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Quinta-feira, 23/11/2006
Blog
Redação
 
The web is a serial killer

"And television's next...", por Chris Anderson, autor de The Long Tail, (porque eu adoro a Economist... via Fabião).

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Postado por Julio Daio Borges
23/11/2006 às 12h51

 
Les Chefs & Décors

A alta sociedade paulistana deu mostras de que também se preocupa com questões sociais. Exemplo disso aconteceu nesta segunda-feira (20), no Terraço Daslu, durante a terceira edição do Les Chefs & Décors. O evento é uma iniciativa do Projeto Velho Amigo, presidido por Regina Moraes, a herdeira caçula de Antonio Ermírio, dono do Grupo Votorantim.

Toda a renda obtida com o convite individual (no valor de R$ 220) deve ser revertida para cinco asilos de São Paulo - Casa dos Velhinhos de Ondina Lobo, Fraternidade de Aliança Toca de Assis, Cepim, Lar dos Idosos Augusto Neves e Sanatório Divina Providência. Dessa forma, além da prazerosa noite de farturas que o Les Chefs & Décors proporcionou aos convidados, foi possível também ajudar a terceira idade.

Quem esteve por lá assistiu a um verdadeiro desfile de grifes da gastronomia, em mesas criadas por chefs do calibre de Toninho Mariutti, Andréa Fasano, Charlô e Eduardo Guedes - cuja esposa, a apresentadora Eliana, roubou toda a atenção da imprensa. Já o menu dos doces ficou por conta de Nininha Sigrist, Mariza Doces e Pati Piva - só para citar algumas das maiores doceiras de São Paulo. No índice de receitas, ingredientes para lá de exóticos em forma de quitutes, bebidas, aperitivos e pratos especiais.

Mas o luxo do evento não se bastou ao paladar. Também as mesas foram decoradas por especialistas de alto relevo. Vic Meirelles, Felippe Crescenti, Chris Ayrosa, Titina Leão e Marcelo Bacchin são alguns deles. Os maiores holofotes, contudo, estavam voltados para os banquetes temáticos criados por celebridades. A apresentadora Ana Maria Braga, a diretora da Christian Dior no Brasil (e sogra do jogador Kaká) Rosangela Lyra e a socialite Beth Zafir (avó da menina Sasha) participaram da experiência.

Além do festival de comes e bebes, o cantor Paulo Ricardo (ex-RPM) fez um pocket show apenas com sucessos internacionais das décadas de 60, 70 e 80. Acompanhado de quatro instrumentistas, o novo voluntário da entidade cantou as comportadas "Love Me Tender" e "Careless Whispers". Nas edições anteriores do Les Chefs & Décors e em outros eventos do Projeto Velho Amigo, já se apresentaram os artistas Toquinho, Cláudio Zóli, Tom Cavalcanti e Chitãozinho e Xororó.

O projeto beneficente de Regina Moraes conseguiu lotar a Daslu. Uma amostra ilustrativa de que luxo e caridade conseguem conviver lado a lado. Ainda que, por ironia, o glamour seja a fórmula mágica para seu sucesso. Seja como for, os velhinhos agradecem.

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Postado por Tais Laporta
23/11/2006 à 00h14

 
Fotografia de Viagens em CWB

A gente visita vários lugares do país e do mundo e às vezes não conhece muito bem a própria cidade. Eduardo Fenianos, o Urbenauta, já tinha feito essa constatação. Mas não ficou só na teoria: "viajou" por Curitiba e depois por São Paulo, para realmente conhecer as pessoas, as ruas e outros aspectos que passam batido em nosso dia-a-dia urbano.

Neste final de semana, os curitibanos podem viver, pelo menos em parte, a sensação de ser turista na própria cidade. A experiência está prevista no Workshop sobre Fotografia de Viagens, que a Portfolio Escola de Fotografia realiza de sexta a domingo, de 24 a 26 de novembro, com Valdemir Cunha, gerente de fotografia da Editora Peixes. E não é preciso ser profissional para aproveitar. Amadores também são bem-vindos no curso.

