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Quinta-feira,
22/11/2007
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Redação
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Franz Kafka a Max Brod
Querido Max, meu último pedido: tudo que deixei para trás (quer dizer, nas estantes, cômoda, escrivaninha, tanto em casa quanto no escritório, ou aonde quer as coisas tenham ido parar, o que quer que você encontre) sob a forma de cadernos, manuscritos, cartas, minhas e de outras pessoas, rascunhos e assim por diante, deve ser queimado até a última página sem ser lido, assim como escritos ou anotações minhas que você possa ter ou outras pessoas, a quem deverá implorar em meu nome. Cartas que não forem entregues a você devem, pelo menos, ser lealmente queimadas por aqueles que as têm.
* * *
De tudo que escrevi os únicos livros que contam são estes: O Processo, O Foguista, Metamorfose, Na Colônia Penal, Um Médico Rural, e o conto Um Artista da Fome. (Os poucos exemplares de Meditação que existem podem ficar; não quero dar a ninguém o trabalho de destrui-los, mas não deverá haver reimpresão.) Quando digo que esses cinco livros e o conto valem, não quero dizer que desejo que sejam impressos de novo e entregues à posteridade; ao contrário, gostaria que desaparecessem todos juntos; só que, já que existem, não me importo se alguém desejar conservá-los, se quiser.
Tudo o mais que escrevi (impresso em revistas ou jornais, em manuscritos ou cartas), sem exceção, tudo que possa ser recolhido, ou implorado nos endereços[...] - tudo isso sem exceção, e de preferência sem ser lido (apesar de eu não me incomodar que você os leia, embora prefira muito que não o faça, e, de qualquer modo, ninguém mais deverá ler) - tudo isso, sem exceção, deve ser queimado, e que você o faça o mais rápido possível é o que eu lhe imploro.
Franz Kafka, em O Livro dos Livros Perdidos, de Stuart Kelly.
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Julio Daio Borges
22/11/2007 à 00h18
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Poesia e inspiração
A poesia é, simultaneamente, fruto do trabalho e do talento, talvez mais daquele do que deste. E lembramos aqui as palavras de Goethe: a obra de arte é 99% de suor e 1% de gênio. Nenhum poeta jamais matou a inspiração, nem mesmo o antilírico e realista João Cabral de Melo Neto. Se a tivessem assassinado, quero dizer, a inspiração, a poesia estaria morta. Convém apenas esclarecer que a inspiração não é um transe mediúnico, mas um longo e complexo processo, a um tempo metal e emocional que me parece indispensável à criação artística. Mas não é só de inspiração que vive um poema. Ela é apenas, quando o é, um ponto de partida que pode (ou não) levar um poema até o fim.
Ivan Junqueira, o último que eu conheci na Fliporto, em entrevista, de novo...
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Julio Daio Borges
21/11/2007 à 00h03
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Portunhol Selvagem Reloaded
Hoje quando amaneci eu ainda bomitava bocê. Durante toda la mañana continuei vomitando bocê y parecia que eu non ia parar de te vomitar nunca mais. Cuanto mais yo te bomitaba mais eu me sentia leve. Mesmo assim bocê continuaba entalada em mio estômagu. Continuei a te bomitar por la tarde. Y el dolor de cabeça non pasaba. El dolor de estômagu non pasaba. Era noche nuebamente. E yo te bomitava ainda. Vomitaba solamente água. Felizmente yo ainda era jobem. Non tenía quarenta anos todabía. Tenía tempo pra continuar te bomitando. Y continuei a te bomitar. Porque se eu non te vomitasse, se deixasse bocê apodrecer em mim, sei lá, morreria enbenenado. Por eso yo non tinha mais remédio além de continuar te bomitando. Amor bichado, amor estragado, amor com data de bencimento vencida, sei lá, mi dá un feroz dolor di barriga. Depois de tanto vomitar bocê, amore, comecei a cagar bocê. O sol non tinha ainda aparecido. Era