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Quarta-feira,
18/7/2007
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Redação
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Sobre Paraíso Tropical
"Quem não está vendo Paraíso Tropical? O título já é de uma originalidade marcante. Mas vejam o salto dado em termos de complexidade da trama. Normalmente, numa boa novela brasileira, dois homens, pai e filho, por exemplo, disputam uma mesma mulher. Na novela seguinte, dá-se uma reviravolta criativa: duas mulheres, mãe e filha, disputam o mesmo homem. Em Paraíso Tropical, num golpe genial de criatividade, a mesma mulher disputa os mesmos homens consiga mesma. Não é fantástico? A boa e a má, ambas igualmente gostosas, lutam pelo galã. Imaginem o que isso permite em termos de combinações. Antes, a mocinha só podia ser mostrada em cenas picantes com o seu par romântico. Isso era decepcionante, pois reduzia em muito as possibilidades que incendeiam a imaginação dos telespectadores. Agora, graças a essa sacada original, a mesma gostosa pode competir consigo mesma e cair nos braços do mocinho, do bandido, do jovem, do velho, do rico, do pobre, de tudo mundo. É uma grande festa combinatória."
Tia Cris, citando Tio Jurema, e lincando pra nós.
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Julio Daio Borges
18/7/2007 à 00h52
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Bate-papo com Rodrigo Capella
1. Rodrigo, por que poesia não vende?
Temos, atualmente, um ciclo vicioso. As editoras publicam poucos livros de poesia, quando essas obras chegam nas livrarias, elas ficam escondidas. O público não encontra e acaba não comprando. O ciclo volta para as editoras, que não publicam poesia. É uma vergonha, ninguém quer saber de publicar esse gênero, ninguém quer saber de reverter esse quadro. A poesia brasileira está na beira do abismo, mais um passo caímos dentro dele. A sociedade, o governo, os editores e as livrarias precisam se unir e reverter, rapidamente, esse quadro. Espero, algum dia, nem que seja daqui a 50, 80, 90 anos, escrever um livro chamado Poesia vende, sim!.
2. Você tem alguma solução para esse impasse?
Muitas e já estou colocando algumas em prática. Quando se propõe algo audacioso, não se pode esperar a ajuda de ninguém. A primeira solução é, sem dúvida alguma, a adoção do conceito de "letramento poético" nas escolas, ou seja, já nos primeiros meses de aprendizado as crianças têm contato com a poesia e, aos poucos, vão fazendo atividades a partir de um verso literário, tais como desenhos, pequenas frases e, mais tarde, no decorrer da adolescência, pequenas peças teatrais. Outra medida é promover uma "educação poética" nos lares brasileiros. As atuais gerações já estão perdidas. Temos que apostar nas futuras. Os adultos devem incentivar a leitura de poesia nos lares, através de leitura coletiva, de atividades diferenciadas. Uma terceira medida é uma reformulação da grade curricular. O professor chega pro aluno e diz: "Pessoal, semana que vem tem prova desse livro de poesia. Estudem!". Isso é chato pra caramba. Ninguém merece. O professor deve incentivar a leitura e não obrigar o aluno a ler um livro. O que vai fazer o aluno? Vai jogar videogame. Tá tudo errado!
3. Como é escrever sobre animais de estimação, depois quase um thriller e, por último, poesia?
Não existe apenas escritor de prosa ou de poesia, existe escritor. Agatha Christie e Machado de Assis também escreveram poesia. Escrever sobre meu cachorro é igual escrever sobre um assassinato em um navio: exige técnica, paciência e uma busca constante de novos elementos. E poesia? Poesia é sentimento, harmonia, alegria e um estado intelectual único. Por isso, ele dever ser mais valorizada. Meu cachorro Brutus me inspirou a criar o livro Como mimar seu cão, Agatha Christie me inspirou a criar Transroca, o navio proibido e um leitor, que acessa constantemente o meu blog, me sugeriu a criação de um livro poético. Sempre quis escrever poesia e acho que agora chegou a hora. O escritor precisa estar sintonizado com duas coisas: leitor e o gostar de escrever. O resto não tem a menor importância e deve ser esquecido.