A aula inaugural, às 19h, na Casa do Barão, será aberta ao público. No dia 25, os participantes ficarão das 9h às 18h na sede da escola. O dia seguinte será dedicado integralmente a produções fotográficas.

Os eventos que acontecem neste final de semana em Curitiba podem tornar a experiência ainda mais interessante para os participantes. No domingo, às 8 horas, acontece a largada da Maratona de Curitiba. No mesmo dia, 23 mil estudantes farão a prova do vestibular da PUC-PR. O trânsito promete ficar complicado. A confusão talvez não seja a melhor inspiração para imagens bucólicas e turísticas da cidade, mas podem render boas produções de fotojornalismo.

Para ir além
Workshop sobre Fotografia de Viagens, em Curitiba, com Valdemir Cunha (41 3252-2540): 24/11, às 19h00, na Casa do Barão (Rua Carlos Cavalcanti, 533 - Centro); 25/11, das 9h às 18h00, na Portfolio Escola de Fotografia (Rua Alberto Folloni, 634 - Centro Cívico).

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Postado por Adriana Baggio
22/11/2006 às 11h37

 
A tarefa do escritor

"Agora que tenho sessenta anos, já compreendi que a tarefa do escritor reside apenas em fazer o que sabe fazer: no caso do narrador, isso reside no narrar, no representar, no inventar. Há muitos anos parei de estabelecer preceitos sobre como se deveria escrever: de que adianta pregar certo tipo de literatura ou outro, se depois as coisas que se tem vontade de escrever são talvez totalmente diferentes? Levei algum tempo para entender que as intenções não contam, conta o que alguém realiza. Assim, esse trabalho literário se torna também um trabalho de busca de mim mesmo, de compreensão do que sou.

Percebo que até agora falei pouco da diversão que se pode sentir ao escrever: se alguém não se diverte ao menos um pouco com isso, não pode conseguir nada de bom."

Italo Calvino, em Eremita em Paris - Páginas autobiográficas (Companhia das Letras, 2006, 264 págs.), a segunda parte da autobiografia de Calvino, por assim dizer (a primeira é o incabado O caminho de San Giovanni).

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Postado por Rafael Rodrigues
21/11/2006 às 20h11

 
Bortolotto e o velho Jack

Certos espetáculos têm a capacidade de provocar a circunspecção. Saímos do teatro pensando, avessos ao convívio social, às conversas triviais. Só vamos nos dar conta de que o celular está desligado horas depois. Kerouac é assim. Rápido, ágil, essencial.

O texto de Mauricio Arruda Mendonça consegue captar o espírito do escritor Jack Kerouac. Começa engraçado, com aquela ranzinzice toda, e vai se tornando azedo, de difícil digestão. O riso se torna constrangido. A crueza do texto toma conta. A simplicidade da direção de Fauzi Arap é a palavra de ordem - sem ornamentos desnecessários, não há elementos que dispersem.

E a chave da montagem está na cumplicidade que a excelente interpretação de Mário Bortolotto consegue estabelecer com a platéia. É Kerouac quem está ali, abrindo-se para nós. E é impressionante ver como seu discurso aparentemente desconexo guarda uma coerência essencial. Vemos um homem fiel e compromissado com seus sentimentos, angústias, vontades, princípios. Quase religioso, como chega a dizer, quando trata de Deus.

Bortolotto, talentoso dramaturgo, dá asas aqui ao seu lado ator. E o faz com maestria; é um apaixonado, devotado ao teatro. Sua interpretação de Kerouac pode ser resumida a uma palavra: honestidade.

Um trabalho preciso de um artista maduro e que acredita no que está fazendo: o resultado é de uma beleza que toca e nos faz olharmos para nós mesmos. Teatro na essência, que não subestima a inteligência do espectador. Ao contrário, aposta nela para se fazer existir. E existe.

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Postado por Guilherme Conte
20/11/2006 às 16h33

 
A morte das línguas

Eu queria ler um livro que tratasse dos temas caros a mim, mas não queria uma leitura pesada, científica, acadêmica em demasia. Na estante da livraria, a capa roxa me chamou a atenção. Quando abri o livro, o projeto gráfico arejado e a mancha pequena me deixaram aliviada. A leveza dos grafismos em retícula no canto de baixo e nas aberturas de capítulos me pareceram clean. Comprei.

