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Segunda-feira,
23/7/2007
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Redação
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Combates culinários
"A melhor refeição do mundo, a perfeita,
raramente é sofisticada ou cara."
Anthony Bourdain
Não possuo conhecimento de gastronomia, mas tenho apreço pelos sabores. Não ligo se uma comida tem gordura trans, açúcar em excesso ou asseio duvidoso no preparo se for saborosa. É por isso que não me conformo com certas invenções da indústria alimentícia, ou mesmo de culturas locais, que desvirtuam os objetivos de um bom alimento. Quantas pessoas saudáveis você não vê renunciando ao melhor para comer algo com gosto de palha só porque "é bom para a saúde"? Eu não vou me privar de manteiga, leite integral, azeite de dendê, carne vermelha e açúcar refinado enquanto ainda não for suicídio ingeri-los. Digo mais: se me for dado um ultimato do tipo moqueca de verdade com a morte ou moqueca sem dendê, sou bem capaz de optar pela primeira opção. Só vou pedir para caprichar no leite de coco. Nada contra quem queira "viver mais", mas eu me sinto obrigado a fornecer informação contrária à corrente. Não custa abrir os olhos de quem nunca provou certos sabores.
Margarina x Manteiga - "Creme vegetal aromatizado". A saborosa manteiga, feita do leite da vaca, foi substituída por uma gordura de soja, aromatizada por alguma essência à base de planta ou algum bichinho inimaginável. A margarina nunca tem o sal da manteiga, é sempre insossa. As "sem gordura trans" e "sem sal" então, Deus!, como alguém pode pôr aquilo no pão? É preferível comer pão molhado na água do que com margarina sem sal e gordura. Se tiram o sal e a gordura, o que resta, ora!? Pelo menos água é mais barata. Além do mais, toda semana tem uma pesquisa que desmente que margarina é melhor para a saúde. Na outra semana mentem de novo. Na dúvida, opte pelo sabor.
"Moqueca" capixaba x Moqueca baiana - Reza a lenda que três baianos viajavam para o Rio de Janeiro quando resolveram parar no meio do caminho para comer. Como estavam à beira-mar, pescaram uns peixes e cozinharam com os ingredientes que acharam naquele pedaço de terra. Não dava para fazer uma moqueca, já que não havia leite de coco nem azeite de dendê por perto. Os nativos comeram da comida oferecida pelos passantes e ficaram encantados. O cozinheiro do trio de baianos disse: "Isso que vocês não comeram uma moqueca!". Pois os nativos rezaram uma missa para os baianos, crendo que eles eram o Pai, o Filho e, o que tinha cozinhado, o Espírito Santo. Estava fundado um novo Estado brasileiro. Contudo, os capixabas de então entenderam errado, achando que o prato era uma moqueca de verdade, e assim chamam a iguaria até hoje.
Vegetarianismo x Onivorismo - Acho muito louvável que algumas pessoas queiram uma vida saudável e/ou sejam contra a matança de animais. Mas do ponto de vista do paladar, o vegetarianismo é uma afronta à diversidade de sabores. Imagine não comer churrasco, hambúrguer, torresmo, cachorro quente, moqueca, bacalhoada, galinha ao molho pardo. Para os vegetarianos, ovovegetarianos e similares, adianto que
muitos produtos que julgamos livres de animais mortos têm ossos, tendões e peles de animais (balas e gelatinas), colágeno de peixes ou caracóis (cerveja), besouros triturados (corante usado em alimentos "sabor" morango e uva), gordura de porco (biscoitos) entre outros, como relata uma reportagem da Folha (para assinantes). Se vou comer animais de qualquer jeito, que eu coma os mais saborosos!
