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Sexta-feira,
23/2/2007
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Redação
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No Brasil, de braços abertos?
Vamos a alguns fatos:
* Mais de um ano de demora para a entrega da renovação da "identidade de residente permanente";
* Um grupo de pessoas competentes literamente expulsas por sua crença religiosa;
* 600 engenheiros barrados pelo corporativismo de um sindicato politicamente aliado a requerimentos burocráticos impossíveis de serem preenchidos;
* Grandes professores e cientistas, refugiados de um país em desmanche, barrados por suas opções políticas e pelo velho corporativismo das universidades;
* Pedido de mais de 5 cartas diferentes, conta bancária, referências... (e nada consta para 5 vistos de "turista" a empresários milionários da Índia...);
* * *
Que país é este? Os Estados Unidos são fogo, não é? Infelizmente, todos os itens acima se referem ao Brasil... O imigrante em questão é minha mãe que mora, aqui, há mais de trinta anos, e que tem de renovar sua carteira de identidade a cada dez anos pela lei.
O grupo de pessoas expulsas foram os judeus que procuraram refúgio em Nova York, formando as primeiras sinagogas, e com sua riqueza alimentando, e construíndo, muito da cultura, inclusive as universidades norte-americanas... (Muitos cientistas judeus foram rechaçados quando tentaram fugir da Rússia, e mais tarde da Alemanha, e vir para o Brasil...)
Os 600 engenheiros chineses estão barrados, conforme notícia no jornal de hoje, num exemplo de corporativismo e falta de vergonha das "entidades profissionais" e do gobierno brasileño. (No resto do mundo, do Canadá ao Paquistão, os engenheiros são bem recebidos, porque os outros engenheiros sabem que sempre podem aprender com eles...)
E o país em desmanche? A União Soviética! Na década de 90, as universidades brasileiras rejeitaram muitas dezenas de grandes nomes da ciência, que fugiam da URSS e viam para o Brasil, um paraíso tropical, onde poderiam continuar suas carreiras... Alguns dos grandes nomes da teoria de controle, por exemplo, da física de semicondutores, do laser... cogitaram refúgio no Brasil (prontamente negado pelas universidades brasileiras). A COPPE no Brasil só foi fundada devido à visão do Prof. Alberto Coimbra, que indo contra tudo, e todos, contratou professores estrangeiros na década de 70... Depois disso, nos fechamos no nosso casulo tropicalóide!
O grupo de 5 seniors indianos... que passou pelo constrangimento? Alguns dos maiores empresários da área química indiana, que queriam passar o carnaval no Rio de Janeiro, e vieram gastar aqui dezenas de milhares de dólares, em produtos e serviços, coisa completamente desnecessária para uma cidade rica como o Rio de Janeiro...!
* * *
Por estas e por outras que, quando Einstein visitou o Brasil em 1925 (e quase foi barrado no aeroporto por alguns funcionários públicos burrocratas), disse o seguinte:
"Em 1º de junho voltei da América do Sul. Foi uma grande agitação sem interesse verdadeiro, mas também algumas semanas de repouso durante a travessia.(...) Para achar a Europa alegre é preciso visitar a América. Na realidade, as pessoas de lá são desprovidas de preconceitos, mas elas são, na sua grande maioria, vazias e pouco interessantes, mais do que as daqui."
* * *
Para aqueles que acreditam que o Brasil é o paraíso dos imigrantes, nada mais longe da verdade. É o paraíso do imigrante que já vem abarrotado de dinheiro, e está aqui atrás de uma esposa ou de uma aposentadoria... No geral, somos um país intolerante com a cultura alheia, extremamente protecionista, e sem nenhuma visão profunda sobre a cultura e o conhecimento... Mais algumas décadas assim e poderemos passar a nos lamentar também que o gigante adormecido não consegue ser igual à China ou à Índia. Agradeçam aos burocratas, profissionais atrasados e sindicatos de plantão.
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Ram Rajagopal
23/2/2007 às 10h46
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Media Vs. Media Institutions
First, let's agree that "media" is anything that people want to read, watch or listen to, amateur or professional.
