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Quinta-feira,
19/4/2007
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Redação
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Além de My fair lady
É animador constatar que a Broadway clássica também tem vez no Brasil. Claro que Andrew Lloyd Webber (O fantasma da ópera), Cy Coleman (Sweet charitym), John Kander (Chicago) e Stephen Sondheim (Company) são extremamente bem-vindos, mas se o país quer realmente mostrar ao público o que transformou o teatro musical americano numa das maiores glórias artísticas do século XX, é preciso voltar algumas décadas.
E enquanto as melodias de Jerome Kern ou Richard Rodgers não desembarcam por aqui, vamos celebrar a montagem de My fair lady, um dos mais adorados e bem-sucedidos musicais de todos os tempos, criação de Frederick Loewe (1901-1988, música) e Alan Jay Lerner (1918-1986, letra), este muito bem representado pelas versões do talentosíssimo Cláudio Botelho.
O currículo da dupla Lerner e Loewe é comparativamente pequeno, mas impressionante. Conheceram-se em 1942, mas seus primeiros shows (What's up? e The day before spring) estão esquecidos. O sucesso chegou com a fantasia romântica Brigadoon (1947), sobre um vilarejo escocês que só "existe" durante um dia a cada cem anos, e repleto de canções adoráveis como "Almost like being in love" e "The heather on the Hill". A versão para o cinema, filmada com Gene Kelly em 1954, foi lançada em DVD no Brasil com o título A lenda dos beijos perdidos.
Em seguida veio Paint your wagon (1951) um faroeste cuja abordagem musical apropriadamente americana ("I talk to the trees", "How can I wait", por exemplo) destoa do estilo europeu de Loewe, influenciado pelas melodiosas operetas de sua cidade natal, Viena, onde seu pai, tenor profissional, estrelou A viúva alegre (1905).
Mas foi mesmo My fair lady (1956) que inscreveu os cancionistas entre os grandes. Baseado em Pigmalião, do famoso dramaturgo inglês George Bernard Shaw, conta os esforços de um professor de fonética (Rex Harrison) para transformar uma simples florista (Julie Andrews) em uma dama da alta sociedade. Na transposição para o cinema, Oscar de melhor filme em 1965 e também disponível em DVD no Brasil, Harrison foi mantido - continuou "falando" suas canções, lamentavelmente - mas Andrews perdeu o papel para Audrey Hepburn, uma atriz graciosa que não era cantora e foi dublada. Mesmo assim, é impossível resistir ao capricho da produção e, principalmente, às riquezas melódicas e verbais de "I could have danced all night", "On the street where you live" e "I've grown accustomed to her face".
Em 1958, usando uma história similar (da escritora francesa Colette), Lerner e Loewe criaram Gigi diretamente para Hollywood, com Leslie Caron, Louis Jourdan e Maurice Chevalier nos papéis principais. Um dos últimos e mais queridos musicais do estúdio MGM, o filme foi premiado com o Oscar, assim como a belíssima canção-título.
Dois anos depois, a dupla voltou a Broadway com Camelot, outro sucesso, apesar de vários problemas durante a produção. A história do triângulo amoroso entre o Rei Arthur (Richard Burton), Guinevere (Julie Andrews) e Lancelot (Robert Goulet) ficou ainda mais emocionante ao som de "If ever I would leave you", entre outras jóias. O musical chegou ao cinema em 1967, com Richard Harris, Vanessa Redgrave e Franco Nero no elenco principal, e vale a pena procurar o DVD, distribuído pela Warner, na locadora.
A última parceria entre Lerner e Loewe foi o filme O pequeno príncipe (1973), baseado na popular fábula de Saint-Exupery e dirigido por Stanley "Cantando na chuva" Donen. A trilha não está no nível dos trabalhos anteriores da dupla, mas a sensível canção-título merece ser conhecida - o DVD também já foi lançado no país.
Depois disso, Loewe se aposentou, mas Lerner continuou em atividade. Seus shows subseqüentes foram fracassos retumbantes, apesar de algumas canções preciosas em 1600 Pennsylvania Avenue (1976), com música do maestro Leonard Bernstein, Carmelina (1979), sua terceira colaboração com o brilhante Burton Lane, e Dance a little closer (1983), co-escrito com Charles Strouse, de Annie.
