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Terça-feira, 17/10/2006
Blog
Redação
 
Da paciência dos livros

"Qual romance começa com as palavras 'Numa noite de primavera de 1890'? Onde li que o rei Salomão usou uma lente de aumento para saber se a rainha de Sabá tinha pernas peludas? Quem escreveu aquele livro singular, Fligh into Darkness, do qual só recordo a descrição de um corredor sem janelas, tomado por pássaros esvoaçantes? Em qual história li a frase 'no despejo de sua biblioteca'? Qual livro tinha uma vela acesa na capa e desenhos a lápis no papel creme? Em algum lugar de minha biblioteca encontram-se as respostas a estas questões - mas esqueci onde.(...)

"Não tenho nenhum sentimento de culpa diante dos livros que não li e talvez jamais lerei; sei que meus livros têm uma paciência ilimitada. Vão esperar por mim até o fim de meus dias."

Alberto Manguel, em A biblioteca à noite (Companhia das Letras, 2006, 304 págs.), dando um alento aos viciados em livros.

[3 Comentário(s)]

Postado por Rafael Rodrigues
17/10/2006 à 00h13

 
A orelha do livro!

Faltando poucos dias para o lançamento, o livro ainda não saiu da gráfica. A Editora Sulina, no entanto, garante que tem tudo sobre controle. Alta ansiedade! Enquanto espero, fico digerindo a orelha do livro, que é uma delícia:

No Brasil é mais provável que um escritor acabe virando taxista, do que um taxista venha a tornar-se um escritor. Mauro Castro, no entanto, é um taxista capaz de contrariar esta lógica. Quem acompanha sua coluna no jornal Diário Gaúcho, ou seu blog na Internet, já conhece a capacidade deste profissional do volante de verter para o papel as incríveis histórias do cotidiano de um motorista de praça.

Mauro Castro, no Taxitramas, ansioso com o lançamento de seu livro, dia 18 agora, em Porto Alegre.

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Postado por Rafael Rodrigues
16/10/2006 à 01h39

 
Nobel de Literatura: vencedor

O vencedor do Prêmio Nobel de Literatura deste ano foi o escritor turco Orhan Pamuk. Sinceramente, não conheço sua literatura e não havia ouvido falar dele até então. Falha minha.

Orhan tem dois livros publicados no Brasil: Meu nome é Vermelho, pela Companhia das Letras e O castelo branco, pela Record.

Ainda este mês sai, também pela Companhia das Letras, Neve (488 págs.), oitavo romance de Pamuk. Desde já incluído na minha lista de futuras aquisições.

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Postado por Rafael Rodrigues
13/10/2006 às 17h00

 
Primeiro Amor

E não é que, em meio a tantas montagens incensadas em torno do centenário do dramaturgo irlandês Samuel Beckett (1906-1989), a mais interessante delas até agora vem sem alarde ou fogos de artifício? É Primeiro Amor, um monólogo do ator Marat Descartes sobre o romance homônimo, com direção de Georgette Fadel.

Um dos textos mais intrigantes de Beckett, escrito em 1945, o curto romance traz um homem angustiado em torno de reflexões sobre sua vida, sobre o amor, sobre sua relação com o mundo. É uma de suas grandes discussões sobre a impossibilidade do contato, sobre a falência do discurso - em pleno ano da bomba.

Marat e Georgette tecem um Primeiro Amor em que não há obstáculos para que o genial texto flua livremente. As lacunas são preenchidas com precisão. A iluminação é muito interessante e por vezes parece interagir no espetáculo.

Um trabalho limpo, livre de amarras. Um grande ator em pleno exercício de suas condições. Uma direção consciente de que seu trabalho ali é dar vazão ao texto por meio de um ator que não se perca em virtuosismos ou adornos desncessários. Justa homenagem a Beckett.

Para ir além
Primeiro Amor - Espaço dos Satyros 1 - Pça. Franklin Roosevelt, 214 - República - Tel. (11) 3258-6345 - R$ 20 - Sexta e sábado, 24h - 55 min. - Até 28/10.

