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Terça-feira,
21/8/2007
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Redação
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De Freud para Einstein
(...) Eu sempre soube que você me admirava mais por uma questão de cortesia e que acreditava muito pouco em minhas teorias, embora freqüentemente eu me perguntasse o que, na verdade, havia nelas para serem "admiradas", se não fossem elas uma expressão da verdade, isto é, se não contivessem uma larga medida de verdade...
(...) Não acha que eu teria sido mais bem tratado se as minhas teorias contivessem mais erros e mais extravagâncias? Você é tão jovem que eu posso esperar tê-lo entre meus "seguidores", quando você atingir a minha idade... Já que não poderei me certificar pessoalmente, antecipo, agora, o prazer dessa possibilidade.
Freud respondendo a uma carta de um tal de Einstein, no Panorama, que linca pra nós.
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Julio Daio Borges
21/8/2007 à 00h18
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FHC na Piauí
Quando deixei a presidência, fiquei assustado e me perguntei: como vou sobreviver?
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Ruth, a essa altura do campeonato, eu não preciso de glórias. Preciso é de dinheiro!
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[Sobre encontros com políticos brasileiros...] Aquela convivência é muito desinteressante. Chega.
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Ah! Se é para falar de mim mesmo, então é fácil. É uma das coisas que mais gosto de fazer.
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O Brasil não tem guerras, não tem inimigos. É uma beleza ser chanceler.
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Hoje, só o mercado produz coesão. Mas o mercado é bom para produzir lucros, não valores.
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Sou cartesiano com um pouco de candomblé. Porque, no Brasil, sendo só cartesiano não se vai longe.
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Eu do lado da Elizabeth, a manta por cima da gente. Pensei: "Ai, meu Deus, agora é que a minha perna encosta na da rainha".
FHC, em declarações no perfil feito por João Moreira Salles, na última Piauí (em que estou, com o Digestivo, graças ao Edu Carvalho...)
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Julio Daio Borges
20/8/2007 às 19h20
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Armação Ilimitada em DVD
Em todas as bocas, como diria Tim Maia (via Marmota, que linca pra nós...)
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Julio Daio Borges
20/8/2007 à 00h06
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Bate-papo com Lucas Murtinho
"Eu sou escritor como alguém que tem uma planta em casa é jardineiro. De vez em quando escrevo começos de coisas - contos, romances - e os abandono logo depois. Não faz muito tempo, essa minha mania de não terminar o que eu começava a escrever me deixava angustiado. Hoje relaxei, graças a um livro chamado On the Survival of Rats in the Slush Pile, de Michael Allen. O que ele diz é simples: mais do que talento, ter sucesso como escritor é questão de sorte. Não aposte suas fichas nesse jogo, nem se sinta fracassado se você não for um dos raros ganhadores. Escreva porque você gosta e não pela fama ou dinheiro que você acha que a literatura pode trazer. Era esse o meu erro, eu escrevia já pensando no discurso para a entrega do Nobel. Hoje, estou satisfeito em participar da cadeia literária como leitor e, em breve, crítico ou editor."
1. Você esperava todo esse sucesso da Copa de Literatura Brasileira?
Na verdade, espero mais. É legal ter gerado algum barulho com o anúncio da Copa e contar com o apoio das editoras, que nos mandaram exemplares dos livros concorrentes. Mas esse "pré-sucesso" precisa se confirmar quando a Copa for a público. Espero que os leitores compareçam, que as resenhas sejam comentadas, que os livros sejam discutidos...
2. Qual é a idéia por trás da Copa de Literatura Brasileira? (Explique o processo, dos grupos e cabeças-de-chave até a grande final...)
A CLB é inspirada no Tournament of Books, criado pela revista eletrônica americana Morning News em parceria com a livraria Powell's. Trata-se de um prêmio literário construído nos moldes de torneios esportivos, como as finais da Copa do Mundo ou da NBA: dezesseis livros se enfrentam em quinze "partidas", cada uma envolvendo dois livros: um é eliminado da competição, o outro avança para a próxima fase. Assim, a primeira fase tem dezesseis livros, a segunda oito e a terceira quatro. Na quarta fase - a grande final - todos os jurados votam e escolhem o campeão da Copa.