Tratava-se do livro A revolução na linguagem (Jorge Zahar, 2006, 152 págs.), do lingüista David Crystal, mais conhecido entre os graduandos em Letras pelo seu dicionário de Lingüística. O professor da Universidade de Wales resolveu tratar da morte das línguas como um tema da escala dos problemas ecológicos. É até divertido ler o desespero concentrado de Crystal ao tratar as línguas moribundas. Para ele, um movimento enorme e internacional deve tratar logo de salvar as línguas, assim como se salvam as baleias jubarte.

Crystal ajuntou cinco conferências sobre língua nesta obra despretensiosa. No primeiro capítulo, ele explica por que trata a mudança lingüística deste século (e do passado) como revolução. Para ele, tudo aconteceu tão rápido e tanto que merece ser chamado de "revolucionário". Mais adiante, o lingüista se derrete pela globalização da língua inglesa. De fato, o fenômeno do inglês como primeira, segunda língua ou língua estrangeira é algo de novíssimo na história da humanidade. Impossível não perceber que temos um idioma que, ao mesmo tempo que serve para a comunicação em quase todas as partes do globo, também se diversifica a cada dia, já que britânicos e norte-americanos perdem o controle sobre ele e seus padrões gramaticais. Crystal não vê a mudança e a diversificação como ameaças, apenas como mudanças.

De vez em quando, o professor toca no caso do português e de algumas línguas indígenas. Aproxima-se de uma pequena história das línguas francas e aponta soluções divertidas (inclusive com toques de ironia) para o salvamento das línguas que morrem. Segundo Crystal, a cada duas semanas uma língua se extingue em algum canto do mundo. Um terror.

E a Internet com isso? Claro que o lingüista menciona a Internet como uma das responsáveis pela difusão da língua inglesa. E mais: como um meio de comunicação capaz, também, de ajudar a salvar o idioma dos perigos da dispersão. A Internet possibilita a comunicação pelo mundo inteiro, de maneira mais real do que muita aulinha de inglês de verdade.

No último capítulo, Crystal toca num ponto interessantíssimo para quem visitou o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. O professor menciona as tentativas, na década de 1990, de erguer "templos" para as línguas em vários países do mundo. Em nenhum lugar isso vingou. Crystal lamenta que não tenham se lembrado de cultuar a língua, qualquer que seja, numa espécie de museu vivo. Chega a descrever um projeto europeu para o que chamaria O Mundo da Língua, no Reino Unido, que seria construído num prédio de três ou quatro andares. Bingo! Está aí nosso museu do português, único no mundo a vingar e a dar tanta fila para entrar. Bacana, não? Tudo bem que as escolhas mereciam mais conversa, talvez uma pesquisadinha do lado de fora da academia. Também pode-se questionar tanto espetáculo e videoclipe no lugar dos livros. Affonso Romano de Sant'Anna, numa lindíssima crônica no Estado de Minas, questiona justamente isso: cadê os livros num museu da língua? Ah, mas deixa pra lá. Vamos convidar o prof. Crystal para uma visitinha. Quem sabe somos citados em sua próxima conferência?

Vale a pena procurar o livro da Jorge Zahar Editor e pensar nas revoluções por minuto das línguas conectadas pela Internet. Ah, também vale visitar o Museu da Língua Portuguesa, na Estação da Luz, em São Paulo.

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Postado por Ana Elisa Ribeiro
20/11/2006 às 14h07

 
Pessoas que irritam

Aquelas que dizem que são muito sinceras e dizem tudo na cara.

Aquelas que mandam spam diariamente.

Aquelas que dizem yeah e whatever.

Aquelas que chegam atrasadas no cinema.

Aquelas que dizem "minha vida daria um filme".

Aquelas que fazem currículo com capa.

Aquelas que fazem arte conceitual.

Aquelas que querem entrar no metrô elevador antes de todas as outras que querem sair.

