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Segunda-feira,
21/5/2007
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Redação
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O gênesis na argila
O Museu de Arte Contemporânea da USP traz em sua agenda vários cursos voltados para os diversos públicos: artistas plásticos, arte educadores, estudantes de artes e pessoas em geral, todos interessados em aprofundar seus conhecimentos e atualizar-se sobre este vasto mundo interessante e polêmico que é o das Artes.
Dessa vez, fomos agraciados pelo MAC com o interessante e tão esperado curso A Argila como veículo de auto-conhecimento, criatividade e expressão ministrado por Sil Farina, mestranda do Programa Interunidades em Estética e História da Arte, especialista em Monitoria em Artes (MAC USP), especialista em Arte Terapia (Sedes Sapientiae) e graduada em Comunicações e Artes (FAAP).
Remotamente, assim como participante da criação do homem (gênesis), a memória da argila é muito mais antiga do que imaginamos. A arte propriamente dita, ou seja, o tratamento estético dado à argila é encontrado já no paleolítico superior, em modelagens de pequenas figuras de barro, pedras, ossos e madeira. Milênios mais tarde, já no neolítico, começam a aparecer os primeiros vasos e vasilhas de caráter decorativo - utensílio essencial para a vida cotidiana do homem.
Possuindo uma propriedade plástica que induz a criatividade, a argila é um dos meios de expressão que, trabalhada com as mãos, propicia a extensão do "eu" de seu criador. Passando de barro a obra, além de resistir ao fogo e à nossa memória, ela ainda faz parte da história da nossa casa, da nossa alimentação, nas vasilhas utilizadas, bem como de muitos rituais religiosos.
Sil Farina é, antes de tudo, uma ceramista de almas. Propõe, nesse curso, o auto-conhecimento numa constante busca da interação entre homem e argila, num processo de extensão do seu universo interior através do barro.
Sil recheia suas aulas com uma filosofia de vida otimista e feliz, buscando interagir de forma positiva com a vida, com a alma e com o que de mais intocável podemos ter dentro de nós. Em aulas ministradas com música e exercícios respiratórios, propõe que nos voltemos a nós mesmos, num verdadeiro resgate do nosso "eu", de quem somos, de quem fomos e do que deixamos perder. Sugere, ainda, íntimas e profundas transformações nas recordações de sonhos esquecidos e promessas passadas; graças ao toque da argila, nos exercícios feitos com os olhos fechados, aguçando ainda mais a criatividade de cada um. É nesse "regresso" proposto que trabalhamos com nossas mãos buscando, assim, desancorar nossa alma e trazer à tona um pouco desse "eu" que dá vida às obras de argila de forma tão maravilhosa e inusitada.
A primeira turma, carro-chefe das próximas, encerra o curso em 22 de maio de 2007. O MAC já cogita formar nova turma e estuda a possibilidade de um segundo curso que dará continuidade a este.
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Simone Oliveira
21/5/2007 às 17h49
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Solteirice
Mais uma vez, solteira em definitivo. Isso aqui não é classificados. Todas as pessoas que ousam ler isso aqui sabem, pelo menos, de metade de minha vida. Posso falar do livro do Saramago?
Então: acabei de ler As Intermitências da Morte. Divertido, mas me irritei com o fim. É uma história divertida sobre a personagem morte. Ela é hilária, inteligente e sagaz, mas se atrapalha um pouco. Queria discutir com alguém sobre o final do livro, mas ninguém que eu conheço leu. E agora?
Vou pro Tango escrever minhas opiniões um dia. O Café, claro. Um caderno... porque esse é o tipo do programa que nem todo mundo tem saco de aceitar. Mas eu sou a favor, então vou. Chega um momento em que ser solteira se torna quase uma profissão: você define onde ir, quando ir, que roupa usar e o mais importante: que acessórios ter à mão.
