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Terça-feira,
12/12/2006
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Redação
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Lázaro
Adaptação bastante fiel da obra-prima do escritor russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881), Crime e Castigo (1866), a peça Lázaro, após curta temporada no Teatro Augusta em junho, está em cartaz no Centro Cultural de São Paulo (CCSP) desde setembro. Esta é sua última semana e vale a pena dar uma checada no espetáculo.
Ruy Cortez, diretor de uma peça recentemente em cartaz no SESC Santana (A Louca de Chaillot, de Jean Giraudoux, com Cleyde Yáconnis) é responsável pela adaptação e direção da peça. Resultado de um trabalho de nove meses com a Cia. de Estudo Teatral, impressiona a preparação do grupo para adentrar na obra densa do escritor russo.
A companhia iniciou a adaptação em agosto de 2005. Em dezembro, fez uma viagem à Rússia para conhecer a cidade de São Petersburgo, onde se passa a ação do livro, e realizou um curso na Academia Russa de Arte Teatral - GITIS - Moscou, onde trabalhou a obra com o russo Valentin Vassílievitch Teplyakov. O diretor centraliza sua pesquisa no método de Constantin Stanislavski, fundador do Teatro de Arte de Moscou e ex-professor da escola.
Luiz Felipe Pondé, autor do livro Crítica e Profecia - A Filosofia da Religião em Dostoiévski, explica a metáfora que dá título à peça. Segundo ele, ela tem o objetivo de deslocar a discussão para o cristianismo ortodoxo do autor. "O que está em jogo não é uma simples controvérsia entre teorias abstratas de como organizar socialmente e politicamente o mundo, mas sim uma batalha entre Deus (o Bem) e o Diabo (o Mal), cujo campo de batalha é o coração humano".
Um porão escuro dá efeitos de sombra às atuações e cria um clima de submundo. A pensão de Raskólnikov é um mosteiro, reforçando seu foco religioso. Ao fundo do cenário de Ulisses Cohn há um painel com uma sombria pintura da imagem de Cristo, que é onisciente em toda peça, como se estivesse observando cada gesto. Os personagens interagem com ela como se fosse um confessionário. Seis camas rústicas compõem o cenário e dão seu dinamismo e contextualização do tempo, completados por figurinos de época criados por Atílio Beline Vaz. A trilha sonora grave e forte é dirigida por Leonardo Costa e composta para o espetáculo.
Como uma adaptação, a peça é livre para fazer suas mudanças e de forma geral o faz poucas vezes. Mas há personagens descabidos e atuações fracas. A prostituta que descobre o crime de Raskólnikov é afetada e sua linguagem quebra a sobriedade da peça. Mas há atuações e mudanças notáveis, como a juíza investigadora que tortura Raskólnikov lentamente e a mãe tuberculosa da prostituta Sônia. Em conclusão, é uma peça com atores jovens em desenvolvimento que consegue colocar em cena, durante duas horas e meia, com considerável respeito, uma obra complexa e atemporal.
Para ir além
Lázaro - Até 17/12 - Sextas às 21h e sábados e domingos às 20h - Centro Cultural São Paulo - Avenida Vergueiro, nº 1000, Paraíso - Fone: (11) 3383-3402 - Sala: Espaço Cênico Ademar Guerra - 135 min. - 14 anos - Ingressos: R$ 10
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Marília Almeida
12/12/2006 à 00h16
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Nova Pós: Projetos Editoriais
Estão abertas as inscrições para mais uma pós-graduação que pode ajudar a profissionalizar o mercado mineiro da edição. Desta vez, não apenas em plataformas impressas, mas também em multimídia. Trata-se da especialização em Projetos Editoriais Impressos e Multimídia do Centro Universitário UNA, em Belo Horizonte. O curso prevê 360 horas de aulas que trafegam por jornais, livros, revistas, sites e DVDs, mas não pode ser entendido como um monte de aulas de informática. Ninguém sairá de lá exímio utilizador de ferramentas como Indesign ou Dreamweaver. Nada disso. É um curso para melhor formar pessoas que gerenciam processos e equipes editoriais, para que o produto saia do forno de maneira mais organizada, com menor risco durante o processo de produção, menor uso do estilo tentativa-e-erro das editoras, agências e gráficas. Entre os professores estão Fabrício Marques (ex-editor do Suplemento Literário de Minas Gerais), Carlos d'Andrea (premiado pela Aberje pelo site do Palácio das Artes) e eu, colunista deste sítio bacana. As disciplinas que fazem a diferença estão relacionadas à gestão de projetos, à submissão às leis de incentivo e aos seminários que prometem convidar feras da produção editorial para conversar com os alunos. Não é gasto, é investimento.