No fim da vida, Alan Jay Lerner também teve problemas de ordem médica e financeira, conseqüência de uma vida sentimental turbulenta, de oito esposas. Feliz mesmo foi o casamento de suas palavras com as notas de Frederick Loewe. Dessa união, surgiram canções e musicais inesquecíveis. E o privilégio de conhecer esse legado está ao nosso alcance.
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Fábio Scrivano
19/4/2007 à 01h11
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Entre o velho e o novo
Novo visual, novas idéias, recomeço.
Para mim, de certa forma, o ano se inicia agora.
Aberta para o novo, o inesperado, e para o mais do que esperado também.
Fechei-me como numa concha.
Afastei-me dos amigos, da família até.
Tornei-me uma pessoa quase insuportável de se conviver.
Quase. Alguns poucos que se arriscaram a se aproximar acabaram por descobrir que eu não mordo, não lato, nem rasgo dinheiro. E parecem aliviados!!
Estou retomando as atividades deixadas de lado, com todo o cuidado.
Dentre elas o exercício de pensar e escrever aqui no blog.
Se tudo correr como eu espero, dentro de pouco tempo terei grandes novidades.
A Bianca, no Pensamentos Imperfeitos, lincando pra nós.
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Julio Daio Borges
19/4/2007 à 00h04
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Electra e as Paixões Humanas
Praticamente todos os 144 lugares da sala Paschoal Carlos Magno estavam tomados ontem à noite. E o público assistiu com notável atenção à palestra do ator e diretor Hugo Coelho sobre a tragédia grega, que antecedeu a leitura encenada da peça Electra, de Sófocles. Era a estréia do projeto Paixões Humanas, capitaneado pelo Núcleo Teatral Os Jogadores, da Cooperativa Paulista de Teatro.
São cinco encontros que pretendem perfazer uma breve panorâmica do teatro ocidental. O esquema dos encontros é o seguinte: uma palestra de Hugo sobre o tema da semana, seguida de uma leitura encenada e, por fim, abre-se um debate com o público.
O elenco é mais do que qualificado: Ângela Barros, Eduardo Semerjian, Henrique Schafer, Javert Monteiro, Otávio Martins e Priscilla Carvalho. A estréia, ontem, teve a especialíssima participação de Denise Del Vecchio, no papel de Clitemnestra.
É uma iniciativa importantíssima, uma vez que carecemos de projetos de formação de público. Esse tipo de contato aproxima o espectador do teatro e de uma realidade que ele muitas vezes desconhece. A palestra sobre os gregos foi uma verdadeira aula - o resultado pôde ser conferido no debate que se seguiu à leitura.
A programação do resto do projeto é a seguinte (sempre às terças, 20h):
24/04 - "A Comédia Antiga, a Néa e a Comédia Latina", com a leitura encenada de O misantropo, de Meneandro.
08/05 - "Shakespeare e o Renascimento", com a leitura encenada de Othelo, de Shakespeare.
15/05 - "Molière e a Commedia Dell'Arte", com a leitura encenada de Escola de Mulheres, de Molière.
22/05 - "Tchecov e o Realismo", com a leitura encenada de A Gaivota, de Tchecov.
E, por fim, a boa notícia: é de graça.
Para ir além
Paixões Humanas - Teatro Sérgio Cardoso - Sala Paschoal Carlos Magno - Rua Rui Barbosa, 153 - Tel. (11) 3288-0136 - Bela Vista - 120 min. - Até 22/05 - Inscrições pelo telefone (11) 3451-6032 ou pelo site do projeto.
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Guilherme Conte
18/4/2007 às 18h09
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Um adeus pra Vonnegut Jr
Não sou fã, muito menos fanático, por cinema. Gosto, assim como quem gosta de fuscas: você vê que ali tem certos problemas, aparentemente insolúveis. Mas, de uma maneira meio sentimental, gosta assim mesmo. Na verdade o problema não é o cinema, são os filmes. Vai uma diferença aí.
