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Sexta-feira, 20/4/2007
Blog
Redação
 
Mário Alex Rosa fala de poesia

No dia 25 de abril, quarta-feira, o poeta Mário Alex Rosa vai movimentar o curso de Letras do UNI-BH, na capital mineira. Às 9h20 da manhã e às 19h, o autor de ABC Futebol Clube e outros poemas dá autógrafos e fala de poesia no campus da rua Diamantina. É só ir lá para conferir.

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Postado por Ana Elisa Ribeiro
20/4/2007 às 14h17

 
Como divulgar seu livro na Web

No one belongs here more than you, por Miranda July (porque, se depender do marketing, ela já me ganhou...)

[1 Comentário(s)]

Postado por Julio Daio Borges
20/4/2007 à 00h13

 
Os tataravôs da filosofia

"Chegou a vez de conhecer os pré-socráticos". Com esse anúncio, o filósofo especializado em filosofia antiga, Roberto Bolzani Filho, iniciou mais uma etapa do curso Os Pensadores, na Casa do Saber . Como o próprio nome diz, atribui-se o rótulo de "pré-socráticos" aos filósofos que antecederam o inquietante Sócrates.

Restam apenas alguns fragmentos sobre eles. A maior parte, citações de outros autores, como conta Bolzani. "Por terem disseminado suas teorias oralmente, o conhecimento que nos chega é indireto". Apesar de incluídos no mesmo rol, os pré-socráticos se apoiaram em três estudos diferentes: unidade e permanência, crítica à teologia mitológica e o problema do ser.

Os que estudavam a primeira categoria eram físicos ou naturalistas. Buscavam na natureza um elemento comum a todas as coisas. Procuravam, assim, um sentido único na multiplicidade. Segundo Bolzani, acreditavam que todas as coisas fossem permanentes, embora tivessem fases: geração, crescimento, corrupção e destruição. "Apesar de investigarem os mesmos objetos, os naturalistas chegavam a conclusões divergentes", complementa o filósofo.

Tales de Mileto, o pai da filosofia, acreditava que a água era o princípio de tudo. Anaxímenes discordava. Para ele, era o ar. Já Empédocles dizia que a unidade estava na combinação de quatro elementos: fogo, água, terra e ar. Demócrito, por sua vez, diria que o princípio de tudo está nos átomos dispostos no vazio. Da relação entre ambos perceberíamos as coisas como são: doces ou amargas, quentes ou frias.

Alguns pré-socráticos questionavam a mitologia grega. Estes criaram uma nova concepção de divindade. Para Xenófanes, Deus seria único e imutável, ao contrário dos deuses de Homero. Quanto ao "ser", Heráclito e Parmênides andavam em direções opostas. O primeiro dizia que a natureza é uma combinação de contrários. Tudo estaria, então, em constante mudança. "Nos mesmos rios entramos e não entramos, somos e não somos", diz a famosa máxima. Parmênides, por outro lado, defende um ser imutável "O ser é. O não ser não é". Ou seja, o ser nunca foi, nem jamais será. Apenas é.

Embora superadas por outras correntes, essas idéias abriram terreno para o pensamento posterior. Sócrates, Platão e Aristóteles viriam de carona. São os grandes nomes que seguem no curso.

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Postado por Tais Laporta
19/4/2007 às 12h38

 
Para conhecer São Paulo

Aos pacientes cuja queixa era a de não saberem que rumo imprimir às respectivas existências, um conhecido analista paulistano aconselhava comprar uma bússola, ir à Praça da Sé e conferir os pontos cardeais da cidade. Quase sempre, uma ação exterior seria capaz de mobilizar grande energia interna. E, depois, arrematava ele: como é possível o conhecimento interior se, para começar, ignoramos a cidade em que vivemos?

Não vem ao caso se a teoria funciona. O importante é que chegou uma grande oportunidade de conhecer melhor a cidade de São Paulo e sua história. O Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGBSP) programou para os próximos meses uma série de cursos entre os quais se destaca aquele intitulado "São Paulo na História do Brasil".