The difference between the "old" media and the "new" is that old media packages content and new media atomizes it.
Old media is all about building businesses around content. New media is about the content, period. Old media is about platforms. New media is about individual people.
(Note: "old" does not mean bad and "new" good - I do, after all, run a very nicely growing magazine/old media business.)(...)
In short, We Media is alive and well. It's just the would-be We Media institutions that are not. A phenomenon is not necessarily a business. That doesn't make it any less of a phenomenon.
Chris Anderson defendento o We the Media (porque a discussão vai ficando cada vez mais complicada...).
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Julio Daio Borges
23/2/2007 à 00h08
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Mamãe Natureza
Mamãe Natureza é boazinha, dizem. Bem, pelo menos me disseram isso, repetidas vezes. Tudo na Natureza tem um equilíbrio perfeito, também já ouvi muito.
Vi na TV uns gnus em pandemônio atravessando um rio. Crocodilos, com seus sorrisos compridos, puro sarcasmo, desciam do barro das margens e iam lá, morder as pernas dos gnus debaixo dágua. Eram milhares de gnus que tinham limpado a relva numa área de um quilômetro quadrado do lado de cá do rio e que agora iam rapar o outro lado.
Tinha umas zebras que ficaram sem capim e seguiram os gnus, levando no rastro uma família grande de hienas. As hienas balançam a cabeça de um modo sinistro e têm enormes dificuldades de relacionamento umas com as outras. Não querem atravessar a droga do rio mas vão até as margens porque sabem que ali tem umas leoas furiosas, escondidas atrás do mato raso. Estão contando com umas sobras.
A TV mostrou duas leoas lustrosas, espremidas atrás de uma moita, tensas e com os rabos dando chicotadas no ar, TPM em último grau. E o burro do gnu passa assim, na frente delas. A leoa pula de quatro em cima dele, o bicho leva um susto que o olho quase sai pra fora e caem os dois dentro da água, fazendo um escarcéu dos diabos, lama voando pra todo lado, e a outra leoa vem, franzindo a cara para não levar respingo no olho.
As hienas ficam na margem, botando olho grande, andando pra lá e pra cá, pra lá e pra cá, babando, fissuradas. Uma delas, mais retardadinha, não percebe que tá chegando perto de um crocodilo grotesco, camufladão no barro. Ele dá um pique em cima dela - um monstro de não sei quantos metros - e o bicho é rápido. A hiena escapa por pouco, com a adrenalina lá na tampa, o suficiente pra correr até os confins da África. O crocodilo tá agitado também, fecha a boca naquele sorriso esquisito e volta, rabeando, doidão, pra dentro do rio.
Lá na frente um hipopótamo obeso com um hipopotinho (sic) obesinho vai entrando na água e deixando aquela bagunça toda pra trás.
A câmera corta pra um urubu do tamanho dum ganso que vem voando, já baixo, e aterrisa com uns pulinhos igual gente que corre pra pegar o ônibus e o ônibus vai embora e o cara desiste da corrida e vai freiando sem graça.
O saldo dessa zona toda é: alguns gnus mortos ficando por ali e o resto já do outro lado do rio. Um ser humano, pelado, no meio de uma confusão dessas não duraria trinta segundos. Na verdade o ser humano, pelado ou não, não dura muito em nenhum lugar natural. Leva bicada, mordida e coice; da bactéria, do mosquito; pisa numa cobra, sai correndo e tromba no elefante. Também não dá mole pra nenhum animal. Mamãe Natureza sorri, maternal, com seus dentes de vampiro. O processo da vida é um negócio absolutamente psicopata.
- Ô, cadê o controle? Muda esse canal aí. Liga o ar condicionado, tá calor demais e me traz o uísque que o meu acabô. Ah, aproveita e me vê mais duas pedras de gelo.