Mas de vez em quando a gente vê cenas que não se esquece mais. Nunca mais:
... durante a segunda guerra, um grupo de ciganos europeus está sentado sobre algumas ruínas de um recente bombardeio. São prisioneiros e estão calmamente sentados, fumando e conversando entre si. Soldados alemães passeiam por ali, vigiando os prisioneiros e empunhando sub-metralhadoras. Um soldado qualquer, no mais típico estilo nazista de brutalidade, começa a ameaçar os ciganos. Grita ordens em alemão: é proibido fumar. Os ciganos se entreolham, não respondem. Talvez não entendam o alemão, mas compreendem muito bem o teor furioso da mensagem. Eles se levantam calmamente e encaram o alemão, soltando baforadas tranqüilas. Não há diálogo possível. São todos fuzilados, claro.
O filme é Matadouro 5 (Slaughterhouse Five, 1972), do livro homônimo de Kurt Vonnegut Jr. Que também morreu, há poucos dias, ainda dando suas baforadas, aos 84 anos de idade. Esse, que foi seu melhor livro, é também baseado em suas próprias memórias da guerra. Só que Vonnegut vai muito além da simples reminiscência, como sempre.
Quis registrar meu adeus ao velho escritor. "Velho", aqui, é só uma forma carinhosa. Como todo escritor (mesmo), Vonnegut não tem idade.
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Guga Schultze
18/4/2007 às 17h56
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Uomini di poca fede!
A páscoa é o período em que brasileiros ficam loucos para aproveitar uma praia, crianças ficam loucas para ganhar ovos de chocolate, a igreja fica louca para que os fiéis compareçam às encenações da paixão de Cristo e os canais de TV ficam loucos para conquistar eventuais telespectadores por meio de programas voltados... não para Meca, mas para a religiosidade cristã ou para a vida secreta das celebridades (que de secreta não tem nada).
Eu mesma não estava louca por nada disso, mas apenas por um descanso numa cidade interiorana. Entretanto, como essa loucura toda envolve a gente desde a rodoviária até o destino final, resolvi dedicar meu sacro-ócio à leitura na tentativa de abstrair-me desse turbilhão de informações inúteis.
Inspirada no estudo antropológico-lingüístico sobre os hábitos de leitura que a talentosa poeta Ana Elisa Ribeiro publicou no Digestivo Cultural, escolhi a dedo um livro que me acompanhasse durante a Semana Santa. E no meio da muvuca de desesperados da rodoviária, refugiei-me naquele ambiente minúsculo e pouco procurado: a livraria da rodoviária de Belo Horizonte.
Depois de meia hora de busca - sim, porque escolher um livro para ler merece o mesmo ritual da escolha de um filme numa locadora, afinal, tem dias que a gente não tá a fim de ver comédia, mas aventura e vice-versa... Onde eu estava mesmo? Ah, sim... Depois de meia hora de busca, acabei me decidindo por um formato de bolso, "óóótemo" para viagens. E o vencedor foi: A mulher que escreveu a Bíblia (Companhia de Bolso, 2007, 168 págs.), do Moacyr Scliar, aproveitando o período propício ao exercício de uma leitura... er, digamos, bíblica.
Nunca fui aspirante à santa e, embora tenha sido batizada, não cheguei a fazer a primeira comunhão. Sempre tive dificuldades em compreender a história das religiões e, quando pequena, misturava tudo. Eu via aqueles filmes românticos e pálidos da Sessão da Tarde, sempre com os mesmos atores, e não entendia o que a Fúria de Titãs e o Ali Babá tinham a ver com os vendilhões do templo ou com o cara barbudo que abria o Mar Vermelho. Tá bom, eu confesso: durante muito tempo, achei que quem havia segurado os dez mandamentos tinha sido o Matusalém. Aliás, Moisés, Maomé e Matusalém... era tanto M que eu nunca soube quem fez o quê (Isso é que dá ter um pai comunista... Em vez dos salmos da Bíblia eu decorava os quadrinhos da Mafalda. Em castelhano!). Só quando essa alienação toda começou a me fazer passar vergonha é que fui pesquisar melhor sobre o tema. Mesmo assim, muita pesquisa na base da gozação e do pastiche.