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Postado por Guilherme Conte
13/10/2006 à 00h01

 
Dia do Sabino

Hoje, dia das crianças, é também o dia do Sabino, do Fernando Sabino, nascido há exatos 83 anos.

Conhecido por seu bom humor e por sua sagacidade, Fernando Sabino era - e continua sendo, claro - um grande contador de casos. Abaixo, alguns "causos" do escritor mineiro:

Equívocos
"Concordo com Hemingway, quando diz que toda relação pessoal entre o escritor e o leitor nasce de um equívoco ou gera um [outro] equívoco. Reconheço, como uma espécie de fatalidade, que sou vítima habitual de equívocos.

Ainda outro dia fui me registrar num hotel em Parati e a mocinha, ao ver meu nome, me perguntou se eu era parente do escritor. Disse-lhe que era o escritor. E ela:

- Você também escreve?

Mostrei-lhe o meu retrato na contracapa de um livro. Ela se limitou a dizer com ironia:

- Até parece, não é?

Quando afinal começou a acreditar, ficou me olhando como se eu fosse uma assombração, antes de conseguir perguntar, olhos arregalados:

- Você não morreu, não?

Quase lhe pedi perdão por continuar vivo."

Sabiá
"Antes de dar partida [na Editora Sabiá, a segunda - e última - que Sabino e Rubem Braga montaram juntos], desta vez tivemos o bom senso de procurar alguns entendidos - e recolhemos ensinamentos preciosos de outros editores: meu velho amigo Jorge Zahar, a quem devo o ensinamento de que editora é jogo, daí o seu fascínio; Ênio Silveira, da Civilização Brasileira, outro velho amigo, a quem devo a primeira edição de O encontro marcado; José Olympio, a quem devo a primeira edição de A Marca. Este foi tão enfático em nos recomendar cuidado que por pouco não fundamos a Editora Cuidado.

Mas Rubem queria Sabiá, e Sabiá ficou sendo. A Editora Brughera já tinha este título registrado e gentilmente nos cedeu.

Fizemos tanta onda com essa história de sabiá que Borjalo, depois de pegar um sabiá numa arapuca em sua casa, sugeriu pela TV Globo que mandassem sabiás para o Rubem. O sabiá da crônica começou a receber sabiá de presente de tudo quanto é lado. A certa altura chegou seriamente a me propor que, em vez de editar livros, passássemos a negociar com passarinhos."

Quatro amigos
"(...) posso afirmar que, se eu não tivesse conseguido mais nada na vida, esta relação tão duradoura de quatro amigos já teria sido o melhor que eu poderia desejar neste mundo. Espero que tenha sido assim também para eles [Sabino se refere a Otto Lara Resende, Hélio Pellegrino e Paulo Mendes Campos, amigos de toda uma vida]. É o que nos faz recuperar a criança dentro de nós, e sinto que me permitirá morrer em paz. Já tenho até meu epitáfio:

'Aqui jaz Fernando Sabino.
Nasceu homem, morreu menino'
"

Nota do Autor (do Post)
Trechos extraídos de O tabuleiro de damas (Record, 1999, 224 págs.)

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Postado por Rafael Rodrigues
12/10/2006 às 12h10

 
Nobel de Literatura: apostas

Todo mês de outubro é a mesma coisa: Prêmio Nobel. Nos últimos dias a Academia Sueca tem anunciado os ganhadores do Nobel em várias categorias. O Nobel de Literatura deve ser anunciado em breve.

Aproveitando o gancho, fiz uma pequena enquete para colher opiniões sobre quem poderia ser o ganhador do prêmio de literatura deste ano. Obviamente que, como disse o escritor Antonio Dutra, que fez enquete semelhante ano passado, "alguns nomes se repetem na lista dos escritores-candidatos". É verdade. Nomes como o do americano Philip Roth, o escritor albanês Ismael Kadaré, a norte-americana Joyce Carol Oates, o israelense Amos Oz, e a contista canadense Alice Munro.

