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BLOG

Terça-feira, 20/3/2007
Blog
Redação
 
movimento respiratório

Essa cidade, repleta de ladeiras... A falta de espaços planos... Rouba-me o fôlego. Ainda mais em dias quentes, com todo o gás tóxico exalado por escapamentos mal regulados de avenidas onde o tráfego é tão intenso às seis que é mais fácil chegar em casa andando. Mas o andar implica em escalar, e escalar... Ah, como me cansa! São tantas as subidas... São tão íngremes... Eu poderia me recostar em qualquer canto nesse fim de mundo, e apenas ficar rindo da cara dos transeuntes ao passarem ofegantes por mim. Semblante de exaustão, fraqueza nas pernas, falta de oxigenação cerebral, me falta ar nos pulmões... Perna esquerda, perna direita, fraqueza em ambas, bamboleio... Visão ofuscada focando o destino ao longe, o cume, o céu, minha salvação... Meu Deus, como é difícil sair desse buraco! É inútil clamar aos céus, eu sei, não me adianta em nada agora, no meio dessa depressão tão profunda, quem sabe, absoluta. E falo de acidentes geográficos, pois não consigo pensar em psicologia ou espiritualidade com essa escassez de oxigênio percorrendo as vias respiratórias, impedido de passar pelo congestionamento de moléculas de gás carbônico buzinando na hora do rush. O oxigênio deve escalar ladeiras vasculares até o cérebro, eu me canso com sua falta à medida que ele se cansa e desiste de escalar... Desistimos os dois. Perna esquerda, perna direita, fraqueza em ambas, desoxigenação cerebral... Cansado de subir, perco a consciência e caio no cruzamento da Avenida Alveolar com a Bronquíolo. Lá espero alguém para me levar ou para me elevar. Paramédicos e curiosos roubando o oxigênio que preciso, apenas rio, conheço a dificuldade momentânea desse gás em transitar. Ao chegar ao hospital, descubro que o elevador está fora de serviço... É tão árdua toda essa escalada, penso olhando a escada.

Mauro Pucci, no dezemponto, que linca pra nós.

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Postado por Julio Daio Borges
20/3/2007 à 00h23

 
O terceiro centavo

Já há algum tempo, as moedas de um centavo desapareceram dos bolsos, das carteiras, das caixas registradoras e de nossos porquinhos. O que houve ainda é um mistério. Mistério esse que nem a casa da moeda consegue explicar. As moedas de um centavo sumiram, mas o comércio continua cobrando esse centavo que faz a diferença. Caso não fizesse, ele certamente não seria cobrado.

De centavo em centavo, perdemos um dinheiro que poderia garantir o pão de um dia do mês.

É sempre a mesma história: sua compra dá R$ 4,98. Você paga com cinco reais e os vendedores nem têm mais a cara-de-pau de dizer que vão ficar te devendo dois centavos ou de te dar uma balinha de comiseração. E espere para ver a cara do vendedor se você oferecer uma balinha para facilitar o troco.

Já virou convenção social. Quando é o estabelecimento que te deve R$ 4,98, por exemplo, você até recebe os cinco reais. Mas se o troco é de R$ 4,92, o vendedor te entrega exatos R$ 4,90, na certeza do "volte sempre". Voilà: novamente te afanaram dois centavos.

Parece que a regra do jogo é marcada pelo arredondamento de centavos: um ou dois centavos, para menos; quatro ou cinco centavos, para mais. Mas aí eu me pergunto: e quando dá três? Se, por exemplo, o valor da compra deu R$ 4,93, quem vai pagar o pato?

Com a mania de o comércio brasileiro achar que o coitado do consumidor tem que facilitar o troco (e nessas horas a balinha não vale!) é óbvio que, mais uma vez, é ele quem vai arcar com esse terceiro centavo.

O terceiro centavo caminha para o mesmo destino dos milésimos de centavos das bombas de gasolina: a invisibilidade aos olhos, mas a dor no bolso.