Além das conferências a serem ministradas pelos membros do IHGSP, todas as terças-feiras, a partir de abril, destacam-se na programação do curso os passeios guiados pelo centro antigo da cidade, que terão lugar no segundo sábado de cada mês. Neles, através tanto de um olhar nada apressado como da narrativa de histórias deixadas há muito de lado, será possível recuperar um pouco do prazer de viver nesta cidade.

Em O Sol se põe em São Paulo, Bernardo Carvalho escreve o seguinte: só fui entender que São Paulo era uma cidade de monumentos - mas onde os monumentos não existiam; eram por assim invisíveis - no dia em que sonhei que dirigia um carro, de monumento em monumento, pelas ruas vazias de uma tarde de domingo, no inverno, uma estação que aqui também não existe. Eram monumentos que eu nunca tinha visto antes, que só existiam no meu sonho[...].

São Paulo tem seus encantos, ou seu cachet, como diriam os franceses. Talvez não monumentais como aqueles do sonho do narrador de Carvalho, mas que estão lá, esperando só por um pouco de atenção: o conjunto no Largo de São Francisco formado pela Faculdade de Direito - famosa por suas contribuições à vida literária e política do país - e pela igreja e convento dos Franciscanos; a linda fachada de um prédio na Benjamin Constant, à altura do número 151, onde a força de dois titãs sustenta as colunas que sobem ladeando um frontão que retrata, em baixo relevo, a colheita do café; a catedral da Sé, com seu neogótico absolutamente fora de lugar; a Rua XV de Novembro, antiga Lombard Street (a rua londrina dos bancos) tapuia, hoje substituída pelo circuito Paulista-Berrini, desaguando no Largo de São Bento, com a igreja e convento de mesmo nome, depois de cruzar o Pátio do Colégio e passar na vizinhança da casa da escandalosa Marquesa de Santos...

O IHGSP foi fundado em 1894, para fomentar estudos sobre história e geografia no Município e Estado de São Paulo e preservar a memória local. É congênere, com algumas décadas de atraso, do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil que, fundado em 1838, ainda durante a Regência, teve papel seminal na formação da idéia de brasilidade, habilmente explorada durante o Segundo Reinado, como destacado por Lilia Moritz Schwarcz, em As barbas do Imperador - Dom Pedro II um monarca nos trópicos (Cia. das Letras). Associação de direito privado, o IHGSP financia-se por meio dos cursos que promove e pelas doações de seus membros. Entre estes se encontram representantes das mais diversas formações, nas ciências humanas e exatas, que desempenham funções variadas, como professores universitários, escritores e jornalistas. Destacam-se, por exemplo, Jorge Caldeira - o cientista social e historiador, autor de sucessos como Mauá, o empresário do Império (Cia. das Letras) e O banqueiro do sertão (Mameluco) - e o maestro Samuel Kerr, incluídos no rol de palestrantes do curso "São Paulo na História do Brasil".

O curso terá a duração de dois semestres, e teve início no último dia 17. Será sempre às terças-feiras, das 18 às 21 horas, com exceção dos passeios pela cidade, que irão acontecer, como já adiantado, nas manhãs do segundo sábado de cada mês. O custo é uma taxa de matrícula de R$ 200,00, seguida de nove mensalidades de idêntico valor. O IHGSP localiza-se à Rua Quintino Bocaiúva, 158, 7o andar (fone: 11 3242-8064). Há mais informações no site do Instituto, inclusive sobre todo o programa de cursos oferecidos, que inclui outros mais curtos, sobre fotografia digital, história das comunicações e genealogia.

Eugenia Zerbini, que nos envia este recado por e-mail.

