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Quarta-feira, 3/10/2007
Blog
Redação
 
O chá do imperador


Faltam só vinte minutos para as oito. Nove de Julho, parada. Cidade Jardim, parada. Todas as vias estão entupidas e o taxista continua desfiando sua lista de "celebridades" femininas que a seu ver "são todas umas....". Não lembro como ele entrou nesse assunto. "Inclua aí a Mônica Veloso", disse eu. "Ih, essa não conheço. É bonitona, é? E é uma ... também?". Decido descer e ir a pé. Se eu contar para ele que estou atrasada para uma cerimônia do chá que começará niponicamente no horário, ele não vai entender nada. Saio desembestada, mas consigo chegar a tempo.

Dentro do Shopping Iguatemi, o som do kotô, a harpa japonesa, dissonante com o burburinho comercial, começa a acalmar o espírito e é meu guia para chegar até A Loja do Chá. A franquia alemã hospedou a cerimônia conduzida pelo Centro de Chadô Urasenke do Brasil, que tem sede no bairro da Liberdade e ministra aulas sobre etiqueta e rituais japoneses. Antes de começar, os participantes são convidados a escolher uma peça da ceramista Hideko Honma, na qual será servido o chá. Um senhor explica a diferença das cores no fundo das cerâmicas: esta foi feita com cinzas de casca de banana, esta com cinzas de arroz, esta com cinzas de um pedaço de jatobá centenário que caiu no Japão e foi trazido para cá.

A cerimônia começa. Como a própria A Loja do Chá alertou no convite, tradicionalmente ela é realizada em ambientes reservados, com jardins à volta, e inclui rituais de preparação dos convidados. Ainda assim, é única a oportunidade de experimentar um autêntico matchá, oriundo das plantações do imperador Akihito. Matchá, uma das senhoras do Centro Urasenke explica, é o chá verde que utiliza as folhas mais novas da planta. O Banchá, mais popular entre nós é, por sua vez, o chá verde feito com as folhas mais velhas, colhidas entre o verão e o outono.

Enquanto nossa anfitriã começa os procedimentos de purificação dos utensílios que serão utilizados na preparação do chá, somos servidos com uma duplinha de doces japoneses, pequeninos, delicados e coloridos, feitos à base de feijão branco pela chef patissière Cristina Makibuchi. Ela explica que o motivo de tantas cores é porque entramos na primavera e a escolha dos docinhos na cerimônia do chá é sempre pautada nas estações do ano. Como o chá verde é amargo, o objetivo de servir os docinhos é adoçar a boca antes. Logo depois, o chá é servido e é uma surpresa para os olhos. Espumante, porque é batido com utensílio que se assemelha a um batedor de ovos, só que pequeno. E de um verde intenso, cor de esmeralda. Por ser feito com folhas novas, tem um sabor também muito fresco. Para quem ainda acha que gastronomia não é arte, é bom ressaltar que o chadô, ou caminho do chá, é considerado pelos japoneses um dos muitos caminhos de expressão artística, assim como outros que também utilizam o sufixo "dô": gadô (pintura), kabukidô (drama), tôgeidô (cerâmica), etc.

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Postado por Adriana Carvalho
3/10/2007 às 16h05

 
Richard Dawkins no YouTube



Richard Dawkins, respondendo a perguntas, sobre Deus, um delírio.

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Postado por Julio Daio Borges
3/10/2007 à 00h13

 
J. Toledo se despede

O escritor e artista plástico paulista J. Toledo, com quem costumava conversar ao telefone menos do que deveria, faleceu sábado passado. Eu o conheci quando eu ainda morava com a escritora Hilda Hilst, na Casa do Sol (1998-2000). Naquela época, falávamos quase todas as manhãs. Cheguei inclusive a contribuir com alguns dos verbetes de seu Dicionário de suicidas ilustres, editado pela Record. (Ele também publicou livros de crônicas e uma biografia sobre o artista plástico Flávio de Carvalho, a quem conheceu, e que traz um prefácio de Jorge Amado.)

Toledo era um amigo extremamente atencioso e tinha um excelente senso de humor. Aliás, como costumo dizer, ele ainda o é e ainda o tem. Está vivo em algum lugar, dando risadas com a Hilda.

Logo mais colocarei em meu podcast uma gravação que fizemos juntos por telefone. Nada de mais, apenas para dar uma idéia de sua personalidade.

Vaya con Dios, hermano!