Porque, quando todos os seus amigos estão ocupados e/ou namorando, e você percebe que não há mais ninguém da sua faixa etária que você curta compartilhar momentos disponível, você pega o irmão do códex e vai pra um canto legal, da cidade ou do teu quarto. É sempre bom. Daí, no caso de você ter escolhido a cidade, tem um monte de opções e em todas pode ver as pessoas e o comportamento delas e escrever contos divertidos em seu caderno ou agenda, também à mão ou ler o livro que carregas. Que seja num lugar agradável, sem muito barulho e calor. De preferência, longe da rua e do trânsito. Opa, tem que ser uma cafeteria. Acabaram as opções, eu tentei ir além dos cafés e tortas e salgadinhos legais. Ia esquecendo: no caso do teu quarto, pode ficar de camisola, pijamas, calcinha e camisão ou simplesmente pelada na cama lendo e escrevendo abobrinhas como essa que ninguém vai se importar e você vai se divertir à beça (mas tem é tempo que não leio/ouço/vejo essa expressão). Cuidado com uma coisa: caso isso seja freqüente e você se divirta muito, sua mãe pode vir a te acusar de depressiva e lhe encher a paciência para que encontres um analista o quanto antes. Ou seja, disfarce!
Tati, no Café: extra-forte, que linca pra nós.
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Julio Daio Borges
21/5/2007 à 00h34
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Allen Ginsberg (1926-1997)
Hoje, lembrando de repente que há dez anos, em abril, Allen Ginsberg (1926-1997) se foi. Poucas pessoas foram tão absolutamente poetas. Ou poucas viveram tão intensamente a poesia, ou de poesia, ou para a poesia.
No centro da beat generation, onde é costumeiramente situado pela crítica, Ginsberg é, talvez, a única voz que realmente transcende os limites daquela formulação, daquele conteúdo ou daquela época. Os beats, apesar do alcance e influência, ainda assim tendem a formar um nicho, um momento histórico apenas. Mas Ginsberg já alcança uma dimensão universal, resistente ao tempo.
São dez anos e sou fetichista (como quase todo mundo) com esse negócio de datas, por que não? Transcrevo frases do "Kaddish" (seguidas da ótima tradução de Claudio Willer), poema quase tão famoso quanto "O Uivo" - mais pungente e mais apropriado para lembrar. Do pó ao pó, de Ginsberg para Ginsberg:
"Dreaming back thru life, Your time - and mine accelerating toward Apocalypse, the final moment - the flower burning in the Day - and what comes after... / ...Back to the Babe dark before your Father, before us all - before the world There, rest. No more suffering for you. I know where you've gone, it's good."
"Sonhando de novo através da vida, Teu tempo - e o meu acelerando-se rumo ao Apocalipse, o momento final - a flor queimando no Dia - e o que virá depois... /... de volta à escuridão Bebê anterior ao seu Pai, anterior a todos nós - anterior ao mundo Lá, repousa. Mais nada de sofrimento para você. Sei para onde foi, tudo bem."
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Guga Schultze
18/5/2007 às 23h52
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Elgar e seus enigmas
Ele não tem 1% do prestígio de nomes como Bach, Mozart e Beethoven, cuja obra somada, me arrisco a confessar, não me emociona tanto quanto um de seus concertos ou sinfonias. Suas composições transbordam de sentimentos profundos e universais, mas ele é ainda visto por muitos como mero porta-voz de um Império. No próximo dia 2 de junho, completam-se 150 anos de nascimento desse gênio da música orquestral, mas é improvável que fora de seu país natal a data inspire alguma homenagem.
Estou falando de Sir Edward Elgar (1857-1934), compositor romântico inglês que preencheu uma enorme lacuna deixada por Henry Purcell (1659-1695), e abriu caminho para Ralph Vaughan Williams (1872-1958) e Benjamin Britten (1913-1976), seus aclamados sucessores. Auto-didata, Elgar cresceu na loja de música do pai, organista da cidade de Worcester. Trabalhou inicialmente como instrumentista e maestro da região, chegando até a reger no hospício local, provavelmente uma das experiências pioneiras em musicoterapia. Suas primeiras composições relevantes, Salut d'Amour (1888) e a Serenata para Cordas (1893) foram dedicadas à esposa e já revelam seu fantástico dom melódico.
Porém, somente com as famosas Variações Enigma (1899) é que Elgar começou a chamar atenção internacional. São catorze variações, dedicadas secretamente a um parente ou amigo - a melodia sobre a qual ele desenvolve cada variação também não foi revelada. O tema intitulado Nimrod, posteriormente identificado como o colega editor August Jaeger, é comovente.
