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Terça-feira,
6/3/2007
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Redação
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Jean Baudrillard
"(...) Já me cobraram um livro sobre o Brasil. Cito-o em minhas Cool Memories (trabalho no quinto volume) e em outros textos, mas a cultura brasileira é muito complexa para meu alcance teórico. Ela não se enquadra muito em minhas preocupações com a contemporaneidade, não tem nada a ver com a americana, com seus dualismos maniqueístas, um país que se construiu a partir das simulações, um deserto da cultura no qual o vazio é tudo. Os Estados Unidos são o grau zero da cultura, possuem uma sociedade regressiva, primitiva e altamente original em sua vacuidade. No Brasil há leis de sensualidade e de alegria de viver, bem mais complicadas de explicar. No Brasil, vigora o charme."
(Jean Baudrillard (1929 - 2007), em entrevista à revista Época, Junho de 2003)
Uma das melhores coisas que já li foi o livro América, a viagem que ele fez aos EUA e que é o retrato de uma nação pelas lentes de um fotógrafo mestre. Ele era fotógrafo, mesmo, inclusive. Sua morte apaga mais um ponto luminoso dos raros que ainda subsistem na escura aldeia global.
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Guga Schultze
6/3/2007 às 22h54
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Investimento atrás das grades
Gasto anual do "Braziu" com universidades federais: cerca de R$ 3 bi. Gasto com a UFRJ: R$600 milhões. Gasto com escolta de presos, especialmente chefes do tráfico, por exigência da justiça: R$ 1,4 bi. Será que explica alguma coisa?
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Ram Rajagopal
6/3/2007 às 08h13
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Domus 1928-1999
E aí, macacada? Tudo bem?
Bom, estou de volta... Achei que voltaria no início de janeiro, mas não deu. Tive um compromisso inadiável na capital do mundo, e emendei mais duas semanas.
Bom, entre outras coisas, de lá eu touxe a coleção da Domus feita pela Taschen. É imperdível! (É melhor encomendar pela Amazon do que trazer no lombo, afinal, são quase 7 mil páginas!) Os livros vêm em duas caixas e são muito pesados. O preço é salgado, 600 dólares, mas vale cada centavo.
A edição é feita com o melhor do que foi publicado, inclusive alguns anúncios. Várias capas também foram reproduzidas. Vi tudo em dois dias! Do Brasil? Pouca coisa. O mais notável, para variar, é Niemeyer, que ilustra uma das capas, com um projeto na Itália. E a Taschen parece que gostou do resultado: já estão anunciando que farão o mesmo com outras revistas. Qual é a próxima? Arts & Architecture.
Alencastro, no Blog, que linca pra nós (porque, finalmente, eu encontrei um blog de arquitetura...)
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Julio Daio Borges
6/3/2007 à 00h12
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Revistas velhas na praia
Uma das coisas que eu mais gosto em casa de praia é de ler as revistas e os jornais velhos que as pessoas esquecem ou deliberadamente deixam lá, como lembranças acumuladas dos sucessivos verões. Há várias primeiras páginas de primeiros de anos. Na pilha de revistas de dezembros, janeiros e fevereiros, eventualmente há um exemplar de abril ou agosto, denotando que alguém passou ali fora da temporada.
Para mim, que sou jornalista, passar quinze dias lendo notícia vencida dá uma estranha e paradoxal sensação de poder: estou de férias, não preciso saber de nada que aconteceu hoje. Não preciso e não quero. Aliás, quero ficar bem ignorante do mundo, só pra chegar em casa e ouvir alguém comentar: "Você não sabia que fulano morreu, que o governo fez isso e aquilo, que um buraco abriu no chão e quase que o mundo se acabou? Onde você estava?". E então, responder: "Eu estava na p-r-a-i-a. De f-é-r-i-a-s".
Deitada na rede, gosto de ver quanta bobagem já foi escrita, quantos produtos foram anunciados como o estado da arte da tecnologia. Caso de um celular do modelo que eu uso hoje, aquele azulzinho, que uma propaganda de revista de anos atrás destacava por ser o mais fino (fino de espessura e não de luxo) do mercado. Hoje acho que ele se encaixa na categoria mais chulé que existe. Mas não posso deixar de pensar nele como uma espécie de fusca da telecomunicação: é rústico, mas desde que o comprei já resistiu a diversos ataques do Francisco, meu pequeno bárbaro destruidor; os números do teclado quase sumiram e está manchado de tinta de uma caneta azul que estourou na bolsa.
Em uma revista de 1999, encontro um conselho catastrófico de investimento: "aplicar em bois é uma alternativa que tem dado bom retorno". Como exemplo, a matéria citava a Fazendas Reunidas Boi Gordo, que dois anos depois iria protagonizar uma das maiores falências do País, deixando mais de 30 mil investidores na mão.