Nada é mais enganoso do que as lojas de R$ 1,99 e as mega-ultra-promoções de última hora em que todas as etiquetas terminam com um sedutor "vírgula noventa e nove centavos". A estratégia de marketing é absurdamente simples e funciona! O que fica na cabeça é o real. O resto é resto. Ao consumidor incauto, parece que o preço é um real e uns quebrados quando, na verdade, é o dobro.

A extinção da moeda de um centavo tirou do consumidor o único instrumento de defesa contra a prática do "se colar, colou". De centavo em centavo, continuamos com cara-de-tacho enquanto as caixas registradoras engolem reais por dia. Reais esses que meu terceiro centavo ajudou a formar.

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Postado por Pilar Fazito
19/3/2007 às 15h14

 
Guinga = Gênio

Já está no mercado, quentinho, via Biscoito Fino, o novo do Guinga: Casa de Villa. Estou cuidadosamente preparando um texto pra ele, mas já fica aqui a dica: está lindo, está imperdível. E me desculpem os precavidos (e o próprio artista), mas Guinga é Gênio.

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Postado por Rafael Fernandes
19/3/2007 às 12h06

 
Con Chávez hasta el 2030

Fernando Morais, sobre Montenegro, Olga, ACM... e Paulo Coelho, no site do Sempre um Papo.

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Postado por Julio Daio Borges
19/3/2007 à 00h25

 
TV pública ou estatal?

Com muita falação - e pouca informação - na mídia a respeito do antiprojeto de criação de uma TV pública aqui no Brasil, fica mais uma vez patente a falha da imprensa em geral (com algumas poucas e honrosas exceções) em um de seus papéis essenciais: informar, esclarecer, elucidar.

Este colunista quer crer que não é nem ingênuo nem daqueles que vêem conspiração em tudo. Porém, vê com ceticismo esse tipo de ausência de debate. Há casos e casos. Em alguns, despreparo. Em outros, genuíno desejo de não esclarecer. Em outros ainda, as duas coisas.

Alberto Dines levantou questões interessantes em sua coluna no Observatório da Imprensa. A confusão, neste caso da TV, vem de berço: é uma TV pública ou uma TV estatal? Há diferenças cabais entre as duas coisas. São quase contrários.

Muito se lê por aí sobre o diz-que-diz de ministros para lá e para cá e pouco sobre o que realmente importa. Nas palavras de Dines: "está comprovado que o cidadão médio não sabe a diferença entre público e estatal e a mídia não está interessada em desfazer esta confusão".

Uma TV pública recebe recursos do governo mas (acredite) tem autonomia de gestão. Além disso, abarcam emissoras educativas. Por não terem que concorrer com emissoras comerciais podem teoricamente levar ao ar uma programação diferenciada e de qualidade.

Já uma TV estatal, além de receber recursos governamentais, é controlada pelo Estado. Sua programação consiste em divulgação e promoção de seus feitos, além de fazer sua defesa. Algo bem diferente de uma emissora pública.

Uma discussão honesta e ampla sobre o assunto é fundamental. Não só pela filosofia da emissora, mas também pelo que ela representa de ônus aos cofres públicos: o orçamento inicial é de R$ 250 milhões.

Onde há fumaça, há fogo. Será que a mídia vai continuar se ausentando do debate?

[3 Comentário(s)]

Postado por Guilherme Conte
16/3/2007 às 15h56

 
Crowdsourcing, the blog

Hi. My name is Jeff Howe. I'm a contributing editor to Wired Magazine, and I recently published an article about a phenomenon I call Crowdsourcing. The article explored the ways in which the amateur - defined as scientists, writers, photographers or anyone else working outside an organizational structure like a firm - has become an increasingly significant economic force in our world. This Web site will primarily continue that mission. Journalists regularly gather far more material than they can use. This was especially true in this case, and so the Web site will allow me to cast some light on the many fascinating people and ideas that didn't make it into the article.(...)

