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Terça-feira,
28/8/2007
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Redação
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Revista Ato
Os editores da empreitada mandam avisar: dia 31 de agosto, a partir das 18h, no sagüão do campus I do CEFET MG, em Belo Horizonte, será lançado o número 3 da revista Ato. Literatura e transgêneros, em um belo corpinho recém-saído da gráfica. Sim, as revistas literárias de papel estão firmes e fortes.
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Ana Elisa Ribeiro
28/8/2007 às 19h13
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Estadão contra blogs triloaded
Rodrigo Mesquita, acionista de O Estado de S. Paulo, em defesa os blogs (porque a polêmica já está em espanhol, em inglês, em alemão, em francês... e em podcast)
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Julio Daio Borges
28/8/2007 às 16h41
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Ondulações
No entortado da letra forjo a cidade em palavras mata-borrões. Mancha gráfica é a cidade que imprimo fora de cores na noite. No limite negro-azul entre ela e a madrugada, os autos não respeitam os sinais no horizonte. Cada buraco, cada reentrância oscilante - fratura no asfalto - na qual indiretamente me deito e logo depois sou alçada. Um observador externo certamente veria as gorduras das bochechas e dos peitos tremendo. Sobressai minha caligrafia tremida sobre a noite amortecida; ressaltam-se sinais, rugas, sulcos gelatinosos. Na velocidade da luz noturna, o ônibus bóia no espaço, sou parte dessa estrutura que levita. Ele sobe tão rápido que minha escrita se descompassa, as fachadas de metal das lojas tornam-se um risco cinza de grafite definitivo. Escrevo as cenas que desabrocham na noite, como as camélias brancas desprendem um aroma doce e enérgico. A tentativa de reter essa fragrância é inexpressiva. Na noite quente de primavera, grilos esperneiam - e a cidade omite os insetos nas verduras. A escuridão fresca absorve a tinta da caneta: papel-chupão. Existe um momento na madrugada paulistana em que o atrito se desfaz das ruas. E as letras escorrem macias e tranqüilas.
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Elisa Andrade Buzzo
28/8/2007 às 14h57
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Em papel? Pra quê mesmo?
(...)Com o ponto de vista de quem trabalhou vários anos numa editora de grande porte, acho curioso que tanta gente boa tenha tanta vontade de ser editado por uma dessas ditas grandes casas editoriais. Porque, pela minha experiência, isso não ajuda em nada. Não sei se tem a ver com um desejo muito forte de reconhecimento, de ser notado pelo meio editorial, supostamente por especialistas. Mas rola esse fetiche da distruibuição nacional, de ter os livros expostos em livrarias, essas coisas que não passam disso mesmo: fetiches. O resultado prático disso é o que vocês já podem imaginar: nenhum.
Um autor brasileiro desconhecido que tem um livro lançado por uma grande editora não vende. As pessoas não compram, ora. Sei lá por quê, com certeza há vários motivos na psique do consumidor brasileiro de livros (essa figura misteriosa). Mas já vi investimentos razoáveis em marketing, anúncios, até resenhas boas, nada disso faz as vendas decolarem. Nada. E acredite, todos se frustram. A editora, o autor, o livreiro, todo mundo. Com esforço, consegue-se até colocar os livros nas livrarias (sempre em consignação, porque é só assim que esse mercado surreal funciona), mas em 99% das vezes, três ou quatro meses depois os livreiros devolvem quase tudo, causando aquele desconforto de ter que enviar ao autor uma prestação de contas em que há muito mais devoluções do que vendas.
Não é novidade: fazer e escrever livro no Brasil é um péssimo negócio. Autores, editores e livreiros vivem de um mercado sem lógica. Para cada sucesso há incontáveis fracassos. Incontáveis e injustificáveis. Livros muito bons, com ótimo apelo comercial e qualidade literária passam nas mais brancas nuvens e dois anos depois do lançamento são vendidos a quilo ao papeleiro, porque nem as Lojas Americanas nem as superbancas de jornal se interessaram em adquirir aquele título para revender a 9,90.
Então eu queria entender melhor por que tantos autores-blogueiros, por exemplo, gostariam tanto de ter os seus livros publicados por uma editora grande. Em que isso contribui, exatamente? Eu não consigo achar que ter o seu livro exposto numa boa livraria por alguns dias (porque as livrarias são pouco mais do que hotéis onde os livros dormem um dia ou dois) faça muito mais pelo seu sucesso literário do que divulgá-lo na internet, por exemplo. O que se quer? Ser lido ou fazer da literatura o seu ganha-pão?
