a um dos maiores escritores franceses contemporâneos. E Pedro consegue mostrar estes desejos de forma eficiente em uma peça singela que merece atenção. Além do que, é bom sentir no teatro um gostinho da obra de Genet que, já foi bem dito, é uma obra mais comentada do que conhecida.
Para ir além
Espaço dos Satyros 2 - Praça Roosevelt, 124 - Tel. 11 3258-6345 - Ingresso - R$20 com meia entrada para idosos, estudantes e classe teatral - Quinta às 23h30 e Sábado às 19h
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Marília Almeida
29/9/2006 às 06h30
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O problema da Lei Rouanet
O benefício concedido ao Cirque du Soleil, através da Lei Rouanet, revoltou muita gente. E não era para menos. Enquanto artistas brasileiros enfrentam a burocracia, a intolerância e até a ignorância dos empresários para conseguir o subsídio, a companhia canadense recebeu mais de 9 milhões de reais para suas apresentações, que custam, ao espectador, de 50 a 400 reais o ingresso.
Absurdo? Custa-me assimilar que a culpa seja do MinC - Ministério da Cultura. Afinal de contas, ele apenas aprova a renúncia fiscal de uma empresa que contribui com o artista. Então, a culpa seria de quem? Do empresário brasileiro? O empresário cresce os olhos para a visibilidade que sua empresa pode ter através da divulgação de sua marca por parte de um megaespetáculo como este, o que é, no mínimo, compreensível.
Na realidade, a culpa não é de ninguém. Talvez o método esteja errado. A Lei Rouanet, embora contribua com o projeto de muitos artistas merecedores, ainda não supre a necessidade daquele artista regional, que não possui visibilidade o bastante para aguçar a boa vontade de um grande empresário. O problema da Lei Rouanet está justamente neste contraste, ou seja, o sistema ainda não é o adequado para todos. É por isso que os artistas regionais necessitam de leis municipais para subsidiar seus projetos.
O Ministério da Cultura acabou negando a segunda parte do pedido de incentivo por parte do Cirque du Soleil, pois o rebuliço que a classe artística brasileira causou não foi brincadeira. Em abril, houve até mudanças na Lei Rouanet, com inserção de alguns critérios a mais para que um projeto seja aprovado. Um deles, o que seria um reflexo desta movimentação, foi o de que seria necessário o benefício do público, afinal, o dinheiro é público. O Cirque du Soleil, como se sabe, cobra os ingressos, que não são baratos, então, por isso, teve seu segundo pedido negado.
Esta atitude do MinC, porém, não resolve o problema, apenas o abafa. Não adianta nada haver uma lei de incentivo que não beneficia aqueles que mais precisam dela. O certo, como já disse, é criar um fundo de cultura, de preferência regional, que alcance os pequenos artistas ou profissionais que colaboram com a Cultura. Este fundo de cultura não só seria mais justo como mais prático para todos, pois o trabalho de incentivo seria descentralizado, distribuindo as funções para cada órgão competente, na esfera municipal.
Afinal, a Cultura está em todo lugar. Ela surge o tempo todo, independente de qualquer coisa. E para preservá-la, é necessário ordem, dedicação e compreensão por parte do poder público.
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Cristiane Carvalho
28/9/2006 às 16h45
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Rascunho
Esse blog não nasceu para polemizar ou engessar nenhuma de minhas opiniões. Aliás, eu nem gosto muito da palavra opinião. Dá impressão de idéia estanque sobre alguma coisa. Eu tenho sim meus sentimentos a respeito do que vejo, do que experimento, e até algumas convicções. Mas sei que tudo, absolutamente tudo nessa vida pode mudar. Inclusive o que eu escrever neste blog...
Alessandra Pajolla, no seu blog (porque ela Comenta no Digestivo Cultural...)
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Julio Daio Borges
27/9/2006 à 00h30
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Ceravolo e a velha internet
Um dos alunos do curso de Jornalismo Cultural do Centro de Estudos da Revista Cult pergunta: "Você acha que a internet roubou público da TV, do jornal, da revista?". Haroldo Ceravolo Sereza, editor da capa do UOL, responde: "Acho que não. Mas pode vir a tirar."