Finally, I'd like Crowdsourcing.net to be more of a forum than a bully pulpit. To that end, the Web site will function more like a single-subject journal than a blog. I intend to solicit and accept submissions to the site. I won't guarantee publication, but I'll promise to exercise as light an editorial hand as possible in my selections. If it adds to the discussion without insulting or offending any party, I'll publish it. The result should be something of a Speaker's Corner. At first I'll probably be the only one speaking, pounding on the podium for attention, but with any luck a loud and raucous crowd will clamor to be heard.

Jeff Howe, no blog que dará origem ao livro (porque... alguém tem alguma dúvida de que será um novo The Search ou The Long Tail?)

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Postado por Julio Daio Borges
16/3/2007 à 00h08

 
Fui eu que matei Paulo Francis

(Não tive tempo de escrever antes. Aqui vai meu texto em homenagem ao Paulo Francis.)

No final de 1996, selecionei dois ou três contos que havia escrito e mandei por fax para a Globo de Nova York. Destinatário: Paulo Francis. Fazia tempo que eu queria mandar aquele fax, mas não tinha coragem. Mandar textos para o Paulo Francis era quase como dar em cima daquela garota por quem você (ou eu) era secretamente apaixonado no colégio. A rejeição seria intolerável.

Mandei e algumas horas depois alguém da Globo telefonou para a minha casa. Eu estava no banho. Disseram que voltariam a ligar. Nunca mais ligaram e eu nunca soube o motivo da ligação. Talvez algum funcionário zeloso: "Você tem certeza que quer mostrar isso pro Francis?".

No começo de 1997, estava comendo um McChicken no estacionamento do McDonald's de Alphaville quando liguei o rádio e ouvi o locutor dizer, lentamente: "Franz Paul Trannin da Matta Heilborn". Paulo Francis estava morto.

Continuei comendo o McChicken. Chorei.

Eu não devia ter mandado os contos. Foi pior que rejeição. Meus textos eram tão ruins que tinham matado o Paulo Francis.

P.S. - No carnaval de 97, arrisquei a vida do Diogo Mainardi. Mandei aqueles mesmos textos para ele. Mainardi era mais jovem. Sobreviveu.

P.P.S. - A última vez que Paulo Francis apareceu na televisão foi no Manhattan Connection, exibido dois dias antes de sua morte. Suas últimas palavras foram: "Boa noite, Fabio". Ele não estava se referindo a mim, claro que não, mas lembro disso como uma espécie de despedida. Ele dá boa noite, se levanta e, antes de ir embora, apaga a luz.

Nota do Editor
Texto originalmente publicado no blog do Fabio, que sugeriu sua republicação aqui, dentro do Especial "10 anos sem Francis".

[3 Comentário(s)]

Postado por Fabio Danesi Rossi
15/3/2007 à 00h40

 
Máxima metidez

Depois de quase um ano estudando alemão só por livros didáticos, me cansei de ler coisas como Ouça o diálogo abaixo e depois responda às perguntas e Você já passou por alguma situação parecida à de Jan e Klaus? Escreva-a e depois conte-a para sua turma e, tupinambá abusado, passei por cima dos Irmãos Grimm e comprei logo Minima Moralia, do Adorno, pra ver se conseguia aprender alemão sem precisar voltar a ser criança. Tsc, Rolf, tsc, Rolf, nicht so schnell, que faço questão de colocar assim, em teutão, porque continuo metido, apesar de só ter entendido, do primeiro aforismo do livro, as frases com menos de cinco palavras. Mas, ora, não existe fracasso tentando aprender alemão. É como se sentir um estúpido porque os símbolos de La Double Vie de Véronique apareceram e desapareceram com o mesmo mistério; porque as Kreislerianas de Schumann são virtuosas demais e os temas ficam mais ou menos ocultos, embaralhados. Não dá, não há fracasso aí. Determinadas ações não exigem a obtenção do fim desejável para serem honrosas. Hein? Ação honrosa? Tal coisa existe? Ou tudo é honroso ou nada é honroso, já li isso em algum lugar, mas não me importo. Aliás, com nada. Gleichgültig ob aus Talent oder Schwäche... (Indiferente quer pelo talento quer pela fraqueza...) Este primeiro aforismo de Adorno é dedicado a Marcel Proust.