Começando pelo jornalista e escritor Marcelo Moutinho, organizador do antológico Prosas Cariocas e com o livro de contos Somos todos iguais nesta noite no prelo, que resolveu apostar suas fichas em autores de língua portuguesa, sendo ambos poetas: Ferreira Gullar, "pelo conjunto da notável obra, evidentemente" - justifica, e Herberto Helder, "Poeta lusitano de primeiríssima" - conclui. Gullar também ganha o voto de Moutinho por seu papel importante na discussão sobre arte em geral...

Augusto Sales, no blog Paralelos, quase que fazendo um bolão literário.

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Postado por Rafael Rodrigues
12/10/2006 à 01h49

 
Pocket Plus!

Não foi fácil escolher. Entre doze títulos, poderia comprar apenas três. Isso, para um viciado em livros, é quase que pedir a morte. Ok, estou exagerando, mas foi uma escolha muito difícil.

Para ser mais claro: estou falando da editora L&PM, que lançou recentemente uma nova coleção de livros pocket. Pocket Plus, o nome da coleção. São títulos muito bons, em edição um pouco mais simples e muito simpática, a um preço bem camarada.

Entre os títulos, estão: Uma temporada no inferno, de Arthur Rimbaud; Tristessa, de Jack Kerouac; Cartas a um jovem poeta, de Rainer Maria Rilke.

Eu acabei escolhendo O gato por dentro (2006, 102 págs.), de William Burroughs (de quem já ouvi falar bastante, mas até então não tinha lido obra alguma); Sobre a brevidade da vida (2006, 84 págs.), de Sêneca; e O diamante do tamanho do Ritz e outros contos (2006, 136 págs.), de Francis Scott Fitzgerald.

O primeiro é uma declaração de amor aos gatos, animais que o escritor americano aprendeu a amar e que tiveram uma influência muito grande em sua vida, especialmente nos últimos anos. Nos textos sem título, alguns curtos e muito pessoais, como se fossem posts de blog, William Burroughs dá uma mostra do escritor que foi. E continua sendo, pois a literatura é imortal:

"O livro dos gatos é uma alegoria, na qual a vida passada do escritor se apresenta a ele como uma charada felina. Não que os gatos sejam marionetes. Longe disso. Eles são criaturas vivas que respiram, e quando se tem contato com qualquer outro ser, isso é triste: porque você vê as limitações, a dor e o medo e a morte final. É isso que significa contato. Isso é o que vejo quando toco um gato e percebo as lágrimas escorrerem por meu rosto."

Sobre a brevidade da vida traz ensinamentos do filósofo espanhol (sim, sim, Sêneca nasceu na Espanha!), através de cartas que envia a Paulino, supostamente sogro do filósofo.

"Nenhum homem sábio deixará de se espantar com a cegueira do espírito humano. Ninguém permite que sua propriedade seja invadida, e, havendo discórdia quanto aos limites, por menor que seja, os homens pegam em pedras e armas".

(Alguma semelhança com a atual realidade não é mera coincidência.)

Na capa de O diamante do tamanho do Ritz e outros contos, há a seguinte frase: "Fitzgerald era melhor escritor do que todos nós juntos", de John O'Hara, um dos maiores escritores norte-americanos do século XX. O'Hara nasceu em 1905 e publicou seu primeiro romance em 1934. Portanto, pode colocar todos os autores contemporâneos a ele em "todos nós juntos". E aí você terá uma noção da importância de Fitzgerald. Se você já não tem, claro.

O conto que dá título ao livro é uma mistura de conto fantástico e "quase horror", digamos assim, pois não chega a tanto. A família Washington vive isolada de tudo e de todos em algum lugar do oeste dos EUA. Lá eles têm uma fonte inesgotável de dinheiro: um diamante do tamanho do hotel Ritz-Carlton. Um segredo guardado a sete chaves que o chefe dos Washington mantém a qualquer custo. Para que os filhos não deixem de ter amigos, ele permite que colegas de seus filhos sejam convidados a entrar na fortaleza da família e passar as férias por lá. Já a volta, não é tão garantida assim... O jovem John T. Unger, novo amigo de Percy Washington, filho do todo-poderoso Braddock Washington, descobre isso e precisa encontrar um meio de escapar daquele lugar e assim salvar sua vida.