Em 1901, compôs o estimado oratório Sonho de Gerontius e a primeira das cinco marchas da série Pompa e Circunstância. Orgulhoso desta criação, o compositor declarou que uma melodia como aquela surgia apenas uma vez na vida. Entretanto, por sugestão do rei Eduardo VII, ganhou uma letra ufanista (Terra de Esperança e Glória), que acabou criando uma forte e prejudicial associação entre Elgar e o Império Britânico. Para piorar, viria a ser adotada como hino oficial de cerimônias de formatura, criando um vínculo irreversível com eventos cafonas.
Ainda no mesmo ano, Elgar escreveu sua primeira sinfonia, um trabalho magnífico, quintessência da "melancolia heróica" de seu estilo. Ele vivia num estado de espírito que oscilava entre a nostalgia e o idealismo, e esse temperamento bipolar é evidente em suas composições. Igualmente satisfatórias são as exuberantes aberturas In London Town (1901) e In the South (1904).
Outro trabalho indispensável, passaporte incontestável para a imortalidade de qualquer compositor é o Concerto para Violoncelo (1919), uma das mais lembradas interpretações da violoncelista inglesa Jacqueline du Pré. Para o biógrafo Michael Kennedy, sua tristeza desoladora é resultado de alguém "cansado do mundo, encontrando consolo na beleza da música".
Edward Elgar faleceu em fevereiro de 1934. Adepto de melodias fortes, sentimentais e acessíveis, conduzidas por orquestrações grandiloqüentes, nunca impressionou cínicos, insensíveis e elitistas. Apesar da admiração de figuras do porte do dramaturgo George Bernard Shaw, do maestro Hans Richter e do compositor de cinema John Williams - a marcha da seqüência final de Guerra nas estrelas é puro Elgar - é geralmente classificado como coadjuvante no romantismo europeu da segunda metade do século XIX. É um dos grande enigmas da história da música, o pouco reconhecimento de um artista que, nas certeiras palavras do compatriota e também músico Hubert Parry, sabia alcançar o coração das pessoas.
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Fábio Scrivano
18/5/2007 às 12h57
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Centro Cultural São Paulo
O Centro Cultural São Paulo completa 25 anos em 2007. Enquanto boa parte do público e dos jornalistas se esquece - salvo uma menção aqui e acolá -, os paulistanos que frequentam o local têm de arcar com um presente às avessas. O lugar está fechado por ocasião de um incêndio ocorrido depois da queda de um balão no telhado. Em função disso, as bibliotecas, conforme consta no site do Centro Cultural, estão fechadas por tempo inderteminado.
Mesmo com esses contratempos, há quem apresente impressões especiais sobre as sextas-feiras felizes, como se pode ler aqui.
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Fabio Silvestre Cardoso
18/5/2007 às 12h46
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Mininas no Canto Madalena
Capa do nº 6 - Especial Ano do Brasil na França
As três últimas edições da revista de bolso Mininas chegam a São Paulo neste final de maio. O lançamento triplo será no Bar Canto Madalena, dia 22, a partir das 19h. Prosadoras, poetas, artistas gráficas, ilustradoras e fotógrafas integram a publicação, criada pela mineira Milena de Almeida em 2003.
Confira parte de quem fez o conteúdo dos números 10, 11 e 12:
Mininas nº 10
Arte: Tartaruga Feliz, Angelina Camelo
HQ: Luli Penna
Ensaio fotográfico: Ingrid Klinkby
Poesia: Micheliny Verunschk, Lívia Tucci
Prosa: Lúcia Castello Branco, Maria Lutterbach, Gina Leite
Mininas nº 11
Arte: Tere Tavares, Feibouz, Steffania Paola, Raquel Pinheiro
HQ: Sueli Mendes
Ensaio fotográfico: Paloma Parentoni
Poesia: Dagmar Braga, Flausina Márcia da Silva
Prosa: Ivana Arruda Leite, Luciana Elaiuy
Mininas nº 12
Arte: Pucca, Stéphanie Padilha, Deborah Franco
HQ: Luli Penna
Ensaio fotográfico: Sissy Eiko
Poesia: Lilian Aquino, Sónia Bettencourt
Prosa: Simone Campos, Cristiane Lisbôa, Milena de Almeida
Para ir além
Revista Mininas - lançamento das edições 10, 11 e 12 - Bar Canto Madalena - 22 de maio, terça-feira, a partir das 19h - Rua Medeiros de Albuquerque, 471, Vila Madalena - São Paulo - Telefone: (11) 3813-6814
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Elisa Andrade Buzzo
18/5/2007 às 10h22
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Sobre escrever
Venho pensando em escrever. O gerundismo aqui, creio que se perdoa, pois é mesmo uma coisa que se arrasta, que "vai vivendo", "continua andando", e "está estando". Mas desde quando?