Anna V., no Terapia Zero (porque, assim, eu não fico falando sozinho...)
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Julio Daio Borges
28/8/2007 à 00h06
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Grotesco e vil
Agradeço a Deus todos os dias por ter amigos normais. Gente com neuras, barriguinha, chatices, impaciência, lapsos, pequenos egoísmos, ausências, espinhas, birras, opiniões ridículas. Espero jamais ter que conviver com um destes tipos perfeitos que encontramos dando entrevistas nas revistas e na TV. Essa gente certa, equilibrada, que faz dieta, exercício, ioga, cuida do corpo e acredita cuidar de sua mente. Pessoas sem falhas que, na sua humildade calculada, arrogam-se o direito de criar regras para mim, me orientando no meu modo de viver, o que devo comer e como devo pensar. Esta raça robótica de sujeitos equilibrados, certos, seguros, que pensam positivo todo o tempo e ainda querem que eu leia os seus livros, veja os seus filmes e me converta a sua religião sem deidades.
No Universo Tangente, que linca pra nós.
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Julio Daio Borges
27/8/2007 à 00h52
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Dingo Bell, dingo bell
A força matriz, que dá asas à imaginação das pessoas e, conseqüentemente, move o mundo, é a auto-ajuda! Todos nós, quando precisamos de um amigo, de um livro ou de um grupo de pessoas para nos ajudar a aprimorar economicamente, espiritualmente ou emocionalmente estamos nos auto-ajudando. E isto nós fazemos todos os dias, não é?
Neste sentido, temos a festa que melhor representa a auto-ajuda: o Natal. À primeira vista seria uma mera obrigação social, mas não. Você encontrará sua família, se fartará em um banquete e trocará presentes.
Repare nas ações: encontrar a família te dará um suporte emocional e espiritual (ainda mais se você for à missa do Galo); comer bem lhe trará satisfação e bem estar; comprar e ganhar presentes lhe proporcionará, respectivamente, aquela sensação de generosidade e felicidade de ver que alguém pensou em você.
E, de quebra, no Natal você estará se auto-ajudando e ajudando os comerciantes. Como? Isto mesmo: o Natal impulsiona a economia, faz as vendas dos produtos básicos aos sofisticados decolarem.
Do ponto de vista dos comerciantes você nitidamente estará os auto-ajudando (a enriquecer).
Outras festas produzem o mesmo efeito cascata, mas em proporções menores, como o dia dos pais, das mães, das crianças...
Mas por que a auto-ajuda tem papel central em nossas vidas?
Pense, não poderia ser de outro jeito. Somos diariamente invadidos pela onda do querer
por meio de propagandas, filmes, seriados, novelas, etc. Todos querem repetir na vida real o comportamento utópico criado pelo entretenimento. O bombardeamento diário de bem estar, "do final feliz", só poderia gerar a reação automática de carência e depressão.
Qual é a chance de você ser rico, bonito, morar em uma mansão na frente da praia e namorar uma modelo? Ah esqueci: trabalhar pouco também faz parte do pacote!
Desse jeito é razoável que o mercado de livros de auto-ajuda seja paradoxal: muita produção, mas baixo nível técnico.
Duas são as razões: o público alvo, no Brasil, pelo menos, não teria bagagem cultural suficiente para entender um livro de auto-ajuda complexo; as pessoas (e mercado) querem respostas rápidas às suas angústias.
Até porque um dos princípios modernos do capitalismo é a velocidade. No caso do parágrafo anterior a máxima seria: como se tornar um príncipe em menos tempo?
Imagino, entretanto, que a auto-ajuda tenha origens remotas. Isto porque quem não busca em qualquer movimento uma dica à perfeição?
As grandes descobertas da humanidade, por exemplo, são frutos da vontade de saber o novo e suprir as necessidades pessoais e da sociedade com novos adventos.
Já em uma realidade mais próxima, quando lemos um livro, assistimos à televisão, conversamos com os amigos, sempre queremos apreender daquele momento algo que nos ajude, nos aprimore.
Acredito, sinceramente, desde que a humanidade celebrou o contrato social de Hobbes, saindo do estado natural para o estado civil, estarmos em busca da auto-ajuda para nos sentirmos seguros!