Esse é o processo. A idéia por trás dele é criar um prêmio literário transparente, em que o público saberá por que cada livro é eliminado ou segue na disputa. Os jurados têm muito poder, mas também, como aprendemos com o Homem-Aranha, a responsabilidade de justificar suas escolhas. E o público poderá discutir essas justificativas e dizer se concorda ou não com as decisões dos jurados.
Espero que uma conseqüência desse prêmio que não se leva muito a sério seja um questionamento dos prêmios que se levam a sério demais. Será que um grupo de oito ou dez pessoas, por mais cultas e bem preparadas que elas sejam, é capaz de decidir qual foi o melhor livro do ano? Será que é possível dizer, de forma objetiva e incontestável, que um livro é o "melhor" de um determinado período? Vendo como a Copa pode ser injusta e imprevisível, talvez as pessoas reflitam sobre a injustiça e a imprevisibilidade dos prêmios literários em geral. (Não custa, aliás, lembrar que o criador do Booker Prize disse uma vez que as pessoas gostam tanto daquele prêmio justamente por ele ser tão injusto.)
Mas essa é a justificação filosófica da Copa, que no fundo é apenas uma desculpa para ler e falar de livros.
3. Como você compôs o juri? De onde veio cada pessoa?
A primeira pessoa com quem falei sobre a Copa foi o Rafael Rodrigues, aliás, editor-assistente do Digestivo. Ele gostou da idéia, o que me deixou surpreso - então não é só uma maluquice da minha cabeça? - e me fez escrever a outras pessoas, como o Paulo Polzonoff e o Leandro Oliveira. Você mesmo, Julio, foi um dos primeiros a quem falei sobre a Copa. E fiquei mais e mais animado ao ver que mesmo quem recusava o convite para participar parecia gostar da idéia, ia além da recusa gentil e me dava boas sugestões. Ou seja, a cada resposta eu me sentia menos maluco. Hoje já estou me achando quase normal. Eu sempre pedia para as pessoas indicarem novos jurados, e de indicação em indicação cheguei aos quinze da Copa.
4. Você não pensa em realizar uma Copa onde haja, além da presenca da crítica, também a escolha da audiência?
Penso sim, e mais uma vez é no Tournament of Books que quero me inspirar. No ToB existe uma repescagem chamada "Zombie Round": os dois livros eliminados mais votados pelo público antes do começo do torneio recebem uma segunda chance e, como "zumbis", voltam do mundo dos mortos para disputar uma vaga na final. É uma forma divertida de incluir a audiência no processo do prêmio sem diminuir o poder - e a responsabilidade - dos jurados. Se a Copa der certo, pretendo criar uma "Rodada Zumbi" na sua próxima edição.
5. Que livros você esperava que já fossem entrar na seleção e que livros te surpreenderam na apuração dos resultados?
Entre as barbadas eu destacaria Mãos de cavalo, de Daniel Galera; O adiantado da hora, de Carlos Heitor Cony; Os vendilhões do templo, de Moacyr Scliar; e As sementes de Flowerville, de Sérgio Rodrigues. Entre as surpresas, Música perdida, de Luiz Antonio de Assis Brasil, e Corpo estranho, de Adriana Lunardi - livros dos quais, daqui da França, eu mal tinha ouvido falar. Mas fiquei ainda mais surpreso com dois livros que não entraram na lista final: A décima segunda noite, de Luis Fernando Verissimo, e Mastigando humanos, de Santiago Nazarian. Vai ver os jurados não gostam de animais.