"Canjica" paulista x Mugunzá - Na Bahia chamamos de mugunzá um milho branco cozido em leite de vaca, leite de côco, açúcar, cravo e canela (uma pitada de sal vai bem). O resultado é um creme grosso, saboroso, para o café da manhã, a merenda da tarde ou mesmo para substituir o jantar. Aqui vejo esse mesmo milho branco cozido (me contaram que às vezes em água!), misturado a amendoim torrado (!!) e jogado num leite ralo e às vezes com leite condensado. Fraco e exageradamente doce desse jeito, só poderia mesmo ser servido como uma (medíocre) sobremesa. Deram o nome de canjica - o que na Bahia é o nome de outro prato de milho também muito mais gostoso. Quando for até lá (principalmente nessa época de festas juninas), peça mugunzá e canjica e note a diferença.
Poderia citar ainda outros combates em que um lado ganharia de lavada, como "leite" desnatado (água branca) versus leite integral ou peixe fresco versus peixe congelado. (Eu pensava que em São Paulo só se comia peixe no litoral. Fiquei chocado quando vi aquele monte de gelo sob animais de guelras marrons, em contraste com a Tarifa, em Porto Seguro, onde perguntamos diretamente ao pescador se o peixe está fresco e ele mostra as guelras vermelhas como sangue para provar que sim. Paciência, pior é ficar sem peixe.) Deixo a dica para que experimente também um bom requeijão, com a gordura escorrendo pelos buraquinhos e com aquela textura meio esfarinhada e o gosto salgado, meio defumado, difícil de explicar. É covardia comparar com a mussarela de supermercado. A vida é curta para todos e lembre-se, como diz um chef que não hesita em provar de tudo, que seu corpo não é um templo. Profane-o sempre que puder.
* * *
P.S. I - A lenda da criação do Estado do Espírito Santo e da moqueca capixaba foi totalmente inventada por mim. Os capixabas que não me levem a mal, foi só uma brincadeira bairrista. Nunca comi a moqueca deles e estou pronto para prová-la o quanto antes. Mas continuarei dizendo, por pura iplicância, que, se não tem dendê, não é moqueca.
P.S. II - Encontrei, na comunidade do Anthony Bourdain no Orkut, uma matéria de 2003, da Veja São Paulo, que relata uma degustação que o chef fez pela capital paulista de comidas populares como pastel de bacalhau, bauru e empada, e da qual tirei a epígrafe desse texto.
Nota do Editor
André Julião mantém o blog Um baiano em Campinas.
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André Julião
23/7/2007 às 11h58
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Maniqueísmo
Dois anos, duas Flips (com a minha participação) e muita decepção, para não falar tristeza, com parte da platéia desta feliz e sempre surpreendente festa literária.
Poxa vida, observei, tanto em 2006 quanto em 2007, o respeitável público vaiar autores pelo seu posicionamento político ou econômico. Isto é muito feio!
Uma das "tomatadas" aconteceu na mesa composta por Robert Fisk e Lawrence Wright, quando o primeiro ofendeu o segundo, ao asseverar que a questão postulada era idiota e, ainda, cutucou: "só podia vir de um americano".
Ato contínuo, a platéia apoiou Fisk e o resultado: vaias para Wright.
Assim foi que, imediatamente, me lembrei da mesa composta por Christopher Hitchens e Fernando Gabeira, na Flip de 2006, onde o mesmo aconteceu. Gabeira, como Fisk, achou que estava em um duelo. Conseqüência: tentou humilhar Hitchens. Pior, o respeitável público chancelou! Resultado: "ovos" em Hitchens.
Repito, nada pode ser mais feio do que ver pessoas esclarecidas, a maioria, acredito eu, jornalistas ou representantes da filosofia humanista, apoiarem tudo o que é contra os EUA, o maior vilão da história.
Por exemplo, Fisk, o adorador de carnificina (quem estava lá reparou na carga dramática que ele imprimiu na leitura de seu livro onde descreveu cenas horríveis de guerra), infantilizou a questão de Wright, demonstrando não só imaturidade frente à questões propostas, bem como deixou escapar com seu "pseudo-brilhantismo" o verdadeiro cerne da questão: discutir a cultura anti-americana e os motivos de uma guerra invisível.
Odiar todos os americanos não é meio maniqueísta? Por acaso todos os americanos assinaram uma "declaração" de quererem destruir o mundo, em especial o Brasil?
