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Segunda-feira,
28/10/2002
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Redação
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Em busca da unanimidade
"Os primeiros movimentos do PT, tão logo as urnas confirmaram as pesquisas, deram a nítida impressão de que o partido não se contentará com a vitória esmagadora. Tudo indica que nos próximos dias as principais lideranças petistas sairão em busca da unanimidade, a bordo do argumento de que é preciso garantir a governabilidade.
"Ao presidente eleito cumpre exatamente esse papel. Inclusive porque se elegeu com o discurso da conciliação, do diálogo permanente, do pacto nacional. É preciso, porém que, no afã de conquistar a todos, os petistas se precavenham para não terminar invadindo o direito de políticos e eleitores se postarem na oposição.
"Até cerca de duas horas depois de iniciada a apuração dos votos, havia um contingente de 40% de pessoas que optaram pela candidatura à Presidência sabidamente derrotada. Isso quer dizer que, mesmo consciente de que seu candidato não tinha chance alguma, esse eleitorado não abriu mão de sua manifestação de vontade.
"E é essa representação que não pode deixar de estar assegurada no exercício da oposição por parte daqueles que perderam. Alguém, por acaso, viu o PT sequer cogitar em aderir ao adversário depois das três eleições presidenciais em que foi derrotado?"
Dora Kramer, hoje no Estadão, em "Em busca da unanimidade"
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Julio Daio Borges
28/10/2002 às 11h01
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Matando saudades
Sempre ele? Por algumas semanas, porém, pensávamos que nunca mais fosse ser. E ninguém falou nada. Nem eu. Nos reservamos a um triste e silencioso luto. Mas eis que, de repente, clicando aleatoriamente na minha lista de links favoritos, descubro que o Arts and Letters, depois de sumir inesperadamente, voltou - para ficar, agora protegido pelo The Chronicle of Higher Education. Um alívio.
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Eduardo Carvalho
25/10/2002 às 15h19
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O Debate...
Essa eu peguei do Mario AV, que, por sua vez, pegou direto do Laerte.
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Julio Daio Borges
25/10/2002 às 11h18
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Joaquim Roriz
Mais um escândalo, de última hora, contra o Governo FHC e a favor da eleição de Lulla. Joaquim Roriz, governador do Distrito Federal, parece que "censurou" (acho o uso do verbo aqui um pouco complicado) o Correio Braziliense. Todo mundo está caindo de pau. Tentando jogar a culpa em Fernando Henrique Cardoso ou, pelo menos, dizer que o Presidente foi "conivente"... Enfim. Segue cobertura (um tanto quanto panfletária, mas é a única que temos) do Nova-e:
"O Senhor Joaquim Roriz em atitude absolutamente desesperadora encontra os mais estapafúrdios artifícios com apoio dos asseclas do PODER JUDICIAL E MILITAR para fazer novamente o que é uma marca registrada de sua administração, de sua atitude política, de sua própria existência: INVADIR A REDAÇÃO DO CORREIO BRAZILIENSE É REEDITAR, POR ANTECIPAÇÃO, A DITADURA PROCLAMADA DOS CORONÉIS DE HOJE E DE ONTEM QUE AINDA MANDAM NESTE PAÍS COM A CONIVÊNCIA DO PRÍNCIPE DA SOCIOLOGIA.
"A redação do jornal Correio Braziliense é invadida e a impressão de uma matéria denunciando o envolvimento do governador em ações suspeitas com grileiros é impedida de ser veiculada. O QUE É ISTO SENHOR PRESIDENTE DA REPÚBLICA, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO? A ONU NÃO O SALVARÁ A RESPEITO DE MAIS ESTA SUA PERMISSIVIDADE. AOS AMIGOS TUDO, CARO PRESIDENTE? AOS INIMIGOS, A LEI. ESTA É A SUA PRIMEIRA TESE?"
[Waaal.]
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Julio Daio Borges
25/10/2002 às 11h03
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Livre como um táxi
Eu, em geral, acho que esse sujeito não dá a devida atenção ao assunto que semanalmente aborda: internet. São sempre aquelas matérias sobre curiosidades que não interessam a ninguém: aspectos excessivamente técnicos, bizarrices de meia dúzia de nerds ou previsões fatalistas sobre a Grande Rede. Claramente, não se trata de alguém do meio.
Mas, desta vez, tenho de confessar: apesar da ilustração (acima), me vi representado pelo texto. Eu falei disso há quase uma semana atrás, na sexta-feira (favor ler "Livre como um táxi"). Parece que na Espanha resolveram efetivamente tomar uma atitude contra o que chamei de "cibervândalos", "desocupados por profissão" ou "críticos por esporte". Será o fim dos spammers, dos sites-pirata e da maioria dos blogs:
"Para manter um endereço na internet, todo e qualquer site precisará de um registro comercial, com a identificação completa do responsável, o endereço físico e o tipo de atividade exercida. Até aí, nada demais. O texto legal, no entanto, responsabiliza diretamente o provedor de acesso pelo conteúdo disponibilizado.