Uma palavra, aliás, sobre o sistema de escolha dos livros concorrentes: fizemos uma pré-seleção com trinta e dois títulos e cada jurado votou nos dezesseis que na sua opinião deveriam participar do torneio. Dos quinze jurados, doze votaram, e o resultado me deixou satisfeito: uma lista que inclui a maior parte dos livros "que não poderiam faltar" ao mesmo tempo em que abre espaço para novidades e surpresas.
6. Acha que a literatura está ganhando mais espaço no Brasil, desde a Flip até os blogs?
Por um lado, sim. A Flip é uma ótima sacada - goste-se ou não do festival em si, é um prazer ver que durante quatro dias por ano a literatura se torna o centro das atenções no Brasil. E a Internet permite que quem gosta de ler e escrever discuta, civilizadamente ou não, com muitas outras pessoas que se interessam pelo mesmo assunto. São dois modestos avanços.
Por outro lado, o avanço importante é aumentar o número de leitores. E bibliotecas no metrô ou livros de bolso, embora iniciativas importantes e merecedoras de reconhecimento, não podem fazer tudo. O que falta no Brasil é educação. Mais gente educada quer dizer mais gente que lê, e quanto mais gente lê mais variadas são as leituras, o que leva a mais diversidade literária - e é da diversidade que surge a excelência. Precisamos de público, o resto é paliativo.
Algum tempo atrás, acho que durante a polêmica do projeto Amores Expressos, o "Prosa & Verso" dedicou uma edição às políticas públicas brasileiras de ajuda a autores e editores. Uma das matérias falava das políticas que existem aqui na França, e que são numerosas: ajuda-se o autor, o editor, o tradutor, as livrarias. Mas a grande diferença entre a França e o Brasil é que na França o ensino público elementar é de qualidade, e uma porcentagem muito maior de franceses do que de brasileiros vai à faculdade. É nisso que precisamos recuperar o atraso em relação aos países desenvolvidos, não em bolsas para escritores.
7. Você tambem é escritor? Tem um livro guardado na gaveta? O que pensa da crise do suporte papel?
Eu sou escritor como alguém que tem uma planta em casa é jardineiro. De vez em quando escrevo começos de coisas - contos, romances - e os abandono logo depois. Não faz muito tempo, essa minha mania de não terminar o que eu começava a escrever me deixava angustiado. Hoje relaxei, graças a um livro chamado On the Survival of Rats in the Slush Pile, de Michael Allen. É um livro curto que está disponível para download gratuito no site do autor. O que ele diz é simples: mais do que talento, ter sucesso como escritor é questão de sorte. Não aposte suas fichas nesse jogo, nem se sinta fracassado se você não for um dos raros ganhadores. Escreva porque você gosta e não pela fama ou dinheiro que você acha que a literatura pode trazer. Era esse o meu erro, eu escrevia já pensando no discurso para a entrega do Nobel. Hoje, estou satisfeito em participar da cadeia literária como leitor e, em breve, crítico ou editor.
A crise do suporte papel lembra aquela história, que não sei se é lenda urbana ou não, de que em chinês crise se escreve com dois caracteres, um representado o perigo e o outro a oportunidade. Acho que por enquanto leitores e escritores pensam em termos que funcionam melhor no papel: não se lê um romance na Internet, e ainda queremos ler e escrever romances. Mas talvez contos ganhem mais importância nesses tempos em que não temos tempo, ou surja um novo tipo de narrativa literária, impossível até agora mas perfeitamente adaptada à Internet. Falando assim, fica parecendo que eu concordo com o pessoal que de vez em quando resolve anunciar o fim do romance. Acho essa possibilidade distante mas curiosa, e não necessariamente ruim.
Para os editores, as mudanças podem ser pelo menos tão profundas e acontecer bem mais rápido. Torço muito pela impressão sob demanda e pela máquina do Jason Epstein, a Espresso Books, que fabrica um livro num punhado de minutos a partir de um arquivo de texto. Parece que ainda é meio caro e não funciona muito bem, mas quando essa tecnologia estiver mais avançada cada livraria de bairro poderá ter um catálogo tão grande quanto o da Amazon, e cada editor poderá se concentrar na procura de autores e no marketing dos livros sem se preocupar com distribuição, estoque, atrasos, retornos. Para quem quer trabalhar com edição, como eu, são possibilidades animadoras.