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Postado por Julio Daio Borges
19/4/2007 às 10h02

 
Além de My fair lady

É animador constatar que a Broadway clássica também tem vez no Brasil. Claro que Andrew Lloyd Webber (O fantasma da ópera), Cy Coleman (Sweet charitym), John Kander (Chicago) e Stephen Sondheim (Company) são extremamente bem-vindos, mas se o país quer realmente mostrar ao público o que transformou o teatro musical americano numa das maiores glórias artísticas do século XX, é preciso voltar algumas décadas.

E enquanto as melodias de Jerome Kern ou Richard Rodgers não desembarcam por aqui, vamos celebrar a montagem de My fair lady, um dos mais adorados e bem-sucedidos musicais de todos os tempos, criação de Frederick Loewe (1901-1988, música) e Alan Jay Lerner (1918-1986, letra), este muito bem representado pelas versões do talentosíssimo Cláudio Botelho.

O currículo da dupla Lerner e Loewe é comparativamente pequeno, mas impressionante. Conheceram-se em 1942, mas seus primeiros shows (What's up? e The day before spring) estão esquecidos. O sucesso chegou com a fantasia romântica Brigadoon (1947), sobre um vilarejo escocês que só "existe" durante um dia a cada cem anos, e repleto de canções adoráveis como "Almost like being in love" e "The heather on the Hill". A versão para o cinema, filmada com Gene Kelly em 1954, foi lançada em DVD no Brasil com o título A lenda dos beijos perdidos.

Em seguida veio Paint your wagon (1951) um faroeste cuja abordagem musical apropriadamente americana ("I talk to the trees", "How can I wait", por exemplo) destoa do estilo europeu de Loewe, influenciado pelas melodiosas operetas de sua cidade natal, Viena, onde seu pai, tenor profissional, estrelou A viúva alegre (1905).

Mas foi mesmo My fair lady (1956) que inscreveu os cancionistas entre os grandes. Baseado em Pigmalião, do famoso dramaturgo inglês George Bernard Shaw, conta os esforços de um professor de fonética (Rex Harrison) para transformar uma simples florista (Julie Andrews) em uma dama da alta sociedade. Na transposição para o cinema, Oscar de melhor filme em 1965 e também disponível em DVD no Brasil, Harrison foi mantido - continuou "falando" suas canções, lamentavelmente - mas Andrews perdeu o papel para Audrey Hepburn, uma atriz graciosa que não era cantora e foi dublada. Mesmo assim, é impossível resistir ao capricho da produção e, principalmente, às riquezas melódicas e verbais de "I could have danced all night", "On the street where you live" e "I've grown accustomed to her face".

Em 1958, usando uma história similar (da escritora francesa Colette), Lerner e Loewe criaram Gigi diretamente para Hollywood, com Leslie Caron, Louis Jourdan e Maurice Chevalier nos papéis principais. Um dos últimos e mais queridos musicais do estúdio MGM, o filme foi premiado com o Oscar, assim como a belíssima canção-título.

Dois anos depois, a dupla voltou a Broadway com Camelot, outro sucesso, apesar de vários problemas durante a produção. A história do triângulo amoroso entre o Rei Arthur (Richard Burton), Guinevere (Julie Andrews) e Lancelot (Robert Goulet) ficou ainda mais emocionante ao som de "If ever I would leave you", entre outras jóias. O musical chegou ao cinema em 1967, com Richard Harris, Vanessa Redgrave e Franco Nero no elenco principal, e vale a pena procurar o DVD, distribuído pela Warner, na locadora.

A última parceria entre Lerner e Loewe foi o filme O pequeno príncipe (1973), baseado na popular fábula de Saint-Exupery e dirigido por Stanley "Cantando na chuva" Donen. A trilha não está no nível dos trabalhos anteriores da dupla, mas a sensível canção-título merece ser conhecida - o DVD também já foi lançado no país.

Depois disso, Loewe se aposentou, mas Lerner continuou em atividade. Seus shows subseqüentes foram fracassos retumbantes, apesar de algumas canções preciosas em 1600 Pennsylvania Avenue (1976), com música do maestro Leonard Bernstein, Carmelina (1979), sua terceira colaboração com o brilhante Burton Lane, e Dance a little closer (1983), co-escrito com Charles Strouse, de Annie.