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Guga Schultze
22/2/2007 às 23h01
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Internet e Ensino
O Congresso da Associação Brasileira de Lingüística (ABRALIN) começa na semana que vem, dia 28, no campus Pampulha da UFMG, em Belo Horizonte. Como outros tantos congressos, este também é grande, cheio, com muitos trabalhos sendo apresentados ao mesmo tempo. Quem puder dar uma chegada lá, vai poder assistir a conferências, mesas-redondas e comunicações (coordenadas e individuais) sobre centenas de temas, entre eles, os mais cotados, são aqueles relacionados à Internet. Pelo que se vê nos resumos, muita gente ainda não sabe direito o que está estudando, não vive o ambiente digital e, portanto, não o compreende um tico melhor, mas há quem vá apresentar trabalhos interessantes.
Além disso, no dia 28, a partir de 18h30, serão lançados vários livros, entre eles Internet e Ensino, organizado pelo prof. Júlio Araújo. Um capítulo é meu. Estará à disposição pela editora Lucerna. Quem sabe a gente anda acertando na mosca?
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Ana Elisa Ribeiro
22/2/2007 às 22h44
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Trufas Cemoi
No mês passado eu fiz uma matéria sobre a Casa Santa Luzia para a revista em que trabalho. Nas pesquisas sobre esse supermercado especial, que completou 80 anos, encontrei uma comunidade no Orkut, onde os clientes trocam dicas, fazem elogios e críticas à loja. Tanto falaram das trufas de chocolate francesas Cemoi, que depois do dever cumprido no dia da entrevista com o seu Jorge (um dos sócios), eu resolvi levar uma caixa. Custou R$ 18,00. São simplesmente um escândalo. Tão diferentes dos docinhos de chocolate que costumamos chamar de trufas e que hoje são arroz de festa em qualquer padaria, que a sensação que se tem é a de estar comendo - e conhecendo - uma trufa de chocolate pela primeira vez...
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Adriana Carvalho
22/2/2007 às 09h34
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Deu samba na Sapucaí
Terminado o segundo dia de desfile, boa parte das saídas dos blocos de rua, e o resultado da apuração do desfile das escolas do Grupo Especial, podemos dançar as marchinhas pós-carnavalescas:
* A segunda-feira teve uma cobertura um pouco melhor do desfile, especialmente em relação ao som televisionado. Cléber Machado narrou o desfile como se estivesse narrando mais uma decisão do vôlei brasileiro. Dudu Nobre e Chico Spinoza salvaram o programa.
* A escola mais criativa, que fez um carnaval surpreendente, foi a Viradouro. Obviamente que não seria campeã. Sucesso de público com criatividade é receita para ser fracasso de crítica.
* A minha musa do carnaval é a Juliana Paes. Beleza, samba no pé, olhar sensual, e acima de tudo, a postura de quem é rainha e conduz seus súditos do "paraticumbum", apresentando-os para a avenida. Para as aspirantes atrizes globais, prestem atenção: na avenida, a rainha apesar de ser o centro das atenções, não pode chamar para si a atenção!
* Como era de se esperar as maiores confusões vieram da Mangueira, que passou por profundas mudanças de administração este ano. Fora a polêmica Beth Carvalho, a Mangueira apostou na Preta Gil para madrinha. Foi um fracasso. Sambou mal a beça, e pior, não se tocou que a rainha conduz seus súditos, e não a si mesma para aparecer na tevê. Obviamente todos os "polcoristas" de plantão disseram: critica porque é gorda e preta. Já era de se esperar... A escola não apresenta nada novo há quase uma década. Do jeito que está, serão mais alguns anos até ganhar um carnaval.
* A Beija-Flor, que já foi do inovador Joãozinho Trinta, fez um desfile conservador, mas vibrante e colorido. E o melhor: usou o politicamente correto tema "afro-brasileiro". É óbvio que iria ganhar. Até quando Joãozinho ganhava era porque fazia denúncia social... Ele sabia que, no Brasil, criatividade não ganha nada. O que vale é denúncia social, viés político, e apoio de bicheiro... contra o qual sempre foi silenciosamente contra. Mas parabéns à comunidade de Nilópolis que não tem nada com tudo isso!
* Seriam os presidentes da Unidos da Tijuca, Fernando Horta, e o jurado, presidente do Fluminense, Francisco Horta, relacionados? Isso talvez explique como a Unidos chegou à frente da Viradouro, no quesito Alegorias e Adereços. Isso e nosso conservadorismo, que jamais prestigiará o novo... até que seja copiado por todas as escolas. E, ainda assim, a cópia vai ganhar prêmio.