8. O que você faz aí na França, aliás? Com toda essa efervescência, não ficou com vontade de vir para o Brasil e montar um editora?
Acabei de terminar um mestrado em Edição na Sciences Po Paris, uma faculdade bem conceituada por aqui mas nada conhecida no Brasil, onde todo mundo ficava decepcionado porque eu não estava indo para a Sorbonne. Agora, estou procurando emprego e estagiando no departamento de educação da Hachette, na área financeira - antes de vir pra cá, estudei economia na PUC.
Durante o mestrado fiz outros dois estágios - na França, edição é um negócio movido a estagiários - que me ajudaram a entender melhor a realidade escondida e um pouco insana do setor editorial. Meu primeiro estágio foi no departamento de manuscritos não solicitados da Flammarion: cinco mil manuscritos são mandados para a editora a cada ano, e eu era um dos três estagiários responsáveis por fazer a primeira triagem. Na maior parte dos casos, bastava ler duas páginas para ver que o livro era impublicável. Hoje em dia, quando leio algum aspirante a autor reclamando de como é difícil ser publicado, concordo e completo mentalmente: ainda bem.
Sobre voltar ao Brasil, é uma possibilidade, embora talvez seja um pouco cedo para pensar em abrir uma editora. Mas por enquanto minha mulher e eu estamos tentando ficar por aqui mais um tempo. Depende, claro, da França querer que a gente fique...
9. Dos autores da internet de hoje, em quem você apostaria, em livro, para o futuro?
Eu gostei do Mulher de um homem só, do Alex Castro. É estranho que ele ainda não tenha sido publicado por uma editora. Talvez achem que quem já leu o livro de graça não vai comprar um exemplar de papel, mas acho que estão comendo mosca.
Mas o Alex já escreveu e publicou, ainda que a si próprio, então não pode ser uma aposta para o futuro. Sobre os outros, acho difícil dizer qualquer coisa, por causa da minha própria experiência: posso escrever um post de vez em quando, mas seria incapaz de escrever um romance ou um livro de contos. É preciso um fôlego, uma paciência e uma memória que eu não tenho, e acho que pouca gente tem. Mais: o que faz um bom blogueiro não faz um bom ficcionista, o texto que me atrai num blog não é o que eu gostaria de ler num romance. Como quase todo mundo que lê blogs no Brasil, adoro o que o Alexandre Soares Silva escreve, mas espero que o estilo dos romances que ele escreveu seja outro.
Tudo isso para dizer que não sei. Aguardo e observo, mas não me arrisco.
10. Se alguém quiser participar da Copa, ainda dá? Como?
A Copa deve começar em breve, e como todo bom site dessa era de Web 2.0 teremos um espaço para comentários. Para a Copa dar certo, é importante que esse espaço seja animado. Então, quem ainda quiser participar pode ler as resenhas - devemos começar a publicá-las no fim do mês - e, mais importante, discuti-las. Falar da Copa para amigos, em blogs e sites e comunidades virtuais, também ajuda muito.
Também estamos em busca de patrocinadores ou parceiros para a Copa. Quem tiver alguma sugestão nesse sentido, quem quiser participar da segunda edição da Copa ou ajudar a organizá-la, quem tiver alguma idéia que pareça bacana, quem quiser simplesmente dar um alô: [email protected].
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Copa de Literatura Brasileira
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Julio Daio Borges
17/8/2007 às 16h17
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Estadão contra blogs reloaded
"Se fosse feita uma campanha contra a Aids, onde todos os protagonistas fossem gays, não seria um ataque?"
Dr. Love, comentando a entrevista que Alessandro Martins fez com o diretor de criação da Talent.