"O governo espanhol argumenta que é preciso coibir e tirar de circulação, 'com a devida autorização judicial', serviços que atentam contra a ordem pública, ameacem a segurança nacional, ofendam a dignidade humana, coloquem em risco a juventude e a infância ou ofereçam perigos à saúde pública.
"Os sites também ficam proibidos de enviar e-mails publicitários, sem que tais mensagens tenham sido formalmente solicitadas por seus usuários. Os contratos por e-mail também passam a ter o mesmo valor jurídico conferidos aos documentos tradicionais, impressos.
"No início da semana, em meio ao arsenal de críticas, um porta-voz do ministério admitiu que poderá haver uma 'flexibilização' na aplicação da lei. Mas deixou claro que não está nos planos do governo voltar atrás nas medidas adotadas."
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Julio Daio Borges
24/10/2002 às 16h17
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Finca Vigia
Mais uma da série: matéria-importada-traduzida-para-cobrir-buraco, na capa do "Caderno2". Desta vez, sobre as escavações arqueológicas na propriedade cubana de Hemingway. Vem direto do The Washington Post, escrita por um tal Kevin Sullivan, mas num tom tão ufanista que até cansa. Encontraram alguns escritos do autor de Adeus às Armas e já estão falando em "um dos mais importantes achados da história da literatura moderna americana":
"Eles abriram as portas que levam ao porão secreto e lançam nova luz sobre a vida de Ernest Hemingway. Na escuridão embolorada pela umidade tropical e rodeada pelas armas e troféus de caça do escritor, a delegação de quatro americanos encontrou o que considera um prêmio da loteria: gavetas de arquivos e caixas com milhares de páginas de manuscritos originais escritos por Hemingway, rascunhos e sobras de grandes trabalhos, cartas de amor e ódio, anotações em inglês e espanhol e milhares de fotografias.
"O porão revelou também um original datilografado de In Another Country, uma história que Hemingway escreveu em Paris nos anos 20. E há cartas desconhecidas de e para a sua quarta mulher e viúva, Mary, junto com uma coleção de cartas de Adriana Ivancich, uma aristocrata italiana de 19 anos por quem Hemingway foi profundamente apaixonado e que inspirou o personagem de Renata em Do Outro Lado do Rio, Entre as Árvores.
"A visita a Finca Vigia ou Lookout Farm, casa de Hemingway, localizada numa comunidade ao leste de Havana, foi o primeiro passo de um esforço ambicioso para microfilmar, digitalizar e preservar seus papéis. O projeto, resultado de uma reunião de esforços pouco comum entre o governo do presidente Fidel Castro e a família de Hemingway, estudiosos e devotos, será lançado oficialmente no mês que vem em uma cerimônia em Finca Vigia."
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Julio Daio Borges
24/10/2002 às 16h02
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Charge da Semana
Trata-se de um trabalho do meu amigo Diogo Salles. Em primeiro plano, Fernandinho Beira-Mar e Elias Maluco. Não percam a estréia dele no "Digestivo nº 104", na seção especialmente criada, no rodapé: "Charge da Semana". Episódio de hoje: "O Massacre da Serra Elétrica".
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Julio Daio Borges
23/10/2002 às 15h09
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Alfabeto Literário
Último. Este é de autoria de Ubiratan Brasil [tá vendo, não falei?]. Sobre o livro do Loredano, um dos melhores traços da atualidade (para desenhar escritores, provavelmente imbatível), que lança hoje Alfabeto Literário, na Casa de Cultura Alvim (Av. Vieira Souto, 176, no Rio), a partir das 19h30.
O lançamento coincide com a festa que comemora o nascimento da editora Capivara, de Pedro e Bia Corrêa do Lago (mesma bat-hora, mesmo bat-local). Cariocas, não percam. Ela é uma simpatia, entrevista escrevinhadores no "Outras Palavras" (do canal Futura), e é filha de um dos meus heróis literários (será que ele vai?): Rubem Fonseca.
"'O que Loredano quer atingir com suas fisionomias fora de esquadro, modificação violenta da imagem do caricaturado, trazendo o de dentro para o de fora, como um Escher gozador da humanidade?', questiona Millôr Fernandes, no prefácio do livro. Ele mesmo, aliás, fornece a resposta: 'A explicação é evidente se fixamos detalhe essencial de sua biografia. Filho de um oficial de Cavalaria, Loredano desde cedo se sentiu obrigado a desmontar o ser humano.'