A coleção Pocket Plus é uma ótima novidade no mercado editorial, pois alia boa qualidade de edição, excelente qualidade de títulos e preço acessível. É o fim daquela coisa de que "ler é caro". Se você conhece alguém que andava falando isso, pode mandar ele ou ela procurar uma outra desculpa...

Para ir além
Pocket Plus

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Postado por Rafael Rodrigues
11/10/2006 à 00h17

 
Teatro no interior

O SESI São Paulo abriu inscrições para o Circuito Sesi de Produções Teatrais Inéditas, programa que visa incentivar a pesquisa cênica, patrocinar o desenvolvimento de novos talentos e a produção de espetáculos profissionais inéditos no interior do estado, além de permitir o acesso do público a essas produções.

O circuito recebe inscrições apenas de espetáculos adultos. Serão selecionadas montagens profissionais inéditas sob os seguintes critérios: inovação e originalidade do texto; linguagem utilizada e concepção do espetáculo; a adaptação da montagem a diferentes espaços de encenação; a portabilidade da produção (a facilidade para viagens de itinerância); o currículo dos integrantes do elenco; a equipe de criação e direção, bem como a equipe técnica e a adequação orçamentária.

A intenção é produzir um espetáculo por semestre em 2007, com temporadas previstas de maio a julho e de agosto a outubro. O Sesi poderá produzir uma ou mais montagens, de acordo com a qualidade e viabilidade dos projetos apresentados. Ao todo serão 12 apresentações, metade na cidade-sede e as demais em outros dois municípios. As cidades que farão parte desse circuito são: Araraquara, Birigüi, Franca, Marília, Piracicaba, Rio Claro e Sorocaba. O custo máximo projetado para cada montagem é de R$100 mil.

Para ir além
Circuito Sesi de Produções Teatrais Inéditas

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Postado por Fernanda da Silva
10/10/2006 à 00h10

 
N.Ex.T festeja seus 7 anos

Antonio Destro e Daniela Casteline em Mera Coincidência

Antonio Rocco, diretor do Núcleo Experimental de Teatro (N.Ex.T), resolve comemorar o sétimo aniversário do grupo fazendo o que mais gosta: experimentar! Assim surgiu Textículos - Textos Minúsculos para Teatro, pela primeira vez o diretor desfragmenta um espetáculo em sete textos curtos, onde cada um é uma peça diferente. O único ponto de encontro entre os textos é a temática, com um fundo de humor, as peças falam sobre a urgência e situações limite, que exigem soluções imediatas.

Em Olho por olho - Peça em cena desolada, um casal acaba de sobreviver a um furacão. No entanto, Caetano e Wilma imaginam que a calmaria será breve, pois acreditam estar no olho do furacão. A proximidade da morte dá margem a confissões surpreendentes. A segunda história é Na faixa - Peça em um ciclo, na qual os ex-amantes, Carlos e Luiza, se encontram na travessia de uma grande avenida e os antigos problemas do relacionamento vêm à tona. Em Radicais livres - Cena em uma peça, Lenine e Olga estão em uma passeata estudantil. Embora estejam ideologicamente de lados opostos, surge um interesse amoroso entre os militantes. Em Mera Coincidência - Peça em um Átimo, Berenice reconstitui a cena em que esteve com seu ex-marido pela última vez. Te Conheço - Peça em um reconhecimento e meio mostra o encontro entre Carla e Borges, sendo que ele a confunde com uma velha amiga prostituta. Desejo - Peça em 14 andares e 1 mezanino traz as peripécias de Márcia, que está disposta a fazer amor com Lúcio, seu vizinho, no elevador do prédio onde moram; no entanto, os vizinhos, a mulher de Lúcio e o porteiro serão obstáculos a vencer. No último texto, Escalada - Cenas nas Alturas, uma equipe de aventureiros está escalando a Pedra do Baú e um desentendimento coloca em risco a vida dos participantes.