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Julio Daio Borges
17/8/2007 às 11h02
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Techbits faz um ano
Faz mais de um ano que o Techbits começou. No final de Julho de 2006 resolvi que iria criar um blog sobre tecnologia. Até então a maioria dos blogs que lia eram estrangeiros. Engadget, Techcrunch, Palm Addicts... Acompanhava alguns brasileiros também. Garota Sem Fio, Revolução Etc, Bruno Torres... E adorava falar sobre tecnologia com todos que encontrava. O problema era exatamente esse. Pouca gente se interessava pelo meu papo tecnológico... Então criei o blog para extravasar as minhas idéias.
Alexandre Fugita, no Techbits, que linca pra nós.
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Julio Daio Borges
17/8/2007 à 00h51
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Letra de música é poesia?
Uma viagem pelo tempo e espaço dentro do universo das poéticas letras de música. Se fosse para resumir em uma frase a aula que o letrista e jornalista Carlos Rennó deu no curso de MPB do Espaço da Revista Cult, na última terça-feira, seria essa. A viagem durou quase duas horas e, apesar de não termos saído da sala de aula localizada próxima à estação Vergueiro do metrô, fomos longe. De Orestes Barbosa a Prince, analisando rimas, estrofes, influências musicais e comentando as curiosidades, Rennó mostrou exemplos diversos da chamada "poesia cantada", ultrapassando os limites da MPB.
"Para mim, é muito claro que letra de música é uma modalidade de poesia, é poesia cantada", dispara o letrista logo no início da noite. E explica: "É poesia porque é palavra em forma poética e se dá num espaço de melodia, assim como a poesia literária se dá num espaço em branco da página". Poético, não? A grande "mágica" que faz uma letra ser considerada poesia na verdade não depende só de seus versos, mas da combinação de letra e música. "Quando palavras e sons se aderem, algo mais incide sob a música, fazendo com que ela ganhe uma força poética maior e mais intensa que o mesmo verso ou a mesma frase melódica separados."
O primeiro letrista-poeta que Rennó considera importante é Orestes Barbosa, que produziu grande parte de sua obra nas décadas de 20 e 30. Além de escrever poemas literários, fazia muitas parcerias com Sílvio Caldas, entre elas, uma canção muito famosa, "Chão de estrelas". "Ele foi uma espécie de pré-Vinicius (de Moraes) por se dedicar à música e à poesia" comenta. Um dos trechos mais bonitos e poéticos de sua famosa canção foi destacado na aula:
A porta do barraco era sem trinco
Mas a lua, furando nosso zinco
Salpicava de estrelas nosso chão
Tu pisava nos astros distraída
Sem saber que a ventura desta vida
É a cabrocha, o luar e o violão
Esta música contém um exemplo de construção de imagem característico de um poema. Há uma associação entre o céu estrelado e o sal, a luz da lua no chão, formando o chão de estrelas, que dá nome à música. Uma das histórias curiosas que Rennó nos confidenciou foi a de que o nome da música era "Pomba rola que voou", por conta de um outro trecho da canção. Por sugestão do poeta Guilherme de Almeida, ele mudou (e salvou a canção de um título não muito romântico).
Enquanto falava de Barbosa, Rennó se confundiu e acabou soltando o nome de Prince no meio da conversa. Se justificou dizendo que Prince também tem letras que fazem associações de imagens e metáforas, como "Chão de Estrelas", mas em outro universo. "When 2 R in love" seria uma delas. "Os artistas podem ser de origens completamente diferentes, mas há um plano em que eles conversam", filosofa.
Além do casamento entre letra e melodia, questão também detalhadamente explicada na primeira aula do curso por Luiz Tatit, Rennó ressalta a importância do intérprete em uma canção e destaca Dorival Caymmi como um dos mais exemplares. E ainda elegeu a música "Coqueiro de Itapuã" do baiano como uma das mais poéticas de toda a história da MPB. "Não há nada melhor do que Caymmi cantando Caymmi, aquilo se instaura, no ambiente em que está se ouvindo a canção, não é simples como pode parecer."