Ou será auto-estima?
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Daniel Bushatsky
24/8/2007 às 19h30
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13 musas da literatura
A Sofia (1), de Quincas Borba; porque Machado nos ensina a olhar os braços.
Diadorim (2) - porque ela é a nossa Molly Bloom (3). (E o Grande Sertão, o nosso monólogo.)
Aurélia (4), de Senhora, de José de Alencar; porque, ajoelhando (e implorando por amor), ela me fez chorar.
As mulheres do detetive Mandrake (5), do Rubem Fonseca. (Qualquer uma, porque ele tem bom gosto.)
A Escrava Branca (6), do Daniel Galera. Pela originalidade da idéia; e porque ela lê Tchekhov...
Madame Chauchat (7), a russa que falava francês, na Montanha Mágica, de Mann.
Ana Karenina (8) - que Paulo Francis tresleu; porque ela é a verdadeira Madame Bovary (9).
A musa dos Irmãos Karamasov (10); porque só pode ser uma mulher extraordinária.
Lou Andreas-Salomé (11), com quem Nietzsche quis se casar, e que foi amiga de Freud.
Todas as mulheres de Nélson Rodrigues (12), é óbvio.
A amada de Jules et Jim (livro de Henri-Pierre Roché) (13) - que, no cinema, gerou todas as mulheres do Truffaut.
(Dando continuidade ao meme do Polzonoff, cujos comentários são os mais literários dos últimos tempos...)
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Julio Daio Borges
24/8/2007 às 16h14
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Bate-papo com Albarus Andreos
1. Você simplesmente pulou as livrarias brasileiras e lançou seu livro direto pela Amazon.com - como foi isso?
Foi estratégia. Não a melhor, mas a possível dentro do meu universo de possibilidades.
Digo isso porque descobri que a Amazon mantém um estoque mínimo para atender prontamente às encomendas e, esgotados estes poucos volumes, eles demoram para pedir uma nova remessa à editora... Já recebi reclamações de gente que encomendou o livro e o prazo de entrega dado foi de quase um mês!
"Evitar as livrarias" seria uma bravata muito forte da minha parte... Gostaria muito de ver meus livros nas prateleiras, mesmo porque isso faz parte daquele conhecido "sonho de escritor".
Lançar na Amazon, Barnes & Noble, Borders, Lulu Marketplace etc. é só conseqüência do trabalho árduo junto à editora Lulu.com. Posso dizê-lo de boca-cheia, pois tive de me desdobrar em todos os campos, a fim de que meu livro tomasse forma... Fui escritor, revisor, editor, capista, marqueteiro, vendedor, publisher e tudo o mais. Não foi fácil. Quase enlouqueci...
2. Esse tal de Lulu.com funciona mesmo (inclusive para brasileiros)? Qual a emoção de imprimir o próprio livro?
Sim, o Lulu.com é o site de impressão por demanda que mais cresce no mundo. Há uma variedade impressionante de artigos e notas de imprensa sobre o Lulu (que podem ser acessados pelos que tiverem curiosidade)... São dezenas de jornais, revistas e programas de TV que o descobriram e que falaram muita coisa.
E o que é uma "editora por demanda"? Por favor, esqueçam os conceitos anteriores... Eu tinha contatado várias editoras desse tipo, aqui mesmo no Brasil, e o esquema delas invariavelmente era o de "fazer uma tiragem mínima" de 100 ou 200 exemplares (sei que agora já trabalham com algumas dezenas até)... Mas isso não é impressão por demanda!
Se você paga para sair imprimindo o que escreveu, você simplesmente está usando os serviços de uma gráfica! Entendo que "impressão por demanda" é o que o Lulu faz (e saliento que alguns sites brasileiros, como o Booklink e o Armazém Digital, já fazem): você coloca seu livro lá, seja bom ou ruim, seja grosso ou fino, seja preto-e-branco ou colorido, e não paga nada por isso. O negócio funciona por meio de compras digitais: se alguém clicar no seu livro, colocá-lo no "carrinho de compras" e pagar, só então ele será impresso e enviado até o endereço do comprador. Do preço pago: parte fica com o autor, parte com o "publicador" (no caso, Lulu.com).
3. Você acha que processos assim estão condenando as editoras tradicionais à morte? (Se alguma editora grande te chamasse agora, você iria?)