4. Aliás, como está seu livro sobre atores e atrizes do cinema brasileiro (a sair pela Imprensa Oficial)?
Está na fase de finalização. Já terminaram a capa, fizeram a diagramação, já tem até "boneco", agora é esperar a hora do lançamento, que ocorre ainda este ano. Lançar pela I.O. vai ser, com certeza, uma boa experiência. Chega um momento de sua carreira no qual você precisa lançar por uma grande editora, isso faz parte, mas deve vir natural, como ocorreu com Rir ou chorar: o cinema de sentimentos. Esse livro vai narrar histórias curiosas do cinema brasileiro e revelar alguns segredos das várias funções que existem atrás dos bastidores do cinema. O livro é, na verdade, uma biografia do cineasta Ricardo Pinto e Silva, que dirigiu Sua Excelência, o Candidato e Querido Estranho. Foi ele quem forneceu as informações para a obra. Vamos trazer novidades, no formato e no conteúdo.
5. É difícil ser jovem escritor no nosso País? Por quê?
Não; acho até fácil demais. Não há mistério: é só escrever e enviar para alguma editora. Elas vão ler e decidir se bancam o projeto ou não. É necessário uma grande inspiração. São Paulo, por exemplo, não me inspira e nunca me inspirou. Então, o que eu faço? Viajo pelo Brasil em busca de elementos, personagens e situações diferentes. Viajo em busca de equilíbrio! Quando você encontra ele, tudo pode ocorrer, tudo fica mais fácil e a publicação do livro sai de maneira natural e irresistível. Publicar um livro é tão gostoso quanto ter um orgasmo! Eu adoro!
6. E como você concilia sua atividade literária com o jornalismo?
Eu, sinceramente, adoro escrever, não necessariamente no computador, mas muitas vezes em um pedaço de papel, enquanto ando pelas ruas. Sou um jornalista-escritor e o jornalismo me ajuda na escrita dos livros. Devo muita coisa ao jornalismo, inclusive a técnica que utilizo. Sem o jornalismo, eu seria um escritor medíocre! Não há conflitos em conciliar jornalismo e literatura, um depende do outro, um é amigo do outro. É uma situação natural e simples. Atualmente, eu escrevo para vários jornais, sites e revistas ao redor do Brasil, de Norte a Sul, e estou sempre escrevendo livros em perfeita harmonia. É um momento único, especial e irresistível.
7. Acha que a internet ajuda em todos esses projetos? Como?
Sem dúvida, muitos escritores têm sensibilizado editoras através de blogs e sites. Há muita gente boa na Internet. Mas, também, há muita porcaria. É preciso separar o bom do ruim e ler os melhores conteúdos. Visito diariamente muitos blogs e recomendo, principalmente, os de poesia, que são os melhores. Há muito sentimento, harmonia, criatividade e, principalmente, esperança de um Brasil melhor. Alguns escritores têm sites pessoais, nos quais disponibilizam informações. Isso é sensacional! Eu tenho um site, no qual eu publico informações sobre a minha carreira, livros, trabalhos e biografia. Ele recebe, aproximadamente, 3 mil visitas por mês, dos mais variados cantos do Brasil, e me ajuda a entrar em contato com os leitores, a ouvi-los e saber o que eles gostariam de ler no meu próximo livro. Isso é fantástico! Temos momentos de interatividade, de contato direto com o leitor, de encontro de novos poetas, de encontro de novos e bons poetas. A Internet oferece tudo isso!
8. Mudando de mídia, de novo: como está a adaptação de um dos seus livros para o cinema? (Você, como autor, também dá os seus pitacos)?