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Ana Elisa Ribeiro
11/12/2006 às 12h40
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A secretária de Borges
Há alguns meses, depois de ler quatro livros impactantes, eu não conseguia dar seqüência a uma leitura. Isso fez com que eu atrasasse algumas resenhas de livros, e isso não é nada legal, pode ter certeza.
Mas eis que em um certo domingo eu resolvo ler A secretária de Borges (Record, 2006, 176 págs.), da carioca Lúcia Bettencourt.
O livro de contos, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura de 2005, foi minha salvação, digamos assim. Depois de lê-lo por inteiro naquele domingo mesmo, consegui deixar pra trás a urucubaca que me impedia de ler outros livros.
Mas se por um lado a leitura me foi providencial, por outro me deu uma preocupação. Por conta de o livro não ter me agradado completamente, fiquei com a mesma dúvida que o colega Spalding: escrever ou não uma crítica não muito elogiosa sobre o livro de uma "nova autora"? Resolvi escrever pelo seguinte: a omissão não seria boa nem para mim nem para a autora. Imagino que todo autor leva a sério o que os outros dizem sobre seus livros. Se elogios ou se críticas, não importa. Desde que sejam bem argumentadas e justas, devem ser levadas a sério. Digo isso porque A secretária de Borges é um livro irregular, e poderia ser bem melhor do que é, na minha opinião.
No primeiro conto, que dá título ao livro, Jorge Luis Borges é o narrador-personagem. Ele conta que em determinado momento de sua vida, quando a cegueira já havia se apoderado de seus olhos, sua secretária, que colocava no papel as palavras ditadas pelo escritor argentino, passou a fazer pequenas alterações em seus textos. Mas essas pequenas alterações, a troca de uma determinada palavra por um sinônimo, por exemplo, aumentaram. Ao perceber isso, Borges convoca outra pessoa para reproduzir no papel seus ditados. É quando percebe que a sua secretária era quem dava vida a seus textos, melhorando-os, e ele a chama de volta. Com o tempo, ela se torna uma espécie de ghost-writer. Borges colhe os frutos do sucesso frente ao grande público, enquanto que a secretária se contenta em ser uma reles coadjuvante. Vê-se que é uma ótima história. Talvez seja este colunista querer demais, mas acho que se o conto fosse escrito em terceira pessoa, faria muito mais efeito e seria bem melhor.
Em "O inseto" Lúcia Bettencourt inverte a situação de A metamorfose, de Kafka. Uma barata se torna um ser humano. E uma mulher acaba por cuidar desse ser, e tenta inseri-lo na sociedade, tenta educá-lo. Ótima idéia para um conto também, e a execução não deixa de ser boa, mas talvez a extensão da história, 21 páginas, tenha prejudicado o texto. Ao fim dele, fica a sensação de que pouco foi dito, pois o que quer tenha sido dito, ficou diluído em todo o texto.
Mas há pequenas obras-primas em A secretária de Borges. Quando a autora não se deixa levar por algum autor é quando ela mostra sua verdadeira pena.
"Minha avó dançava charleston" é talvez o melhor conto do livro. Uma história simples, curta e muito bonita, de uma mulher lembrando-se dos tempos de menina e de sua convivência com a avó. Não há o que tirar nem pôr, no conto.
"Perfeição" prova aquela história de que não importa o que se diz, mas sim como se diz. E de um tema que não parece nada propício para um conto, um velho que, ao ver uma bela jovem sentada ao seu lado num banco perto da praia, Lúcia Bettencourt constrói mais uma boa história, que contra tudo o que se pode imaginar no decorrer do conto, tem um fim trágico. E não dizem que o bom conto é aquele que surpreende o leitor? Mas no caso de "Perfeição" o surpreendente não é como um prato de metal caindo no chão em pleno silêncio. É o surpreendente de uma brisa inesperada em um lugar fechado...