Não, absolutamente, não estão condenando... Acho que criarão apenas dificuldades para as gráficas que se intitulam "editoras por demanda".
Eu iria para uma editora grande, sim, sem preconceito nenhum, pois, nesse meio tempo (em que estive no processo de publicação), acho que até perdi a mão com a escrita, que é o que me dá mais prazer (não que eu não tenha curtido o processo com um todo...). Não havia como cuidar de tudo e, ao mesmo tempo, dos meus dois filhos pequenos, em casa... Eles ficavam mais à parte, enquanto eu tentava resolver os problemas que apareciam em cada fase da produção... (Gostaria de evitar que isso acontecesse de novo, principalmente porque vem outro herdeiro por aí!) Mas a experiência que tive com a publicação de minha própria obra é insubstituível... Sei que será de grande ajuda no futuro como escritor.
4. E o editor? O futuro é mesmo que cada autor edite a própria obra? (Você sentiu falta de um editor em algum momento do processo?)
Sem dúvida: um editor experiente saberia realizar melhor todo esse trabalho - de maneira mais rápida e com menos erros. Durante o meu "aprendizado", digamos assim, eu vi que muitas das etapas poderiam ter acontecido simultaneamente...
E tenho certeza de que os contatos das editoras são muito mais eficientes do que os meus. Editores não ficariam dando "cabeçadas" como eu fiquei... Os processos de produção de um livro são mais claros para uma editora, é óbvio, já que é seu trabalho... (Deve gerar menos gastos, também, e ganhar muito mais com produtividade.) Não há tantos intermediários e o resultado final é mais controlado (no sentido de que já se conhece todos os prestadores de serviço e, de certa forma, também os resultados...).
Enfim, apanhei mas sobrevivi. Acho que, no segundo livro, estarei melhor aparelhado e mais preparado para a briga...
5. Afinal, você tentou ou não tentou o velho "caminho das pedras" de submeter originais a editoras (e editores) etc.? (Ou acha que isso é "coisa do passado" e que ninguém mais deveria tentar?)
Tentei como qualquer outro autor e entendo que continua sendo o caminho principal a se trilhar. Como tentou Joyce, o grande revolucionário do romance no século XX: "Bom trabalho, mas não se paga", lhe diziam sempre... Hemingway ouviu de um editor que seria "sinal de mau gosto" publicá-lo. J.R.R. Tolkien, a quem tributo grande parte do meu ímpeto, teve dificuldades com a publicação de seu Silmarillion. Moby Dick, de Herman Melville, foi refugado sob a alegação de que "não era adaptado ao mercado juvenil da Inglaterra" (sic). Essas e outras histórias podem ser conferidas no livro de Mario Baudino, Il Gran Rifiuto ("A grande recusa"), de 1991.
Aqui no Brasil, tivemos Lima Barreto e outros tantos casos parecidos, de colegas mais ilustres...
Se depender de mim, as editoras ainda terão muito trabalho. Não desisto!
6. Por que o Brasil nunca produziu um J.R.R. Tolkien e uma saga como O Senhor dos Anéis? Ou produziu (e eu não sei)? Ou não mesmo - e você está justamente se candidatando à vaga com A Fome de Íbus?
Tolkien queria mais do que escrever um livro... Mas acho que ele nunca teve a intenção de "cometer" uma obra que obtivesse tamanho destaque. Começou como combatente na Primeira Guerra Mundial, endereçando uma historinha meio boba a um de seus filhos, mas que acabou sendo melhor trabalhada depois e se tornando o livro O Hobbit...
Já houve casos no Brasil de sagas mais longas, sim. Guerra das Sombras, de Jorge Tavares, foi publicada no início do ano passado pela Novo Século, e torcemos para que novos livros se originem dela... A série Angus, de Orlando Paes Filho, iniciada pela Arx Jovem, e depois continuada pela Planeta, veio cheia de promessas, mas parece ter perdido o fôlego... Há outras tentativas mas sem a mesma consistência, como O Caçador de Gigantes, de Daniel R. Salgado, e O Segredo da Guerra, de Estus Daheri - que eram livros que não faziam originalmente parte de seqüências maiores...
7. Mais de dez anos e quatro volumes depois, sendo que o Livro do Dentes-de-Sabre é só o primeiro - como foi isso? E como foi conciliar ainda com trabalho e família?