uma feroz disenteria no escuro. Yo te cagaba copiosamente. Bocê salía con dificuldade. Non queria salir. Pero salía, apesar de toda la dificuldade. Era una cólica etrusca. Non ia terminar de te cagar tan cedo. A veces paraba de te cagar por algun tempo. Y empezaba a bomitar bocê nobamente. A bomitar tus cachos. A bomitar tus mechas bermelhas. Mais una noite sem bocê, amore, y mio cuerpo en transe. Depois vai aparecer u sol. Enton irei pru quintal. Dou bom dia pru sol. Y começo a mijar bocê, amore. Mijar bocê, confuso. Mijar bocê como un débil mental. Mijar bocê como un passarinho. Yo era bello como un menino de cuatro años mijando bocê, amore. Y era legal mijar bocê. Una sensação de prazer nascia en mis bolas y cruzava u canal da urina como una felicidade merecida. Nunca había mijado tan gustoso, amore. Fiquei mijando bocê por una hora mais ou menos. E te mijar foi bom. E depois de te mijar, longamente, fiquei mais leve, mais livre, mais feliz. Estava pronto para nascer di nuebo. Estaba pronto pra te encontrar mais bela. Estava pronto para beber novamente du teu mel y ficar envenenado. Estava pronto para me curar bebendo du teu beneno. Estava pronto para curar tua epilepsia com u beneno du meu miel, u beneno du meu esperma azul, u bebeno du meu carinho.
Douglas Diegues, que eu também descobri na Fliporto, em entrevista a Marcelino Freire.
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Julio Daio Borges
20/11/2007 à 00h52
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Poeta e professor
Cada poeta é um mundo. Eu
queria me dedicar profissionalmente à literatura. Estava fascinado com a
história da literatura, com os grandes autores do programa, como dizem
os franceses. Tentei fazer mestrado na USP e a burocracia então não me
permitiu. Fui rejeitado como estudante nas duas universidades nas quais
dei aulas, a UNAM, no México, e a USP aqui. Mas depois elas me
contrataram como professor. Vá entender-se a burocracia ibérica. É
impossível.
Creio
ser um bom professor. Me esforço bastante e ganho bem mal. Também creio
ser um bom poeta. Ça arrive.
Em
resumo, creio que para escrever a poesia que eu escrevo, estudar em
Yale, na New York University, grandes instituições de ensino, foi
importantíssimo. Mas não há regras. Um poeta pode também estar fascinado
pela literatura, pela arte, como eu estive, e não necessitar dessa
exposição organizada ao acervo da cultura.
Horácio Costa, que eu descobri na Fliporto, em entrevista.
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Julio Daio Borges
19/11/2007 à 00h46
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Ela tem um blog?
Para os que me conheceram recentemente - 10 anos ou menos - descobrir que eu tenho um blog talvez os faça cair o queixo. Os mais chegados talvez até procurarão o celular pra me ligar e dizer alguma coisa, mas vão desistir antes de encontrar o aparelho ou vão perceber que meu número não está na agenda.
Para os que me conhecem há mais tempo, bem, aí fica a dúvida: Ou são família - sempre dizem coisas boas, ou não estão por perto e não entendem português - pelo menos a grande maioria.
Então, para aqueles do meu convívio, que fazem parte do 1º grupo, a explicação é simples: Com o passar do tempo alguma coisa aconteceu e eu não sei mais quem eu sou. Não quero fazer terapia nem tomar litium, pelo menos por enquanto. Cada post vai me dar a oportunidade de escolher temas, palavras, imagens e até sons e a busca deles talvez me devolva a identidade que venho perdendo.
Aos muito próximos, que já sabem ler, digo apenas que ninguém tem culpa de nada. Shit happens e só pra citar a little Ms. S.: "You got a lot of livin' to do without life" - mas prefiro viver com vida mesmo, com gosto, com prazer. Acordada. Pelo menos lembro-me de uma época em que preferia isso e estou nessa busca. Paciência. Post a post vamos ver no que dá.
Ms. S., que tem, sim, um blog, e que linca pra nós.