Se você der uma passadinha na capa do UOL, provavelmente vai achar conteúdo de cultura que privilegia a interação entre vídeos, arquivos de som, imagens e texto, além de links com a grife de veículos de imprensa como a Folha de S.Paulo ou a Veja. "Hoje não dá para pensar em nenhum processo jornalístico abrindo mão da internet", diz Ceravolo. "Eu não conheço nenhum caso de site que fechou uma revista ou jornal, pelo contrário. Bons sites tendem a render uma versão em papel".
De acordo com o editor, as chamadas de capa do UOL sempre tentam equilibrar conteúdo relevante e ao mesmo tempo interessante para o público. A palestra de Ceravolo, no último dia 19, deu detalhes de como a internet tem ganhado credibilidade com o público e da consolidação da linguagem que funciona bem para a Web.
"Uma coisa bacana de se fazer jornalismo cultural na internet é ficar ligado nessa produção que está sendo feita na rede", comentou Ceravolo. A Web é inesgotável tanto por sua capacidade praticamente ilimitada de prover conteúdo, quanto pela forma livre e autônoma com que a informação se organiza, como pelos novos filtros que estão sendo criados. Formatos como o blog, o podcast e o videocast abrem um espectro de possibilidades de circulação da informação diferentes de tudo que havia antes, sobretudo pelo fato de que qualquer um que tenha acesso às ferramentas pode gerar conteúdo em pé de igualdade, em termos de acesso, com o do de grandes veículos. E é difícil para a velha guarda do jornalismo aceitar esse processo irreversível.
A Web 2.0 tem suas próprias regras, que vão se criando dentro de uma geração que cresceu usando a internet como principal ferramenta de trabalho, entretenimento e comunicação. Em outras palavras, o futuro já chegou para a internet, mas o jornalismo na rede é teimoso e, no geral, insiste no passado. Se a era anterior foi a da informação, possivelmente a presente é a dos filtros. O sistema de abas ou de menus estáticos, por exemplo, ainda são as duas grandes opções usadas na organização de conteúdo de grandes portais de conteúdo jornalístico, como o próprio UOL, o Terra ou o Último Segundo. Perguntado sobre se as tags, extremamente usadas em fenômenos atuais da Internet como YouTube ou del.icio.us, poderiam ser absorvidas pelo jornalismo como parte da linguagem da Web, Ceravolo, concluiu, caetanamente: "Isso no limite, é a morte do jornalismo. Ou não."
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Verônica Mambrini
26/9/2006 às 23h27
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O início
O blog é um espaço para reflexão e questionamento, para reunir os diversos, trocar idéias e experiências.
O conteúdo é editado por mim, Angela Gomes de Souza, com os colaboradores Ellen Motta Assad e Marco Godinho, sendo atualizado por convidados e visitantes.
Em conjunto, temos como ponto de partida as cidades em suas várias escalas, as metrópoles, o seu dia-a-dia e suas situações excepcionais.
Na rede estamos descolados da geografia, a cidade de Vitória é meramente um cenário... As conexões que pretendemos vão muito além da Ilha, tudo está por construir.
Escreva ou envie imagens sobre o que você vê: o mundo, o Brasil, a cidade... a vida. Diferentes olhares e escalas de reflexão...
Angela Gomes de Souza, inaugurando seu DAUS Blog, e lincando pra nós...
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Julio Daio Borges
26/9/2006 à 00h20
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A Canção Pobre
Sintam-se em casa, nobres amigos! A partir de hoje, esse é meu blog oficial, e é aqui que vocês poderão ler o que já foi chamado por algum anônimo pedante de "elucubrações" de "um aspirante a jornalista malogrado, um beócio escritor de idiotices".(...)
Continuarei a fazer o que sempre fiz, falando de livros aqui, discos ali, cotidiano acolá... flertando com contos vez por outra, sendo polêmico quando tiver que ser, e por aí vai (e o melhor: agora tudo devidamente dividido por categoria!).