* Paulo Barros, a melhor novidade do carnaval da Apoteose nos últimos anos, pode se sentir justiçado. Todas as escolas copiaram alguma idéia sua. Assim como foi na era Joãozinho Trinta... Uma coisa para os reclamadores de plantão: carnaval da Sapucaí não é, e não é para ser, carnaval de rua. A intenção é outra. É luxo, é inovação, plasticidade, é o equivalente ao blockbuster americano de cinema. E como todos sabemos, a blockbuster todo mundo assiste. Alguém aí vai querer assistir na televisão a puxada da Banda de Ipanema?
* O carnaval de rua, que era ótimo, agora está superpovoado. Precisamos de ONGs, por favor! A passagem da Banda de Ipanema, que antigamente você podia seguir caminhando, com os outros velhinhos fãs do carnaval de rua, hoje é evento insuportável, com gente demais... Pior, muita gente querendo aparecer, ao invés de só curtir o programa. Parece que as pessoas andam sem dinheiro mesmo. Portanto, programa de graça? Injeção na testa!
* Quem quiser pegar a rabeira do carnaval carioca, neste sábado tem Monobloco... Já aviso: vai ser uma confusão enorme, com gente demais. Para os solteiros, o Monobloco é uma festa. Então aproveitem! Semana que vem, a maioria já terá que fingir que trabalha...
* E só para terminar: atenção, carnavalescos, não vamos tornar a Marquês de Sapucaí mais uma avenida para mensagem social... Deixem esse papel para as ONGs, emissoras de tevê, jornais e professores que precisam disso para "subsistir". O samba é, por sua raiz, uma expressão da cultura afro-sul-americana. Não precisamos acabar com nossa criatividade de brasileiro para restringir-nos somente a temas africanos, ou politicamente corretos... Senão, se quiserem mesmo homenagear a África, façam um samba sobre as guerras tribais, a violência à mulher, o tráfico de escravos negros (por outros negros), os barbáricos traficantes de drogas afro-nigerianos... e outras belezas do gênero. Ou será que em determinada cor de pele só tem pessoas bacanas? Neste ano foram mais de quatro escolas com sambas politicamente corretos, sendo que duas foram campeãs... Nosso país está ficando insuportável.
* Agora, para terminar mesmo: viva ao Mengão! Se ganhar a Libertadores, podemos lhe dar o título de "Afro-campeão sul-americano", e quiçá, não ganha mais verbas do governo, das centenas de milhões destinadas às ONGs...?
Post Scriptum
Aos atacados de plantão, as opiniões deste post são de responsabilidade exclusiva do autor. Os incomodados, por favor, não leiam. Comecem sua ONG, e curtam Nova York como muitos amigos meus "ONGeiros". E Ju (Paes): se você estiver lendo, está de parabéns, e espero você no carnaval do ano que vem, mais linda, mais gostosa, e sambando mais ainda...
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Ram Rajagopal
22/2/2007 às 08h29
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O blog que ninguém lê…
Ninguém lê?
É, talvez seja um exagero, mas eu creio que poderia trocar o nome do blog para "NINGUÉM LÊ", com a excessão honrosa de duas ou três, talvez dez pessoas, mas não mais que isso.
É estranho, porque costumam dizer, de modo geral, que eu escrevo bem, que tenho temas interessantes para discutir, mas nada disso é levado em consideração, porque os meus leitores, além de praticamente inexistirem, não abrem possibilidades para novos leitores.
Então vem um desestímulo grande para continuar com o blog, a não ser pela vontade de deixar registrados pensamentos e linhas de argumentação que eu entendo possam ser úteis para "alguéns" de modo geral.
De qualquer modo, vou prosseguir, mesmo porque, sem qualquer espécie de propaganda, pode ser que consiga alguns leitores que se interessem e queiram trocar algumas idéias.
Besnos, no A reta e a curva, lincando pra nós.
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Julio Daio Borges
22/2/2007 à 00h32
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O Peachbull de Maresias
Praia lotada, corpos bronzeados e sol, muito sol.