Minha idéia inicial para a Semana Santa era degustar o livro do Moacyr Scliar com calma, mas acabei devorando-o em menos de dois dias. A grosso modo, o enredo é o seguinte: após uma regressão à vida passada, uma mulher descobre ter sido uma das 700 esposas de Salomão. O dom da escrita compensa sua feiúra inata e faz dela a responsável pelo registro da história da humanidade, desde a criação - quando tudo era verbo - até as previsões pós-Salomão. Enquanto ela se dedica à tarefa que o rei e marido havia lhe incumbido, espera, ansiosa e desesperadamente, pelo momento em que ele deverá abstrair a feiúra dela e dar um trato na macaca, ou seja, consumar o casamento.
O livro é bem engraçado e merece destaque a forma como o Moacyr brinca com a linguagem, misturando o erudito a gírias e palavrões. Em meio a "Porra, Salomão!" e "Afinal, cara, o que queres de mim?", A mulher que escreveu a Bíblia vai se mostrando como uma heresia. Uma deliciosa e divertida heresia cujo mote - a possibilidade de a Bíblia ter sido escrita por uma mulher - foi uma excelente sacada que o autor pegou emprestado do crítico Harold Bloom.
Em Jesus e Javé, Bloom analisa os diversos nomes, bem como as diferenças de temperamento, atribuídos ao Todo Poderoso em diversos textos religiosos. A conclusão, se é que se pode chegar a alguma, é a de que o Inominável é um ser multifacetado, polivalente e completo, composto por diversos "eus" e personagens. Enfim, uma espécie de "Gita", do Raul Seixas, que é o tudo e o nada ao mesmo tempo e está contido na letra A. Quase um "Aleph". Ou talvez o "Aleph" esteja contido nele.
A certa altura, Bloom parece entrar em parafuso e questionar a própria existência. Mais ou menos nessa hora, ele lança a dúvida: e se a Bíblia foi escrita por uma mulher?
Lembro que essa passagem me chamou bastante a atenção. Tenho uma amiga que acha que Deus não é Deus, mas Deusa. Mas daí a uma mulher escrever a Bíblia... Achava mais difícil conceber essa idéia do que o fato de Deus ser Deusa. Afinal, como os homens deixariam uma mulher escrever naquela época? Ainda mais a Bíblia. Além disso, o texto bíblico exala um machismo tão forte que uma mulher não poderia tê-lo escrito.
Mas aí vem o Moacyr de novo, com sua heroína precursora do feminismo já na Antigüidade. Além de dominar a escrita (atividade exclusiva de homens sábios), a protagonista exige de Salomão o cumprimento das obrigações maritais, promove um levante no harém, reinventa o papel de Eva e de diversas passagens bíblicas e, ao fim de tudo, ainda deixa a condição de 700ª esposa do rei para ir atrás de um pastorzinho maltrapilho e da própria liberdade.
A personagem de Moacyr faz, nesse livro, as indagações que eu sempre quis fazer. O mais legal é que, embora lúdicas e sem compromisso com a verdade dos fatos, as respostas que a narrativa dá a essas perguntas satisfazem nossa inquietação - a minha e a da protagonista.
Num mundo imaginário em que a seriedade histórica encontra o humor contemporâneo, o que fica é a certeza de que, desde sempre, tudo gira em torno do egocentrismo humano e que a pior idéia ocorrida desde a Pangéia foi a invenção de um Deus único.
O peso da tradição sempre emperrou a reformulação do pensamento e levou a humanidade a persistir em absurdos históricos, como os 300 anos de Inquisição da Igreja Católica, ou a Guerra Santa. Parece que toda atrocidade cometida coletivamente em nome de Deus é passível de perdão, ao contrário dos hereges isolados que desenham caricaturas de Alá, de humoristas que retratam Jesus cantando e dançando na cruz ou de escritores que atribuem a escrita da Bíblia a uma mulher.
A mulher que escreveu a Bíblia é um texto despretensioso que põe a gente para pensar em outras possibilidades: afinal, foi Deus quem nos criou ou nós quem O criamos?
Que Ele me perdoe essa pergunta. Que Zeus nos proteja uns dos outros! E que o Buzz Light Year proteja o Moacyr Scliar.
Ao infinito e amém!*
* Direitos autorais a Pedro Fazito Morais, que aos quatro anos adaptou o original "ao infinito e além", com um tiro acidental, inocente e certeiro.