"Loredano não esconde o prazer com que escolhe os traços que vão compor o retrato de seus escritores preferidos. Clarice Lispector e Thomas Mann são dois desse seleto time, mas a reverência pode exercer uma força limitante em vez de inspiradora. É o caso de Machado de Assis: 'Meu respeito por ele é tamanho que nunca fiquei satisfeito com as caricaturas que já fiz nos últimos 20 anos', conta. 'Com as últimas, publicadas pelo Estado, acho que me aproximei do que seria o ideal.'"
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Julio Daio Borges
21/10/2002 às 18h27
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A alegria de não ensaiar
[Eu disse que hoje estava puro "Caderno2" (eu sei, você não está lendo na ordem...)]. Saiu um artigo sobre Wayne Shorter, traduzido do The Guardian. Shorter foi um dos young lions que acompanhou Miles Davis nos anos 60 [eu comprei a caixa, que não é fácil, mas que eu recomendo], dividindo a responsabilidade com Herbie Hancock, Ron Carter, George Coleman e Tony Williams. É quase uma entrevista; provocante e reveladora:
"'Em todos esses anos com Miles, nós nunca fizemos ensaios. Miles tinha uma forma de analisar uma coisa em seu conjunto, como um todo, e não medida por medida, e era capaz de ver a floresta sem olhar cada árvore. Eu me lembro de que, anos mais tarde, quando todos nós já estávamos bem mais avançados em nossas coisas, Miles me perguntou: 'Sabe aquela banda que nós tínhamos? Fizemos um grande avanço, não é verdade?' Ele gostava daquela banda.'
"'Musicalmente, eu não quero ir toda vez ao ginásio de esportes, digamos assim, onde a música se torna uma façanha olímpica', explica ele. 'Uma coisa é você celebrar o caráter expansivo da vida, outra coisa é sair por aí se gabando das piruetas que sabe fazer sem usar as mãos. É como alguém que quer ouvir Paganini o tempo todo e nunca o violino em si. Eu quero viver muitos personagens e muitas vidas na música.'
"'Wynton [Marsalis] é muito jovem, você sabe. Lembro-me de que, na década de 1970, quando as pessoas ouviam falar a respeito desse novo tocador de trompa, ele apareceu em minha casa de surpresa. Apresentou-se. Ele queria ouvir um pouco do álbum Plugged Nickel, de Davis (uma gravação ao vivo de 1965 feita pelo quinteto de Davis do qual Shorter fazia parte) e ele disse que queria me ver enquanto ouvia a música. Para mim, isso significa que, naquela época, ele estava em condições de entender a profundidade do que estava acontecendo. Algum tempo depois, entre a sua saída de minha casa e agora, esse progresso em sua compreensão entrou em férias.'"
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Julio Daio Borges
21/10/2002 às 18h21
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Vamos Banir os Aplausos
Este é justo o contrário (do de baixo). Lauro Machado Coelho sobre Glenn Gould. (Vocês se lembram: eu chamei a atenção para os 20 anos da morte, aqui, há duas semanas atrás. Mas a culpa não é do Lauro, que é hors concours, a culpa é do "pauteiro".)
O Lauro, aliás (de quem publiquei um Ensaio), lança mais um volume de sua História da Ópera. Trata-se da continuação de A Ópera Italiana (dos últimos 30 anos do século XIX em diante). Fico devendo mais informacoes, que pego com ele já já; enquanto isso, leiam o texto:
"Glenn Gould foi a Maria Callas do piano. La Divina tinha um timbre não exatamente bonito, uma voz que, a despeito da extensão prodigiosa, apresentava muitos problemas e, no entanto, o seu senso de teatro tornava inigualáveis as suas interpretações. Gould tinha o péssimo hábito de cantarolar enquanto tocava, suas escolhas de andamento e dinâmica eram muito estranhas, confessava abertamente a aversão ao uso do pedal e à técnica de execução legato. Mas, o que nas mãos de outro poderiam parecer meros maneirismos, nas dele eram intuições fulgurantes e reveladoras.
"'O concerto é um lugar de concessões mútuas do músico e do público, em que a criação é imolada no altar da representação', dizia Glenn Gould. A gravação, ao contrário, era um ato verdadeiramente criador, na medida em que ele podia controlar todas as suas fases, desde a colocação dos microfones até o estágio final de montagem. Isso fica muito claro em Vamos Banir os Aplausos!, o polêmico artigo que Gould publicou na revista Musical America de fevereiro de 1962, dois anos antes de se retirar da plataforma de concertos."
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Julio Daio Borges
21/10/2002 às 18h08
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