Transroca, o navio proibido está sendo adaptado para o cinema pelo diretor gaúcho Ricardo Zimmer. Ele está na fase de captação de recursos e já está selecionando alguns atores. Vai ter elenco de peso. O Ricardo já me mostrou uma parte do roteiro e eu estou adorando. Às vezes, conversamos sobre um aspecto ou outro, mas deixo o Ricardo decidir tudo. Afinal, é a visão dele da história, é ele quem vai dirigir, por isso o filme Transroca, o navio proibido deve ter os pensamentos e as idéias do Ricardo. Eu sou apenas um escritor, não sou roteirista, não sou diretor.
9. Como vê o futuro da literatura brasileira em geral?
Nossa literatura está melhorando. Bons escritores estão surgindo, bons temas estão sendo debatidos. Acredito que, em breve, vamos ter uma revolução poética impulsionada pelo livro Poesia não vende! Todo escritor tem uma missão, a minha é a de propagar a poesia pelo Brasil. Já tivemos um lançamento em São Paulo e outro em Florianópolis. Temos mais alguns agendados e, neste ano, vamos percorrer o Brasil levando "poesia, alegria e harmonia". É esse o meu destino: sou um escritor do povo, vou atrás do povo e fico em contato com o povo.
10. Algum conselho para quem está pensando em se lançar como escritor/autor (publicar etc.)?
Sugiro um exercício: procure um verso novo em um poema antigo. Aí está a essência do escritor, ele é um revolucionário, um ser que deve propor obras inovadoras, deve trazer harmônica. Sugiro também a leitura de, pelo menos, cinco livros a cada dez dias e também que o futuro escritor bata a cabeça na parede e faça o cérebro dançar. Todo escritor deve ser meio desmiolado (risos).
Para ir além
Site e Blog
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Julio Daio Borges
17/7/2007 às 12h43
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Primeiro post:uma apresentação
Ainda não estou bem certo sobre o que fazer em um blog. A princípio, o que me anima é a vontade de exercer certa consciência crítica sobre a atualidade, reunir neste espaço opiniões e impressões sobre o que vejo acontecer. Sem dúvida, para mim poderá ser um bom aprendizado. Espero que também seja útil ou agradável para os eventuais leitores.
Thiago S. França, em seu blog, que já começa lincando pra nós.
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Julio Daio Borges
17/7/2007 à 00h49
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Crônica: o novo jornalismo?
"Colunas, articulistas e crônicas não são muito importantes, um exotismo em um jornal, mas gosto de ler. O sério do jornal não considero sério, pois conheço seus bastidores. Hoje, me informo pela crônica", afirmou o jornalista Nirlando Beirão, autor da coluna Estilo da revista Carta Capital, em sua aula no curso de Criação Literária da Academia Internacional de Cinema de São Paulo.
Ele lembra que José de Alencar foi o primeiro grande cronista brasileiro e que Machado de Assis começou constrangido como critico de teatro para depois passar a ser o maior cronista, jornalista e escritor do país, com textos ricos em detalhes e grande faro de repórter. Um século depois viria o mestre Rubem Braga, que fala do pequeno com dimensão poética. Além disso, Nirlando cita Nelson Rodrigues e suas crônicas esportivas; Fernando Sabino e João do Rio, com seus retratos da vida carioca, além de Ignácio de Loyola Brandão.
Nirlando ainda rememora que o carnaval e o futebol se popularizaram na imprensa por meio de crônicas. "O Brasil tem tradição no gênero, que possui vitalidade aqui. Crônica, ao contrário do jornalismo, tem emoção". Porém, lembra que o gênero ainda é muito desprezado. "Marcelo Rubens Paiva é um exemplo. Sua crônica sobre o resgate do engenheiro Vasconcelos, em 2006, no Iraque, concluiu o que muitas matérias não fizeram e de forma impecável. Mas nem o editor deve ter lido".
