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Domingo, 4/2/2007
Blog
Redação
 
Para quem acredita em amor

A realização do amor platônico é a sua morte. Poetas só sabem criar imaginando musas. Não há mortal que consiga virar musa em meio a panelas sujas na pia, falta de emprego e, principalmente, de contato físico. Não dá.

Vim, vi e não venci. Se perdi, eu ainda não sei. Enfim, apostei muita coisa nisso. Preciso me recolher e cuidar de mim mais uma vez.

O lugar da gente é onde a gente é amado. Independentemente de cidade, estado ou país.

Por Pilar Fazito, escritora mineira, no blog Quero ser um repolho.

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Postado por Ana Elisa Ribeiro
4/2/2007 às 12h09

 
2007 enfim começou

Ressaca... mas uma ressacazinha mínima. Já tive piores. Acordei e comecei a me lembrar desde quando bebo. Não lembro a data exata, mas me lembro que a minha primeira grande paixão alcoólica foi o uísque, isso ainda na fase junkaça dos 17 aos 22. Eu escondia garrafas de Jack Daniels no guarda-roupa, para minha mãe não ver. Passada a fase do uísque, veio a fase da pinga, que bateu direitinho com o começo da faculdade. Batíamos cartão em cachaçarias (havia uma muuuito boa em Taubaté) e acabei até indo duas vezes ao Festival da Pinga, em Parati (e quero voltar lá). Depois foi vodka. Dois grandes amigos bebiam copos enormes no almoço, e eu não entendia como eles podiam gostar daquilo. Fui na deles, e adorei. Vodka passou a ser a minha principal companheira, no entanto, quando me mudei para São Paulo, acabei encontrando prazer em beber cerveja. Nas baladas entre 2001 e 2005, geralmente eu entornava de seis a dez latinhas (raramente mais que dez) por noite, e dormia feliz com os anjos dos bêbados. De um ano e pouco pra cá, as cervejas começaram a ficar mais tempo do que o normal na geladeira, e precisou que um amigo matasse as duas doses de vodka de uma garrafa que estava na geladeira fazia meses. Em baladas, a bebida principal passou a ser a caipirinha, de preferência de morango ou abacaxi. Já tenho um longo caso de amor com a caipirinha de abacaxi. A gente se encontra sempre em quiosques nas praias do litoral norte, ou mesmo Santos, e foi uma tremenda decepção não encontrar nem caipirinha de morango, nem de abacaxi, em mais de dez quiosques da orla de Copacabana, no réveillon. Como assim, só há a "tradicional caipirinha de limão"? Tudo bem que uma das melhores caipirinhas que já provei tenha sido uma de lima, em Santa Tereza, nesta mesma viagem ao Rio de Janeiro, mas ignorarem o sabor da caipirinha de morango é uma afronta. Ontem, o porre foi de cerveja. Não contei quantas, mas serviu para desarranjar meu estômago, e me fazer sentir vivo. Um brinde à ressaca.

Marcelo Costa, no editorial do Scream & Yell (porque o Digestivo foi site do ano de 2006, no Top Seven S&Y 2006, junto com YouTube, MySpace e Last.fm...)

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Postado por Julio Daio Borges
2/2/2007 à 00h37

 
Duas desculpas e uma meditação

Caros leitores, primeiro me desculpo por nas próximas linhas colocar o foco em Tom Jobim, "esquecendo-me", assim, de falar sobre Toquinho, Vinícius de Moraes, Miúcha, entre tantos outros músicos que ajudaram o gênio a se desenvolver e ser ou ter o reconhecimento que possui hoje.

Minhas segundas desculpas vão aos que esperam deste humilde texto uma análise matemática das letras, composições, enfim, das belas poesias de Tom. Isso, deixo com os especialistas. Só lhes garanto uma coisa: li e estudei o Compositor (com letra maiúscula mesmo) para deixar aqui uma meditação.

A felicidade é complicada, e "é por ela ser assim tão delicada, que eu sempre trato dela muito bem".