Será que não há uma pontada de ciúmes against EUA? Sei lá, pode ser sonho meu, mas será que não gostaríamos de ser os EUA?
Pois bem, a mim parece que o respeitável público repete a postura da juventude dos anos 60, esperneando chavões sem a menor contextualização fática, como a que o FMI é o único culpado pela crise brasileira (e não os nossos próprios governantes e o povo, por que não?) e que todo americano é burro e egoísta!
Vamos cair na real?
Desta forma, restam duas reflexões ao respeitável público, a primeira nas palavras de Sören Kierkegaard, "a inveja é admiração sem esperança" ou vaiar ratificando pensamentos tão antigos e retrógrados são a escusa intelectual de hoje em dia?
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Daniel Bushatsky
20/7/2007 às 18h40
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O fim de Harry Potter
Eu me pergunto do que os "potterofrênicos" gostam mais, do livro ou do filme.(...) Eu li os livros de J.K. Rowling ao longo dos anos e não acho nada genial, é uma narrativa de fórmulas fixas e bem linear.(...) O filme oscila entre a banalidade e os achados visuais. A partir de 21 de julho, a magia do mistério vai se desfazer e aí vamos ver o que acontecerá com os filmes. A heptalogia de J.K. Rowling vai virar um clássico, como Senhor dos Anéis, de J.R.R. Tolkien? Quem, em sã consciência adulta, consegue ler Tolkien sem rir? Os leitores vão crescer e olhar para trás, provavelmente achando graça do tempo em que eram maníacos por Potter.
Luís Antônio Giron, em seu blog Menta Aberta, que eu acabo de conhecer.
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Julio Daio Borges
20/7/2007 às 14h40
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Os Jornais Acabam? III
Creio que ler jornal é uma cultura, não creio que acabe. O sistema de jornalismo impresso passa por uma crise, e precisa adequar-se. Diante da internet, os jornais parece que estão vivendo a impotência do conhecimento. Um jornal pode ser mais opinativo, muito mais de pesquisa e ter o seu lugar no contexto da imprensa escrita. Basta ousar.
Manoel Messias Pereira
São Jose do Rio Preto/SP
A notícia tem um padrão nos jornais impressos que a mídia eletrônica não alcança. O imediatismo e o discurso restrito das matérias corroem a beleza do texto, enxugam a informação e descaracterizam a notícia de fato.
Cybele Regina Fiorotti
Santo André/SP
Assim como o rádio e a televisão coexistem, o jornal impresso e o eletrônico vão conviver durante muito tempo ainda. Um não exclui o outro. São complementares. O jornal impresso, assim como o conhecemos, tem cheiro, tem textura, é fácil de ser transportado e, ainda, pode servir para enrolar ovos, para embrulhar objetos em uma mudança, para proteger o chão, quando se pintam as paredes e, em uma emergência, para salvar os desafortunados com problemas gastro-intestinais, na falta do papel convencional. Já o jornal eletrônico é mais impessoal. Você abre o site de determinado jornal, procura o assunto que lhe interessa, lê e fecha a página. Se quiser, pode enviar um artigo aos amigos que, geralmente, não o lêem, pois já escolheram o seu, ou então, salvá-lo em algum arquivo, que provavelmente não será aberto nunca. Porém, com a internet cada vez mais ágil e desenvolvida, o jornal eletrônico se torna um instrumento vital para aqueles que vivem em escritórios ou que não desgrudam nunca de seu laptop. O leitor também pode acessar jornais diversos, em pouco tempo, conferir as notícias e fazer a sua avaliação, por meio de fontes diferentes, o que é quase impraticável, da outra forma. Agora, o que faz um jornal sobreviver e outro desaparecer é como qualquer produto do mundo capitalista. Depende de estratégia, de marketing, do público alvo, e muito menos da qualidade, como deveria ser. Nesse caso, ambos, o impresso e o eletrônico, estão na mesma maré. E salve-se quem puder e navegue quem souber.