Pode ser pretensão minha querer aqui apontar o caminho que a escritora carioca deve ou não seguir, mas acredito que se ela se afastar um pouco das "recriações", digamos assim, como nos contos citados "A secretária de Borges" e "O inseto", e no não citado até agora "Os três últimos dias de Marcel Proust", e se aproximar das criações simples, porém profundas, como "Perfeição" e "Minha avó dançava charleston", Lúcia Bettencourt escreverá algumas das mais belas páginas da nossa literatura contemporânea.
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Rafael Rodrigues
11/12/2006 às 07h32
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Escolha o seu presente
O jornal de literatura contemporânea O Casulo completa um ano com festa na Feira Moderna, na Vila Madalena (São Paulo), dia 12 de dezembro. A comemoração, a cargo dos editores Eduardo Lacerda e Andréa Catrópa, inclui leitura dos poetas Claudio Daniel, Donizete Galvão, Lilian Aquino, Marcelo Bonvicino, Paulo Ferraz e Virna Teixeira, dentre outros.
Será distribuída gratuitamente no dia a edição nº 4 do Casulo, especial de poesia latino-americana. Alguns destaques do novo número é a entrevista com o poeta do portunhol selvagem, Douglas Diegues, traduções de textos mexicanos, cubanos, chilenos e de poemas da argentina Maria Eugenia López. Além de ensaio sobre poesia cubana e reportagem sobre dois festivais chilenos de poesia: Poquita Fé e Con Rimel.
* * *
O carioca Thiago Ponce de Moraes lança seu primeiro livro de poemas Imp., pela editora Caetés, também no dia 12 de dezembro, só que no Rio de Janeiro. Em seu perfil no blog Algaravária, diz, "Tento, assim, enquanto utensílio-utilizador das palavras, fazê-las duvidar de si e subverter pela não-completude, falha, que alcançam; tangem." Thiago faz duas graduações no momento: em Letras pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Dividido em três partes ("Livro I - Quem desejar, diga", "Livro II - Todo poema" e "Livro III - Agora vai o que nunca de fato sei", onde se lança numa dissolução total), Imp. será lançado no Unibanco Artplex Livraria (Praia de Botafogo, nº 316), a partir das 19h.
O primeiro poema, "Defletir", dá o tom de "Dique de palavras", que o poeta imprime durante o livro, assim como a busca de uma dicção pessoal ("Para gen/ Te galgando/ Dicção"). Em "Lição", Thiago nos ensina as diversas possibilidades de seu "horizonte" numa brincadeira de constante deslocar da palavra. Palavra entrecortada, deslizante, mas sempre focalizada ("forçosa poesia/ viscosa palavra/ nunca achada", em "Refluxoperário").
Muitos dos poemas completam-se, não só na leitura, mas em sua contemplação no papel. Reproduzir alguns trechos aqui é matar a beleza do uso de cada espaço em branco, numa intensa reflexão que Thiago faz sobre a poesia e seu lugar ("Su-/ Pondo perfumes/ Vales espirais", em "Antídoto"). Vale ver o livro.
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Antes, dia 9 de dezembro, será a vez da Rave Cultural no Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, a Casa das Rosas (Avenida Paulista, nº 37). A comemoração é de dois anos da casa paulistana como pólo de literatura - dirigida por Frederico Barbosa - e sediando a biblioteca do poeta Haroldo de Campos, livraria da Imprensa Oficial, intensa grade de cursos e oficinas culturais, salas de leitura e exposições, assim como uma biblioteca circulante especializada em poesia. A rave começa às 18 deste sábado, encerrando-se às 7 da manhã de domingo com um café da manhã. Leituras, conversas com escritores durante a noite, dança, cinema, teatro e, na madrugada, technobeat e black music fazem parte da programação.
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Papel-manteiga para embrulhar segredos: cartas culinárias (Memória Visual, 2006, 104 págs.). Este é o novo e belo livro de Cristiane Lisbôa, lançado em novembro último. Cristiane entrelaça uma história bem estruturada - com direito a ação e romance - a partir de cartas que a personagem Antônia envia para sua bisavó, de "alguma parte no mapa". É do restaurante Mi Casa, onde recebe aulas para aprimorar a arte da culinária, como única aluna da autoritária Senhorita Virgínia ("Comida é o que um chef de cozinha deve saber fazer e não doidices com pó de ouro ou crista de galo. Comida é o que une Senhorita Virgínia a esta casa sem tempo nem espaço, fincada no alto de um morro. Comida é o que procuram as quatro pessoas que noite sim, noite não, jantam na sala, vindas não sei de onde. (...) Comida são estas receitas que mando em letra apressada atrás das cartas escritas em papel-manteiga. Comida é meu destino.").