Rolf Lima, no MacFern, que linca pra nós.

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Postado por Julio Daio Borges
14/3/2007 à 00h34

 
Portugal é bem ali

Hoje mesmo apareci na bela vitrine literária do site da Pitanga. Trata-se de uma loja em Lisboa que também se preocupa com literatura. Estão na vitrine, entre outros, Antônio Barreto, Cristiane Lisbôa, Fabrício Carpinejar, Marina Colasanti e Luís Giffoni. O site é lindo, a idéia é superbacana. Luisa, a dona do empreendimento, mantém contato com brasileiros e portugueses que publicam em suas vidraças virtuais. Nem só de moda vive a Pitanga. E o Digestivo está lá.

[2 Comentário(s)]

Postado por Ana Elisa Ribeiro
13/3/2007 às 12h07

 
Intravenosa

Eu queria escrever meu nome em algum lugar que tivesse muita visibilidade. Um outdoor no meio da Paulista, por exemplo. Ou um comercial da Globo em pleno horário nobre. Minha certidão de nascimento envolta por luzes coloridas e algum slogan ridículo embaixo. A fama. Eu queria a fama mais barata e fácil que alguém jamais ousou imaginar. Aquela que não custa esforço algum, que não requer qualquer movimento muscular brusco e que não tira o sono com algum tipo de culpa. A fama de uma dançarina de axé, por exemplo. A fama de quem balança as ancas. Mas eu não tenho ancas para balançar.

Então decidi escrever um conto qualquer, desses que marcam época. Uma história sobre o nada, com cavalos decapitados e pessoas alvoroçadas com a chegada das tropas russas. Desisti quando percebi que não faria o menor sentido para as massas. Talvez eu conseguisse algum sucesso póstumo, quando um maluco qualquer descobrisse que eu havia sido uma grande filósofa mal-compreendida. Mas assim não adianta. A fama só vale para quem tem sangue correndo nas veias, e não para um par de fêmures esquecidos num ossário. Desisti mais uma vez.

Sem saída, passei a usar drogas de todos os tipos: orégano, pó-de-mico, AAS infantil, perfume falsificado, longas tardes diante da TV, cola branca com pão francês e até mesmo intermináveis seções-pipoca assistindo filmes do Stallone. Nada adiantou. Minha última tentativa foi um galhinho de arruda atrás da orelha e três sementes de romã dentro da carteira. Por algum milagre sobrenatural, esta mistura natureba mostrou o caminho que eu tanto procurava: as palavras. Escrever seria minha dose de morfina, aquela que cura qualquer dor. Naquele momento já existia um vício irreversível incorporado à minha vida.

Com o tempo, no entanto, senti que precisava de mais, muito mais, e que minha produção caseira da droga já não bastava. Nos últimos três anos, muitas vezes meu cérebro saiu para comprar cigarros e voltou semanas mais tarde, sem dar qualquer satisfação. Quando isto aconteceu, tentei me virar sozinha com gotas vencidas de analgésico vagabundo. Minha sobrevivência foi minguando. Até o dia em que... Bem, eu não lembro direito como aconteceu, mas acho que passei a dar plantão em escolas e botecos, sempre segurando uma plaqueta com os dizeres "precisa-se de traficantes com ou sem prática". O resultado é que hoje somos um exército, uma horda, um bando de produtores viciados. E se você ainda não caiu nesta, duvido que resista por muito tempo.

Vanessa Marques, sobre os Morfinéticos, que eu descobri só hoje...

[2 Comentário(s)]

Postado por Julio Daio Borges
13/3/2007 à 00h25

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