No fim da vida, Alan Jay Lerner também teve problemas de ordem médica e financeira, conseqüência de uma vida sentimental turbulenta, de oito esposas. Feliz mesmo foi o casamento de suas palavras com as notas de Frederick Loewe. Dessa união, surgiram canções e musicais inesquecíveis. E o privilégio de conhecer esse legado está ao nosso alcance.

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Postado por Fábio Scrivano
19/4/2007 à 01h11

 
Entre o velho e o novo

Novo visual, novas idéias, recomeço.
Para mim, de certa forma, o ano se inicia agora.
Aberta para o novo, o inesperado, e para o mais do que esperado também.
Fechei-me como numa concha.
Afastei-me dos amigos, da família até.
Tornei-me uma pessoa quase insuportável de se conviver.
Quase. Alguns poucos que se arriscaram a se aproximar acabaram por descobrir que eu não mordo, não lato, nem rasgo dinheiro. E parecem aliviados!!
Estou retomando as atividades deixadas de lado, com todo o cuidado.
Dentre elas o exercício de pensar e escrever aqui no blog.
Se tudo correr como eu espero, dentro de pouco tempo terei grandes novidades.

A Bianca, no Pensamentos Imperfeitos, lincando pra nós.

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Postado por Julio Daio Borges
19/4/2007 à 00h04

 
Electra e as Paixões Humanas

Praticamente todos os 144 lugares da sala Paschoal Carlos Magno estavam tomados ontem à noite. E o público assistiu com notável atenção à palestra do ator e diretor Hugo Coelho sobre a tragédia grega, que antecedeu a leitura encenada da peça Electra, de Sófocles. Era a estréia do projeto Paixões Humanas, capitaneado pelo Núcleo Teatral Os Jogadores, da Cooperativa Paulista de Teatro.

São cinco encontros que pretendem perfazer uma breve panorâmica do teatro ocidental. O esquema dos encontros é o seguinte: uma palestra de Hugo sobre o tema da semana, seguida de uma leitura encenada e, por fim, abre-se um debate com o público.

O elenco é mais do que qualificado: Ângela Barros, Eduardo Semerjian, Henrique Schafer, Javert Monteiro, Otávio Martins e Priscilla Carvalho. A estréia, ontem, teve a especialíssima participação de Denise Del Vecchio, no papel de Clitemnestra.

É uma iniciativa importantíssima, uma vez que carecemos de projetos de formação de público. Esse tipo de contato aproxima o espectador do teatro e de uma realidade que ele muitas vezes desconhece. A palestra sobre os gregos foi uma verdadeira aula - o resultado pôde ser conferido no debate que se seguiu à leitura.

A programação do resto do projeto é a seguinte (sempre às terças, 20h):

24/04 - "A Comédia Antiga, a Néa e a Comédia Latina", com a leitura encenada de O misantropo, de Meneandro.

08/05 - "Shakespeare e o Renascimento", com a leitura encenada de Othelo, de Shakespeare.

15/05 - "Molière e a Commedia Dell'Arte", com a leitura encenada de Escola de Mulheres, de Molière.

22/05 - "Tchecov e o Realismo", com a leitura encenada de A Gaivota, de Tchecov.

E, por fim, a boa notícia: é de graça.

Para ir além
Paixões Humanas - Teatro Sérgio Cardoso - Sala Paschoal Carlos Magno - Rua Rui Barbosa, 153 - Tel. (11) 3288-0136 - Bela Vista - 120 min. - Até 22/05 - Inscrições pelo telefone (11) 3451-6032 ou pelo site do projeto.