Desde os 12 anos de idade. Hoje tenho 25 e, de concreto, nada. Confesso que me foi muitas vezes mais fácil pensar em abandonar a escrita do que realmente me aventurar por alguma das idéias que tenho na cabeça.
Mas não consigo. Ou melhor, não tenho conseguido (esta forma é um pouco menos "baixo astral"). Mantenho um diário em papel, em que misturo a ficção ao cotidiano. Talvez no final eu acabe escrevendo uma "ficção do cotidiano" e nem saiba mesmo no que acreditar. Ou não saiba mesmo separar uma coisa da outra. Embora já tenha pensado em fazê-lo: escrevo à mão no diário, e à máquina de escrever os "textos". Começava a divagar na máquina de escrever, e a própria movimentação de ir pegar a máquina, tirar a tampa, posicionar o papel tornava toda a operação solene e desnecessária. Um rito que, afinal, não levava a nada, pois a cabeça já ia vazia de idéias.
Não sei, portanto, qual é o meu problema. Talvez erro de aspiração. Tive em criança a facilidade com números; em português nunca fui bom, apenas médio. Isso nas várias subáreas em que a matéria de "português" era dividida quando cursei o ensino fundamental: a parte normativa, a difícil interpretação de texto, a análise sintática. Vi um pouco de literatura, mas só me interessei mais quando adolescente.
Eu comecei a escrever com 12 anos de idade. Na época, eu comecei a escrever uma mistura de relato de fatos da escola, da turma, com ficção. Li alguns livros da série Vaga Lume e comecei a escrever por eles. Disse que meus colegas estavam na história, uns se identificavam com algumas coisas, outros nem sabiam. Um até me deu um caderno!
Hoje, além de não arrumar tempo (sou desorganizado) para escrever, não consigo evocar as lembranças deste tempo. Talvez seja o meu erro bater sempre na mesma tecla. Ou insistir em não bater em nenhuma.
O que escrevo hoje? Bem, este blog que se arrasta. Já o apaguei uma vez, mas resolvi continuar. Trabalho atualmente com informática. Na prática, é de certa forma lidar com uma linguagem - no caso, a de programação. Mas o único objetivo é resolver um problema (isso, no meu caso, que mantenho um sistema antigo em funcionamento) e a sensação de criação é reduzida, de fato, em relação à criar um sistema inteiro. Penso em comparar isso à escrita de um romance, mas... é bem diferente. Lidar com o subjetivo e torná-lo objetivo é diferente. Afinal, como é que os grandes autores sabem o que as suas personagens farão? Que estranha engenharia é essa, a de fios que se entrelaçam, paredes e portas que se constroem e se fecham, mas que no final leval a um lugar que, de alguma forma, tem uma certa claridade?
Bom, enfim, alguns pensamentos por hoje. Acho que no final eu quero mais é que me leiam do que eu escrever alguma coisa.
Marcelo A., no seu blog, que linca pra nós.
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Julio Daio Borges
18/5/2007 à 00h50
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Hatoum e os novos autores
O Museu de Artes e Ofícios de Belo Horizonte deveria ser visitado por qualquer pessoa que viesse a esta capital. Fantástico. Mais uma "aprontação" da empresária Ângela Gutierrez, que vive dando presentes fabulosos para o estado e para o Brasil. E foi lá dentro que aconteceu mais uma edição do Ofício da Palavra, evento que, como é de se esperar, traz um escritor contemporâneo conhecido (se não consagrado, ao menos à beira da consagração) para falar com o público e com um mediador.