Ponham links em seus blogs, divulguem para seus amigos e continuem com as visitas e os comentários.
É isso. Estamos aí!
Jorge Wagner, inaugurando seu blog (porque ele Comenta aqui no Digestivo...).
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Julio Daio Borges
25/9/2006 à 00h26
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El dia que me quieras
Termina neste final de semana a temporada do espetáculo El dia que me quieras, belíssimo trabalho do grupo Folias d'Arte. No texto, do venezuelano José Ignácio Cabrujas, o famoso cantor de tangos Carlos Gardel faz uma viagem à Venezuela. A peça foca a tradicional família Ancizar, que tem suas relações botadas em xeque com a chegada do astro.
A montagem é estruturada como os próprios musicais de Gardel, com músicas executadas no decorrer da trama. Uma das irmãs Ancizar está se preparando para ir à União Soviética com o marido. A irmã mais velha reprova este desejo, ocupada com os preparativos para a chegada de Gardel. A sobrinha órfã não tem olhos para outra coisa que não seja o cantor. O irmão, um fanfarrão idealista, consegue inclusive se aproximar dele.
Com um tom cômico, a peça é uma bela reflexão sobre a morte das utopias. O marido de Maria Claudia, Pio, aparece na primeira parte com óculos escuros como um cego, que assume uma postura revisionista e bota, melancolicamente, seus valores e crenças em uma nova perspectiva. Maria Claudia é uma deslumbrada encantada pelo discurso do marido - ela sonha com a vida no campo nos kholkozes da Ucrânia -, mas que vacila ao ficar próxima de Gardel, que visita a casa.
A decadência da família emerge entre discursos inócuos e uma cegueira para o mundo circundante. Os Ancizar estão presos a um tempo que passou, em uma cidade colocada a escanteio no desenvolvimento econômico e cultural. Seus horizontes não ultrapassam aquela Caracas nostálgica que endeusa Gardel.
Todos ali são no fundo figuras vazias ilhadas em um país colonizado, agarrados desesperadamente a tradições empoeiradas pelo tempo. Tanto o nome do finado General Ancizar quanto a grandeza da casa, um palacete decadente, com móveis cobertos, são evocados com freqüência.
O texto alcança grandes dimensões na inteligente e sensível montagem de Marco Antonio Rodrigues, que carrega no registro expressivo de seus atores. O elenco é talentoso e celebra a alegria de se fazer teatro, com um belo trabalho musical e lindas imagens, além de interagir com o próprio entorno do galpão, quando se abrem as portas do teatro.
O Folias, responsável por alguns dos melhores espetáculos paulistanos dos últimos anos, acerta em cheio em El dia que me quieras. Teatro de discussão política sem nem sequer passar perto de ser panfletário ou leviano. Aqui, a reflexão vem do riso e da poesia.
Para ir além
El dia que me quieras - Galpão do Folias - R. Ana Cintra, 213 - Santa Cecília - Tel. (11) 3361-2223 - R$ 20 - 150 min. - Sexta e sábado, 21h; domingo, 20h - Até 24/09.
Para quem quiser conhecer melhor o trabalho do grupo, há algumas boas oportunidades. Até o dia 24 de outubro acontece o projeto "Latinitudes e Longitinidades", com uma série de debates, filmes e show com a Améria Latina em questão. No dia 13 de outubro reestréia a montagem de Otelo, de Shakespeare. E também em novembro acontece a quinta edição da Mostra do Folias, evento anual que traz outros trabalhos do grupo e peças de conjuntos convidados. Em 2006 virão os grupos As Graças, Caixa de Imagens, Farândola e Barracão Teatro.