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Postado por Yuri Vieira
2/10/2007 às 20h25

 
Rush - Snakes and Arrows

O Rush está de volta. E em grande estilo. Após a quase decepção com Vapor Trails (2002), chegou ao mercado o novo álbum do trio canadense, intitulado Snakes and Arrows. Não que Vapor Trails fosse ruim, mas não era assim, digamos, tão "Rush". Era excessiva e desproporcionalmente pesado e o guitarrista Alex Lifeson fez uma opção arriscada (e duvidosa) na época: não solou em nenhuma música. O Rush que soa neste novo trabalho é o que alia o peso à técnica de maneira mais harmoniosa, como fizeram no excelente Test for Echo (1996). O próprio Alex Lifeson deve ter reconhecido seus exageros e voltou a se utilizar dos violões, que aparecem com destaque no disco. Arriscou-se, também, em instrumentos mais exóticos como mandola, mandolim e bouzouki. Com isso, o guitarrista proporcionou um caráter mais acústico e experimental ao disco. Ah, e voltou a solar muito bem, obrigado.

Alex Lifeson, aliás, é um caso a se estudar, pois, apesar de seu talento, sempre foi subestimado como guitarrista. Ora ofuscado pela pirotecnia multifacetada do vocalista/baixista/tecladista Geddy Lee, ora pelo brilhantismo hors-concours do baterista (e letrista) Neil Peart, o guitarrista foi, injustamente, relegado ao posto de anticlímax da banda - o que é uma heresia em se tratando de uma banda de rock. Ao contrário de bandas como Led Zeppelin, Aerosmith ou Rolling Stones - onde tudo depende quase que exclusivamente da parceria entre vocalista e guitarrista - o Rush sempre se caracterizou pela coesão e pela unidade, onde cada membro colabora com igual relevância. Se qualquer um dos três membros for substituído, o Rush deixará de existir. Após lutar desesperadamente contra a profusão de teclados no som da banda nos idos dos anos 80, Lifeson voltou a assumir o controle sobre o peso do som do trio com o lançamento de Counterparts em 1993. De lá até hoje, os teclados têm sido usados com mais parcimônia, para alívio dos rush-maníacos mais reacionários.

Quem sempre apreciou as peças instrumentais do trio, certamente vai se deliciar com Snakes and Arrows. Dentre as três instrumentais do disco, o destaque é "The main monkey business", que personifica o som do Rush atual. O peso também é mantido e o poderoso riff de "Far cry" não mente. "Spindrift" emerge de um clima mais soturno e a melodia aparece amplificada em "The larger bowl" e na quase bluesy "The way the wind blows". Em "Faithless", Neil Peart mostra-se cético em relação ao fanatismo religioso e disco fecha com o petardo certeiro de "We hold on". Com isso, é certo afirmar que Snakes and Arrows é um disco bem mais variado que os anteriores e certamente encontra uma boa posição na extensa discografia da banda.

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Postado por Diogo Salles
2/10/2007 às 10h32

 
O Decálogo de Bertrand Russell

1. Não tenha certeza absoluta de nada.

2. Não considere que valha a pena proceder escondendo evidências, pois as evidências inevitavelmente virão à luz.

3. Nunca tente desencorajar o pensamento, pois com certeza você terá sucesso.

4. Quando você encontrar oposição, mesmo que seja de seu marido ou de suas crianças, esforce-se para superá-la pelo argumento, e não pela autoridade, pois uma vitória dependente da autoridade é irreal e ilusória.

5. Não tenha respeito pela autoridade dos outros, pois há sempre autoridades contrárias a serem achadas.

6. Não use o poder para suprimir opiniões que considere perniciosas, pois as opiniões irão suprimir você.

7. Não tenha medo de possuir opiniões excêntricas, pois todas as opiniões hoje aceitas foram um dia consideradas excêntricas.

8. Encontre mais prazer em desacordo inteligente do que em concordância passiva, pois, se você valoriza a inteligência como deveria, o primeiro será um acordo mais profundo que a segunda.

9. Seja escrupulosamente verdadeiro, mesmo que a verdade seja inconveniente, pois será mais inconveniente se tentar escondê-la.

10. Não tenha inveja daqueles que vivem num paraíso dos tolos, pois apenas um tolo o consideraria um paraíso.

Bertrand Russell, na Wikipedia (porque eu não conhecia - encontrei pesquisando outra coisa -, e porque ele antecipa muita gente boa hoje...)