Ontem foi a vez de Milton Hatoum, mediado pela escritora Maria Esther Maciel. Duas horas ou pouco mais de exposição sobre temas como processo de criação, publicação, prêmios e outros assuntos de pauta imaginável. O clima era de seriedade. O público lotou um salão de tamanho razoável e o som competia com o barulho da água das fontes plantadas bem no meio da cidade. Ando meio preguiçosa dos eventos com escritores por alguns motivos, mas um deles é mencionável: o formato sempre igual. Isso tem sido muito previsível, mas admito que seja complicado inventar algo inovador. Fazer o quê? Afinal as pessoas comparecem para ouvir o escritor contar de onde vem o "dom" que lhe acomete.
Lá pelas tantas, depois que o debate foi aberto às questões do público, um rapaz perguntou ao Hatoum por que razões ele não menciona autores novos em suas colunas nos jornais. Hatoum tinha bons argumentos. O primeiro era plenamente imaginável. Caso ele comentasse um livro de um cara novo, seria uma avalanche de outros novatos querendo resenhas, menções, orelhas, contracapas e toda sorte de "toque de Midas". Não dá. O outro motivo era simples: Milton não quer entrar no que ele chamou de "guerrilha" por espaço. Nas palavras dele: "pessoas se auto-afirmando o tempo todo", "grupos que se formam, representantes de gerações, pessoas que querem se derrubar", "blogueiros terroristas". Nisso ele não entra. Com razão. É nojento. Qualquer festinha de escritores fica com esse clima de "competição beletrista". Dureza, né não? Ele é que está certo. Publicou "apenas" 3 livros e acertou na mosca. Pontaria, é isso. Tudo bem que ganhar prêmios não garante nada, mas, segundo ele, garante o pagamento das contas no final do mês. Certeiro. Muita gente que ganhou prêmio sumiu na areia. Muita gente que não ganhou (que sequer concorreu) foi ao estrelato. Vai saber. Mas Milton parece ter alcançado um equilíbrio. Ele mesmo disse: "tem escritor com 25 anos e 10 livros, o cara começou a publicar aos 12?". Hatoum, mui acertadamente, acha que é preciso maturar a obra. É isso aí. Ele se refere aos serial writers, nhaco.
E mais no final da noite, Hatoum saiu para jantar. Antes que ele se fosse, passei lá para cumprimentar o escritor amazonense. Ele me deu um livro que vamos doar para a biblioteca de uma excelente escola pública belo-horizontina. Yes. Quando eu falei meu nome, ele me disse assim: "ah, eu sei quem você é, da coluna do Digestivo Cultural". Yes.
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Ana Elisa Ribeiro
17/5/2007 às 18h53
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Festival de cinema em Jampa
Acabo de voltar de João Pessoa já com saudades daquele clima de festival, bom para quem visita e melhor ainda para quem participa efetivamente nas oficinas. De 4 a 13 de maio, a capital paraibana recebeu o III Cineport - Festival de Cinema de Língua Portuguesa. A direção desse evento memorável ficou por conta de Mônica Botelho e a produção impecável, por Henrique Frade. Ambos, mais do que bons profissionais, revelaram-se excelentes anfitriões.
O III Cineport reuniu cineastas, cinéfilos, escritores e atores de diversas nacionalidades lusófonas. Vez por outra, o saguão do hotel parecia realizar uma volta no tempo ao reunir os 500 anos de história entre nossos colonizados e colonizadores. Portugueses, angolanos, caboverdeanos, moçambicanos, timorenses e, ora vejam, até brasileiros desfilavam por ali.
Eu estava presente como roteirista selecionada pelo laboratório de adaptação literária da Persona Filmes, dirigida pela cineasta mineira Elza Cataldo. A oficina que realizamos com o Newton Canitto, responsável pela famosa Cidade dos Homens, dentre outros trabalhos, foi muito intensa e proveitosa. Foram dez dias de reuniões constantes, aulas expositivas, exercícios com mapas de plots, escaletas, perfil de personagens, esboço de cenas e alertas sobre o uso de recursos narrativos, como a tão famigerada "quebra temporaaal!, quebra temporaaaaal!". A propósito, e conforme orientações do nosso digníssimo professor, esse recurso só deve despertar empolgação em "roteiristas de nível 1". Os de "nível 2" devem pensar melhor quando usá-lo e com que finalidade... É, isso também me parecia óbvio até então.