Todas as cartas são acompanhadas de receitas, que vão desde "bolinhos de chuva" até "guisado de cabrito com anis estrelado". Cada uma delas criada - na vida real -, pela gastrônoma Tatiana Damberg. O projeto de capa e fotografias impecáveis do livro são de Mariana Newlands. A autora, também dona da Editora Fina Flor, que faz livros com a mesma delicadeza com que redige estas cartas de Antônia, é gaúcha e reside em São Paulo.
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Você sabia que "cueca por cima da calça não é invenção do Super-Homem" ou que, "para os espanhóis, usar óculos era sinal de status"? Como fazíamos sem... (Panda Books, 2006, 143 págs.) não é apenas um apanhado de curiosidades, mas um livro que nos lembra (ou, provavelmente, nos revela) como era a vida antes de termos à mão uma infinidade de coisas, indispensáveis(?) hoje: talheres, cueca, calcinha, banho, elevador e, até mesmo, Internet!
São alguns exemplos do que podem ser encontrados nesta reportagem feita por Bárbara Soalheiro para a revista Aventuras na História, e transformada em livro neste ano. Num estilo informativo e descontraído, Bárbara, que atualmente é uma das editoras da revista Capricho, prende o leitor do início ao fim. O texto é acompanhado de uma série de imagens - dentre elas, ilustrações de Negreiros.
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Elisa Andrade Buzzo
8/12/2006 à 00h12
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Meus segredos (im)publicáveis
Eu lia quadrinhos eróticos escondida no banheiro do colégio na 5ª série. Eu e duas amigas corríamos pro banheiro pra ler os quadrinhos em paz. E como ficávamos "trocando informações" durante a leitura, criou-se o boato de que éramos lésbicas. Pena que eu saí do colégio naquele mesmo ano.
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Eu sempre choro com o programa Extreme Make Over Reconstrução Total. (Vê se esse não é um segredo bombástico? Admitir isso não é pra qualquer um não! Hahaha.) Esse programa é um horror. Eu não choro, simplesmente. Eu me acabo de chorar. De ficar com olho inchado e tal. Sensibilidade à flor da pele. Mas adoro, adoro. É um programa do bem, mesmo.
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Eu sorrio pros animais na rua. Não, não é um sorriso pela fofura deles, ou algo assim. Eu sorrio pra eles, meio que cumprimentando, mesmo. Já pros donos, eu nem olho.
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Eu não falo palavrão. Não é que eu não queira falar, é que eu não consigo, é meio que um bloqueio.
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Eu já invadi webmail alheio. De descobrir senha e fuxicar, mesmo. Acompanhar e-mails por semanas, meses, e descobrir muitas coisas. Não me orgulho nem um pouco disso, hoje não faço mais.
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Eu já matei um cachorro. De susto. Literalmente. Eu tinha três anos, era noite e eu "vesti" um lençol e fui pro quintal da minha vó. Não sei se foi coincidência ou se aquele era um cachorro sensível que tinha medo de fantasmas. O fato é que o pobre teve um treco ali mesmo. Na hora. Tipo infarto fulminante.
B., do Meio amarga, mas sorri, que linca pra nós (porque... você tem segredos (im)publicáveis também?).
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Julio Daio Borges
7/12/2006 à 00h00
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A bênção, Marcel Powell
Ele entra no palco de chinelos e uma vistosa camisa vermelha de gola em V e mangas compridas. Na penumbra e em silêncio, senta-se e começa a dedilhar o seu violão. Aos poucos, o público reconhece os acordes de "Manhã de Carnaval", de Luiz Bonfá. A música seguinte é "Último Desejo", de Noel Rosa. Enquanto ele se apresenta, muitos procuram identificar os traços do pai, Baden. No final, pouco mais de uma hora depois, Marcel Powell é aplaudido de pé pelas aproximadamente 50 pessoas presentes na Sala Sidney Miller, da Funarte, no centro do Rio de Janeiro. Marcel não está sozinho: parte do show de 5 de dezembro teve a participação do percussionista brasiliense Sandro Araújo, do baixista Rômulo Duarte e de Roberto Santa Marta, músico da Lapa, com seu bandolim. No bis, canja de Hélio Schiavo, baterista que tocou com Baden e estava na platéia. O tempo, realmente, não pára.
