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Quinta-feira,
23/8/2007
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Redação
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O que é crítica, afinal?
Quem não gosta de opinar e de criticar alguém ou alguma coisa? Quantas foram as críticas que já não lemos e discordamos, quantos artistas já não reclamaram dos críticos e quanta polêmica as críticas já não produziram? No entanto, esses textos, que causam tanta discórdia e despertam paixões, que mexem com os ânimos de artistas e que circulam por aí, em revistas, jornais, sites, entre outros veículos de comunicação, nem sempre podem ser considerados, a rigor, críticas. O jornalista Arthur Nestrovski acredita que cerca de 90% desses mesmos textos são simplesmente "de opinião", muito diferente do que a verdadeira crítica deveria ser. Articulista da Folha de S. Paulo desde 1992, autor de Notas musicais - Do Barroco ao Jazz (2000) e organizador de Música Popular Brasileira hoje (2002), Nestrovski discorreu sobre o assunto na última terça-feira no curso de MPB promovido pelo Espaço da Revista Cult.
"Essa classificação de estrelinhas e bonequinhos, que vemos por aí, não pode ser considerada crítica, é apenas o que eu chamo de 'bate-papo da esquina glorificado'. É mais uma avaliação de mercado do que, efetivamente, um texto crítico", bombardeia logo de início. O chamado "texto de opinião", a que o jornalista se refere, pertence a outro tipo de gênero, mais semelhante talvez a uma crônica, pois nele não há fundamentos que, por exemplo, provem que determinado CD é bom ou ruim. É apenas uma opinião, reflexo de um gosto pessoal, que não contextualiza a obra e nem compreende plenamente o trabalho do autor.
A etimologia de "crítica" vem da palavra grega krimein, que significa "quebrar" e também influenciou na formação da palavra "crise". "A idéia da crítica é 'quebrar' uma obra em pedaços para se pôr 'em crise' a idéia que antes se fazia daquele objeto, através de uma análise", explica Nestrovski. Para tanto, é necessário entender as partes do objeto que será analisado para justamente descrevê-lo. A partir daí, o crítico faz sua própria interpretação de acordo com o contexto em que se encaixa o artista e sua obra.
O articulista frisou, durante a aula, uma idéia básica: crítica não tem a ver necessariamente com gosto. "Tem de compreender e esclarecer o que o artista quis fazer. O critico não é, digamos, o professor do artista", explica, referindo-se a críticos que põem no texto um certo toque de prepotência e arrogância. Seria preciso pesquisar o artista antes, conhecer suas influências e entendê-las, analisando o resultado - a obra - dentro das possibilidades de seu autor. Para Nestrovski, mesmo tendo o crítico uma boa bagagem, ele nunca pode se basear, apenas, em seu conhecimento, ao analisar e, principalmente, julgar uma obra - afinal não foi com as mesmas referências que, por exemplo, o artista trabalhou.
Contudo, para adquirir, digamos, "repertório", são necessários anos de estrada ou, ao menos, um bom tempo de pesquisa antes de realizar a crítica. E aí entram as dificuldades que os jornalistas de cultura hoje enfrentam: os limites de tempo e de espaço no jornal. Segundo o jornalista, o texto que vem sendo produzido por jornais e revistas é cada vez mais objetivo e cada vez menos articulado. "Nas pesquisas sobre o fim do jornal impresso, o que os leitores mais falam é que esperavam textos mais reflexivos, interpretativos etc. - mas ninguém atualmente parece ter coragem de mudar", assinala.
Além das limitações do dia-a-dia de uma redação, Arthur Nestrovski alerta para outro grave problema, que é a própria pauta. "Hoje só reportam, criticam e opinam sobre um determinado grupo, que, em termos numéricos, vai de encontro ao mercado. Para falar de um show, tem que ter mais de 50 mil pessoas na platéia, mas existem outras coisas mais interessantes acontecendo por aí", avalia. A perspectiva que o articulista tem deste cenário não é muito animadora: "A diminuição do espaço dedicado à critica verdadeira implica num rebaixamento da própria arte. Quanto menor espaço para as críticas, menor o espaço proporcionalmente se concede às obras de arte."
Para ir além
Espaço da Revista Cult
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Débora Costa e Silva
23/8/2007 às 18h30
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Frases de Chamfort
"Todas as paixões são exageradas, e são paixões apenas porque exageram."
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"A palavra mais acertada que já foi dita sobre celibato e matrimônio é esta: qualquer partido que escolhas tu te arrependerás."
