Por que a gente nunca fica feliz por completo? Queria entender. Saber explicar. E tentar mudar. É que uma hora eu quero. Quero muito. Mas, logo em seguida, não quero mais. E isso é chato, meio complicado. Porque eu nunca sei direito o que eu quero e o que eu não quero. Então, a minha vontade é ficar parada. Sem querer e não-querer nada. Mas é até meio sem graça isso. E é nessas horas em que eu passo a achar tudo assim. Ao contrário de ontem. Onde a graça era maior que todos os maiores possíveis de se existir nesse universo que a gente conhece e no que a gente desconhece também. É uma inconstância que me trástraz umas dores, uns sentimentos que eu queria encarar como banais. Queria fechar os olhos e fingir não enxergá-los. Mas não há empecilhonada que os contenha. Eles não têm a dureza da minha pouca força. Da minha forçada determinação para mudanças. Eu preciso esquecer. Preciso lembrar. Preciso correr. Preciso ter calma. Quero um abraço. Quero abraçar. Queria me odiar um pouquinho menos. Porque eu me odeio muito, muito, muito. Porque eu não aceito as minhas perdas e nem acredito nas minhas conquistas. Como pode alguém ser feliz assim? O pior é que eu tenho a consciência plena... De tudo, ou quase tudo. De bastante coisa. Sabe o que eu faço pra mudar? Nada! Nadinha. Nada-nada-nada. E então eu me odeio mais ainda. Com as forças que tenho e com as que não tenho. Parece até que eu me realizo ao saborear esse gosto. Mas não é. E isso me faz odiar-me ainda mais. As minhas aparências para mim mesma. As minhas dúvidas de mim mesma. As minhas suspeitas de mim mesma.(...)
Giselle Lucena, no seu blog, que, claro, linca pra nós.
O ano nem bem começou, mas já foi dada a largada para as homenagens ao Centenário da Imigração Japonesa, a ser comemorado em junho. Um exemplo é a exposição "JAPÃO: Um perto distante", no Espaço Nossa Caixa Arte e Cultura. Com curadoria de dois artistas japoneses, André Oliveira e Sheila Oi, que também apresentam obras na exposição, ela é composta por 13 jovens artistas e 17 obras que abordam a terra do sol nascente e a segunda maior economia do mundo.
Apesar de envolvidas pela mesma temática, elas apresentam influências distintas. São fotografias, xilogravuras, impressões digitais, lápis de cor, grafite, estêncil e cerâmicas que reúnem elementos da cultura japonesa contemporânea e tradicional. O mais interessante é quando conseguem fundi-las em uma mesma obra, como os leques, de Fátima Lima, um com uma leitura oriental (Ninguém sabe) e o outro ocidental (Continuam sem saber), ambos com kanjis em sua composição para mostrar o diálogo entre as duas culturas. As figuras de gueixas que se encontram em meio ao conflito entre desejos e deveres são influenciadas por gravuras e o teatro japonês. No leque com leitura oriental, não há uma estrutura narrativa, mas um ciclo. No outro, temos uma história e a evolução de sentimentos, tão conhecida por nós.
Ni gen sei ― Sheila Oi
Já o detalhado conjunto de peças de cerâmica Preto e Branco, de William Iamazi Ferro, é uma homenagem a dois personagens de um clássico do Mangá criado por Taiyo Matsumoto. As duas figuras se completam em uma referência ao Yin Yang. Como na obra original, retrata dois meninos de rua inseparáveis que moram em um cenário urbano dominado por gangues, sendo o Preto racional e, eventualmente, violento por necessidade. Já o Branco representa a inocência e tem uma mentalidade infantil e fantasiosa. A história de de Mtsumoto trata de amizade e equilíbrio entre o bem e o mal, na sociedade e dentro de nós, um dos pontos fundamentais da filosofia nipônica.
Outra obra interessante é História do mendigo, de Shin Moromisato, que é atravessada por outra narrativa, Corredor de Pedestres. A técnica utilizada chama atenção: o cliche-verre, confecção de negativo a partir da raspagem de uma superfície preparada, usando técnicas de grafismo ou frotage. O artista também utilizou a Van Dyk e cianotipia, técnicas de revelação e impressão de negativos a partir de misturas de compostos químicos fotossensíveis, relacionadas com o Mangá.