Tudo começou durante a faculdade... Mas nada indicava, naquela época, que uma composição aparentemente despretensiosa renderia tanto.
Passei, óbvio, pelos mesmos testes de todo autor novo: aquela via-sacra de fazer e refazer várias vezes. Depois contratei um leitor crítico profissional. E reescrevi mais... Depois, ainda, recorri a outro profissional, da área de revisão...
Escrevendo e revisando, penso que amadureci bastante. Minha fluência na escrita e minha bagagem literária aumentaram significativamente. Parágrafos antes bons se tornaram obsoletos anos depois. Exigiram mudanças, melhoras, ajustes... Cresci com meu livro, tenho certeza.
Saí da faculdade, comecei a trabalhar, casei, tive filhos e, de repente, achei que aqueles escritos poderiam se tornar, finalmente, um livro. (Isso foi antes do cinema descobrir que a Trilogia do Anel poderia render dinheiro...)
Mais recentemente, vi que precisava de mais técnica: li e reli outros livros sobre o assunto, e até me rendi a manuais do tipo "escreva e publique seu próprio livro" (cito, por exemplo, os volumes das professoras Laura Bacellar e Sonia Belotto...). Dos de técnica literária, mais especificamente, lembro daqueles do professor Raimundo Carrero.
Consegui, mas foi difícil, sim.
8. Você é bastante otimista, porque está lançando o primeiro volume de uma saga de quatro e, ao mesmo tempo, já está trabalhando em outra saga nova - qual a acolhida esperada para os seus livros?
Não se trata de ser otimista, mas de simplesmente se deixar levar pela imaginação...
A saga original gerou "filhos". Cada pequena história, subitamente, me impelia a escrever novos contos, novelas ou... Três novos romances! Cada um deles contará uma das guerras que precederam o período onde se passa a aventura principal em Livro do Dentes-de-Sabre.
Muita coisa rolou e tudo foi nascendo naturalmente. Sempre anotava as idéias que não eram incluídas na saga original...
Novos projetos, além desses, estão inclusive nos meus planos.
9. E a blogosfera brasileira, você acha que ela está preparada para receber um autor como você? Como têm sido, aliás, as experiências através do seu blog?
Além do Charranspa, onde ponho meus contos mais "literários", tenho o albarusandreos.blogspot.com onde criei uma base de divulgação para meus escritos. Mas não sei se tenho a "mão", a disciplina, por exemplo, de um Alê Martins...
A princípio publicava tudo o que escrevia no site do projeto Leia Livro, onde tenho muitos amigos e onde costumo dar pitacos nos textos de outros iniciantes como eu. É muito estimulante e sempre recebo retorno desses colegas escritores...
A velocidade do mundo do blog torna muitas coisas irrelevantes em questão de horas. Confesso que, às vezes, é muita informação para um mortal como eu...
10. Alguma dica para quem quer se embrenhar numa saga como a sua - pessoal, literária e profissional?
Escreva e só. Não tem essa de "se você não tem algo de novo a dizer, então não escreva nada"...
Como você não tem nada de novo a dizer? Eu digo, em princípio, o que quiser! Se alguém vai comprar meu livro, são outros quinhentos. Se eu vou optar por publicar em papel, em pleno século XXI, é também problema meu...
Escrever é algo essencial para quem escreve. Tem gente que escreve porque simplesmente gosta; tem gente que escreve apenas para ganhar dinheiro... Tem gente que lê Borges e tem gente que Borges lia e que hoje ninguém mais lê.
Minha intenção é contar bem uma história. Lamento, mas acho que não vou acrescentar nada mais à existência, leitor. Não tenho essa pretensão. Nunca incito a discussão filosófica. Não penso que salvaremos o mundo... mas prometo entreter meus leitores (morreremos todos felizes!).
Eis o que faço: literatura de entretenimento. E pretendo, humildemente, ser bom nisso.
Para ir além
A Fome de Íbus: Livro do Dentes-de-Sabre
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Julio Daio Borges
24/8/2007 às 12h27
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Blogue e consiga um estágio
Eu era uma adolescente nerd loser no inverno de 2003, e como não tivesse nada melhor pra fazer, criei um blog. Só que eu não imaginava que aquele projeto despretensioso de uma garota de 16 anos fosse se tornar tão importante para mim, a ponto de ser meu portfolio online, e até me garantir meu primeiro estágio...