Wellington, que Comenta no Digestivo, no seu Imigrante Sofre!.

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Postado por Julio Daio Borges
17/11/2006 à 00h20

 
Uma feira (in)descritível

Apesar de escritora, meu fundamento é a imagem. Mesmo a palavra, antes de tudo é para mim, a palavra grafada, concreta, desenho sobre o papel (ou sobre a tela). Visualizo a palavra, em suma, antes de lê-la, o que não quer dizer que dela desvincule o significado: para mim, a palavra-imagem já significa.

Traduzir em palavras um fenômeno como a Feira do Livro de Porto Alegre, significa desenhá-la, portanto e para mim, em palavras. É possível configurar tantos gestos? Tantas cores e percursos? Veremos, ou melhor, verão vocês, que me lêem nesse exato instante: a Feira do Livro de Porto Alegre como nenhuma outra, presta-se a imagens. Porque aqui não se trata somente de literatura, mas de uma festa em torno do livro, consagrado não como mero suporte transverso a um conteúdo abstrato, imaginário, além-mundo; na Feira do Livro de Porto Alegre, o livro é tão objeto quanto o brinquedo barato vendido pelo ambulante, tão maduro quanto o senhor curioso que investiga uma leitura antiga; tão criança quanto aquela que pasmada espia por baixo dos braços da mãe. Borboleta branca que voa perdida entre os quiosques - com ela foi o livro comparado por Mallarmé. A Feira seria um grande livro anímico? Um livro folheado e lido em poucos dias de novembro? É leitura de feriados, de passeios distraídos? De domingo?

Sim, em Porto Alegre.

Não bastasse a chuva roxa, esse atropelo de olhos obcecados, desejosos de encontrar certa obra perdida; esse debate apaixonado e ruidoso que entorta ainda mais esses labirintos da praça de onde menos se espera saem jornalistas, aquele poeta, um travestido - até quem já morreu; mas no meio do formigueiro a gente senta pra tomar um café, onde toda conversa é um paratexto, um prefácio crítico; o chope, até a água mineral tem gosto de celulose - árvores e livros.

Como demonstro: esta feira não é bem e só um espetáculo-vitrine de lançamentos, editores, ou autores de umbigos. Ao lado do best-writer, do autor sensível e obscuro, da sensação cult do momento, autografa o marginal independente, o funcionário público ansioso, crente na genialidade incontestável das suas mal-editadas linhas, a senhora dona-de-casa estreando um conto infantil caseiro ilustrado pela filha mais velha - quase uma moça já. O vento se encarrega de desmanchar as poses mais atraentes, de equalizar os corpos, iguais na mesma celebração. O mesmo vento se encarrega de recobrir o sucesso de ontem com a poeira sebosa e amarelenta dos estoques acumulados. Não tem cenário e iluminação que estanque o suor, que disfarce olheiras exaustas após tantos eventos, tantas brochuras.

A Feira de Porto Alegre é uma festa de quem trabalha no e para o livro, de quem ama o livro, de quem deseja, cultua, produz e - por que não? - vende esse nosso fetiche. Um ritual completo.

Inclui, é claro, sacrifícios: desde o de aprender a tolerar cotovelos e ritmos andares alheios ou de permanecer isolado, imóvel à espera do leitor ausente; desde o de gastar tudo o que ainda nem se tem, esperando que se cumpra uma promessa feita por escrito - a garantia de um paraíso feito de poesia ou ficção -, até o de trabalhar duramente para que tudo aconteça e para que a Feira instale-se na praça tão naturalmente a ponto de confundir-se com os jacarandás floridos.

Esta feira é mais que do Livro, é uma Feira de Leitores e de Escritores que, no fundo, no fundo, não passam de leitores de todo o imaginário futuro. Pois a diferença entre o leitor e o escritor é bem e unicamente essa: o escritor é aquele que lê aquilo que ainda não foi escrito.

Da Paula Mastroberti, artista plástica e escritora (porque era para entrar nos Ensaios, mas não deu o tamanho...!).