Para ir além
"JAPÃO: Um perto distante" ― Espaço Nossa Caixa Arte e Cultura ― Rua Álvares Penteado, 70, 2º mezanino ― Centro, São Paulo ― Até 11 de janeiro de 2008 ― De segunda a sexta, das 10h às 16h ― Entrada Franca ― Informações ― Tel.: (11) 3244-6838 ou 3244-6839
Como numa casa de campo, passei meus dias de repouso. Casa cheia, cheiro de comida aguçando os sentidos o tempo todo. Ah, e a cerveja, a cerveja regada ao bem dará como os Deuses pedem. A paz e o silêncio existiam mesmo em meio a degladiações das incansáveis línguas. Lá, meus amigos, discos e livros faziam compania perfeita ao corpo cansado de seus limites. O anfitrião, soberbo de si, orgulhoso do lar construído, bigode anos oitenta, coração anos sessenta, talvez outrora um hippie desprendido da família em busca de aventura, agora um comandante do lar de mão cheia. A mãe era a mãe, bastava dizer isso, mulher de coração e alma, entregue ao bel prazer do lar, divertida e diversão. O cara, puro coração, uma flor no pantâno paulistano e, por quê não, mundial no qual nos encontramos. Não tão falador ou tão chamativo, porém de presença magnética. A caçula, meiga... a caçula, dona do encanto mistérioso que cerca esse tempo já distante nas brumas do passado, a caçula foi uma grata surpresa.
Após o natal, vem a tranqüilidade da capital mineira. Tranqüilidade que se estende até a quarta-feira de cinzas e toma forma de um enorme marasmo, capaz de fazer os mais nostálgicos sentirem falta do trânsito infernal, da poluição na Avenida Amazonas e daquela quantidade de gente fervilhando nas ruas.
De repente, todo mundo desaparece e BH volta ao que era há vinte anos. Num domingo desses, dá até para descer a Afonso Pena em carrinho de rolimã, ou comer pipoca no Pirulito da Praça Sete.
A cidade conta, oficialmente, com 2,3 milhões de habitantes. Nosso metrô é de fazer dó e, a cada dia, mais gente prefere arrumar um carro para ficar, confortavelmente, preso no engarrafamento, enquanto emite gás carbônico às pampas.
Todos os dias eu acordo e penso que somos muitos no mundo. Todos os meses, faço meu irmão (um douto demógrafo preocupado com a sociedade e o ser humano, ao contrário da irmã) relatar os índices do ibope em pormenores: quantos já somos? A quantos chegaremos em 10 anos? E em 50? Quando começaremos a ser menos? E faço os cálculos de mortes anuais no trânsito. Adiciono os 6 mil brasileiros mortos de tuberculose por ano, 3 milhões ao todo no mundo, mais um tanto por desastres naturais (furacões, tsunamis, terremotos e por aí vai) e chego à conclusão de que a natureza é sábia.
Meu irmão me diz que já chegamos aos 7 bilhões de pessoas em todo o globo. A expectativa caiu, graças a Zeus, nos últimos anos e não chegaremos a 12 bilhões como se acreditava, mas talvez a 10 bi. Ainda acho muito. Mesmo que me digam que a aceleração já parou e que, em 50 anos, o número começará a cair. Ainda assim, às vezes tenho pesadelos e imagino onde e como esses 3 bilhões de pessoas que estão por chegar se acomodarão. Os 3 bilhões de carros que vão querer ter, as casas que terão que ser construídas, a água que deverão usar, a energia e todos os benefícios a que qualquer pessoa deveria ter direito.
Nunca fui boa de números e menos ainda de distribuição espacial. Acabo tendo meus pesadelos, imaginando 3 bilhões de pessoas no meu quarto, dividindo não apenas o espaço, como também o ar que respiro. E me sinto sufocada.