Adriana Godoy
Belo Horizonte/MG
Sim, se permanecerem do jeito que se apresentam atualmente: com textos frios, sem diferencial autoral e regados por uma ética cínica, aquela que usa de termos como "imparcialidade" para atuar de forma dirigida a vários interesses, entre eles o estético. No final, vemos textos padronizados e uma mesmice substituível por portais de internet, que são mais atualizados. A solução seria inovar no texto, tornando-o mais palatável e mais sensual ao leitor. Hoje, o que sustenta as assinaturas e vendas são os famosos fascículos e coleções de parafernálias; não o jornalismo em si.
Frederico Dollo Linardi
São Paulo/SP
Não, não acredito. De uma forma ou de outra o jornal irá sobreviver, assim como o teatro, o rádio, o próprio circo que agoniza, mas não morre. O jornal encontrará o seu próprio meio de sobrevivência.
José Gilberto Duarte
Itatiaia/RJ
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Julio Daio Borges
20/7/2007 às 14h10
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Não queimem os jornais, ainda
Talvez por conta de um problema na vista, que cansa depois de algum tempo lendo no computador, talvez por pão-durismo, ao não querer ver a conta da energia nas alturas, ou talvez simplesmente pelo fetiche por papel, tendo a ficar com um pé atrás em relação às "novas mídias".
Mas vou defender a mídia tradicional criticando-a. Primeiro, aquele que já é um lugar comum: ou os jornais se reinventam ou morrem. Estão morrendo, mas ainda dá tempo de se reinventarem. Torço por sua vida eterna, mesmo não gostando de lê-los. E não gosto porque não trazem o tipo de texto que me interessa, as análises e as reportagens de fôlego. Por isso, prefiro as revistas.
Comovo-me ao ver quem acha que os sites e blogs, com milhares de textos disponíveis gratuitamente para leitura, farão com que os veículos tradicionais saiam do mapa. Comovo-me porque um pouco de utopia não faz mal a ninguém. Na pior das hipóteses, os jornais sairão do mapa, mas dinossauros como este escriba continuarão a fazer e a comprar revistas, nem que tenhamos de formar uma seita, secreta, se necessário.
Do lado dos jornais, essa pior hipótese se confirmará caso teimem em continuar sendo calhamaços de notícias e poços de mediocridade e hipocrisia, ao se anunciarem como imparciais. Se um dia desses eu fundar um jornal, o lema será "parcial e independente". Porque é primordial ter um lado, dizer que o tem, e, ao mesmo tempo, não estar vinculado diretamente a grupos políticos ou financeiros, vinculado a ponto de não poder discordar de seu partido, senão vai à bancarrota.
Uma das razões pelas quais mais e mais pessoas estão deixando os jornais de lado e passando para a internet é que, nesta, elas já encontram, com muito maior rapidez, as hard news, em quantidades infinitas. E encontram, também, opinião não travestida de informação, principalmente em blogs.
Como mencionei, é igualmente vital à mídia em papel lançar mão de e aprofundar aquele que ainda é seu diferencial - a grande reportagem, de preferência grande nos dois sentidos. E grandes reportagens, até onde se sabe, ainda só se consegue fazer com dinheiro, por mínimo que seja. Eu prefiro pagar para ter acesso a uma revista ou a um jornal com matérias esclarecedoras sobre meu país e o mundo feitas por repórteres que sabem escrever, do que abrir mão disso em nome de milhares de textos gratuitos na internet, sem profundidade alguma e lamentavelmente mal escritos.
Vamos aos Estados Unidos, país com o maior número de gente conectada à grande rede. Quantos sites, lá, substituem a leitura de uma The Nation, uma New York Review of Books, mesmo de um NY Times ou Washington Post? Aqui no Brasil, quantos sites têm textos melhores que uma Caros Amigos, uma Entre Livros, piauí ou Carta Capital? São todos veículos que, acredito eu, terão vida longa.