As peças se desenvolvem em, no máximo, 10 minutos. O diretor faz questão de ressaltar que cada história não é um esquete, mas sim uma peça iniciada pelo clímax. Em alguns textos, Rocco atinge seu intento, porém, em outros, ele não conseguiu fugir do humor fácil e das piadas prontas. Olho por Olho e Mera Coincidência são os melhores textos, em parte auxiliados pelas boas interpretações, mas também por concentrar neles o cerne das idéias que o autor procura transmitir. Em ambas as peças podemos perceber o sentido da urgência e a dramaticidade das ações entre os personagens, em desfechos catárticos. Na faixa também é um texto interessante, uma comédia urbana que satiriza os relacionamentos na metrópole. A peça parece uma adaptação teatral da canção "Sinal Fechado" de Paulinho da Viola, e mostra como a falta de diálogo em um relacionamento pode acarretar num final trágico.

Também merece destaque a belíssima atuação de Daniela Casteline, protagonizando a mulher traída em Olho por Olho, muito bem acompanhada por Ivan Capua, e a ex-mulher depressiva e vingativa em Mera Coincidência, ao lado de Antonio Destro. A atriz conduz com maestria o conteúdo dramático, bem dosando leveza, emoção e dramaticidade. Daniela também rouba a cena em Desejo, onde interpreta a simplória mulher preocupada com o marido, o qual encontra-se trocando carícias com a vizinha dentro do elevador.

Daniela Casteline e Ivan Capua em Olho por Olho

O N.Ex.T
Inaugurado em junho de 1999 com a peça O Caderno Rosa de Lori Lamby, adaptação homônima do livro de Hilda Hilst, o Núcleo Experimental de Teatro surgiu como iniciativa do dramaturgo Antonio Rocco frente às dificuldades de montar suas peças. "Eu escrevo para teatro há muito tempo e percebia que os autores brasileiros contemporâneos não tinham lugar para se apresentar. Eu tinha também um monte de amigos dramaturgos que sofriam da mesma tristeza.", afirma Rocco.

Onde hoje se encontra o teatro antes era um depósito, Rocco utilizava o espaço para ensaiar. Em 1995 foram iniciados os trabalhos para transformar o local em um teatro que atendesse às necessidades de dramaturgos sem espaço no circuito comercial. "Na época, ou você montava sua peça em um teatro da prefeitura ou do estado, que cediam o espaço com muita burocracia, ou você não montava, porque o aluguel de um teatro era cerca de 15 mil reais por mês, e as pequenas companhias que fazem teatro de arte não podem pagar por isso. Como, geralmente, para experimentar você precisa de pequenos espaços, um pequeno auditório já está ótimo", explica Rocco. Em 2000, o N.Ex.T ampliou sua área de atuação abrindo o Cabaré, um ambiente aconchegante que mistura teatro e bar. O espetáculo inaugural do local foi o Terça Insana, de Grace Gianoukas, o qual obteve grande sucesso de público e crítica e seguiu para o circuito comercial.

Ao longo de sete anos o N.Ex.T apresentou o trabalho de diversos autores brasileiros contemporâneos como Mário de Andrade, Nelson Rodrigues, Clarice Lispector, Ângela Dip, Alexandre Stockler, Cristina Mutarelli, Elias Andreato, Newton Moreno, Mário Bortoloto, Marcelo Médici, Aimar Labak, Marcelo Mansfield, Fernando Bonassi, Alice K, entre outros. "Além das produções próprias do N.Ex.T, mais de 70 grupos já montaram suas peças aqui, nós cedemos o local para companhias e dramaturgos que estão começando. Alugamos, mas a preço de custo, só para cobrir despesas com água, luz, telefone e faxineira, justamente para viabilizar a montagem de outras companhias."