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Pilar Fazito
18/4/2007 à 00h41
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Pena de Aluguel
Para mim, a influência do jornalismo na literatura não tem nada a ver com a linguagem, mas com a experiência. O jornalismo permite entrar em contato com pessoas e situações sobre as quais você não faria a menor idéia se não fosse pelo pretexto da reportagem. Ele funciona como uma fonte de histórias e experiências. Nesse caso, ele pode ter um papel vital e decisivo para literatura. Não é, porém, uma exclusividade do jornalismo. Outros escritores podem se servir da experiência da medicina ou de qualquer outra profissão que os faça entrar em contato com um mundo que não é o deles. O importante é que não haja regras. Qualquer meio de contato com outras pessoas e situações é interessante para a literatura.
Bernardo Carvalho
Quando saio do jornal muito tarde e escuto as rotativas, tenho a certeza de que o livro é superior ao jornal. As rotativas dão a dimensão da diferença: o jornal de hoje já está velho no momento em que roda. O livro fica e fica. Se fosse diferente, a gente teria de guardar infinitamente jornais e jornais. Mas tudo é datado, tudo já aconteceu. Nos livros, tudo está acontecendo. Sempre, em tempo integral.
Cíntia Moscovich
Eu não usaria essa palavra, superior... Objetivamente, uma vantagem do livro é a permanência. mas se o livro for ruim, isso se volta contra o autor, naturalmente. Num jornal você até pode escrever uns textos mais fraquinhos, ou algumas bobagens, sem maiores conseqüências. Mas o que você escolhe incluir num livro de certa forma pode formar a sua imagem para a posteridade, se é que ainda existe posteridade.
Luciano Trigo
É só uma questão de nomenclatura. O que é um "escritor"? Se é alguém que escreve, que passa pelo processo de criação do texto, claro que o jornalista é um escritor - às vezes, escrevendo uma crítica de cinema, sofro de uma angústia parecida com a que um texto literário me impõe. A diferença é que a angústia do texto jornalístico dura duas horas ou dois dias. No Música anterior, durou um ano e meio. No romance que estou escrevendo agora, já tem um ano, aproximadamente, sem que eu tenha definido sequer o tom do texto, para onde os personagens vão etc. Em suma: o sofrimento da literatura pode ser absolutamente em vão (será, por exemplo, se eu jogar fora este novo romance, ou se ele não ficar da maneira como eu quero que fique). O do jornalista nunca é: o artigo sai de qualquer jeito, sempre. E é remunerado decentemente, claro.
Michel Laub
* * *
Trechos de entrevistas que encontrei num site de Cristiane Costa.
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Julio Daio Borges
18/4/2007 à 00h12
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Marcelino Freire em BH
Nos dias 27 e 28 de abril, o escritor Marcelino Freire dará um rolê pelas universidades belo-horizontinas para falar de literatura, escrita, leitura, publicação e o que mais vier proposto pelas platéias da UFMG e da PUC Minas. A idéia é fazer uma sabatina sobre temas espinhosos que possam interessar a estudantes de Letras e Comunicação Social, em graduações e pós-graduações.
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Ana Elisa Ribeiro
17/4/2007 às 23h25
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Aerosmith no Morumbi
Não vou começar esse texto dizendo que "os veteranos do Aerosmith subiram ao palco exatamente às 22h45 da noite do dia 12 de abril". Será que um jornalista musical tem de usar clichê até para falar de sua banda favorita? Então, perdoe-me a intimidade e a falta de imparcialidade, porque agora vou falar de um dos maiores grupos de rock da História.
O Aerosmith pisou no palco em São Paulo exatos 13 anos, 3 meses e 29 dias depois de sua primeira apresentação no país. Muitos fãs, assim como eu, estavam aflitos com a possibilidade de nunca vê-los novamente por aqui, turnê após turnê. Em comunidades do Orkut, alguns discutiam seriamente como comprar seus ingressos e montar caravana para o show que aconteceria em Buenos Aires, que estava confirmado muitos meses antes que o de São Paulo. Mas pensei: muita calma nessa hora, se os hermanos podem "bancar" Aerosmith, nós podemos também. Respirei fundo e entoei o mantra: "a CIE Brasil não me decepcionará, a CIE Brasil não me decepcionará". E não decepcionou. A Companhia Interamericana de Entretenimento, dona das casas Credicard Hall e do antigo Palace (hoje Citibank Hall), marcou em cima da hora uma apresentação que lavou a alma de quem se desesperava com imenso intervalo.