Não é de hoje que a sociedade esqueceu dos pequenos gestos: obrigado, seja feliz, boa sorte e tudo bem? (querendo mesmo saber a resposta).

As pessoas são hipócritas e más, e, talvez seja por isto que "Passarim quis pousar, não deu, voou, porque o tiro partiu, mas não pegou".

A individualidade exacerbada, o egoísmo, a falta de reflexão, faz o mundo selvagem e competitivo.

Poucos são os que param para ler um bom livro, ouvir uma boa música (que não seja no carro indo para o trabalho) e dedicam parte do seu dia ao ócio, ao prazer, a descobrir a beleza do mar, do céu, das estrelas e por que não da alma, do espírito e de como o mundo poderia ser, mas não é, por pouco...

Mas o que mais incomoda é o "não é comigo", é olhar o pobre e achar que a culpa da pobreza é a preguiça e a da preguiça é a inveja.

O Brasil está cheio de desculpas tangentes!

Já dizia Chico Buarque: "dinheiro é bom para comprar uísque, charuto e pagar o aluguel. Quando o dinheiro é tudo, a vida vira a maior chatice".

E completa Noel Rosa: "Quanto a você, da aristocracia, tem dinheiro, mas não compra a alegria. Há de viver eternamente sendo escravo dessa gente que cultiva a hipocrisia".

O que eu quero dizer com tudo isso, e acho que eles quiseram dizer também, é que precisamos desenvolver nosso lado poético, metafísico, improvisador (uma das melhores qualidades de Tom), para alcançarmos uma vida mais sadia, menos estressada, mais pura.

Já que "pobre de quem acredita na glória e no dinheiro para ser feliz", porque mesmo no peito dos desafinados bate um coração, espero, sinceramente, que aos poucos comecemos a dar mais valor ao ser do que ao ter, pois isto sim será a promessa de vida no seu coração.

Uma sugestão: façamos como nas composições do Poeta: tudo tão simples, mas tão profundo...

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Postado por Daniel Bushatsky
1/2/2007 às 14h59

 
The Creative Anti-Commons

(...)Free software guru Richard Stallman claims that in the age of the digital copy the role of copyright has been completely reversed. While it began as a legal measure to allow authors to restrict publishers for the sake of the general public, copyright has become a publishers' weapon to maintain their monopoly by imposing restrictions on a general public that now has the means to produce their own copies. The aim of copyleft more generally, and of specific licenses like the GPL, is to reverse this reversal. Copyleft uses copyright law, but flips it over to serve the opposite of its usual purpose. Instead of fostering privatization, it becomes a guarantee that everyone has the freedom to use, copy, distribute and modify software or any other work. Its only "restriction" is precisely the one that guarantees freedom - users are not permitted to restrict anyone else's freedom since all copies and derivations must be redistributed under the same license. Copyleft claims ownership legally only to relinquish it practically by allowing everyone to use the work as they choose as long the copyleft is passed down. The merely formal claim of ownership means that no one else may put a copyright over a copylefted work and try to limit its use(...)

Anna Nimus, num texto para quem quer entender copyleft e essas coisas todas, que eu encontrei graças ao projeto de doutorado do Hermani Dimantas...

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Postado por Julio Daio Borges
1/2/2007 à 00h30

 
Freakonomics

Freakonomics (Campus, 2005, 254 págs.), escrito por um economista, não é um livro sobre economia, no sentido tradicional.

O autor usa os procedimentos da análise econômica, mas não o "economês". É mais uma investigação social; Steven D. Levitt (junto com Stephen J. Dubner, jornalista) analisa o lado oculto das causas e efeitos em diversos fenômenos do dia a dia.

É uma investigação quase policial, de detetives procurando explicações para fatos aparentemente sem relação uns com os outros: a queda dos preços dos seguros de vida e o surgimento da internet; nomes próprios e sua relação com o sucesso profissional, a queda da criminalidade e a lei que sancionou a prática do aborto (nos EUA) - e que é o assunto mais polêmico do livro.