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Postado por Julio Daio Borges
16/11/2006 às 14h11

 
Controlando o acesso à Web

Para se ter uma idéia do absurdo da proposta apresentada pelo senador Eduardo Azeredo, basta imaginar que, se o mesmo princípio fosse aplicado ao telefone, todos os brasileiros teriam que apresentar CPF ou CNPJ antes de fazer uma ligação.

Carlos Castilho, citado por Rogério Mosimann, que linca pra nós.

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Postado por Julio Daio Borges
16/11/2006 à 00h05

 
internet jornalismo revolução

Qual o futuro do jornalismo? A internet vai acabar com tudo? E com o jornalista, o que acontece? Você é contra? Você é a favor? - são perguntas que também sempre voltam. Não tenho, obviamente, uma resposta definitiva para cada uma dessas questões. Mas decidi responder aqui de uma vez por todas. Quando alguém me perguntar, de novo, aí está o link. Agradeço à Jamille Callai, por ter ido mais longe do que o normal, e por ter me dado essa chance de mais ou menos encerrar o assunto... - JDB

1. Você acredita que estamos passando por uma revolução tecnológica?
Sim, não resta dúvida. Muitos já falam que a internet é uma revolução equivalente à invenção da prensa por Gutenberg.

2. Quais os benefícios que a nova mídia - a internet - trouxe para os jornalistas?
A publicação/ difusão em tempo real. O custo quase zero dessa mesma publicação/ difusão. Um espaço para armazenamento (e transmissão) de dados quase infinito. Uma capacidade de interação, com o leitor/ espectador, como nunca antes houve. Além da redução das distâncias geográficas, na internet caíram as barreiras sociais/ profissionais. Porque, como dizem os teóricos da comunicação, a internet é a única mídia "de muitos para muitos" (e não "de um, ou alguns, para muitos" - como as mídias anteriores). As vantagens para os jornalistas, em resumo, são tantas que até gente comum está ingressando na prática do jornalismo: a internet é um convite quase irrecusável ao jornalista-cidadão (ou ao cidadão jornalista).

3. O que já mudou no jornalismo com a internet? E o que você acredita que ainda vai mudar?
O jornalismo ficou, logo de início, mais ágil. Numa segunda etapa, mais rico - com a capacidade multimídia da internet. E, num terceiro momento, ficou mais diversificado - porque surgiram novos atores em cena, justo quando o jornalismo tradicional dava sinais de esgotamento. Por último, minha previsão: ou o jornalismo convencional migra para (se funde com) o jornalismo on-line ou acaba.

4. Alguns analistas sugerem que a definição de jornalismo tenha sido diluída pela tecnologia, de forma que qualquer coisa hoje é tida como jornalismo. Qual a sua posição em relação a isso?
Quando o jornalismo pode ser praticado por qualquer pessoa com acesso à internet, é natural que o conceito de "jornalismo" se amplie e se dilua. Muitos jornalistas "das antigas", como dizem os jovens, reclamam porque perderam seu status e até uma certa "reserva de mercado". Essa discussão tende a morrer junto com os mesmos jornalistas que defendem esse ponto de vista. É questão de tempo, portanto. O próximo passo, a meu ver, é a triagem entre o que é "bom jornalismo" e o que é "mau jornalismo". E penso que quem vai fazer isso é o internauta/ leitor. Analogamente ao que já acontece com o ranking de buscas do Google.

5. Você acredita em uma futura concorrência dos jornalistas com os chamados cidadãos-repórteres, que publicam em seus blogs e/ou sites notícias?
Não sei se a palavra é "concorrência". Na internet, talvez você concorra apenas pelo tempo do internauta. Usando uma metáfora do Windows, na Web você pode ter várias janelas simultâneas: é como se o assinante do jornal A assinasse, também, o jornal B (coisa que, normalmente, não acontece fora da internet). Uma vez que os jornalistas profissionais estejam na WWW, junto com os repórteres-cidadãos, como você chama, uns podem ter uma função de complementariedade em relação a outros. E o Google vai dizer quem é mais relevante. Dentro da Web, eu acredito bastante no princípio da "sabedoria das multidões".