E lá estávamos nós, 65 mil pessoas no Morumbi. Alguns tão apaixonados que conseguiram levar os vinis debaixo do braço para passear no show. Outros que só foram até o estádio para ouvir "Hole in my soul, sucesso que fez falta para a turminha (bem) mais jovem. No entanto, os velhinhos sabiam o que estavam fazendo. E a experiência de 30 anos de estrada fez com que abrissem o concerto com "Love in an elevator", hit dos anos 80 que marcou a volta às paradas e de lá nunca mais saíram. O público se entrosou no primeiro minuto com a banda e cantou em coro "Oô/Oh yeah", puxado pelo maestro Steven Tyler.
Em seguida, com o mesmo vigor de 1973, jogaram na nossa cara "Toys in the Attic", como se dissessem: ouve aí, essa música é nossa história. O pessoal que curte os clássicos escritos por Steven Tyler and Joe Perry agradeceu aos deuses e desejou que o som do Morumbi tivesse menos falhas, para ouvir os versos de uma das músicas que escreveu o nome da banda na história do rock. Foi aí que o público brasileiro mostrou para os vovôs que, em terras brasileiras, rockão dos anos 70 não faz milagre. A platéia simplesmente esperou a música chegar ao fim, para se acabar em pulos durante "Dude (Looks like a lady)", outro hit dos anos 80.
Depois de "Dude...", a banda cravou a seqüencia certeira: "Falling in love (Is hard on the knees)", "Cryin'", "What it takes" e "Jaded". Ah, sim, eles sabiam que suas pérolas dos anos 70 não agüentariam o tranco. Mas isso eles descobriram em 1986, quando contrataram o produtor Bruce Fairbairn, um verdadeiro midas da indústria fonográfica, que na época já carregava 14 discos de platina nas costas - 12 deles só para o Bon Jovi. E o Fairbain que não era bobo nem nada, viu que a dupla Steven Tyler e Joe Perry ainda dava um caldo, mas precisava turbinar sua criatividade. Foi então que convocou os hit-makers Glen Ballard, Desmond Child, Jim Vallance, Mark Hudson, Richie Supa. Um set list desse time era perfeito para dia de clássico no Morumbi: a geral veio abaixo. Muitas vezes tive vontade de pedir - "cantem baixo, por favor. Eu paguei para ouvir o Aerosmith".
Steven Tyler amaciou o público com sucessos e passou o microfone para o seu toxic-brother Joe Perry. Como se fosse pouco ser um guitar-hero, Perry conquistou a platéia com sua voz ao cantar "Baby, please don't go" e "Stop messin", standards do blues gravados para o álbum Honkin' On Bobo.
Um improviso para o descanso: Tyler foi até a plataforma e ajoelhou-se. Com uma luz bem dramática jogada em seu rosto, assoprou sua gaita e soltou gemidos. Sua mise-en-scène hipnotizou e convenceu que aqueles ruídos eram de fato música. Mister na arte de fazer caras e bocas, pagamos 160 reais para ver isso inclusive.
Acabado o teatro, era hora dos toxic-twins trazerem as cadeiras de suas casas de campo para o palco e tocar a divertida "Hangman jury", pouco conhecida por aqui. Em seguida, engataram um medley com a lindíssima balada "Seasons of Wither". Este é um ritual que eles repetiram durante toda sua turnê de 2006, nos EUA. Emoção à flor da pele, todos com os isqueiros acesos. E não poderiam se apagar tão cedo: chegou a hora de "Dream on". Adolescentes e jovens senhores se uniram para cantar com força a letra da música i-n-t-e-i-r-a. Estávamos quase com os dedos torrados, quando começou a introdução de "Janie's got a gun", outra unanimidade. Pedimos água, mas o Aerosmith nos deu "Livin' on the edge".
Costurando o show ora para agradar um tipo de platéia, ora afagando outro, ninguém se sentiu desamparado. Até mesmo os fãs das antigonas ficaram confortáveis para encorpar o coro de "I don't want to miss a thing", música que faz o Aerosmith parecer a Celine Dion. A sessão farofa foi encerrada com "Rag Doll".