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Postado por Guilherme Conte
18/4/2007 às 18h09

 
Um adeus pra Vonnegut Jr

Não sou fã, muito menos fanático, por cinema. Gosto, assim como quem gosta de fuscas: você vê que ali tem certos problemas, aparentemente insolúveis. Mas, de uma maneira meio sentimental, gosta assim mesmo. Na verdade o problema não é o cinema, são os filmes. Vai uma diferença aí.

Mas de vez em quando a gente vê cenas que não se esquece mais. Nunca mais:

... durante a segunda guerra, um grupo de ciganos europeus está sentado sobre algumas ruínas de um recente bombardeio. São prisioneiros e estão calmamente sentados, fumando e conversando entre si. Soldados alemães passeiam por ali, vigiando os prisioneiros e empunhando sub-metralhadoras. Um soldado qualquer, no mais típico estilo nazista de brutalidade, começa a ameaçar os ciganos. Grita ordens em alemão: é proibido fumar. Os ciganos se entreolham, não respondem. Talvez não entendam o alemão, mas compreendem muito bem o teor furioso da mensagem. Eles se levantam calmamente e encaram o alemão, soltando baforadas tranqüilas. Não há diálogo possível. São todos fuzilados, claro.

O filme é Matadouro 5 (Slaughterhouse Five, 1972), do livro homônimo de Kurt Vonnegut Jr. Que também morreu, há poucos dias, ainda dando suas baforadas, aos 84 anos de idade. Esse, que foi seu melhor livro, é também baseado em suas próprias memórias da guerra. Só que Vonnegut vai muito além da simples reminiscência, como sempre.

Quis registrar meu adeus ao velho escritor. "Velho", aqui, é só uma forma carinhosa. Como todo escritor (mesmo), Vonnegut não tem idade.

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Postado por Guga Schultze
18/4/2007 às 17h56

 
Uomini di poca fede!

A páscoa é o período em que brasileiros ficam loucos para aproveitar uma praia, crianças ficam loucas para ganhar ovos de chocolate, a igreja fica louca para que os fiéis compareçam às encenações da paixão de Cristo e os canais de TV ficam loucos para conquistar eventuais telespectadores por meio de programas voltados... não para Meca, mas para a religiosidade cristã ou para a vida secreta das celebridades (que de secreta não tem nada).

Eu mesma não estava louca por nada disso, mas apenas por um descanso numa cidade interiorana. Entretanto, como essa loucura toda envolve a gente desde a rodoviária até o destino final, resolvi dedicar meu sacro-ócio à leitura na tentativa de abstrair-me desse turbilhão de informações inúteis.

Inspirada no estudo antropológico-lingüístico sobre os hábitos de leitura que a talentosa poeta Ana Elisa Ribeiro publicou no Digestivo Cultural, escolhi a dedo um livro que me acompanhasse durante a Semana Santa. E no meio da muvuca de desesperados da rodoviária, refugiei-me naquele ambiente minúsculo e pouco procurado: a livraria da rodoviária de Belo Horizonte.

Depois de meia hora de busca - sim, porque escolher um livro para ler merece o mesmo ritual da escolha de um filme numa locadora, afinal, tem dias que a gente não tá a fim de ver comédia, mas aventura e vice-versa... Onde eu estava mesmo? Ah, sim... Depois de meia hora de busca, acabei me decidindo por um formato de bolso, "óóótemo" para viagens. E o vencedor foi: A mulher que escreveu a Bíblia (Companhia de Bolso, 2007, 168 págs.), do Moacyr Scliar, aproveitando o período propício ao exercício de uma leitura... er, digamos, bíblica.