Levitt pega leve, driblando, no possível, o previsível ataque às suas teses politicamente "incorretas". O livro não chega a ser chato, mas é quase - há uma distância de professor para aluno que a gente não gosta de sentir, principalmente quando a gente é o aluno. O que salva são exatamente as conclusões - Levitt soa muito lógico e convincente.

Essa lógica é que criou polêmica nos EUA porque, numa linguagem clara e apoiada em procedimentos práticos de análise econômica, é capaz de convencer e deixar os opositores sem muitos argumentos. O autor acredita no que escreve e não hesita em apontar a correlação de variáveis aparentemente distantes entre si.

Freak, em inglês, quer dizer esquisisto, fora do contexto ou até mesmo "fissurado". Freakonomics é isso, um estudo social inusitado por ser original e tenaz na sua busca de explicações pouco ortodoxas.

Nota do Editor
Leia também "Freakonomics: a trajetória de um livro"

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Postado por Guga Schultze
31/1/2007 às 23h33

 
Revistas e mais revistas

"Vai sempre haver revistas. É possível que não sejam impressas(...) O leitor vai ter o equivalente a uma revista de hoje, mas eletrônica(...)"

Roberto Civita, o presidente do Grupo Abril, em alguns dos poucos acertos, que ele deixa escapar, nesta entrevista...

[1 Comentário(s)]

Postado por Julio Daio Borges
31/1/2007 à 00h21

 
Engatinhando no Digestivo

O Digestivo fez 6 anos; eu ia escrever sobre a Quinta Geração de Colunistas do site; e eu queria, claro, um depoimento de cada um que participou. Ao contrário do que fizemos nos outros anos, enviamos algumas perguntas para incentivar os depoimentos de Colunistas, ex-Colunistas e Colaboradores. Alguns escreveram textos corridos; outros responderam diretamente às perguntas. Para não ficar, assim, uma "entrevista" solta (abaixo), achei por bem dar este esclarecimento inicial. Boa leitura! - JDB

1. Como começou sua história com o Digestivo Cultural?
Numa dessas buscas, nesse mar sem fim que é a Internet, nesses longos dias em que se usa o Google para dar a volta ao mundo e ser um verdadeiro Amyr Klink, foi que me deparei com o Digestivo, então, foi amor a primeira vista. Passei a ler alguns textos, mas meu "assunto em especial" estava ligado às artes, então li vários e vários artigos sobre artes, até mandei e-mail para os colunistas e obtive ótimas respostas. Foi muito agradável.

2. Como é (foi) escrever para o site?
Bom... ainda não posso dizer que "escrevo para o site", mas já posso admitir que estou "engatinhando pelo site"... rs... Meu primeiro texto foi falando sobre a polêmica arte contemporânea, então encaminhei para a redação e obtive a resposta de "um certo J.D. Borges", elogiando o texto e me convidando pra uma conversa no Digestivo. Fui, conversamos e de lá pra cá tenho recebido os releases sobre o que acontece na cidade, ligado a artes. Mandei meu primeiro texto que foi publicado no blog e até achei que o Julio não havia gostado por ser crítico demais, mas oras, talvez eu seja uma futura crítica da arte... rs...(crítica mesmo)...

3. Quais foram seus maiores hits? A que você os atribui?
Ainda não tenho nenhum tocando, mas sei que a qualquer hora a música vai pegar.

4. Você mudou muito antes (depois) de entrar para (sair do) Digestivo? Como era escrever antes e como é escrever hoje?
Minha escrita está em evolução e introspecção diariamente. Ultimamente tenho mais lido do que escrito sobre artes, ainda estou no processo de absorver, absorver, absorver; até chegar o momento da explosão. No momento, pequenas anotações e gravações. Quanto às poesias, essas sim são diariamente paridas. Pena que o Digestivo não tenha uma coluninha de poesia... como "Poesia da semana", ou "Poesia do dia", enfim, fica aí até uma sugestão pra um site como esse, tão interativo e repleto de questões e assuntos.