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"Neste mundo, existem três espécies de amigos: aqueles que nos amam, aqueles que não se preocupam conosco, e os que nos odeiam."
Sébastien Roch Nicolas, ou Nicolas de Chamfort, na Wiki e em livro.
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Julio Daio Borges
23/8/2007 à 00h57
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Estadão tomando porrada
Parece mesmo inacreditável que nas bordas do século 21, a bordo do extraordinário avanço da tecnologia e do pensamento, alguém possa criar (e aprovar!) uma idéia dessas que tem a proposta de desconstruir um formato contemporâneo em suposto benefício de outro francamente na véspera de sair de cena.
Julio Hungria, no próprio Estadão (via Pedro Doria, que, claro, linca pra nós...)
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Julio Daio Borges
22/8/2007 às 10h20
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Alguém ainda acredita em Deus?
"Se este livro funcionar do modo como espero, os leitores religiosos que o abrirem serão ateus quando o terminarem."
Richard Dawkins, sobre Deus, um delírio (porque Nietzsche já havia matado, mas os fundamentalistas ressuscitaram, então...)
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Julio Daio Borges
22/8/2007 à 00h38
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De Freud para Einstein
(...) Eu sempre soube que você me admirava mais por uma questão de cortesia e que acreditava muito pouco em minhas teorias, embora freqüentemente eu me perguntasse o que, na verdade, havia nelas para serem "admiradas", se não fossem elas uma expressão da verdade, isto é, se não contivessem uma larga medida de verdade...
(...) Não acha que eu teria sido mais bem tratado se as minhas teorias contivessem mais erros e mais extravagâncias? Você é tão jovem que eu posso esperar tê-lo entre meus "seguidores", quando você atingir a minha idade... Já que não poderei me certificar pessoalmente, antecipo, agora, o prazer dessa possibilidade.
Freud respondendo a uma carta de um tal de Einstein, no Panorama, que linca pra nós.
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Julio Daio Borges
21/8/2007 à 00h18
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FHC na Piauí
Quando deixei a presidência, fiquei assustado e me perguntei: como vou sobreviver?
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Ruth, a essa altura do campeonato, eu não preciso de glórias. Preciso é de dinheiro!
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[Sobre encontros com políticos brasileiros...] Aquela convivência é muito desinteressante. Chega.
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Ah! Se é para falar de mim mesmo, então é fácil. É uma das coisas que mais gosto de fazer.
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O Brasil não tem guerras, não tem inimigos. É uma beleza ser chanceler.
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Hoje, só o mercado produz coesão. Mas o mercado é bom para produzir lucros, não valores.
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Sou cartesiano com um pouco de candomblé. Porque, no Brasil, sendo só cartesiano não se vai longe.
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Eu do lado da Elizabeth, a manta por cima da gente. Pensei: "Ai, meu Deus, agora é que a minha perna encosta na da rainha".
FHC, em declarações no perfil feito por João Moreira Salles, na última Piauí (em que estou, com o Digestivo, graças ao Edu Carvalho...)
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Julio Daio Borges
20/8/2007 às 19h20
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Armação Ilimitada em DVD
Em todas as bocas, como diria Tim Maia (via Marmota, que linca pra nós...)
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Julio Daio Borges
20/8/2007 à 00h06
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Bate-papo com Lucas Murtinho
"Eu sou escritor como alguém que tem uma planta em casa é jardineiro. De vez em quando escrevo começos de coisas - contos, romances - e os abandono logo depois. Não faz muito tempo, essa minha mania de não terminar o que eu começava a escrever me deixava angustiado. Hoje relaxei, graças a um livro chamado On the Survival of Rats in the Slush Pile, de Michael Allen. O que ele diz é simples: mais do que talento, ter sucesso como escritor é questão de sorte. Não aposte suas fichas nesse jogo, nem se sinta fracassado se você não for um dos raros ganhadores. Escreva porque você gosta e não pela fama ou dinheiro que você acha que a literatura pode trazer. Era esse o meu erro, eu escrevia já pensando no discurso para a entrega do Nobel. Hoje, estou satisfeito em participar da cadeia literária como leitor e, em breve, crítico ou editor."