E sentencia: "Não liguem para hierarquias. E blogueiro, não desista". O jornalista acredita que o que vai restar do jornal com o advento da Internet é a opinião, a coluna e a crônica. "Senão, será péssimo para todos nós, pois todas as outras mídias são fragmentadas". Ele aceita que o jornalismo literário ficou no passado, nas mãos de Gay Talese, Tom Wolfe e Hunter Thompson. "Mas é bem possível que haja um Tom Wolfe escrevendo um blog por aí".
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Marília Almeida
16/7/2007 às 16h43
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Fotos Flip 2007 Rafa Rodrigues
Dia 1: Carol, Kassin e Eu, depois do show da OI
Dia 2: Rafa, Marília, Eu e Carol, no dia do aniversário do Rafa
Dia 3: Rafa, Eu, Carol, Cacá e Edu, quando a luz acabou...
Dia 4: Eu, Rafa, Sérgio Rodrigues e Edu Carvalho: a melhor cobertura...
Fotos da máquina do Rafa Rodrigues, que inaugura novo blog.
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Julio Daio Borges
16/7/2007 às 09h31
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Na praia
Quando se beijaram, ela sentiu imediatamente a língua dele, retesada e robusta, avançar entre seus dentes, como um rufião abrindo caminho à força até um quarto. Entrando nela. A sua própria língua se dobrou e retraiu numa aversão automática, dando ainda mais espaço à de Edward. Ele sabia muito bem que ela não gostava desse tipo de beijo, e nunca fora tão impositivo. Com os lábios firmemente pregados nos dela, devassou-lhe o fundo carnudo da boca, e em seguida fez um movimento circular por trás dos dentes da arcada inferior até o vazio onde três anos antes um dente de siso crescera torto, para acabar removido sob anestesia geral. Era nessa cavidade que a língua dela normalmente se perdia, quando ela própria estava perdida em pensamentos. Por associação, tinha mais a ver com uma idéia do que com uma localização, era mais um lugar privado e imaginário do que um vão na gengiva, e a ela parecia estranho que outra língua também pudesse ter a permissão de chegar até lá. Era a ponta aguçada e dura desse músculo alienígena, vivo e palpitante, que a repugnava. A mão esquerda dele estava espalmada acima das omoplatas dela, logo abaixo do pescoço, alavancando a cabeça dela contra a dele. A claustrofobia e a falta de ar se igualavam quando ela decidiu que não suportaria ofendê-lo. Ora ele estava sob a língua dela, empurrando-a para cima, contra o céu da boca, ora sobre a língua, empurrando-a para baixo, e depois deslizando com suavidade pelos lados e em círculo, como se achasse que podia dar-lhe um nó simples. Queria enredar a língua dela em algum tipo de atividade própria, induzi-la a um abominável dueto mudo, mas ela só conseguia se encolher e se concentrar em não reagir, não ter engulhos e não entrar em pânico. Se vomitasse na boca dele - e esse era um pensamento desvairado -, o casamento estaria terminado num instante, e ela teria de voltar para casa e explicar aos pais. Entendia perfeitamente que esse negócio de línguas, essa penetração, era uma representação em escala menor, um ritual do que ainda estava por vir, como um tableau vivant, o prólogo de uma velha peça que anuncia tudo o que acontecerá em seguida.
Ian McEwan, no blog do Sérgio Rodrigues, que continua sem o NoMínimo (e que linca pra nós...).
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Julio Daio Borges
16/7/2007 à 00h11
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Macromedia Flashpaper
Você conhece o Macromedia Flashpaper? Achei esse programa simplesmente genial. Você pode embutir um livro inteiro em seu site ou blog. A barra de ferramentas permite que o texto seja ampliado até ocupar toda a tela do navegador, que ele seja impresso, permite buscas por palavras e assim por diante. Uma mão na roda.