A mídia virtual veio, veio forte, e trouxe benefícios, um deles, o poder de dizer aos donos e editores de jornal "ou vocês criam um serviço diferenciado, ou nós vamos roubar todo o seu público, porque quem tem dinheiro para consumir jornal regularmente, tem computador em casa, e não vai pagar pelo que pode ter de graça". Se, por autismo, aqueles que fazem mídia tradicional não escutam o recado, é outro problema; se escutam e mesmo assim resolvem não fazer nada, é suicídio, e com suicidas não se deve argumentar. E, obviamente, simplesmente torcer para eles não terem sucesso numa provável tentativa de mudança de rumo, em nome de um luddismo às avessas, é ato infantil.
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Daniel Lopes
20/7/2007 às 10h53
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Benditos Malditos
Em sua aula para os alunos do curso de criação literária da Academia Internacional de Cinema, o escritor e mestre em letras pela USP Nelson de Oliveira, reconhecido por ter organizado as antologias Geração 90: manuscritos de computador e Geração 90: os transgressores, publicadas pela editora Boitempo, apontou seis autores que possuem uma obra provocante. "Não recomendo levá-los para o campo", alerta. E complementa: "Esses autores sofisticados precisam de manual. É necessário conhecer sua vida e opinião antes de lê-los".
A lista é composta por dois portugueses: Herberto Helder e Alberto Pimenta. Seus outros quatro autores são brasileiros: Campos de Carvalho, Hilda Hilst, Roberto Piva e Maura Lopes Cançado. "Todos são egocêntricos e refinados, possuem inteligência literária e filosófica e nunca vão ser best-sellers. Alguns não são editados por causa de herdeiros, outros encontramos somente em sebos".
Nelson apresenta Alberto Pimenta como o poeta mais irreverente de Portugal. "Ele constrói pequenos enigmas, que não são sucesso em parte alguma". Já Herberto "tenta unir o cotidiano e promove um choque de linguagem coloquial". Sobre Roberto Piva, afirma ser um iconoclasta por excelência. "Ele se aproxima do elemento onírico e flerta com o erotismo através de uma escrita aleatória". E acredita que Campos de Carvalho é vanguardista; "O coloco como o terceiro maior prosador da segunda metade do século 20, após Clarice e Guimarães".
Com relação às vozes femininas, declara que Maura relata de forma crua seus surtos esquizofrênicos em um livro de memórias, Hospício é Deus. "Para mim, tem o mesmo valor que Clarice, pois é confessional e contemporânea". Por fim, fala da prosa onírica de Hilda, que "trata da vida e da morte com escatologia e é desbravadora, inventiva e contundente".
Nelson concluiu com seu ponto de vista sobre o ato de escrever. "Escrever prosa ou poesia é redentor, um momento transcedente que se duplica quando há leitura. A literatura não promete respostas e a criação é honesta até quando mente".
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Marília Almeida
20/7/2007 à 00h44
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A Origem das Espécies
Arnaldo Branco, agora também na Bizz (porque o Mau Humor é contemporâneo do Digestivo...).
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Julio Daio Borges
20/7/2007 à 00h34
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Contos cinematográficos
O maior conteúdo, dentro do menor quadro. Contos Indianos (Hedra, 2006, 112 págs.), do poeta francês Stéphane Mallarmé, traduzido por Dorothée de Bruchard e relançado em edição caprichada, de bolso, pela Editora Hedra, traz de volta uma prosa completa de ilustrações de um oriente místico e fundamental.
São quatro contos rescritos e adaptados - não apenas traduzidos - a partir da coletânea de histórias Contes et légendes de l'Indie ancienne, de 1878, organizada por Mary Summer, a partir de textos antigos e tradicionais da Índia. "O retrato encantado", "A falsa velha", "O morto vivo" e "Nala e Damayanti" revelam a moda oriental que varreu o século XIX e influenciou, dentre outros, Oscar Wilde e sua poesia dramática, e Arthur Schopenhauer, com sua arte como fuga da vontade e supremacia da inteligência. Os detalhes explodem como fogos de artifício em cada parágrafo: "Upahara distingue numa poeira de estrelas, prestes a revesti-la com deslumbrantes sandálias, a nudez de um passo." (trecho de "O retrato encantado").