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Postado por Julio Daio Borges
2/10/2007 à 00h27

 
O tango de Piazzolla


Durante o primeiro concerto da série Clássicos Personalité, o tango vestiu uma roupagem calorosa. Toda a melancolia reservada ao gênero latino esteve presente, porém com boas doses de euforia. Em favor da diversidade, balanços populares se aproximaram das ricas composições de Dvorák, Mahler e Piazzolla.

O quinteto para piano e cordas, de Antonin Dvorák (1840-1904), nasceu de belas melodias para danças tchecas, inspiradas na rica cultura folclórica da Europa Oriental, como ensinou, didaticamente, o solista Roberto Ring. E as composições do autor tcheco logo revelaram uma familiaridade curiosa com a valsa vienense de Gustav Mahler (1860-1911), cujo quarteto para piano e cordas, apreciado na noite, só veio a público três décadas atrás, em 1973.

Mas o grande momento do concerto esteve mesmo na seqüência de obras do "tango nuevo", do portenho Astor Piazzolla (1909-1998). O bandoneón chorou docilmente no colo do argentino Javier Sánchez, acompanhado do pianista Leonardo Marconi e dos Solistas Personalité. Mais importante que a emotividade natural do gênero, foi a prova auditiva de que o tango não se reveste apenas do trágico, porém de grandes variações como as presentes em "Allegro Tangabille", "Fugata", "Três minutos con la realidad" e "Adiós nonino".


Marconi, aliás, revelou-se um compositor maduro em "Melatango" e "Gris de ausencia", a última, composta com seu pai, Néstor Marconi. O pianista Emmanuel Strosser e o violinista Régis Pasquier, ambos franceses, também completaram a noite.

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Postado por Tais Laporta
1/10/2007 às 20h17

 
Cada um, cada um

Antes da dissertação, uma pequena história:

Estava eu no Tuca, teatro da Puc, discutindo sobre dívida da instituição, de mais de 80 milhões de reais, com o banco Bradesco e com o banco Real, com meus colegas, quando uma menina (maior e capaz), da minha classe, ou seja, que estuda Direito comigo, pega o microfone e diz: "a culpa da Puc estar neste buraco é do FMI e do BIRD".

Metade da platéia aplaudiu, a outra metade consentiu! Me senti um idiota! Como é que a culpa poderia ser do FMI e do BIRD? Em primeiro lugar, eles sabem que a Puc existe? Eles ajudaram no desvio de dinheiro da universidade? Já sei, houve a formação de uma quadrilha: o Reitor, o Bird e FMI bolaram juntos o plano. Até porque 80 milhões de reais é muito dinheiro para FMI!

No ventre desta história está o que eu vou levar da faculdade. Você entra na faculdade achando que o mundo é pequeno: seu colégio, o clube e quiçá o cursinho, mas não é! As pessoas têm histórias de vida diferentes. Acreditam em coisas diferentes, mas principalmente possuem medo de crescer!

Digo isto, porque a garota ao repetir o discurso de que a culpa é do FMI faz o mesmo que a criança que não vai ao banheiro à noite porque tem medo do monstro embaixo da cama: não enfrenta a realidade.

Não sejamos ingênuos: o FMI não está nem aí com a Puc. Esta precisa de seriedade no ensino, transparência na prestação de contas e, principalmente, moralidade administrativa em todos os atos! Se você acha que não é só a Puc que precisa disto, não é mera coincidência.

A Puc é um retrato do Brasil em pequena escala! Pessoas querendo levar vantagem, pessoas levando vantagem e, óbvio, esquemas de corrupção. Mas nem tudo está perdido: há bons professores e cursos reconhecidos. Como em qualquer lugar, há pessoas que defendem idéias retrógradas porque não querem enfrentar a realidade.

A redoma da infância ainda não desapareceu.

Se há pessoas que acham que o Lula não sabia da corrupção em seu governo, qual é o problema de estudantes acharem que a Puc está falida porque o FMI quer?

Na verdade este é o problema do Brasil: desculpas tangentes, de pessoas intelectualizadas, que em vez de enfrentarem os problemas, se escondem embaixo da saia da mamãe.

Ora, estudem, entendam de economia e administração de empresas para ver como tanto a Puc, quanto o Brasil podem desenvolver políticas econômicas ou sociais sustentáveis com a realidade fática!

Criticar é fácil. Criticar citando frases dos anos 60, mais ainda! Nem criatividade, você teve!

Por outro lado, a diversidade cultural tem seu lado extremamente positivo. As pessoas têm idéias diferentes de sucesso, status e o contraste sócio-econômico pode te ajudar a perceber que determinados comportamentos tidos como normais para você não o são em outras famílias.