Para Bruno este é mais um dia de bagunça. Não há interesse pelas mulheres, a não ser quando alguma pisa em suas estatuetas disformes de areia.
- Ô, sua anta.
- Seu pai não te deu educação não? Filho da puta.
- Hmmmpf. pergunta pra ele ali.
O velho já havia abaixado a revista e acompanhava. Um olho em cada atividade.
- Deixe meu filho em paz, orangotango. Mim Tarzan, você Jane. Ooo ignorância.!
A descrição de Marcos combinava. Seu corpo era uma geladeira em cima de duas vassouras. Já Jane, digo, Cecília, tinha os músculos tão definidos que era possível identificar alguma escrita por ali.
Marcos aproximou-se do pai de Bruno.
- Escuta aqui, seu velho idiota, tá pensando o que? Sabe com quem você tá falando? Eu sou o Peachbull de Maresias: Tricampeão nacional de jiu-jitsu e pentacampeão estadual de abdominais em dupla.
Cecília emendou:
- Deixa pra lá Marcos, esse velho tá sobrando aqui na praia.
- Melhor um velho com filho do que uma dupla de bombados.
Marcos ficou vermelho como um tomate. Prendeu a respiração e tencionou todos os músculos como um cachorro na mesa de operação em uma aula de anatomia.
- Olha seu velho imbecil, estou perdendo a paciência. Tô ficando boladão.
- Colega, tenho paciência de sobra. Posso voltar a ler?
- Não, filho da puta.
E deu um tapa na revista do velho.
- Ahh, cansei. Vou chamar a Marlene. Bruno, corre lá em casa e chama a Marlene. Rápido!
Bruno levantou-se sujo de areia e correu para casa como nunca antes. Sabia que seu pai ia apanhar feio do casal selvagem. Nem sequer pegou sua bóia e prancha de bodyboard. Correu para chamar o resgate.
- Ah velho, era só o que faltava. Vai chamar sua mulherzinha pra me dar uma lição? Essa eu vou esperar pra ver.
- Marcos, deixa o velho aí, vamos embora. Tô cansada desse pessoal fora de moda que insiste em vir pra cá encher o nosso saco.
- Não, não vou não. Quem sabe a tal da Marlene não vem aqui e dá uma chupadinha no papai? Ãh? Esse velhote não tá com nada mesmo. Vou dar uma lição na mulherzinha e depois acabar com ele.
Paulo voltou a ler a revista. Bruno chegou em casa e chamou Marlene, que correu na direção da praia. O casal agora ria, sabendo que apanhariam dela.
Marlene apontou na areia da praia derrapando em uma curva fechada. Sem tempo de pensar, o casal a viu e disparou na direção do mar. Marlene foi atrás e, antes que a água salgada chegasse até os joelhos, tascou uma mordida na bunda do boladão. Sunga e algum fios da pele ficaram com Marlene, que voltou até o pai de Bruno com o troféu preso na boca.
- Boa Marlene. Senta aí que eu vou te dar um ossinho.
Os três ficaram ali na areia da praia, até o sol ser engolido pelo mar. Bruno, seu pai e a Rotweiller.
* * *
Direto do Veritas est, que linca pra nós (porque blog também é literatura, alta literatura...)
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Julio Daio Borges
21/2/2007 à 00h21
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Santa Madalena
Para mim é muito fácil e difícil ao mesmo tempo falar do Santa Madalena. Difícil porque eu sou suspeitíssima para "resenhar" esse restaurante: meu marido toca lá toda segunda à noite com a banda Padre Voador. Por conta disso, viramos habitués e chegados dos donos, o Zé e o Sérgio; da chef Lucia Sequerra; dos garçons, a Bel e o Vanderson; e de uma porção de clientes que também batem ponto lá. Fácil, por outro lado, porque tudo é muito bom no Santa Madalena. Então, suspeita ou não, eu vou escrever sobre a casa.