Nascido na França e com trabalhos no exterior, Louis Marcel, 24 anos (começou há quase 15), lançou apenas no ano passado um CD no Brasil, Aperto de Mão. A princípio, conta, o pai não queria ser professor, alegando não ter paciência. Mas depois que aceitou o pedido dos filhos (Marcel e Philippe, pianista), avisou: "Vocês vão ter de ser escravos do instrumento, escravos da música."
E assim foi. Baden morreu em 2000, aos 63 anos, mas deixou herdeiros. Marcel herdou, cultivou e leva adiante o gosto pela música brasileira.
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Vitor Nuzzi
6/12/2006 à 01h22
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Cinema e os Direitos Humanos
Mostra busca informar população por meio da arte
Com o intuito de apresentar um panorama cinematográfico das lutas pelos direitos essenciais do homem e fomentar a tolerância entre os povos, ocorre até o dia 17 de dezembro a Mostra de Cinema e Direitos Humanos na América do Sul. Em sua primeira edição, a mostra traz 28 filmes inéditos no circuito comercial brasileiro, produzidos em países da América do Sul a partir de 2003. O evento é realizado pela Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH) em parceria com o SESC-SP, com curadoria do crítico de cinema Amir Labaki e patrocínio da Petrobrás. O evento acontece nas cidades de São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e Recife, sempre com sessões gratuitas.
A idéia de realizar essa mostra é cultivada desde 2005, como explica Marilia Andrade, coordenadora do evento e assessora Especial de Paulo Vannuchi, ministro dos Direitos Humanos. Para Marilia, esse é um momento oportuno, pois a mostra ocorre paralela a VI Reunião de Altas Autoridades em Direitos Humanos do Mercosul, em Brasília. Segundo os organizadores, a intenção é tornar o evento anual, assim como ocorre há 8 anos na Argentina e há 3 anos na Bolívia, por exemplo.
Entre os temas abordados nos filmes estão questões como a discriminação racial, o trabalho escravo ou em condições desumanas, as migrações forçadas, a questão carcerária, a acessibilidade para pessoas com deficiência, a defesa dos direitos políticos, a liberdade de expressão, a exploração sexual de crianças e adolescentes, a homofobia, a segurança pública, o desemprego, entre outros. De acordo com Marilia Andrade, os principais objetivos do evento são divulgar as novas aplicações dos direitos humanos, mais voltados para as necessidades cotidianas da sociedade, e aproximar cultural e socialmente os países da América do Sul, por meio do debate e da troca de experiências.
"Queremos divulgar no Brasil filmes que mostram as novas facetas dos direitos humanos, tecnocraticamente chamados de DESC (Direitos Econômicos, Sociais e Culturais), pois até o fim das ditaduras militares na América do Sul, eles eram mais os direitos dos perseguidos políticos. A idéia agora é ampliar esses direitos na prática, porque na teoria eles já existem desde os iluministas e enciclopedistas franceses do século XVII. E o cinema é uma boa forma de explicar isso para uma população que costuma dizer, como senso comum, que direitos humanos são direitos de bandidos", explica Andrade.
Outra data significante a ser comemorada durante a mostra de cinema é 10 de dezembro, o Dia Internacional dos Direitos Humanos. Essa data foi escolhida em virtude da Declaração Universal dos Direitos Humanos pela ONU, em 1948. A partir daí, questões referentes a direitos básicos à existência e a proteção do Estado de direito do cidadão, antes negados ou negligenciados pelo Estado, começam a ser consolidados nos governos democráticos. Para comemorar os 58 anos da Declaração, está previsto um show no Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro, com a participação do ministro da Cultura, Gilberto Gil e um dia de festa com atividades artísticas na Cinemateca, em São Paulo.
No Brasil, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos possui, desde 2003, status de ministério e é ligada à Presidência da República. Sua forma de atuação se dá pela articulação com órgãos governamentais e parcerias com a sociedade para executar projetos que buscam atender aos anseios e necessidades dos cidadãos. Para atingir o objetivo de popularizar as ações da Secretaria dos Direitos Humanos, a organização pretende promover sessões com públicos específicos, para os quais possui políticas públicas, como grupos de garis, moradores de rua, pessoas que usam cadeira de rodas, entre outros.