1. Você esperava todo esse sucesso da Copa de Literatura Brasileira?
Na verdade, espero mais. É legal ter gerado algum barulho com o anúncio da Copa e contar com o apoio das editoras, que nos mandaram exemplares dos livros concorrentes. Mas esse "pré-sucesso" precisa se confirmar quando a Copa for a público. Espero que os leitores compareçam, que as resenhas sejam comentadas, que os livros sejam discutidos...
2. Qual é a idéia por trás da Copa de Literatura Brasileira? (Explique o processo, dos grupos e cabeças-de-chave até a grande final...)
A CLB é inspirada no Tournament of Books, criado pela revista eletrônica americana Morning News em parceria com a livraria Powell's. Trata-se de um prêmio literário construído nos moldes de torneios esportivos, como as finais da Copa do Mundo ou da NBA: dezesseis livros se enfrentam em quinze "partidas", cada uma envolvendo dois livros: um é eliminado da competição, o outro avança para a próxima fase. Assim, a primeira fase tem dezesseis livros, a segunda oito e a terceira quatro. Na quarta fase - a grande final - todos os jurados votam e escolhem o campeão da Copa.
Esse é o processo. A idéia por trás dele é criar um prêmio literário transparente, em que o público saberá por que cada livro é eliminado ou segue na disputa. Os jurados têm muito poder, mas também, como aprendemos com o Homem-Aranha, a responsabilidade de justificar suas escolhas. E o público poderá discutir essas justificativas e dizer se concorda ou não com as decisões dos jurados.
Espero que uma conseqüência desse prêmio que não se leva muito a sério seja um questionamento dos prêmios que se levam a sério demais. Será que um grupo de oito ou dez pessoas, por mais cultas e bem preparadas que elas sejam, é capaz de decidir qual foi o melhor livro do ano? Será que é possível dizer, de forma objetiva e incontestável, que um livro é o "melhor" de um determinado período? Vendo como a Copa pode ser injusta e imprevisível, talvez as pessoas reflitam sobre a injustiça e a imprevisibilidade dos prêmios literários em geral. (Não custa, aliás, lembrar que o criador do Booker Prize disse uma vez que as pessoas gostam tanto daquele prêmio justamente por ele ser tão injusto.)
Mas essa é a justificação filosófica da Copa, que no fundo é apenas uma desculpa para ler e falar de livros.
3. Como você compôs o juri? De onde veio cada pessoa?
A primeira pessoa com quem falei sobre a Copa foi o Rafael Rodrigues, aliás, editor-assistente do Digestivo. Ele gostou da idéia, o que me deixou surpreso - então não é só uma maluquice da minha cabeça? - e me fez escrever a outras pessoas, como o Paulo Polzonoff e o Leandro Oliveira. Você mesmo, Julio, foi um dos primeiros a quem falei sobre a Copa. E fiquei mais e mais animado ao ver que mesmo quem recusava o convite para participar parecia gostar da idéia, ia além da recusa gentil e me dava boas sugestões. Ou seja, a cada resposta eu me sentia menos maluco. Hoje já estou me achando quase normal. Eu sempre pedia para as pessoas indicarem novos jurados, e de indicação em indicação cheguei aos quinze da Copa.
4. Você não pensa em realizar uma Copa onde haja, além da presenca da crítica, também a escolha da audiência?
Penso sim, e mais uma vez é no Tournament of Books que quero me inspirar. No ToB existe uma repescagem chamada "Zombie Round": os dois livros eliminados mais votados pelo público antes do começo do torneio recebem uma segunda chance e, como "zumbis", voltam do mundo dos mortos para disputar uma vaga na final. É uma forma divertida de incluir a audiência no processo do prêmio sem diminuir o poder - e a responsabilidade - dos jurados. Se a Copa der certo, pretendo criar uma "Rodada Zumbi" na sua próxima edição.
5. Que livros você esperava que já fossem entrar na seleção e que livros te surpreenderam na apuração dos resultados?
Entre as barbadas eu destacaria Mãos de cavalo, de Daniel Galera; O adiantado da hora, de Carlos Heitor Cony; Os vendilhões do templo, de Moacyr Scliar; e As sementes de Flowerville, de Sérgio Rodrigues. Entre as surpresas, Música perdida, de Luiz Antonio de Assis Brasil, e Corpo estranho, de Adriana Lunardi - livros dos quais, daqui da França, eu mal tinha ouvido falar. Mas fiquei ainda mais surpreso com dois livros que não entraram na lista final: A décima segunda noite, de Luis Fernando Verissimo, e Mastigando humanos, de Santiago Nazarian. Vai ver os jurados não gostam de animais.