5. Cite alguma coisa significativa que o Digestivo te trouxe...
Está me deixando em "dia" com os acontecimentos no mundo da arte através dos releases que tenho recebido e também a oportunidade de poder ter as portas abertas pra escrever.

6. As pessoas do Digestivo... Alguém que você citaria? Por quê? Alguém com quem aprendeu alguma coisa? O quê?
Como só conheço o Julio, até o momento, citaria seu nome. Primeiramente pela atenção, e depois pela garra e amor demonstrados para lidar com um site tão apaixonante que é o Digestivo. Como disse acima, ainda estou "engatinhando" por aqui, conhecendo lentamente os processos e as pessoas, ainda abrindo as portas. É isso; a você, Julio, e a toda a sua equipe: meus parabéns por esses 6 longos anos.

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Postado por Simone Oliveira
30/1/2007 às 11h37

 
Tom, pizza e Adoniran

Ser paulistano e morar no Rio pode permitir alguns privilégios. Como o de comemorar dois aniversários no mesmo dia. Pois no dia 25, fui com uma amiga ver o sessentão grupo Os Cariocas, em sua oitava formação, fazer um show em plena calçada da rua Vinícius de Moraes, em Ipanema. Cantei com gosto o bis, o "Samba do avião". Mas bateu uma certa culpa por não ter ouvido Demônios da Garoa, e por isso - um gesto temerário para quem veio de Sampa - fui comer pizza depois. A reabilitação total veio na sexta-feira, quando em plena Lapa ouvi um grupo de sambistas cariocas atacar de "Volta por cima", do Vanzolini, e "Trem das onze", do grande Adoniran Barbosa. Que, para quem não sabe, foi autor do primeiro samba paulista a faturar prêmio no Rio. Que túmulo do samba, que nada! Sorte nossa ter essa turma toda cantando pra gente.

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Postado por Vitor Nuzzi
30/1/2007 à 01h10

 
Cinema em 2007

"Criatividade e ousadia está nas imagens produzidas para a internet. O cinema, como meio, perdeu o bonde da inventividade."

Fernando Bonassi, em entrevista ao Cranik (porque eu também, às vezes, acho isso...)

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Postado por Julio Daio Borges
30/1/2007 à 00h17

 
Entrevista a Ademir Pascale

Sim, mais uma entrevista — a primeira do ano. Desta vez, a Ademir Pascale Cardoso, do site Cranik. Fora a história do Digestivo, que eu sempre conto, um ou outro insight sobre o futuro do livro, da língua no Brasil e da educação nas escolas. Fica ainda como presente de aniversário ao contrário, aos Leitores do site. Bom proveito! — JDB

Minibiografia:
Julio Daio Borges nasceu em São Paulo, a 29 de janeiro de 1974. Estudou Engenharia Elétrica, com ênfase em Computação, na Poli/USP, e foi redação nota 10 da Fuvest em 1992. Iniciou sua atividade de colunista independente em 1997, com um artigo crítico sobre sua faculdade, na época da formatura, que foi parar na coluna de Luis Nassif, na Folha. Mexe com internet desde 1995, trabalhou nos bancos Itaú e Real, sempre com tecnologia, e montou o Digestivo Cultural em 2000, depois de experiências com seu site pessoal. Dirige um grupo de Colunistas e Colaboradores desde 2001, trabalha com Parceiros e Anunciantes desde 2003, editou uma revista em papel com a FGV/SP em 2004, ultrapassou a marca dos 100 mil Leitores (visitantes-únicos) em 2005 e, desde 2006, trabalha em um projeto para editar o melhor do Digestivo em livro.

1. Quando e por que o site Digestivo Cultural foi ao ar?
O Digestivo Cultural, como newsletter, começou em setembro de 2000 e o respectivo site foi ao ar no final do mesmo ano. Eu já vinha fazendo experiências com jornalismo e internet desde 1997 — como colunista independente —, mas achava que precisaria montar uma revista eletrônica, com outros colaboradores, para saber qual o real alcance da coisa. O Digestivo mistura, desde então, meu interesse pessoal por cultura (e por jornalismo cultural) com a minha afinidade por tecnologia, que cultivo desde a adolescência e infância. O Digestivo Cultural surgiu também porque, além de tudo isso, eu achava que havia uma grande lacuna em termos de jornalismo cultural na internet brasileira.