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Julio Daio Borges
16/11/2007 à 00h36
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Broadway on strike
Devo confessar a vocês o velado prazer que senti ao receber as notícias das greves simultâneas da classe artística americana: a dos contra-regras da Broadway e a dos roteiristas de cinema e TV. Os contra-regras, além de reivindicarem aumento, estavam trabalhando desde julho sem contrato assinado. Os roteiristas querem ganhar direitos autorais pelos downloads dos programas de sua autoria veiculados na internet e nos telefones celulares.
O teor das coberturas, no entanto, preocupa-se mais com os milhões de dólares que serão perdidos pela indústria do entretenimento (caso essa situação se prolongue) do que com uma discussão saudável sobre o papel dos artistas na sociedade de consumo. Quanto valem? Deve ter é gente tensa porque o cronograma de Lost vai atrasar. Outros, em viagem a Nova Iorque, provavelmente estão decepcionadíssimos porque não vão assistir a O Rei Leão...
Ana Beatriz Guerra, do Proparoxítonas, que linca pra nós.
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Julio Daio Borges
15/11/2007 à 00h25
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A vida é um pisca-pisca
A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem pára de piscar, chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos - viver é isso. É um dorme-e-acorda, dorme-e-acorda, até que dorme e não acorda mais. A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia. Pisca e mama. Pisca e anda. Pisca e brinca. Pisca e estuda. Pisca e ama. Pisca e cria filhos. Pisca e geme os reumatismos. Por fim, pisca pela última vez e morre.
- E depois que morre - perguntou o Visconde.
- Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?
Emília, a própria, no Talqualmente, que fala de tradução (e que linca pra nós).
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Julio Daio Borges
14/11/2007 à 00h17
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Compulsão
Eu lavo a mão toda a vez que toco alguém
Eu não me toco depois de ter tocado em alguém
Quando o lixeiro vem eu faço o máximo
Para que não exista nenhum toque entre nós
Quando o carteiro vem com vírus dele
Eu tomo cuidado para não haver qualquer contato
Detesto que me toquem e que falem tocando
Detesto cumprimento de mão com mão
Quando eu cumprimento alguém logo lavo a mão
Vejo sujeira em todo o lugar
Menos dentro da minha mente
Que deve ser o lugar mais sujo do mundo
Rodrigo de Souza Leão, cujas entrevistas eu tenho lido por aí, em seu blog.
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Julio Daio Borges
13/11/2007 à 00h33
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Que seja o próximo, Thom
Confesso que não paguei nada pelo disco dos Radiohead In Rainbows. Até fui ao site e peguei o Visa da carteira... mas na hora de desembolsar o dinheiro (ia dar 5? pelo download) me senti tão manipulado pela campanha marqueteira deles que desisti. Bobagem minha, claro... Eles foram muito mais espertos do que eu nesse lance de "pague quanto você quiser", nos envolvendo nessa campanha pretensamente visionária, aproveitando-se da imagem de culto criada em torno deles. E o disco até é bacana, mas eu gostava muito mais dos Radiohead antes dessa "fase" megalomaníaca, antes de todos esses clichês de "gênio atormentado" que o Thom Yorke faz questão de alimentar. É uma pena que uma banda tão talentosa tenha de viver sob a sombra do disco mais importante dos anos 90...
Wellington Almeida, lincando pra nós, no seu blog.
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Julio Daio Borges
12/11/2007 à 00h30
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5ª MUMIA em BH
A exibição dos filmes da 5ª Mostra Udigrudi Mundial de Animação - MUMIA será realizada na capital mineira entre os dias 12 e 16 de novembro, com o tema "Quando o mundo todo dorme pesado".
Ao todo, serão mais de 130 filmes de todas as partes do Brasil e de 17 países, como Suíça, Letônia, Alemanha, China, Bélgica, Chile, Espanha, Itália, Canadá, Holanda, Reino Unido, Rússia, Portugal, EUA, França, Japão e Polônia.
As mostras especiais e competitivas são gratuitas e abertas ao público. As exibições acontecem no Cine Humberto Mauro, sempre a partir das 17h.
Confira a programação no site da MUMIA.
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Pilar Fazito
11/11/2007 às 21h55
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