Ivan Capua, Fernanda Pirondi, Daniela Casteline e Antonio Destro em Desejo

Antonio Rocco se sente realizado pela trajetória do grupo e acredita ter atingido seu objetivo: "Esse espaço tem essa função, trazer gente nova para mostrar o trabalho. E nós só encenamos dramaturgia brasileira contemporânea, preferencialmente, de autores novos. Assim, possibilitamos ao público ver espetáculos com a dramaturgia que está sendo escrita agora, o que está se pensando aqui. Isso permite para os autores, em contrapartida, ver seu trabalho encenado e a resposta, quase imediata, do público."

O teatro e a cidade
Há cerca de 7 anos cresce na região central de São Paulo o número de pequenos teatros dedicados à produção experimental e exibição de novos dramaturgos. Assim como o N.Ex.T, fazem parte dessa cena grupos como o Folias d'Arte, que também abriu seu espaço em 1999, Os Satyros, o Parlapatões, o Fábrica, entre outros.

Esses teatros se transformaram em pólos de atração de público ao centro de São Paulo, região degradada pela falta de segurança, conservação e investimento, e que acabou se tornando um local marcado pelo comércio ambulante, a marginalidade, o tráfico de drogas e a prostituição. Com peças, quase sempre, a preços populares, essas casas de espetáculos são as grandes responsáveis pela atração de público noturno ao centro da cidade, sendo ele formado não só pela população local (cuja maioria vive em cortiços), mas também por estudantes, pesquisadores, atores, jornalistas e demais pessoas que buscam novas formas de intervenção nas artes cênicas, contribuindo, assim, para a formação de público e inserção cultural por meio do teatro.

"O N.Ex.T atrai para o centro de São Paulo, em média, de 10 a 15 mil pessoas por ano. Nós estamos querendo ver o centro melhorar, já estamos aqui há 7 anos e o centro está melhorando, mas o processo é lento. É um absurdo ver o local abandonado desse jeito, entra governo, sai governo e nós vemos as coisas patinarem. O centro tem toda a infra-estrutura para melhorar, investir aqui é uma beleza porque você investe pouco e os resultados são enormes.", explica Rocco.

Na busca pela revitalização do centro de São Paulo, o N.Ex.T possui parcerias com organizações como a Viva o Centro, o Ponto de Cultura Vila Buarque e a Oboré, entidade que promove cursos e atividades nas áreas de Comunicação e Artes. Por isso, vale a pena passear pelo centro de São Paulo e descobrir as inúmeras possibilidades artísticas que ele tem a oferecer.

Para ir além
Núcleo Experimental de Teatro (99 lug.) - Rua Rego Freitas nº 454 - Vila Buarque - Fone: (11) 3106-9636 - Sextas e sábados às 22h, domingos às 21h - Duração: 60 min. - Preço: R$20,00 - Até 05 de novembro.

[1 Comentário(s)]

Postado por Fernanda da Silva
9/10/2006 à 00h10

 
Saudações, sr. Sharkey

Sr. Sharkey,

Estou escrevendo para seu endereço de e-mail porque os posts não estão mais sendo aceitos no seu blog no New York Times - o que não é muito democrático, não acha? Eu gostaria de lhe fazer uma pergunta simples:

O que aconteceria se dois pilotos brasileiros (ou de qualquer outra nacionalidade) se envolvessem em um acidente aéreo nos Estados Unidos? O seu país os deixaria livres para voltar para casa para acompanhar calmamente as investigações? Eles estariam em segurança no seu país? Eu não acredito. Provavelmente eles já teriam sido levados para Guantanamo, acusados de terrorismo... Pense melhor antes de dar opiniões sobre outros países porque o seu não é melhor do que qualquer outro. Seus pilotos podem ser seus heróis particulares, mas podem também ser os responsáveis pela morte de 155 pessoas. Só as investigações vão dizer...

Saudações

Adriana Carvalho
do Brasil

Tradução do e-mail que mandei para o jornalista Joe Sharkey, do The New York Times, que estava no avião Legacy, envolvido no trágico acidente acontecido dias atrás com o avião da companhia aérea brasileira GOL.

[2 Comentário(s)]

Postado por Adriana Carvalho
9/10/2006 à 00h01

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