2. Por que o nome Digestivo Cultural?
Porque eu queria falar de cultura na internet e porque, em 2000, eu achava que só poderia fazer isso de forma "digestiva". Ou seja: de maneira breve, concisa e minimamente interessante para o leitor. Digestivo Cultural, o nome, surgiu de um insight — que, como todo insight, não tem muita explicação, mas já teve várias interpretações. No fundo, eu queria mostrar que a cultura não era um bicho-de-sete-cabeças, podia ser divertida e absorvível por qualquer pessoa.

3. Qual a receptividade e público alvo do Digestivo Cultural?
A receptividade foi boa desde o começo, as pessoas, em geral, simpatizam imediatamente com o nome e o site se beneficiou do retorno à escrita e à leitura com o advento do e-mail desde os anos 90. Agora com a queda do preço dos computadores pessoais, e com o maior acesso da chamada classe C à internet, o Digestivo vem registrando um crescimento quase exponencial desde 2005. Hoje estamos com, aproximadamente, 5 mil visitantes-únicos/dia (150 mil/mês), 15 mil páginas navegadas/dia (450 mil/mês) e quase 20 mil inscritos na nossa Newsletter. E Parceiros como: Livraria Cultura, Companhia das Letras, Casa do Saber e Chakras, entre outros — são mais de dez no momento; fora Anunciantes como o Google e o Submarino.

4. No total, quantas pessoas trabalham hoje no Digestivo Cultural e como você seleciona seus Colunistas e Colaboradores?
Fora eu, que sou o Editor, o Digestivo tem 15 Colunistas fixos, mais 10 Colaboradores esporádicos, um Assistente Editorial, uma Assistente de Produção e duas Ilustradoras (webdesigners) freelancers. Sobre a seleção dos Colunistas e Colaboradores, acontece ou por indicação ou por afinidade. No primeiro caso, um Colaborador antigo indica um novo; no segundo, um potencial Colaborador se aproxima do Digestivo porque já o lê, sabe como ele funciona, entende o espírito da coisa, e acaba, às vezes, até se tornando Colunista fixo. O critério principal é a qualidade do texto. E tem de fazer jornalismo cultural...

5. Com o crescimento da internet e da inclusão digital para os menos favorecidos, você acredita que os e-books, poderão um dia tomar o lugar dos livros impressos? Ou isso não acontecerá, ou está muito longe de acontecer? Qual a sua opinião?
Eu acho que pode acontecer, sim. E não só por causa da inclusão digital, mas porque o próprio PDF — formato já consagrado há anos — é muito prático para quem quer disponibilizar livros na internet. Li uma meia dúzia de livros, no ano passado, a partir de PDFs da internet que eu mesmo baixei e imprimi. Dois deles foram os primeiros livros de contos de Daniel Galera e Daniel Pellizzari, em edição original da Livros do Mal, disponível nos seus respectivos sites. Lógico que existe diferença entre um livro comprado na livraria e um PDF impresso na impressora, mas isso não inviabiliza a leitura — às vezes, pelo contrário, até estimula.

6. Você acredita que a internet possa interferir nas variações diatópicas, excluindo cada vez mais as variações fonéticas em nosso país?
Não, porque outras mídias e outras formas de comunicação vieram, como o rádio e a televisão, e não excluíram. Ou então, se você não concordar, a internet pode "excluir" na mesma medida em que o rádio e a televisão já "excluíram". Na realidade, até penso que a internet pode vir a valorizar a cultura regional e local — embora essa não seja exatamente a minha especialidade... As ferramentas de publicação on-line, inclusive, permitem que a comunicação seja democratizada e que ela não dependa só dos grandes centros emissores de antes.