Adverte-se aos curiosos que, em tempos de cinema espalhafatoso e melodramático, esta pequena obra de Mallarmé pode representar um contraponto à eleição do roteiro de cinema como gênero literário, pelo menos no contexto do mexicano Guillermo Arriaga, roteirista de Babel, que afirma entregar os roteiros ainda sem o final, já que sua escrita pode tomar diversos rumos durante a criação. Não para Mallarmé, autor desta pequena grande obra em que a linguagem prevalece sobre o destino (por ser rescrito?), ao contrário de Arriaga, em que a vontade prevalece sobre a forma (ou sobre a inteligência?). Vale conferir.
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Vicente Escudero
19/7/2007 às 16h20
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Destaques do Anima Mundi
Quem viu, gostou. Quem perdeu, só poderá ver em 2008. O 15º Anima Mundi terminou no último fim de semana, em São Paulo, com destaque acalorado para os russos.
Alexandr Petrov, vencedor do Oscar do melhor curta de animação em 2000, por O velho e o mar (adaptação do clássico de Ernest Hemingway), levou a premiação pelo melhor filme eleito pelo júri profissional em 2007: Moya Lybov (Meu amor).
Absolutamente artesanal, o curta vencedor foi produzido em pedaços de vidro pintados a óleo e fotografados quadro a quadro. Petrov mergulhou os próprios dedos na tinta, imprimindo ao trabalho uma atmosfera impressionista, plenamente viva. Tarefa que consumiu três anos do artista.
Moya Lybov contraria todo o aparato digital disponível para a animação moderna, desde a padronização de traços e cores até a inserção de novos formatos, como o 3D. Embora o roteiro do curta fosse denso e bem amarrado, não foi o escolhido pelo júri popular, que preferiu outro russo como o melhor do Anima 2007: Lavatory love story, de Konstantin Bronzit.
O trabalho de Bronzit, outro mestre da animação, traz um roteiro mais espirituoso, característica que a platéia popular ainda privilegia, sem contar a originalidade e a expressividade visual. A própria linguagem da animação favorece esse clima humorístico ao grande público, deixando as impressões mais acuradas com os jurados profissionais.
E como já se previa, Até o sol raiá, curta brasileiro de Fernando Jorge e Leanndro Amorim, mostrou que a animação nacional está alcançando níveis superiores de maturidade e sofisticação - tanto na trama quanto no visual. Não por menos, o trabalho dos pernambucanos venceu dois prêmios: melhor curta brasileiro e melhor primeira obra.
Tantos outros agradaram mas não levaram, tamanha a diversidade de boas produções selecionadas nesta última edição. O festival cresce a cada ano e estimula os incentivos para a animação nacional. Não dá para perder.
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Tais Laporta
19/7/2007 às 15h38
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Os Jornais Acabam? II
Quanto mais tecnologia se tem, mais se fica vulnerável. Assim são os jornais eletrônicos, a mídia televisiva. Creio que por mais que se avance nas formas de apresentação, o jornal de papel, manuseado, riscado e cortado para se prender na agenda é quem resistirá. Além do mais, como fazer com as palavras cruzadas no Metrô ou mesmo nos banheiros?
Marly Spacachieri
Taboão da Serra/São Paulo
O Jornal é um meio e não um fim. A informação está atingindo o seu público por outros meios, mais baratos, menos prejudiciais ao meio-ambiente, mais rápidos e mais difusos. Não concordo com a alta credibilidade do jornal impresso. Podem derrubar presidentes, mas também podem elegê-los. Nem sempre defendem os interesses da população e a dispersão de todo este poder por outros meios, outras mentes e outros pontos de vista, é muito salutar para a democracia e para a montagem deste quadro tão nebuloso chamado de realidade-verdade. Prefiro que a maioria aprenda a duvidar do que lê, do que crer em tudo que tal jornal publicou, como se fosse sempre a única e inquestionável verdade. O jornal impresso não acabará, tornar-se-á apenas um meio menos influente, como o rádio, o cinema e a própria literatura. Pois todos estes meios e outros, como TV e internet, estarão lutando pelo mesmo público consumidor.