A leitura ociosa de revistas femininas, de celebridades e de novelas me divertiu muito nessa temporada. Uma delas trazia um teste para a leitora avaliar o conhecimento sobre o corpo masculino. Uma das questões era: "quantas calorias tem o sêmen masculino". Dá para acreditar??? Além do pleonasmo "sêmen masculino", nunca me passou pela cabeça que alguém pudesse pensar em questões calóricas dessa natureza! Os anoréxicos que não descubram isso! Se alguém estiver interessado, a tal revista informa que não há motivo para pânico: uma colher de chá de "sêmen masculino" só tem 5 calorias...
Outro teste, de outro janeiro, outra pergunta bizarra: "se você fosse se comparar a um molho picante, qual deles você seria? a) molho inglês - suave e exótico (?!!) b)Tabasco c) Catchup". Passo para as revistas de "personalidades". Olho um travesti que usa um vestido amarelo brilhante e procuro a legenda para saber quem é. Para minha surpresa não é um travesti. É a senhora dona Fulana, uma socialite muito importante etc. etc. Surpresas da vida.
De volta às femininas, uma enquete muito importante traz um dilema moral: "Você doaria um rim se soubesse que seria para uma rival?". Logo em seguida, um depoimento que me faz duvidar que a edição seja realmente dos anos 1990: "Porque bati na mulher que amo".
Os resumos de novelas, nas revistas fininhas em meio a receitas de torta de liquidificador, não deixam por menos: "Rosana dá ordem a Joaquim para que pegue o ácido sulfúrico".
No fundo da pilha, encontro uma edição realmente velha. Uma Planeta, da década de 1970. Na contracapa da revista, um anúncio de cigarro, do "fino que satisfaz". Na foto, um loiro com cabelo de Ronnie Von (quando o Ronnie Von tinha cabeleira), todo vestido de branco, acende o cigarro de uma morena ao lado de um moreno dono de um senhor "mullet". Na mesa uma garrafona de whisky, daquelas com tampa de vidro. Quantos sinais dos tempos: em primeiro um anúncio de cigarro, coisa que já não existe mais hoje; em segundo um anúncio de cigarro numa revista esotérica, o que parece tão absurdo como ver propaganda de cerveja em gibi infantil; em terceiro um festival de breguice nos cabelos e roupas que me leva a meditar sobre o que pensarão de nossas roupas e cabelos em um futuro não muito distante.
Ao final da temporada, novas revistas trazidas pelos visitantes deste ano colaboram para o crescimento da pilha na estante de vime. Uma delas diz que a depilação iraquiana é o que há no momento. Não posso deixar de pensar no fantasma do Saddam Hussein em uma clínica de estética subterrânea, arrancando pêlo por pêlo com uma pinça enferrujada ou derramando asfalto quente na pele, enquanto dá gargalhadas sinistras...
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Adriana Carvalho
5/3/2007 às 09h20
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Dá para aprender literatura?
Esta foi a pergunta feita por João Silvério Trevisan a seus alunos do curso de Criação Literária da Academia Internacional de Cinema - AIC, em São Paulo. João a faz do alto de uma respeitável carreira literária que soma trinta anos e três Jabutis por Troços e destroços (contos, 1998), Ana em Veneza (romance, 1995) e O livro do avesso (romance, 1993). E completa: por quê fazer um curso de criação literária? As respostas são diversas:
- Quero aperfeiçoar meus textos.
- Para aumentar meu repertório.
- Meu objetivo é conhecer histórias de vida e experiências que irão fazer com que amadureça idéias sobre o tema.
O comum entre elas? Ninguém acredita que a literatura possa ser aprendida. Todos estão ali em busca de insights para criar, fato que derruba muitos preconceitos com relação a oficinas literárias.
E o professor complementa:
- Técnicas para aprender a criar são importantíssimas, mas não acontece na ficção e menos ainda na poesia se não houver repertório.
João Silvério é professor de oficinas literárias há 20 anos e enfatiza: apenas dois de seus alunos seguiram carreira literária. Ao justificar o fato, é ácido: "Não existem políticas públicas nem privadas neste país para a literatura. Tanto que não há oficinas na área como escolas de cinema e teatro. Convivi com escritores maravilhosos que não sei onde estão. Muitas editoras não têm departamentos específicos para leitura de originais e só quem tem contatos é publicado", desabafa.
E cita Clarice Lispector ao lembrar que literatura é 20% inspiração e 80% expiração. Ao contrário do que muitos pensam, "é preciso talento, intuição, muito trabalho e suor".
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Marília Almeida
5/3/2007 à 01h57
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Filter Music
Quem lê este blog, sabe como somos afixionados por sites que facilitam a vida de quem gosta de ouvir música, mas está enjoado de escutar seu playlist dezenas de vezes ao longo do dia. Já divulgamos aqui o Radeo, o Musicovery e o BlogMusik.
Agora temos o prazer de apresentar um serviço que disponibiliza rádios do mundo inteiro, filtrados por estilo de música. O Filter Music cumpre bem seu papel. A maioria das rádios distribui o audio em formato ".pls". O melhor de tudo é que não precisa se cadastrar para utlizar o serviço. A qualidade é ótima para quem tem conexão rápida. Música ininterrupta. É só escolher o canal e... som na caixa!