Uma palavra, aliás, sobre o sistema de escolha dos livros concorrentes: fizemos uma pré-seleção com trinta e dois títulos e cada jurado votou nos dezesseis que na sua opinião deveriam participar do torneio. Dos quinze jurados, doze votaram, e o resultado me deixou satisfeito: uma lista que inclui a maior parte dos livros "que não poderiam faltar" ao mesmo tempo em que abre espaço para novidades e surpresas.
6. Acha que a literatura está ganhando mais espaço no Brasil, desde a Flip até os blogs?
Por um lado, sim. A Flip é uma ótima sacada - goste-se ou não do festival em si, é um prazer ver que durante quatro dias por ano a literatura se torna o centro das atenções no Brasil. E a Internet permite que quem gosta de ler e escrever discuta, civilizadamente ou não, com muitas outras pessoas que se interessam pelo mesmo assunto. São dois modestos avanços.
Por outro lado, o avanço importante é aumentar o número de leitores. E bibliotecas no metrô ou livros de bolso, embora iniciativas importantes e merecedoras de reconhecimento, não podem fazer tudo. O que falta no Brasil é educação. Mais gente educada quer dizer mais gente que lê, e quanto mais gente lê mais variadas são as leituras, o que leva a mais diversidade literária - e é da diversidade que surge a excelência. Precisamos de público, o resto é paliativo.
Algum tempo atrás, acho que durante a polêmica do projeto Amores Expressos, o "Prosa & Verso" dedicou uma edição às políticas públicas brasileiras de ajuda a autores e editores. Uma das matérias falava das políticas que existem aqui na França, e que são numerosas: ajuda-se o autor, o editor, o tradutor, as livrarias. Mas a grande diferença entre a França e o Brasil é que na França o ensino público elementar é de qualidade, e uma porcentagem muito maior de franceses do que de brasileiros vai à faculdade. É nisso que precisamos recuperar o atraso em relação aos países desenvolvidos, não em bolsas para escritores.
7. Você tambem é escritor? Tem um livro guardado na gaveta? O que pensa da crise do suporte papel?
Eu sou escritor como alguém que tem uma planta em casa é jardineiro. De vez em quando escrevo começos de coisas - contos, romances - e os abandono logo depois. Não faz muito tempo, essa minha mania de não terminar o que eu começava a escrever me deixava angustiado. Hoje relaxei, graças a um livro chamado On the Survival of Rats in the Slush Pile, de Michael Allen. É um livro curto que está disponível para download gratuito no site do autor. O que ele diz é simples: mais do que talento, ter sucesso como escritor é questão de sorte. Não aposte suas fichas nesse jogo, nem se sinta fracassado se você não for um dos raros ganhadores. Escreva porque você gosta e não pela fama ou dinheiro que você acha que a literatura pode trazer. Era esse o meu erro, eu escrevia já pensando no discurso para a entrega do Nobel. Hoje, estou satisfeito em participar da cadeia literária como leitor e, em breve, crítico ou editor.
A crise do suporte papel lembra aquela história, que não sei se é lenda urbana ou não, de que em chinês crise se escreve com dois caracteres, um representado o perigo e o outro a oportunidade. Acho que por enquanto leitores e escritores pensam em termos que funcionam melhor no papel: não se lê um romance na Internet, e ainda queremos ler e escrever romances. Mas talvez contos ganhem mais importância nesses tempos em que não temos tempo, ou surja um novo tipo de narrativa literária, impossível até agora mas perfeitamente adaptada à Internet. Falando assim, fica parecendo que eu concordo com o pessoal que de vez em quando resolve anunciar o fim do romance. Acho essa possibilidade distante mas curiosa, e não necessariamente ruim.
Para os editores, as mudanças podem ser pelo menos tão profundas e acontecer bem mais rápido. Torço muito pela impressão sob demanda e pela máquina do Jason Epstein, a Espresso Books, que fabrica um livro num punhado de minutos a partir de um arquivo de texto. Parece que ainda é meio caro e não funciona muito bem, mas quando essa tecnologia estiver mais avançada cada livraria de bairro poderá ter um catálogo tão grande quanto o da Amazon, e cada editor poderá se concentrar na procura de autores e no marketing dos livros sem se preocupar com distribuição, estoque, atrasos, retornos. Para quem quer trabalhar com edição, como eu, são possibilidades animadoras.