Nunca fui aspirante à santa e, embora tenha sido batizada, não cheguei a fazer a primeira comunhão. Sempre tive dificuldades em compreender a história das religiões e, quando pequena, misturava tudo. Eu via aqueles filmes românticos e pálidos da Sessão da Tarde, sempre com os mesmos atores, e não entendia o que a Fúria de Titãs e o Ali Babá tinham a ver com os vendilhões do templo ou com o cara barbudo que abria o Mar Vermelho. Tá bom, eu confesso: durante muito tempo, achei que quem havia segurado os dez mandamentos tinha sido o Matusalém. Aliás, Moisés, Maomé e Matusalém... era tanto M que eu nunca soube quem fez o quê (Isso é que dá ter um pai comunista... Em vez dos salmos da Bíblia eu decorava os quadrinhos da Mafalda. Em castelhano!). Só quando essa alienação toda começou a me fazer passar vergonha é que fui pesquisar melhor sobre o tema. Mesmo assim, muita pesquisa na base da gozação e do pastiche.

Minha idéia inicial para a Semana Santa era degustar o livro do Moacyr Scliar com calma, mas acabei devorando-o em menos de dois dias. A grosso modo, o enredo é o seguinte: após uma regressão à vida passada, uma mulher descobre ter sido uma das 700 esposas de Salomão. O dom da escrita compensa sua feiúra inata e faz dela a responsável pelo registro da história da humanidade, desde a criação - quando tudo era verbo - até as previsões pós-Salomão. Enquanto ela se dedica à tarefa que o rei e marido havia lhe incumbido, espera, ansiosa e desesperadamente, pelo momento em que ele deverá abstrair a feiúra dela e dar um trato na macaca, ou seja, consumar o casamento.

O livro é bem engraçado e merece destaque a forma como o Moacyr brinca com a linguagem, misturando o erudito a gírias e palavrões. Em meio a "Porra, Salomão!" e "Afinal, cara, o que queres de mim?", A mulher que escreveu a Bíblia vai se mostrando como uma heresia. Uma deliciosa e divertida heresia cujo mote - a possibilidade de a Bíblia ter sido escrita por uma mulher - foi uma excelente sacada que o autor pegou emprestado do crítico Harold Bloom.

Em Jesus e Javé, Bloom analisa os diversos nomes, bem como as diferenças de temperamento, atribuídos ao Todo Poderoso em diversos textos religiosos. A conclusão, se é que se pode chegar a alguma, é a de que o Inominável é um ser multifacetado, polivalente e completo, composto por diversos "eus" e personagens. Enfim, uma espécie de "Gita", do Raul Seixas, que é o tudo e o nada ao mesmo tempo e está contido na letra A. Quase um "Aleph". Ou talvez o "Aleph" esteja contido nele.

A certa altura, Bloom parece entrar em parafuso e questionar a própria existência. Mais ou menos nessa hora, ele lança a dúvida: e se a Bíblia foi escrita por uma mulher?

Lembro que essa passagem me chamou bastante a atenção. Tenho uma amiga que acha que Deus não é Deus, mas Deusa. Mas daí a uma mulher escrever a Bíblia... Achava mais difícil conceber essa idéia do que o fato de Deus ser Deusa. Afinal, como os homens deixariam uma mulher escrever naquela época? Ainda mais a Bíblia. Além disso, o texto bíblico exala um machismo tão forte que uma mulher não poderia tê-lo escrito.

Mas aí vem o Moacyr de novo, com sua heroína precursora do feminismo já na Antigüidade. Além de dominar a escrita (atividade exclusiva de homens sábios), a protagonista exige de Salomão o cumprimento das obrigações maritais, promove um levante no harém, reinventa o papel de Eva e de diversas passagens bíblicas e, ao fim de tudo, ainda deixa a condição de 700ª esposa do rei para ir atrás de um pastorzinho maltrapilho e da própria liberdade.

A personagem de Moacyr faz, nesse livro, as indagações que eu sempre quis fazer. O mais legal é que, embora lúdicas e sem compromisso com a verdade dos fatos, as respostas que a narrativa dá a essas perguntas satisfazem nossa inquietação - a minha e a da protagonista.

Num mundo imaginário em que a seriedade histórica encontra o humor contemporâneo, o que fica é a certeza de que, desde sempre, tudo gira em torno do egocentrismo humano e que a pior idéia ocorrida desde a Pangéia foi a invenção de um Deus único.