7. Você acha importante incentivar mais a norma culta e a gramática normativa na internet? Qual a sua opinião?
Nunca pensei nesses termos quando montei o Digestivo Cultural. Acontece que eu venho da tradição do jornalismo escrito, e da literatura, então mais ou menos sigo as "normas" deles. No site, achamos importante que haja uma certa padronização de formatos, ainda que haja estímulo para que cada um desenvolva sua própria linguagem, seu próprio estilo. Se você estiver atento às sutilezas, vai perceber que a Ana Elisa Ribeiro (MG) não escreve igual à Adriana Baggio (PR), que, por sua vez, não escreve igual ao Rafael Rodrigues (BA), que não escreve igual ao Luis Eduardo Matta (RJ), que não escreve igual à Elisa Andrade Buzzo (SP) — e assim por diante... A "norma culta" e a "gramática normativa", como você diz, são uma opção nossa, talvez, mas não vejo como uma obrigatoriedade para todos os sites.

8. Devido ao gigantesco interesse dos jovens pela internet e seus "derivados" — como Orkut, blogs, MSN, MP3, etc. —, as escolas públicas não deveriam repensar seu método de ensino e estimular o aluno para que interaja mais nesse campo lexical?
Sim, eu acho que deveriam; mas não só as escolas públicas, as escolas em geral. Na verdade, o "método de aprendizado" — se é que podemos chamá-lo assim — já mudou, porque o acesso à informação, com a internet, tende a ser pleno. Fica mais difícil, então, impor um "currículo" a cada nova geração de internautas, porque, graças à WWW, eles podem estudar os assuntos que quiserem, na ordem em que quiserem. O ensino, em qualquer nível, terá de ser interativo, dando abertura para sugestões, até estruturais, dos alunos. Na minha época, os professores atentos a isso eram poucos — espero que, hoje, tenham aumentado...

9. Joanne Kathleen Rowling teve uma grande importância no incentivo a leitura dos jovens, com a criação do personagem Harry Potter. Crianças que odiavam ler, hoje pedem livros com mais de 500 páginas nas cartinhas para o Papai Noel e, voltando à questão do ensino público, você não acha que os jovens teriam um melhor aproveitamento em sala de aula com livros semelhantes aos de J. K. Rowling?
Não sei; não é uma questão fechada para mim. Até porque fui um adolescente atípico: eu lia José de Alencar, Machado de Assis, Mário de Andrade, Jorge Amado e gostava. Existe uma discussão, que vem de longe, sobre a validade ou não de fenômenos com Harry Potter. O crítico Harold Bloom não aprova e o brasileiro Sérgio Augusto uma vez afirmou, num ensaio, que "quem começa lendo chorumelas, termina lendo chorumelas" — ou seja, para eles não existe esse "salto" da literatura de entretenimento em relação à alta literatura. No meu caso ainda, na adolescência também li best-sellers como os de Stephen King e Clive Barker, até porque meus amigos liam, mas tenho sérias dúvidas se foram eles que me levaram a Nélson Rodrigues, Paulo Francis e Rubem Fonseca, embora fossem muito divertidos. A meu ver — como já disse aqui —, é a internet que está aumentando, mais do que os livros, os índices de leitura e escrita.

10. Pedagogia Libertária ou Ensino Bancário? Qual a sua preferência e por quê?
Não sei se entendo tanto do assunto para responder corretamente. No meu ponto de vista, a Web empurra cada vez mais as pessoas para o autodidatismo, para os cursos mediados pela tela do computador e para a educação continuada, porque o fluxo de informação (e, por conseguinte, a formação) é permanente. Os estímulos das mídias são cada vez em maior número e os esforços da pedagogia, qual seja, é só mais um deles. Numa era de tanto relativismo cultural como a nossa, ninguém tem sempre razão; até para eleger um caminho ou outro é complicado. Minha sugestão é fazer como faço aqui no Digestivo: aposto mais nas pessoas do que nas coisas. As pessoas certas trarão as respostas; tem sido a minha aposta desde 2000.

[6 Comentário(s)]

Postado por Julio Daio Borges
29/1/2007 à 00h46

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