Megalopolis, comemorando quatro anos de existência, e lincando pra nós.
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Julio Daio Borges
24/8/2007 à 00h42
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O que é crítica, afinal?
Quem não gosta de opinar e de criticar alguém ou alguma coisa? Quantas foram as críticas que já não lemos e discordamos, quantos artistas já não reclamaram dos críticos e quanta polêmica as críticas já não produziram? No entanto, esses textos, que causam tanta discórdia e despertam paixões, que mexem com os ânimos de artistas e que circulam por aí, em revistas, jornais, sites, entre outros veículos de comunicação, nem sempre podem ser considerados, a rigor, críticas. O jornalista Arthur Nestrovski acredita que cerca de 90% desses mesmos textos são simplesmente "de opinião", muito diferente do que a verdadeira crítica deveria ser. Articulista da Folha de S. Paulo desde 1992, autor de Notas musicais - Do Barroco ao Jazz (2000) e organizador de Música Popular Brasileira hoje (2002), Nestrovski discorreu sobre o assunto na última terça-feira no curso de MPB promovido pelo Espaço da Revista Cult.
"Essa classificação de estrelinhas e bonequinhos, que vemos por aí, não pode ser considerada crítica, é apenas o que eu chamo de 'bate-papo da esquina glorificado'. É mais uma avaliação de mercado do que, efetivamente, um texto crítico", bombardeia logo de início. O chamado "texto de opinião", a que o jornalista se refere, pertence a outro tipo de gênero, mais semelhante talvez a uma crônica, pois nele não há fundamentos que, por exemplo, provem que determinado CD é bom ou ruim. É apenas uma opinião, reflexo de um gosto pessoal, que não contextualiza a obra e nem compreende plenamente o trabalho do autor.
A etimologia de "crítica" vem da palavra grega krimein, que significa "quebrar" e também influenciou na formação da palavra "crise". "A idéia da crítica é 'quebrar' uma obra em pedaços para se pôr 'em crise' a idéia que antes se fazia daquele objeto, através de uma análise", explica Nestrovski. Para tanto, é necessário entender as partes do objeto que será analisado para justamente descrevê-lo. A partir daí, o crítico faz sua própria interpretação de acordo com o contexto em que se encaixa o artista e sua obra.
O articulista frisou, durante a aula, uma idéia básica: crítica não tem a ver necessariamente com gosto. "Tem de compreender e esclarecer o que o artista quis fazer. O critico não é, digamos, o professor do artista", explica, referindo-se a críticos que põem no texto um certo toque de prepotência e arrogância. Seria preciso pesquisar o artista antes, conhecer suas influências e entendê-las, analisando o resultado - a obra - dentro das possibilidades de seu autor. Para Nestrovski, mesmo tendo o crítico uma boa bagagem, ele nunca pode se basear, apenas, em seu conhecimento, ao analisar e, principalmente, julgar uma obra - afinal não foi com as mesmas referências que, por exemplo, o artista trabalhou.
Contudo, para adquirir, digamos, "repertório", são necessários anos de estrada ou, ao menos, um bom tempo de pesquisa antes de realizar a crítica. E aí entram as dificuldades que os jornalistas de cultura hoje enfrentam: os limites de tempo e de espaço no jornal. Segundo o jornalista, o texto que vem sendo produzido por jornais e revistas é cada vez mais objetivo e cada vez menos articulado. "Nas pesquisas sobre o fim do jornal impresso, o que os leitores mais falam é que esperavam textos mais reflexivos, interpretativos etc. - mas ninguém atualmente parece ter coragem de mudar", assinala.
Além das limitações do dia-a-dia de uma redação, Arthur Nestrovski alerta para outro grave problema, que é a própria pauta. "Hoje só reportam, criticam e opinam sobre um determinado grupo, que, em termos numéricos, vai de encontro ao mercado. Para falar de um show, tem que ter mais de 50 mil pessoas na platéia, mas existem outras coisas mais interessantes acontecendo por aí", avalia. A perspectiva que o articulista tem deste cenário não é muito animadora: "A diminuição do espaço dedicado à critica verdadeira implica num rebaixamento da própria arte. Quanto menor espaço para as críticas, menor o espaço proporcionalmente se concede às obras de arte."
Para ir além
Espaço da Revista Cult
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Postado por
Débora Costa e Silva
23/8/2007 às 18h30
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