O peso da tradição sempre emperrou a reformulação do pensamento e levou a humanidade a persistir em absurdos históricos, como os 300 anos de Inquisição da Igreja Católica, ou a Guerra Santa. Parece que toda atrocidade cometida coletivamente em nome de Deus é passível de perdão, ao contrário dos hereges isolados que desenham caricaturas de Alá, de humoristas que retratam Jesus cantando e dançando na cruz ou de escritores que atribuem a escrita da Bíblia a uma mulher.

A mulher que escreveu a Bíblia é um texto despretensioso que põe a gente para pensar em outras possibilidades: afinal, foi Deus quem nos criou ou nós quem O criamos?

Que Ele me perdoe essa pergunta. Que Zeus nos proteja uns dos outros! E que o Buzz Light Year proteja o Moacyr Scliar.

Ao infinito e amém!*

* Direitos autorais a Pedro Fazito Morais, que aos quatro anos adaptou o original "ao infinito e além", com um tiro acidental, inocente e certeiro.

[5 Comentário(s)]

Postado por Pilar Fazito
18/4/2007 à 00h41

 
Pena de Aluguel

Para mim, a influência do jornalismo na literatura não tem nada a ver com a linguagem, mas com a experiência. O jornalismo permite entrar em contato com pessoas e situações sobre as quais você não faria a menor idéia se não fosse pelo pretexto da reportagem. Ele funciona como uma fonte de histórias e experiências. Nesse caso, ele pode ter um papel vital e decisivo para literatura. Não é, porém, uma exclusividade do jornalismo. Outros escritores podem se servir da experiência da medicina ou de qualquer outra profissão que os faça entrar em contato com um mundo que não é o deles. O importante é que não haja regras. Qualquer meio de contato com outras pessoas e situações é interessante para a literatura.
Bernardo Carvalho

Quando saio do jornal muito tarde e escuto as rotativas, tenho a certeza de que o livro é superior ao jornal. As rotativas dão a dimensão da diferença: o jornal de hoje já está velho no momento em que roda. O livro fica e fica. Se fosse diferente, a gente teria de guardar infinitamente jornais e jornais. Mas tudo é datado, tudo já aconteceu. Nos livros, tudo está acontecendo. Sempre, em tempo integral.
Cíntia Moscovich

Eu não usaria essa palavra, superior... Objetivamente, uma vantagem do livro é a permanência. mas se o livro for ruim, isso se volta contra o autor, naturalmente. Num jornal você até pode escrever uns textos mais fraquinhos, ou algumas bobagens, sem maiores conseqüências. Mas o que você escolhe incluir num livro de certa forma pode formar a sua imagem para a posteridade, se é que ainda existe posteridade.
Luciano Trigo

É só uma questão de nomenclatura. O que é um "escritor"? Se é alguém que escreve, que passa pelo processo de criação do texto, claro que o jornalista é um escritor - às vezes, escrevendo uma crítica de cinema, sofro de uma angústia parecida com a que um texto literário me impõe. A diferença é que a angústia do texto jornalístico dura duas horas ou dois dias. No Música anterior, durou um ano e meio. No romance que estou escrevendo agora, já tem um ano, aproximadamente, sem que eu tenha definido sequer o tom do texto, para onde os personagens vão etc. Em suma: o sofrimento da literatura pode ser absolutamente em vão (será, por exemplo, se eu jogar fora este novo romance, ou se ele não ficar da maneira como eu quero que fique). O do jornalista nunca é: o artigo sai de qualquer jeito, sempre. E é remunerado decentemente, claro.
Michel Laub

* * *

Trechos de entrevistas que encontrei num site de Cristiane Costa.

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Postado por Julio Daio Borges
18/4/2007 à 00h12

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Noel M. Tichy / Nancy Cardwell
Campus
(2003)



Espuma Dos Dias
Boris Vian
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(2013)



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