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Guilherme Conte
22/9/2006 às 15h43
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Um dia na vida
Eduardo acorda. Ao seu lado, no criado mudo, disputam o pequeno espaço um pen drive, celular, dois livros, um caderno e no topo da pilha, seu notebook. Sentado na cama, desliga o despertador do celular, puxa o notebook para o seu colo e acessa o primeiro site que lhe vem à cabeça, verificando a conexão wireless. Ainda tem tempo de sobra antes de sair para a primeira aula da semana. Abre dois endereços de webmail distintos e em um deles resolve finalmente, e agora com bastante calma, responder ao e-mail irritado que a namorada enviara ontem. Antes mesmo de terminar, percebe que o download de um cd importado que deixou executando durante a noite já encerrou e começa a escutar as músicas. Conecta o seu mp3player no notebook para carregar as músicas enquanto terminar de escrever. No outro webmail uma mensagem da Bianca enviada para ele e mais dez amigos tenta combinar um dia para um jantar em grupo. Verifica sua agenda eletrônica e vota pela próxima quarta. Acessa um site que agrega informações sobre as músicas que ele escuta no computador e vê sugestões de artistas similares. Percebe que seu contato foi adicionado na lista de um amigo, e acessa a página deste para ver o que ele está escutando. Enquanto isso sua namorada e ex-colega de trabalho entram no chat. Conversa com os dois, intercalando seu tempo entre um e outro. Na lista de discussão de tradutores do Gnome dá o seu palpite sobre o uso de verbos em imperativo ou infinitivo. Agora está na pagina inicial da wikipedia e resolve que ainda dá tempo para corrigir aquele último parágrafo sobre sua cidade natal. Já está meio atrasado, mas entregar o trabalho do professor no site da disciplina não leva mais que dois minutos. Quando sai de casa percebe que esqueceu de pagar a fatura do cartão...
Vinicius Pinheiro, em (por extenso) "Um dia na vida de um indivíduo social imerso na emergente economia da informação em rede", no blog (dentro do site) que linca pra nós.
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Julio Daio Borges
22/9/2006 à 00h02
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Podcast: carta de alforria
Os podcasts estão crescendo no mercado mundial como uma nova forma de distribuição de arquivos multimídia, tanto para áudio quanto para programas de vídeo. Eles estão demonstrando que a população cibernética procura assuntos específicos para ouvir ou ver, pinçando o ouro do rio.
Mas será que isto é produtivo? Uma leitura rápida do título diria que sim, é uma carta de alforria. Carta, esta, dada aos escravos para comprovarem a liberdade, e, no nosso caso, retirando os péssimos programas veiculados nas emissoras, sobrando só os que, no nosso ponto de vista, possuam qualidade.
Desta forma, não precisamos, teoricamente, nos preocupar com entretenimento, este sempre será "legal", utilizando, propositalmente, uma expressão nada criteriosa. Ninguém fará um download e arquivará, periodicamente, um programa que julgue de profundo desinteresse.
Nesta linha de raciocínio, encontramos a primeira carta de alforria, ou seja, liberdade e qualidade para nossos sentidos.
Por outro lado, dependendo da nossa disposição em pesquisar novas podcasts e tempo hábil para descobertas (estamos falando do comodismo), nos confinaremos, inconscientemente, em uma caverna semelhante à de Platão.
Ou seja, dogmatizaremos nossa linha de raciocínio à opinião do criador do postcast. Enquadraremos nosso gosto ao poder de crítica e persuasão deste mentor escolhido para nos entreter.
Em suma, por meio do podcast teremos aprisionado a nossa possibilidade de conhecer o novo. Como sairemos desta redoma? A carta de alforria desta vez se inverte: a liberdade, talvez, esteja em ver também porcarias. Estamos diante de uma faca de dois gumes.
Como se entreter sem se chatear?
Ora, a palavra chave é proporcionalidade. O tempo, o seu tempo, cada vez mais precioso, deve ser economizado com podcasts, realmente interessantes no seu ponto de vista.
Mas não se esqueça da maravilha de descobrir o porquê da expressão "gosto não se discute", e, principalmente, que novas culturas surgem a todo o momento.
Para não se enclausurar, para se ter a real carta de alforria, deve-se, sim, adotar um podcast, porém, sem perder a capacidade de criticar, positiva ou negativamente, tudo o que se ouve ou vê, dando oportunidade ao vôo mágico do livre arbítrio e da respectiva liberdade que isto nos trás.
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Daniel Bushatsky
21/9/2006 às 15h02
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