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Yuri Vieira
14/7/2007 às 18h49
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E o Pan chegou
O Pan chegou. Junto com engarrafamentos, aumento de preço de tudo, e todo mundo orgulhoso da belíssima Rio de Janeiro. A abertura do Pan foi uma das melhores de todos os Pans, fugindo de lugares-comuns com uma cara bem carioca. O Lula foi vaiado durante o evento, apesar de 60% dos cariocas terem votado nele, a ponto dele ser substituído aos 45 do segundo tempo pelo Carlos Arthur Nuzman. Onde o Nuzman está metido, alguma coisa acontece. Um dos principais responsáveis pelo altíssimo nível do vôlei brasileiro atual. Só vi um dos locais de competição, o Riocentro, lindíssimo e moderno. Por que não temos este mesmo compromisso com todas as outras coisas no nosso país?
O comentarista da tevê ficou dizendo que tudo foi feito como resposta pela humilhação olímpica a que o país foi submetido, como se fosse uma grande humilhação ouvir um "não" (para o Brasil sediar uma olimpíada). Eu acho que, em parte, pode ser. Mas em parte valeu muito a força de vontade de algumas pessoas, para tornar o evento realidade na cidade: o prefeito, o Nuzman, e todos operários que participaram das obras, em tempo recorde. Agora é torcer por medalhas do Brasil (e estou torcendo muito pelo nosso atletismo e pela ginástica olímpica), apesar de uma pontinha de melancolia: se podemos fazer tudo isso por uma competição esportiva, por que nossa sociedade está no lodo?
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Ram Rajagopal
14/7/2007 às 07h59
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O significado da escrita
Não há escrita sem alarde. Ela é a terra do lavrador, um evento fatal. E um livro se remete para o outro, não apenas para si. Somos, enfim, responsáveis pelo que escrevemos. Com reflexões como essas, entrecortadas por frases e obras de diversos autores, Márcia Tiburi, filósofa graduada em filosofia e artes e mestre e doutora em filosofia pela UFRGS, além de autora de livros como Magnólia, discorreu sobre o significado da escrita para os alunos do Curso de Criação Literária da Academia Internacional de Cinema de São Paulo.
Citando Roland Barthes, Márcia acredita que literatura é uma instituição. Conforme A teoria do romance, de Georg Lukács, afirma que ela cria um degrau de espírito que nos afasta da barbárie, é o chão de onde toda a cultura se ergue e nos asfasta da violência. E interrogou, deixando a resposta para cada um: a Internet vai salvar o mundo, o livro acabou?
Márcia também discorreu sobre a figura do escritor. "Hoje o escritor é provocativo, abre janelas, desimbecializa. O leitor não é imbecil, mas um escritor pode transformá-lo em um. Ele escolhe, mesmo sem escolher, a escrita e tem sempre um ritual para o seu ofício, que pode ser tanto colocar um chapéu, fazer silêncio ou tomar um copo de vinho". E lembra: "O escritor primitivo é maravilhoso, mas conhecer a estrutura não faz mal a ninguém".
Para ela, uma escrita política se relaciona com a democracia, partilha do sensível produzido pela literatura e é essencial a um país.
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Marília Almeida
13/7/2007 às 16h35
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Como é viver nos EUA
Através do Digestivo Cultural, site com o qual colaborei em seus primórdios - e se não o faço mais é pela falta de tempo -, me chegou às mãos a oportunidade de resenhar o livro Como é viver nos Estados Unidos? (Gazeta, 2007, 111 págs.), da Aline Tonini. Faço parte da turma que recebe a newsletter, vejam que chique, do hoje cultuado (merecidamente) sítio. E mais ainda, volta e meia recebo e-mails pessoais endereçados a um seleto grupo pelo nosso editor Julio Daio Borges.
Conversava eu com um amigo sobre inconsciente coletivo, Jung, e outras teorias que explicam o fato de sistemas se desenvolverem simultaneamente em pontos diferentes do globo, o que está diretamente relacionado àqueles episódios em que você sonha com um amigo que não vê há muito tempo e no dia seguinte esbarra com o mesmo na rua. Fato é que este amigo está de partida para os states, vai morar lá com a namorada, que virou esposa, o que lhe garante o famoso green card: o bilhete premiado dos imigrantes em potencial.