Está confirmada uma sessão para deficientes visuais no dia 8 de dezembro, às 20h, na Cinemateca de São Paulo, com a exibição do filme brasileiro Conquista, de Flávia Vilela e Felipe Hansen Hutter. A infra-estrutura para a sessão será montada de acordo com o método utilizado no projeto Cinema em Palavras, o qual consiste na narração das cenas nos intervalos entre os diálogos. Também ocorrerão debates após algumas sessões, no intuito de discutir e refletir sobre os temas abordados nos filmes.
Justiça sim, esquecimento não
Esse é o lema de peruanos que lutam para obterem sua dignidade e seus direitos de cidadãos de volta, após 20 anos de guerra e opressão no país, tanto por parte de grupos terroristas, quanto por abuso de autoridade do Estado. O documentário que retrata esse período da história recente do Peru é Estado de Miedo (2005), dirigido por Pamela Yates, um destaque da Mostra de Cinema e Direitos Humanos.
Estado de Miedo aborda o trabalho da Comissão da Verdade e Reconciliação do Peru, grupo que entrevistou cerca de 17 mil vítimas da violência no país e pesquisou sobre a morte de mais de 69 mil pessoas por conta de ataques terroristas e práticas violentas patrocinadas pelo governo peruano e pelo grupo terrorista Sendero Luminoso, entre 1980 e 2000. Por meio de depoimentos das vítimas, pessoas que vivenciarem os conflitos, arquivos históricos e análise de pesquisadores, o documentário reconstrói um período singular da história do Peru, semelhante ao que foi vivido em outros países da América do Sul. Assim, o documentário é um valioso registro para compreender as relações de dominação e opressão no nosso continente e o trabalho de organizações civis que buscam garantir os direitos humanos dos cidadãos.
As condições precárias de vida, o abandono do Estado, o preconceito e as injustiças históricas cometidas contra a população indígena semearam um terreno fértil para Abimael Guzman, um professor de filosofia que por volta de 1970 fundou o grupo guerrilheiro Sendero Luminoso. Com base na teoria maoísta e marxista, o grupo pretendia fazer a revolução comunista no Peru partindo do campo para a cidade. No entanto, para afirmar seu poder, Guzman comandava seus seguidores com extrema violência, obrigando a população a aderir à sua causa e dizimando os que eram contra; por essas atitudes, o Sendero passa a ser considerado um grupo terrorista.
Sem uma estratégia nítida de ataque, as forças armadas do Peru lutavam em vão contra o Sendero Luminoso, principalmente na região de Ayacucho, nos Andes, onde o grupo nasceu. O Sendero espalhou-se também pelas florestas do Peru, confundindo-se à população e intensificando práticas terroristas, como o seqüestro de crianças com o intuito de aumentar seu exército. A população camponesa passou a ser ameaçada e punida tanto pelo Sendero quanto pelos militares, e a partir de 1990, o grupo terrorista começa a atacar a capital, Lima, com reais chances de dominar o país.
Em meio ao clima de terror instaurado no Peru, Alberto Fujimori, uma figura nunca antes ligada à política, surge para os peruanos como a esperança para se livrar dos ataques terroristas e de um governo injusto e corrupto. Fujimori é eleito presidente em 1990, e em abril de 1992, em nome do combate ao terrorismo, ele fechou o Congresso e assumiu poderes ditatoriais. Cinco meses depois, Guzman, o líder do Sendero Luminoso é preso e Fujimori atribui a si essa vitória. No entanto, em Estado de Miedo, fica claro que o mérito por capturar o terrorista mais procurado do país é da polícia, por suas técnicas de investigação.
Após a prisão de Guzman, os líderes do Sendero Luminoso começam a ser presos e o grupo perde sua força. No entanto, outro poder opressor torna flagelo a população do Peru: a ditadura corrupta de Alberto Fujimori ao lado de Vladimiro Montesinos. A dupla passa a governar por decretos e continuam a perseguir e prender tanto terroristas quanto inocentes, torturando os cidadãos e financiando esquadrões da morte para se manter no poder.