Apesar de enfatizar várias vezes a grandeza do trabalho de Vinicius de Moraes, classificando-o como um dos maiores poetas do Brasil, Rennó discorreu mais sobre a obra poética de Caetano Veloso e Chico Buarque do que do parceiro de Tom Jobim. Uma das análises mais profundas foi feita com a letra de "Sampa", da qual o jornalista diz não entender o porquê de sua popularidade, pois se tornou quase um hino da cidade. "Não faz sentido, pois ela apresenta elementos típicos de poesia erudita, não de poesia de canção feita por um cancionista que quer que sua canção se torne popular. Caetano não facilitou."
Nem sempre se pode explicar as razões de uma música se tornar popular, mas em contrapartida ele acredita que nós brasileiros temos mais canções intelectualizadas do que os americanos, que são os reis da música popular no mundo. "Mais até do que nós, porque eles inventaram um negócio chamado jazz". E é esse ritmo uma das grandes paixões do letrista, que produziu em 2000 o CD Cole Porter e George Gershwin - Canções, Versões. Além das versões, Rennó também é parceiro de vários músicos importantes como Gilberto Gil, Peninha, Tom Zé, Chico César e Lenine. E quando é ele o compositor, o que vem primeiro: a letra-poema ou a melodia? "Eu prefiro fazer letra sobre música, fica mais poético. Mas tem muito parceiro que me pede a letra primeiro, só que aí, por conta da influência literária, acabo escrevendo demais", conta, rindo.
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Curso de MPB do Espaço da Revista Cult
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Débora Costa e Silva
16/8/2007 às 18h05
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Os movimentos da alma
Tive um professor de filosofia que odiava a arte moderna. Segundo ele, o "mudernismo" atacava a essência da arte, que era a cópia e o controle. Controle? Sim, o controle. O controle das multidões. Segundo ele, com a devida verossimilhança, proporcionada pela qualidade da "cópia", uma obra de arte poderia garantir o prestígio ou a difamação de reis, levantar exércitos, acalentar os povos nos tempos de paz ou até nos fazer amar. Ouvindo ele, parecia que a arte era quase uma panacea.
Não sei se concordo, afinal não dava pra confiar muito num cara que chorava toda vez que falava de Agamenon, mas uma coisa que eu gostava era quando ele explicava o que a dança copia. "A dança" ele dizia "copia os movimentos da alma". Ontem fui botar a sua teoria a prova no Theatro Municipal, checando se o Grupo Corpo estava "copiando bem os" tais "movimentos da alma".
São dois espetáculos em um. O primeiro, Sete ou oito peças para um ballet, é bem conceitual. Marcado pela música minimalista de Philip Glass, o Corpo trabalha em cima de pequenas rotinas e repetições quebradas por distorções no movimento que se tornam novas rotinas e seguem ad infinitum. Meu professor odiaria. Eu adorei. Na segunda parte, tivemos Breu. A música agora era de Lenine, o que proporcionou um espetáculo grandioso. A peça requisita toda a habilidade dos bailarinos, porém joga às favas a coesão conceitual. Nesse caso, eu concordaria com o meu professor, a "mudernice" prejudicou o resultado. Talvez seja só implicância minha com o Lenine, que, durante um tempo, bem ruim, da minha vida, me atazanou com seu hit "Hoje eu quero sair sóóóóóóóó...", mas achei que a sua salada musical foi demais para o meu "mudernômetro".
Lembrando, a temporada só vai até 18 de agosto, por isso corra. Não é sempre que a gente pode ver uns movimentos da alma tão bem executados. Quanto a música do Lenine, faça como eu: releve. Ah, só não esqueça de deixar ele sair. Como? Você já sabe: só.