Já convivo com 2 pessoas que se multiplicam exponencialmente durante férias, feriados, sábados e domingos. Após uma semana de convívio, começo a sentir uma comichão, uma vontade de me enclausurar na minha toca espaçosa de 12 metros quadrados. Sozinha. Não sei como conseguiria conviver com mais 3 bilhões de pessoas no mundo.
As pessoas precisam de um mínimo de distância para não enlouquecerem umas às outras. Até essa típica overdose familiar mineira irrita. E como irrita! Família é bom. Mas é melhor ainda quando há distância porque a gente passa a sentir falta e, quando encontra, não tem tempo para brigar.
Ok, nenhum homem é uma ilha. É verdade que depois de 8 meses de isolamento e falta de um abraço ou aperto de mão em país frio e franco, voltei ao Brasil com uma estranha e bizarra vontade de "me jogar para a galera". Nunca fui muito de futebol, mas realizei meu grande desejo num clássico com 80 mil pessoas no Mineirão: Cruzeiro e Flamengo em... 2003? Naquele ambiente único em que o contato físico é tão intenso que a gente sai do lugar sem precisar por o pé no chão. Flutuei, literalmente, enquanto a massa de torcedores me levava para a arquibancada. E, nessas horas, a "sobaqueira" toda vira perfume de rosas orvalhadas aos primeiros raios de sol da manhã. O suor da classe operária, dos trabalhadores braçais e dos intelectuais esportivos de domingo... Nunca pensei que pudesse cheirar tão bem. Como diria o Peter Gabriel, I have the touch.
Depois de saciada a necessidade tátil, voltei à condição sociopata, à ojeriza de atitudes pegajosas e a fugir de viagens de ônibus em horário de rush acebolado.
Sendo assim, eu deveria adorar a situação desértica de BH nesta entressafra de feriados e ficar por aqui. Por isso mesmo, não consigo entender essa tentação de passar o réveillon em meio a 2 milhões de criaturas que se estapearão nas areias de Copacabana ao som de fogos de artifício, mandingas e pedidos de paz e tranqüilidade.
Devo ser masoquista.
Masoquista ou não, feliz 2008 para todos, um abraço e... chega, já tá bom. Agora arreda um pouquinho prá lá, por favor.
Em O escritor e seus fantasmas Ernesto Sabato diz que o principal problema do escritor "Talvez seja o de evitar a tentação de juntar palavras para fazer uma obra. Disse Claudel [imagino que Camille, e não seu irmão] que não foram as palavras que fizeram a Odisséia, mas o oposto."
Sem querer de maneira alguma diminuir a questão levantada por Sabato, eu diria que o maior problema do escritor é a queda de energia. Acabei de perder um post, pois o estava escrevendo no Bloco de Notas. É que não gosto de escrever no Word. Na verdade, nem no micro, gosto mesmo é de escrever no papel. Mas, a partir de agora, usarei o Word, quando estiver escrevendo no pc.
Assim, colocaria o "evitar a tentação de juntar palavras" em segundo lugar na lista de problemas do escritor.
"A princípio, acho que nós, da periferia, somos tratados como se morássemos em outro país, um país considerado menor, na visão dos seus colonizadores. Somos a Palestina Brasileira. E como palestino me sinto no direito de lutar pelo meu território. Com pedras e poemas."
"Quando ele se inclinou aproximando a cabeça careca e brilhante um pouco mais perto de minha órbita, saltei de repente e dei um tapão na sua orelha com a palma da mão esquerda. Ela estava levemente dobrada em forma de concha, para proporcionar o máximo de energia ao impacto. Um volume isolado de ar é conduzido subitamente pela trompa de Eustáquio até o meio do cérebro em velocidade quântica, provocando dor, medo e insulto extremo ao tecido.
O monge cambaleou de lado e gritou, segurando a cabeça, agoniado. Depois caiu no chão e me xingou. 'Seu porco!', berrou. 'Por que me bateu e arrebentou meu tímpano?'"
Hunter S. Thompson, em Reino do medo (meu presente de Natal para mim mesmo), dando um surdão num monge, depois de um questionamento filosófico.