Outra característica marcante da ditadura de Alberto Fujimori é o quase completo controle dos meios de comunicação do país, obtido por meio de suborno. Dessa forma, Fujimori mantinha sua popularidade em alta e aterrorizava a população com possíveis ataques terroristas que não existiam mais. A situação vivenciada pelos peruanos pode ser comparada ao estado de alerta máximo popularizado governo de George W. Bush, nos Estados Unidos, que controla o país por meio de seus "alertas vermelhos contra o terrorismo", mascarando assim sua ineficiência como político.
Estado de Miedo aponta como os anos de terror e abuso de poder deixaram a democracia peruana fragilizada, o povo descrente e amedrontado. No entanto, o trabalho da Comissão da Verdade já foi um primeiro passo para reconstruir a história do país a partir dos fatos reais, uma iniciativa para vencer essa cultura da ignorância e do esquecimento, adotada por governos autoritários e corruptos para se manterem no poder.
Para ir além
Mostra de Cinema e Direitos Humanos na América do Sul
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Postado por
Fernanda da Silva
6/12/2006 à 00h10
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Os sóis
Uma foto de Rogério Kreidlow, cujo blog linca pra nós.
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Postado por
Julio Daio Borges
6/12/2006 à 00h06
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Eita Peste!
Sinto cada dia que o grande barato é o fugaz. Passou, acabou. De volta ao zero, ao nunca mais. Porém, a arte, o amor - a vida, em si - pretendem o eterno, aquilo que está fora do tempo, do espaço - da dor - enfim. Que saco. Isso sim é que nos faz sofrer.
Bom é o que é, mas já está se indo; o que não prende, só resvala; o que não vive, revive.
Lucas Lourenço, no seu blog, que linca pra nós.
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Postado por
Julio Daio Borges
5/12/2006 às 09h29
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Fonte da Vida, de Aronofsky
Desde o dia 25 de novembro em cartaz no país e anteriormente exibido na 30º Mostra Internacional de Cinema de SP, Fonte da Vida é uma surpresa progressiva que resulta em um filme extremamente poético e metafórico.
Após dirigir em 2000 o vertiginoso Réquiem para um sonho, o norte-americano Darren Aronofsky mantém seu estilo de filmagem, apesar do roteiro fantasioso e erroneamente classificado como ficção científica. Seu núcleo principal é tão realista como o mundo das drogas de Réquiem... e pode ser visto mais como uma viagem mental de seu protagonista.
A fotografia deslumbrante, com belos enquadramentos e cores sóbrias, mas vivas, é o que se sobressai no longa, depois da narrativa ágil e complexa que Darren já havia criado no aclamado PI (98). O diretor também reforça sua habilidade para costurar diferentes histórias como em Réquiem.
As três histórias do longa dividem-se na Espanha medieval, onde o leal cavaleiro Tomas Creo busca a mítica Árvore da Vida que salvará sua rainha; no plano da atualidade, quando Tommy Creo busca a cura para o câncer de sua esposa através de experiências com animais, e, por fim, um plano futurístico que leva Tom para a solução de suas angústias.
É difícil pensar que o casal de protagonistas poderiam ser o originalmente cogitado Brad Pitt e Cate Blanchett. O "Wolverine" Hugh Jackman e a ganhadora do Oscar pelo filme O Jardineiro Fiel, Rachel Weisz, possuem uma química essencial para tratar de uma história sobre temas graves como o amor e a morte. Não é difícil acreditar que há uma perda amorosa em frente a nós, na tela. Aliás, a troca de protagonistas foi apenas um dos problemas enfrentados pela produção do longa, que estava sendo pensado desde 2002.
Quando Pitt saiu do projeto, produtores se desinteressaram pelo filme, o que fez com que seu orçamento estacionasse na base de US$35 milhões. Isso não prejudicou seus efeitos especiais de superprodução, filmados em um laboratório com experiências químicas. Essas dificuldades fizeram com que o cineasta notadamente independente não trabalhasse com extremos, apesar de Fonte da Vida ser seu primeiro filme de estúdio.
Por outro lado, em alguns pontos sua narrativa contém cenas desnecessárias e repetições demasiadas, defeitos que apenas enfatizam o estilo de Darren: eficaz e emocionante, ainda que de deglutição demorada. Mas é assim que, afinal, surpreende e quebra padrões.
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Postado por
Marília Almeida
4/12/2006 às 13h14
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