Sergio, no Issamu, que linca pra nós.
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Julio Daio Borges
5/3/2007 à 00h14
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The News is Now Public
"Durante décadas nós, na imprensa, fomos muito bons na missão de dizer ao público que não iriamos publicar suas contribuições porque elas estavam fora dos padrões jornalísticos. Treinamos gerações e gerações para serem meros consumidores de notícias. Agora, de repente, dizemos aos nossos leitores, vocês devem participar no noticiário"!
Kevin Kaufman, citado pelo Código Aberto
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Julio Daio Borges
2/3/2007 à 00h25
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Blogs?
Afinal, em tempos de euforia, um contraponto é sempre saudável. Evoco, pois, André Dahmer.
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Jonas Lopes
1/3/2007 às 11h41
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Pra entender a Lei Rouanet
A consultoria Quixote Art & Eventos realiza em São Paulo no mês de março o curso Gestão Cultural: A Formatação de Projetos Culturais e a Captação de Recursos, que terá como enfoque a compreensão da Lei Rouanet e mostrará aos alunos algumas estratégias e alternativas para a abordagem junto a iniciativa privada. As aulas acontecem aos sábados pela manhã, das 8h30 às 12h30, nos dias 10, 17, 24 e 31 de março, no auditório do Sindicato das Secretárias do Estado de São Paulo (Rua Tupi, 118, bairro de Santa Cecília, próximo ao metrô Marechal Deodoro). O curso será ministrado pelo escritor, radialista e produtor cultural Marcelo Miguel. Mais informações pelo e-mail [email protected].
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Adriana Carvalho
1/3/2007 às 10h29
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Obsessão por números
Bom, eu já disse em algum lugar que o Brasil é o pais do achismo. Que faltam números, estatísticas, informação para embasar opiniões e pontos de vista. Isto não quer dizer que precisam fazer como na coletiva de imprensa "Panorama 2007", promovido pela Deloitte Touche ontem.
A coletiva foi para apresentar os resultados de uma pesquisa com empresários sobre o estado da indústria privada no Brasil, e as expectativas. Fomos apresentados, slide após slide de números, a algumas informações pertinetes, e muitas outras nem tanto. Os números, o excesso deles, sem descobrir nenhuma novidade, sem mostrar nada além do que já se sabia antes, foram a justificativa para reunir um monte de jornalistas numa sala. Eu acredito que eles foram lá porque recebem para preencher as páginas monótonas da seção de economia. Depois da apresentação as únicas perguntas que passaram pela moderadora foram perguntas pro forma, aquelas típicas do atual estado do jornalismo brasileiro, como por exemplo "no slide 19 você disse que o crescimento será de 18.5%. É anual ou crescimento em ano de caixa?".
Infelizmente as duas perguntas que fiz, foram respondidas com "este tema não foi abordado no estudo". Ou seja: se não houve uma questão do tema na ficha de questionário enviada aos empresários, não existe a menor hipótese do consultor ter uma opinião sobre o assunto baseado em sua experiência... Uma das perguntas se referia ao investimento empresarial no ramo de cultura. No Brasil, nos ressentimos da ausência de verdadeiros empreendimentos privados em cultura. Somos uma espécie de capital do comunismo cultural, e quase todos os projetos que andam são paitrocinados pelo governo. Mas existe um mercado grande para produtos culturais. Será que empresários pensam em investir nele seriamente, para ter lucro?
Estar preso a números, e gráficos, é tão ruim quanto estar preso a achismos... A única conclusão que eu tirei da coletiva de ontem é que realmente o jornalismo no Brasil chegou ao fim da linha, se depender dos jornalistas presentes na coletiva. Estadão, Folha, Veja, todos lá presentes, mas nenhum deles preparados nem com perguntas incisivas, nem com entusiasmo... Um festival de burocratas apagados. Tudo bem que a coletiva foi chatíssima. Mas não seria o caso de torná-la interessante baseando-se na cultura pessoal de cada um? De repente, estou mal acostumado com os meus ambientes de trabalho...
Post Scriptum
Este comportamento incolor dos jornalistas explica porque o único e maior anunciante da maioria das publicações é o governo, que com verba pública compra a consciência da maioria dos editores. Afinal, quem sua para ganhar seu dindim privado, não vai investir em uma mídia que não chama a atenção, e cujo maior valor é tentar permanentemente manter o status quo à base da antigüidade... Já dizia um técnico de futebol: se antigüidade escalasse jogador, Matusalém era titular no meu time.
Ah, sim, houve uma pergunta sobre educação... que foi tão boa, mas tão boa que, no afã de não desagradar a ninguém, o apresentador a deixou sem resposta...
Nota do Editor
Leia também "Cacá Diegues e os jornalistas"
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Postado por
Ram Rajagopal
1/3/2007 às 08h11
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