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Grupo Corpo
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Lisandro Gaertner
16/8/2007 às 11h59
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Candidato Aloprado
Não, não é o churrasqueiro do Lula. Pelo nome que o filme recebeu no Brasil, pode-se imaginar tudo, menos que seja bom. Candidato Aloprado (Man of the Year, 2006) aparenta ser mais um grande besteirol digno de "Sessão da Tarde" e a figura de Robin Williams como protagonista ajuda ainda mais a reforçar essas impressões. Ao final do filme percebe-se que o erro está na forma como o filme foi vendido e divulgado no Brasil. Não se trata de uma comédia pastelão e sim de um drama-comédia em uma pesada crítica ao sistema político norte-americano.
Embora não primoroso, o filme agrada no resultado final. O diretor Barry Levinson - que já havia experimentado a crítica política em Mera Coincidência (Wag the Dog, 1997) - desta vez conta a história de Tom Dobbs, um comediante que, devido à sua alta popularidade, se lança como candidato alternativo à presidência dos EUA e vence por obra do acaso. Com avalanches de piadas despejadas em ritmo frenético, a escolha de Robin Williams para o papel principal mostrou-se correta e as atuações de Laura Linney e Christopher Walken (sempre um excelente coadjuvante) ajudam muito. O problema está no roteiro que, embora ágil, possui furos. O mais grave deles é - paradoxalmente - imprescindível para que o filme "aconteça": um estúpido bug no software que faz a contagem dos votos acaba dando a vitória a Dobbs.
Porém, se você não estiver muito exigente, conseguirá passar pelos deslizes do roteiro (também assinado por Levinson) e apreciar a crítica cáustica que o diretor faz ao cenário político. E se engana quem acha que só a política americana se encaixa no contexto do filme. O alvo é o processo eleitoral como um todo: os altos gastos nas campanhas, a hipocrisia dos candidatos, as ligações com lobistas e o jogo de interesses de empresas privadas no jogo político. Nisso, percebe-se que os vícios políticos são universais e o diretor traz à tona todas as mazelas que estamos cansados de saber, mas que insistimos em ignorar. Quem quiser transportar este cenário para um Brasil mais atual sem recorrer a metáforas, basta olhar para Renan Calheiros, com todos os seus lobistas e laranjas. O filme encerra com um emblemático punchline: "Políticos são como fraldas. De tempos em tempos precisamos trocá-las, sempre pelo mesmo motivo".
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Diogo Salles
16/8/2007 às 11h09
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Não, não gosto de Harry Potter
Tentei ler um dos livros de Harry Potter logo quando saiu e ainda não havia toda essa falação. Mas não fui muito longe. Depois, quando todo mundo já estava me dizendo que eu deveria ler, tentei de novo e não avancei. Não achei muito bem escrito. As pessoas me diziam, "mas é escrito para crianças, não para você". Quando, na verdade, eu conheço literatura infantil, conheço e adoro livros para crianças bem escritos, como os livros de Mary Poppins, que não menosprezam seu público e trazem um senso real de magia. Então, não, não gosto dos livros de Harry Potter e, como alguém para quem a magia faz parte de sua vida diária, não acho que aqueles livros façam bem à magia. O que eles realmente fazem é reforçar a velha crença de que a magia só pode ser encontrada em livros tolos para crianças, que não tem realidade ou existência no mundo real nem uma aplicação prática para a vida humana de uma pessoa normal. Também acho um pouco lamentável que ela [a escritora de Harry Potter, J.K. Rowling] tenha ressuscitado a escola pública britânica em boa parte da narrativa. Tenho, sim, muito respeito por seu sucesso, por sua fantástica história de vida: mãe solteira, escreve um romance e de repente se torna uma milionária. Boa sorte para ela. Eu apenas gostaria que os livros fossem melhores. E que se fosse falar de um assunto que tocasse meu coração, como magia, que se esforçasse um pouco mais. E que não tivesse trazido de volta essa instituição utrapassada e politicamente dúbia que é a escola pública de elite. Então não posso dizer que sou um fã de Harry Potter.
Alan Moore, em entrevista ao G1.
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Julio Daio Borges
16/8/2007 à 00h42
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