6. Qual o diferencial que o jornalista precisará ter para que não ocorra essa concorrência?
O jornalista da velha guarda tem de ser humilde para conviver, de igual pra igual, com o repórter-cidadão. Muitos ainda estão entrando na internet de salto alto (uma postura que não combina com a Rede Mundial de Computadores). Penso que o jornalista pode, ainda, assumir o papel de catalisador da informação relevante "postada" na Web. Uma vez que ele tem, supostamente, o critério e a técnica para exercer também o papel de editor (além do de repórter).

7. Você acredita numa falência dos meios impressos por causa da internet ou acha que ambos terão espaço?
Alguns autores já falam em "extinção" do meio impresso. Particularmente, não acredito na extinção, mas, sim, numa redução drástica. E não é "preconceito" por parte de quem consome outra mídia, é o simples fato de que a internet é economicamente mais interessante (para quem produz e para quem consome); é ubíqua (está em todo lugar); é socialmente/ politicamente mais democrática (qualquer um pode participar dela - ao contrário do que ocorre no papel). O fim, ou a crise, do suporte papel não tem tanto a ver com o jornalismo (e com os jornalistas), tem mais a ver com as transformações que a internet impôs à sociedade.

8. O que ainda se observa em muitos sites é uma simples transposição do conteúdo impresso para o on-line, não aproveitando as possibilidades que a nova mídia oferece. Você poderia apontar alguma solução para isso?
A solução é produzir conteúdo exclusivo para a internet. É também "dialogar" com a internet, fazer parte da "grande conversação" (os blogs, como os americanos dizem). Na Espanha, estão chamando isso tudo de "jornalismo 3.0". A maior parte das empresas jornalísticas, no Brasil, ainda está no 1.0, que é isso que você falou: despejando apenas o impresso no on-line.

9. Qual o principal desafio para o jornalismo on-line?
Ser tão rentável quanto o impresso. Ter estrutura para se desenvolver, como jornalismo, e cumprir as promessas com que a tecnologia hoje acena. Dar um futuro não só para os novos jornalistas, mas para qualquer um que queira praticar bom jornalismo. Pois em termos jornalísticos, a internet já é tão importante para a sociedade quanto o resto da mídia off-line.

10. A excessiva preocupação com a "obrigação" de veicular uma notícia a cada segundo na internet opõe-se ao bom e velho conceito do jornalismo de apuração das informações. Como dar informações com credibilidade na internet?
O Google encontrou um caminho. O Google não faz a checagem que o jornalismo tradicional faz, mas, por meio de seu algoritmo, conseguiu organizar um "ranking da informação" por palavra-chave. Acredito que a Wikipedia, também, está conseguindo (apesar dos eventuais danos). Outros projetos, como o Newsvine, podem ser um caminho ainda para o jornalismo. Ninguém vai checar os quase 100 milhões de blogs hoje: a internet vai "se checar" sozinha (como já está acontecendo). O jornalismo do futuro deve partir dessa premissa.

11. Você acha que a internet está criando a sua própria linguagem?
Sim. Como disse o Pedro Doria, o blog é o primeiro formato 100% oriundo da internet. É, portanto, a linguagem do blog que predomina. E, no âmbito da comunicação pessoal, é a linguagem do e-mail, do MSN (dos mensageiros instantâneos) e até do Orkut (das redes de relacionamento). Não sou teórico da linguagem para traduzir isso em conceitos, mas, por esses exemplos, você já tem uma idéia.

12. Como você definiria os profissionais da nova mídia?
Hoje, ainda existe um híbrido do profissional que veio da (ou que se formou na) velha mídia e que trabalha com a nova. Profissional da nova mídia será, verdadeiramente, aquele que surgir da geração "milenial" - a que cresceu com a internet, desde que ela surgiu comercialmente, de 1995 pra cá. Quando essa geração estiver praticando jornalismo, aí sim, teremos o profissional da nova mídia. Por enquanto, vale estudar os "millennials" em seus hábitos...

[2 Comentário(s)]

Postado por Julio Daio Borges
15/11/2006 às 11h39

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