O salão parece uma enorme sala de casa, com mesas e cadeiras desparelhadas, algumas são heranças de família. Aliás, as lembranças de família, não só dos donos, mas de todos os amigos que passam por lá, compõem a decoração e da aura do Santa Madalena. Quadros, utensílios de cozinha, bibelôs, lembranças de viagem, uma enorme geladeira antiga com pinguim em cima. O meu quadro preferido é um que o Sérgio pintou, com dois cachorros olhando o prédio do Banespa.
Quando a banda não está tocando, o som é o de vitrola, com discos de vinil. Em uma lousa, escrita com giz branco, anuncia-se qual o cardápio musical do momento. Clássicos do rock, Edith Piaf, medalhões da MPB revezam-se na agulha.
Na cozinha, as criações da Lúcia (que tem especialização em patisserie, cursada na Itália, e já forneceu produtos e serviços para o Pão de Açúcar, Casa Santa Luzia e o restaurante Fasano) sempre surpreendem o paladar. Ontem havia um prato especial: ceviche de pescada amarela com coentro, acompanhado por guacamole e tortilhas de milho. Sensacional. Quando eu digo sensacional, é bom que dê uma prova para que não pensem que esse é um adjetivo aleatório. Quem me conhece sabe do meu desafeto pelo coentro. Mas ele estava tão harmonioso no prato que não sobrou nem uma folhinha para contar história no final.
Na sobremesa, outra delícia: uma tortinha de noz pecã, acompanhada de um licor preparado por uma amiga da chef, mexicana. Com a desculpa de tentar decifrar do que era o licor, pedimos para encher o copinho mais duas vezes. A chef confirmou nossa suspeita de que levava baunilha e ovos, e acrescentou que tem rum também.
No menu diário, outras criações abrem o apetite, como o hambúrguer de atum com wasabi e o meu preferido, o nhoque romano - que é feito com sêmola e não com batata. A receita está na memória gustativa e afetiva do Zé e do Sérgio. A mãe deles abria o nhoque romano na grande mesa que hoje recebe os clientes no salão.
Foi no Santa Madalena que eu tomei pela primeira vez a cerveja Paulaner. Isso também não é algo que se esqueça.
Para ir além
Santa Madalena
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Adriana Carvalho
20/2/2007 às 10h27
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Usina
Faz tempo que não escrevo poemas. Me lembrei disso ontem, na fila do banco. Nem tinha tanta gente, e eu olhava pro chão. Era só um depósito, numa tarde vazia de coisas pra se fazer. Geralmente escrevo poemas de madrugada. E nem é que não tenho ficado acordada durante as madrugadas. Nada mudou. Mas mudou. Porque eu não tenho sentido vontade de escrever palavras queridinhas, nem nada que possa parecer muito doce. Não ando me enxergando como uma pessoa de muitas doçuras. Mas isso não é ruim. Não estou dizendo que é. Só não me vem naturalmente a delicadeza pra escrever um texto pé na lua. Daí penso que um poema não precisa ser eu, e caio em contradição. Um blog não precisa ser eu, e caio novamente em contradição, porque tenho muita coisa pra falar. Muita mesmo. Talvez eu fale, talvez eu encha isso aqui de sentidos. Prefiro, por sinal. Sentido dá uma idéia multifacetada de tato, de cheiros, de sentido na pele. E também não me importa o que vão dizer. Os textos que eu quero que sejam entendidos em linha reta, eu escrevo em linha reta. Os textos a que eu quiser dar múltiplos sentidos, usarei metáforas. E entenda-os como quiser, viu? Te dei liberdade pra isso. Tenho aqui uma mistura meio difícil de dissociar. Uma fome de jornalismo literário, e de literatura. Geralmente pendendo mais ao subjetivismo. Uma vontade de contar sobre o tempo. O meu e o de tanta gente que passa pela minha cabeça. E o tempo que acho escondido pelos cantos da casa. As palavras aqui falam das coisas. Só isso. Se elas passaram por mim, ou cruzaram o caminho de quem quer que seja, não interessa. Elas contam coisas, reais ou imaginárias. Se daqui a alguns minutos as frases aqui parecerem desbotadas, pouco importa. Minha necessidade é de escrever.
Cris Simon, no seu blog, que linca pra nós.
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Julio Daio Borges
20/2/2007 à 00h11
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