Se você leu este texto até aqui e não estava no show, é provavelmente um verdadeiro fã e teria adorado o encerramento. Tom Hamilton dedilha uma das linhas de baixo mais famosas do hard rock anunciando "Sweet emotion". O repertório de 19 músicas foi fechado com "Draw the Line", uma das melhores faixas do Aerosmith dos anos 70. O riff poderoso que marca a música parece ter empolgado Joe Perry: depois do último acorde, jogou sua guitarra no chão, arrancou sua camisa e usou-a para espancar o instrumento. Depois, correu em direção ao fundo do palco, jogou-se sobre a bateria e ofereceu a guitarra para que Joey Kramer percutisse com suas baquetas.
Depois da farra, a banda saiu e fez de conta que o show tinha acabado. Todos ficam plantados esperando pelo bis. Vai, Aerosmith, está na hora de arrasar com "Walk this way". Bis de uma única música? Acabou? Mas já?! Uma longa espera para as duas horas mais rápidas de minha vida.
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Debora Batello
17/4/2007 às 15h27
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Vida de aspirante a escritor
Todo dia ele faz tudo sempre igual: é acordado às onze e meia da manhã, pelo despertador do celular que mal funciona, já tá velho e só faz vibrar. Todo dia ele desce para almoçar, mas se pudesse dormia um tanto mais. Ainda tem que dar bom-dia pra todo mundo, mesmo sabendo que nada de bom o dia terá.
A comida é sem sal, a conversa a mesma. Come a sobremesa e volta para o quarto. Olha o monte de livros empoeirados e um monte de papel amontoado. Nada dali que possa aproveitar, textos que nunca na vida vai usar; ele senta no pufe, olha para o teto e se contorce na posição de feto.
Todo dia a tia faz cara feia pr'o horário em que ele acordou. Se soubesse que ele só se levanta por causa do despertador... Se deixassem ele dormia o resto da vida. "Menino, isso não é jeito de viver", essas coisas que diz toda tia-avó, que não teve filho pra cuidar. Ela sempre descontou nos filhos dos outros. E ainda pergunta o que ele vai querer jantar, mesmo sendo ainda meio-dia. "Como posso saber o que vou querer comer?"
Todo dia ele só pensa em poder parar, com essa vida sem trabalho e sem dinheiro. Sente falta do jornal toda manhã e abre uma revista como se ela fosse um pauteiro. Todo dia ele lê umas três publicações, quando enche o saco abre um livro e depois, então, liga a TV, se não tem telejornal assiste um DVD.
Seis da tarde, como era de se esperar, ele já se cansou da sua vida. Mas em vez de dormir liga o computador e fica na Internet até o outro dia. Nessas madrugadas ele vê o quanto não rendeu e se arrepende de não ter feito um pouco mais. Então se entristece, que depressão, quando acordar será mais um dia igual.
Todo dia ele faz tudo sempre igual: é acordado às onze e meia da manhã, pelo despertador do celular que mal funciona, já tá velho e só faz vibrar. Todo dia ele desce para almoçar, mas se pudesse dormia um tanto mais. Ainda tem que dar bom-dia pra todo mundo, mesmo sabendo que nada de bom o dia terá.
André Julião, no seu blog, Um baiano em Campinas (porque ele Comenta o Podcast #0.1...)
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Julio Daio Borges
17/4/2007 à 00h16
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A tela e o texto
O grupo de estudos A Tela e o Texto, sediado na Faculdade de Letras da UFMG, em Belo Horizonte, promove debates por meio do Fórum de Ensino de Leitura.
No dia 27, às 18h, é a vez de discutir os desafios da comunicação via telas de telefone celular. A interface pequena e estreita já deixou, faz tempo, de ser apenas telefone.
O debate será conduzido por Fátima Barcelos (mestre pela Escola de Belas Artes) e contará com as pesquisadoras Camila Mantovani e Graziela Andrade. A primeira é consultora em usabilidade, a segunda é redatora da TakeNET.
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Postado por
Ana Elisa Ribeiro
17/4/2007 à 00h10
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