8. O que você faz aí na França, aliás? Com toda essa efervescência, não ficou com vontade de vir para o Brasil e montar um editora?
Acabei de terminar um mestrado em Edição na Sciences Po Paris, uma faculdade bem conceituada por aqui mas nada conhecida no Brasil, onde todo mundo ficava decepcionado porque eu não estava indo para a Sorbonne. Agora, estou procurando emprego e estagiando no departamento de educação da Hachette, na área financeira - antes de vir pra cá, estudei economia na PUC.
Durante o mestrado fiz outros dois estágios - na França, edição é um negócio movido a estagiários - que me ajudaram a entender melhor a realidade escondida e um pouco insana do setor editorial. Meu primeiro estágio foi no departamento de manuscritos não solicitados da Flammarion: cinco mil manuscritos são mandados para a editora a cada ano, e eu era um dos três estagiários responsáveis por fazer a primeira triagem. Na maior parte dos casos, bastava ler duas páginas para ver que o livro era impublicável. Hoje em dia, quando leio algum aspirante a autor reclamando de como é difícil ser publicado, concordo e completo mentalmente: ainda bem.
Sobre voltar ao Brasil, é uma possibilidade, embora talvez seja um pouco cedo para pensar em abrir uma editora. Mas por enquanto minha mulher e eu estamos tentando ficar por aqui mais um tempo. Depende, claro, da França querer que a gente fique...
9. Dos autores da internet de hoje, em quem você apostaria, em livro, para o futuro?
Eu gostei do Mulher de um homem só, do Alex Castro. É estranho que ele ainda não tenha sido publicado por uma editora. Talvez achem que quem já leu o livro de graça não vai comprar um exemplar de papel, mas acho que estão comendo mosca.
Mas o Alex já escreveu e publicou, ainda que a si próprio, então não pode ser uma aposta para o futuro. Sobre os outros, acho difícil dizer qualquer coisa, por causa da minha própria experiência: posso escrever um post de vez em quando, mas seria incapaz de escrever um romance ou um livro de contos. É preciso um fôlego, uma paciência e uma memória que eu não tenho, e acho que pouca gente tem. Mais: o que faz um bom blogueiro não faz um bom ficcionista, o texto que me atrai num blog não é o que eu gostaria de ler num romance. Como quase todo mundo que lê blogs no Brasil, adoro o que o Alexandre Soares Silva escreve, mas espero que o estilo dos romances que ele escreveu seja outro.
Tudo isso para dizer que não sei. Aguardo e observo, mas não me arrisco.
10. Se alguém quiser participar da Copa, ainda dá? Como?
A Copa deve começar em breve, e como todo bom site dessa era de Web 2.0 teremos um espaço para comentários. Para a Copa dar certo, é importante que esse espaço seja animado. Então, quem ainda quiser participar pode ler as resenhas - devemos começar a publicá-las no fim do mês - e, mais importante, discuti-las. Falar da Copa para amigos, em blogs e sites e comunidades virtuais, também ajuda muito.
Também estamos em busca de patrocinadores ou parceiros para a Copa. Quem tiver alguma sugestão nesse sentido, quem quiser participar da segunda edição da Copa ou ajudar a organizá-la, quem tiver alguma idéia que pareça bacana, quem quiser simplesmente dar um alô: [email protected].
Para ir além
Copa de Literatura Brasileira
[2 Comentário(s)]
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Julio Daio Borges
17/8/2007 às 16h17
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Estadão contra blogs reloaded
"Se fosse feita uma campanha contra a Aids, onde todos os protagonistas fossem gays, não seria um ataque?"
Dr. Love, comentando a entrevista que Alessandro Martins fez com o diretor de criação da Talent.
[1 Comentário(s)]
Postado por
Julio Daio Borges
17/8/2007 às 11h02
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Techbits faz um ano
Faz mais de um ano que o Techbits começou. No final de Julho de 2006 resolvi que iria criar um blog sobre tecnologia. Até então a maioria dos blogs que lia eram estrangeiros. Engadget, Techcrunch, Palm Addicts... Acompanhava alguns brasileiros também. Garota Sem Fio, Revolução Etc, Bruno Torres... E adorava falar sobre tecnologia com todos que encontrava. O problema era exatamente esse. Pouca gente se interessava pelo meu papo tecnológico... Então criei o blog para extravasar as minhas idéias.
Alexandre Fugita, no Techbits, que linca pra nós.
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Postado por
Julio Daio Borges
17/8/2007 à 00h51
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