O trabalho foi intenso. Em dez dias de oficina, tivemos apenas duas manhãs livres. Houve dia em que emendamos mais de dez horas de reuniões e exercícios. O corpo ficava exausto, dava sono e a mente entrava num spinning difícil de ser contido. Mas esse trabalho é muito gratificante e vicia. Quando se percebe, já está num turbilhão de idéias do qual não se quer sair.
Além disso, é muito bom trabalhar de bermuda, de chinelo ou descalço, com um professor desbocado, alunos idem e ainda assim ver o trabalho render. Render bem mais do que um trabalho burocrático em empresas engravatadas, por sinal. O Umberto Eco mesmo já escreveu um pequeno ensaio sobre isso, mostrando como roupas apertadas e incômodas atrapalham o raciocínio. Segundo o autor, o jeans chega a ser um atentado à Filosofia. Quem quiser conferir, leia as crônicas da Viagem na irrealidade cotidiana, publicadas no Brasil pela Nova Fronteira.
A melhor parte dos festivais é essa troca constante de idéias e o fato de conhecer gente diferente, distante, mas com o mesmo interesse, a mesma paixão. E os cafés-da-manhã no hotel proporcionam o melhor ambiente para isso.
Tem gente que se esbalda em festivais de cinema com o desfile de atores globais. É impossível não notar a presença de astros que pavoneiam nessas ocasiões. Mas para quem está ali por paixão à cultura e engajado numa missão, a presença da Marília Gabriela, da Lúcia Veríssimo, do Selton Melo, do Paulo José, da Maria Ceiça, da Maria Zilda, do Matheus Natchergaele e de tantos outros, definitivamente, é o de menos. Desculpem-me, pessoal, não é nada pessoal. Mesmo porque, assim como não me conhecem, eu também não os conheço.
Quem nos interessava mais particularmente ali eram os escritores dos livros que nos foram destinados: Ana Paula Maia, Christiane Tassis, Agualusa, Ondjaki, Miguel Gullander e Francisco José Viegas.
Após o café, labuta. Pausa para o almoço. Labuta novamente. Terminávamos nossos dias de trabalho já à noite, quase na hora dos compromissos na Cidade do Cinema, um lugarzinho aconchegante e bastante charmoso em "Jampa". Tínhamos meia hora para tomar banho e transformarmos nossas formas decadentes em Mun Ra, o espírito eterno. Em seguida, íamos conferir as exibições dos longas e curtas nas tendas do festival.
Foi ali que me apaixonei pela lucidez de Estamira, revelada num documentário de Marcos Prado, e pelo sorriso do contorcionista angolano captado pelo diretor Zezé Gamboa. Gostei, também, das cenas de O ano em que meus pais saíram de férias, de Cao Hamburguer, mas não suportei o monólogo interminável e incompreensível de um filme português chamado Juventude em marcha. Minimalista? Não sei. Não consegui ficar para saber.
A coisa chata de festival é o último dia. Dá aquela sensação amarga de quarta-feira de cinzas, aquela baforada de realidade na nossa nuca e a gente vê que o cotidiano está no nosso encalço.
Fazer o quê? Hora de voltar e labutar novamente. Desta vez, sem as luzes da ribalta.
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Pilar Fazito
17/5/2007 às 13h39
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So many pieces of me
Quando estou enjoada minha mãe diz que não "estou", que eu sou enjoada. Meu irmão diz que eu viajo mais que Jacques Cousteau. Meu namorado me chama de "lóki". Uma de minhas best friends diz "gente louca é assim mesmo". Meu sobrinho de seis anos diz que eu tenho a franja ruim. Minha analista diz que eu sou border. Meu horóscopo diz que eu sou o máximo. A Fran diz que eu sou "coisinha". Minha cunhada diz que tenho poder de convencimento. Meu pai diz que eu sou linda! E eu concordo (com meu pai, claro)!
Mary Ju, em seu blog, que linca pra nós.
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Julio Daio Borges
17/5/2007 à 00h49
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