Everton Lodetti de Oliveira
Tagutinga/DF
Enquanto houver leitores, informação e análise crítica, existirão jornais, existirá a imprensa, não importa a mídia. É urgente que abandonemos este "romantismo" de "gostar de ler" jornais apenas impressos em papel e, por conseguinte, o mesmo ocorrerá com os livros. Papel é caro. A tinta, mais ainda. Assim como o CD sepultou o LP, o DVD sepultou a fita VHS, o jornal e o livro digital em breve farão parte de nossos eletrodomésticos. Já se consegue colocar imagens em 3D em lâminas flexíveis digitais, de modo que o ludismo de "pegar no jornal" será também possível, mesmo não sendo de papel. As operadoras de TV a cabo já comercializam telefonia. As operadoras de telecomunicações querem transmitir TV. Pela internet, as notícias são atualizadas dinamicamente. E, no dia seguinte, o jornal (de papel) de ontem continuará embrulhando peixe. Não tem volta. A minha geração (1963) pode até estranhar, mas a geração da minha filha (1992) não vê maiores problemas, até porque ela quer fazer Jornalismo e eu, que sou engenheiro, dou a maior força para ela seguir esta maravilhosa profissão de jornalista. Se queremos sobreviver profissionalmente, a regra não é apenas atender sua clientela atual... O segredo é antecipar o que sua clientela demandará nos próximos 10, 20 anos e, além disto, sua clientela consumidora será outra. A pergunta é: que leitor é esse? Que jornal é esse? Acredito que ambos estarão cada vez mais longe do papel.
AL-Chaer
Goiânia/GO
Avaliando no sentido das facilidades da internet em termos da enorme quantidade de informações disponíveis, e da velocidade de atualização deste veículo, penso que os jornais impressos podem realmente desaparecer, dando lugar a novos formatos, pois considerando o fator concentração de informações no mesmo espaço editorial, ou no mesmo site, aliado a entretenimento, a inovação, a responsabilidade, credibilidade, respeito, que constituem a qualidade e a possibilidade de influência de qualquer órgão ou profissional, acredito que os jornais continuarão existindo. A busca indiscriminada da internet, sem a garantia de qualidade, nos faz perder muito tempo, há a necessidade de retorno aos espaços considerados confiáveis, assim este órgão informativo pode permanecer, exigindo a formação de bons jornalistas, não apenas detentores de conhecimento, de criatividade, mas também de ética, responsabilidade social, por serem formadores de opinião e exercerem uma atividade de interesse público. Então a vida dos jornais está garantida, isso se estes conseguirem fazer com que os jovens se interessem mais pelo que ocorre aos seus semelhantes, em suas comunidades, em seus países, no mundo, largando um pouco os jogos e as conversas on-line que tanto lhes interessam.
Isabel Cristina Sampaio
Recife/PE
A geração "digit@l" está chegando a maturidade, crianças que cresceram familiarizadas com o mouse ensinam hoje aos pais como montar uma rede doméstica. São mais de 12 anos de existência da internet, quem desenvolve (programadores) são jovens, e as análises de mercado e projeções de impacto sócio-demográfico vêm de pessoas que não cresceram com esta realidade. Por isso tantas informações infundadas, perspectivas de "achômetro" e queda de vendas de mídias consagradas. A verdade é que não deve existir competição entre a internet e qualquer outro tipo de veículo, uma vez que o material on-line deve ser complementar e não essencial. Muitas vezes as notas são curtas, com erros gramaticais e fontes duvidosas. Os jornais não podem acabar, os grátis (Metro, Metronews e Destak) estão provando que a credibilidade do papel é inquestionável. Com o tempo todos perceberemos que assim como a luz não substituiu o fogo (em funções distintas), os bits não substituirão a celulose.
Hamilton Ricardo Frausto
São Paulo/SP
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Julio Daio Borges
19/7/2007 às 13h53
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