Pois quando cheguei em casa, após o papo sobre inconsciente coletivo, com um grande amigo que está de viagem marcada para a terra de Tio Sam, que mensagem vejo piscando em meu endereço eletrônico com o remetente do Digestivo? Resposta: "Alguém quer resenhar o livro Como é viver nos EUA? ?". Creepy stuff! Como diria a autora, mais familiarizada com a língua inglesa após alguns meses vivendo na gelada Boston com seu companheiro. Parecia um aviso, né? Me senti na obrigação de encarar a missão.
Entrei em contato com a simpática autora e menos de uma semana depois o livro estava em minhas mãos. Posso dizer que pouco conhecia da autora a não ser pelos breves e-mails que trocamos combinando a remessa de sua obra. Mas sou daqueles que acreditam que a forma como alguém redige um curto e-mail pode dizer muito sobre sua pessoa. Seja pela formalidade, pelo português correto, pelas abreviações de internauta-teen ("v6 naum konhecem???") ou até pela saudação de despedida ("Saudações", "Atenciosamente", "Abs", "Bjs"). E acredito piamente, embora minha teoria ainda não seja cientificamente comprovada, que a forma de escrever de e-mails da Aline tem muito a ver com o produto final de seu livro.
Como é viver nos Estados Unidos? é o que o próprio título diz. Direto e sem floreios. Quase que um guia prático direcionado àqueles interessados em arriscar a vida no país do Bush. E o texto de Aline lembra muito seus e-mails. Mais do que isso, passam a sensação de que estamos acompanhando a viagem e as descobertas da autora.
Sabe aquela prima que viaja para um intercâmbio e semanalmente manda aquelas missivas narrando suas aventuras e percalços aos familiares? Pois lendo o livro você se sente primo da Aline. Mesmo em um livro estruturado e concebido para servir como uma espécie de Manual Didático a autora deixa transcrever uma certa leveza que percebi na redação de seus e-mails.
Diferente de um Crônicas de um país bem grande, onde Bill Bryson narra o reencontro com sua terra natal, os EUA, na forma de análises divertidas e críticas sociais espirituosas, o livro de Aline Tonini tem um tom mais educativo do que jornalístico.
A autora abrange toda e qualquer situação que um imigrante brasileiro nos Estados Unidos possa se deparar de uma forma cuidadosamente clara e explicativa, propositalmente básica. Das leis de trânsito ao supermercado. Da suprema corte (tomara que os leitores interessados não precisem fazer uso dessas informações) a como retirar neve da entrada da garagem. Nada escapa ao olhar observador de Aline e tudo é transformado em ensinamento e explicado ao leitor de uma forma simpática. Como aquela professora gente boa que tivemos no ginásio.
Feito com muito cuidado, o livro raramente deixa entrever um posicionamento crítico ou opiniões pessoais e passionais em questões mais profundas. Mesmo assim, não deixa de ter um toque pessoal quando Aline exemplifica a teoria com experiências próprias vividas por ela e seu noivo em sua jornada de imigração. Com estes ingredientes, a leitura é fácil e gostosa.
Apesar de ter um público bastante específico, o livro agrada quem tiver uma mínima curiosidade sobre a vida de uma imensa parcela de nossos conterrâneos. E, sendo um tratado completo sobre a vida do brasileiro na "América", pode fazer de Aline uma referência entre a comunidade brazuca lá fora.
Mérito dela, que fez um Manual com leveza ou, se preferir, transformou uma história pessoal em guia de muita utilidade. Uma combinação difícil, mas que a autora leva com tranqüilidade, como quem redige um e-mail para um primo distante.
Para ir além
Brasileiros nos EUA
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André Pires
13/7/2007 às 13h45
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