O choque da realidade pode te fazer acordar para a dificuldade de atingir seus sonhos ou te fazer sair do conto de fadas que você vivia! Enfim, amadurecer.

No mesmo sentido, o grande aprendizado será aprender de uma vez por todas a respeitar o diferente. As idéias contrastantes das suas não são necessariamente incorretas! Mas cuidado, conforme colocado no início deste artigo, há muita gente defendendo frustrações de décadas passadas.

Mas, o mais importante, é notar que cada um, é cada um. Respeite e tire o seu melhor.

[3 Comentário(s)]

Postado por Daniel Bushatsky
1/10/2007 às 12h49

 
Minhas vozes

Nunca tive diário. Na adolescência gostava dos números, de matemática, química, física. O mundo pra mim era outro e eu me achava mais ou menos normal; talvez já houvesse alguma desconfiança de que não, mas tentava ser como os outros. Só depois dos vinte anos meu olhar mudou e descobri a importância, o poder da escrita...

Cristina Sampaio, no blog que acaba de inaugurar, e que linca pra nós.

[2 Comentário(s)]

Postado por Julio Daio Borges
1/10/2007 à 00h52

 
About Writing

[Do you find it easy? Has it become easier over time?] Some days it flows and it's wonderful and you can't imagine doing anything else. Other days it's like carving granite with a teaspoon. And the more you learn about the craft and technique, the harder it gets.

Val McDermid

* * *

[What was your favourite book as a child?] I didn't have a favourite book as a child - I never have. I think there's something rather weird about people that do.

Will Self

* * *

[What advice would you give to new writers?] Stop emailing me. I'm warning you.

Conn Iggulden

(Todos no Guardian, em "Why I write", dica do novo blog da Estante Virtual...)

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Postado por Julio Daio Borges
28/9/2007 à 00h49

 
O célebre Ernesto Nazareth

Depois de analisar, ouvir e estudar a canção (aqui e aqui), crítica musical, a poesia nas letras de música , Chico Buarque, Racionais MC's e João Gilberto, a última aula do curso de MPB do Espaço da Revista Cult viajou ainda mais longe no tempo. O músico e historiador Cacá Machado analisou a obra de Ernesto Nazareth e seus desdobramentos na história da música brasileira. O pianista, compositor de tangos brasileiros, viveu entre 1863 a 1934 e suas composições contribuíram na formação do que hoje é conhecido como chorinho.

Inspirado pelo conto de Machado de Assis, "O homem célebre", o historiador fez um estudo sobre a relação entre a vida de Nazareth e a do pianista fictício do texto, o Pestana. A análise deu origem ao livro O enigma do homem célebre. Ambos sonhavam em ser concertistas, mas o sustento e o sucesso vinham de composições mais populares (polca e maxixe). Nazareth, o entanto, foi muito mais além por ter criado um gênero a partir do maxixe: o tango brasileiro.

Cacá Machado apresentou três músicas para exemplificar as transições que Ernesto Nazareth fez entre um gênero e outro. "Você bem sabe" (1878), primeira composição do pianista, feita quando tinha apenas 13 anos, é uma polca tradicional. Dez anos mais tarde, compôs "Beija-flor", típica polca de salão (mais rápida e dançante) e em 1892 escreveu "Rayon D'or", considerada um marco, por ser uma polca-tango e apresentar um ritmo sincopado, depois classificado como "brasileirinho".

Nazareth é uma dessas figuras que depois que morreu se tornou um clássico, tanto na MPB quanto na música erudita. Isso aconteceu porque ele conseguiu entrar no repertório de concertistas ao mesmo tempo em que foi precursor de gêneros populares. "No Brasil, essa questão [entre música popular e erudita] é um nó cego e tenso, mas no sentido positivo. Acho bom ter esse nó e ele tem que se manter tenso, porque é daí que saem as coisas mais criativas da música. Mas eu particularmente não acredito nessa divisão", opina o historiador.

Mesmo reconhecendo a existência das diferenças entre um e outro, Machado acha que no Brasil os dois estilos se fundiram e se influenciaram muito, ao contrário do que ocorreu em outros países na mesma época. O maior exemplo da peculiaridade da história da música brasileira é o que se deu com a polca. Nazareth foi introduzindo um suingue, um ritmo sincopado nas polcas que compunha, aproximando-as do maxixe, até transformá-las em tangos. E o que veio em seguida foi o choro, o samba... Gêneros genuinamente brasileiros.

Para ir além
Espaço da Revista Cult

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Postado por Débora Costa e Silva
27/9/2007 às 18h53

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