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Quarta-feira,
23/1/2008
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Redação
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Dicas bacanudas para 2008
Dentre as várias resoluções para 2008, uma delas já vem me trazendo frutos. Este ano decidi que, ao invés de mandar tantos e-mails, tentaria resolver as pendências com quem trabalha comigo pessoalmente.
Desde então, sempre que tenho alguma dúvida, sugestão ou problema a ser resolvido com alguém, levanto o meu "bumbum" da cadeira e vou até a sua mesa. Vocês não imaginam o quão este simples gesto se mostrou produtivo!
Além da agilidade na hora de resolver questões que poderiam ficar paradas por dias nas lotadas caixas de e-mails, esta nova prática é também bastante saudável, um exercício físico considerável (aqui os funcionários ficam lotados em diferentes escritórios, relativamente afastados um dos outros, de acordo com a área e função que atuam).
Percebi também que a minha relação com os colegas ficou muito mais próxima e fortalecida, o que é fundamental na hora de resolver questões mais complicadas e que precisam sair da rotina normal e "pular" a tal burocracia.
Isto tudo é apenas uma prova que, às vezes, pequenas mudanças de comportamento podem trazer grandes benefícios! Pense nisso.
D., no 1 day stand, que linca pra nós.
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Julio Daio Borges
23/1/2008 à 00h27
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Desenhos de Reunião
Gustavo Mini, no seu blog, que linca pra nós.
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Julio Daio Borges
22/1/2008 à 00h21
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Caixa Dois, sem eufemismos
Nesta boa adaptação da peça de Juca de Oliveira para o cinema (que chega agora em DVD), Bruno Barreto procura se manter fiel ao original (na medida do possível), conduz a trama com agilidade e ainda conta com um elenco competente. Destaque para a atuação de Fúlvio Stefanini como Luiz Fernando, o banqueiro corrupto. Com humor, mas sem caricaturar seu personagem, ele conduz o espetáculo e ainda dá boas deixas para Cássio Gabus Mendes e Daniel Dantas brilharem.
O tema da malandragem é latente e o "jeitinho brasileiro" fica exposto até o osso através da classe média. O personagem chave para essa discussão é o de Angelina (Zezé Polessa), uma austera professora de primário que se vê milionária de uma hora pra outra. É aí que sua honestidade é posta à prova e traz à tona a realidade brasileira de que tudo pode se dar o tal "jeitinho". O desfecho da história conduz ao nosso retrato tragicômico de celebração da malandragem, sem ser moralista, mas permitindo a discussão ética. No final, todo mundo tenta se colocar na situação do filme, buscando justificativas para poder aceitar a bolada milionária sem se sentir corrompido. São estas "justificativas" que melhor definem o jeitinho brasileiro.
Interessante lembrar que a peça data de 1994 e, 14 anos depois, ainda se mantém bastante atual, exceto pela troca da moeda, que era uma constante na época, e que teve de ser revista. A única coisa desatualizada é o nome do filme, já que o novo truque dos políticos brasileiros é o eufemismo. Em 2005, Delúbio Soares resolveu inovar e renomeou o caixa dois para "recursos não contabilizados". De lá pra cá, a política brasileira foi arrebatada por esta cínica enfermidade, mas, graças ao bom senso, o nome original foi mantido.
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Diogo Salles
21/1/2008 às 11h29
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Lost
(...) eu sou mesmo uma alma perdida na web. É tudo muito infinito, um link aponta para quinze outros novos links, e cada um deles para outros tantos, numa progressão geométrica de sites, blogs, fotologs sem limite, sem fim, sem edição. Com tanta informação na minha frente, não sei por onde começar, na maioria das vezes. Me revolto com o fato porque, ainda que fosse possível ler tudo o que se publica de bom, o que de fato seria retido e transformado em conhecimento?(...)
Paula, d'o vidro de caramelo, que linca pra nós.
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Julio Daio Borges
21/1/2008 à 00h09
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Carnaval, um festival de artes
O brasileiro é realmente um privilegiado em termos de festividades, pois logo após as festas de final de ano e o início das férias de verão, vem o carnaval, que pode ser considerado a maior festa popular ao ar livre do mundo. Tendo como "comissão de frente" a incorrigível alegria da nossa gente, ele apresenta-se como um autêntico abre-alas da indústria de turismo e garoto-propaganda das nossas exportações. Samba, trilha sonora do Brasil.
O carnaval, a arte e o mundo dos negócios são destaques do mesmo carro alegórico. O processo de evolução do nosso carnaval transformou-o numa autêntica ópera de rua, ou, como querem outros, no mais criativo e democrático Festival de Artes do planeta. O carnavalesco, protagonista do núcleo de criação da escola de samba, está comprometido com a verdade ao associar a arte às circunstâncias históricas e geográficas. A imaginação e a emoção simbolizam o corpo e alma do artista. Da mais famosa passarela ― a Marques de Sapucaí ― à mais simples viela, a nossa musicalidade desfila a sua maior riqueza: a diversidade de seus ritmos, como o samba, originário do batuque africano.
Ao lado da música, a literatura se faz presente com o samba-enredo que pode reescrever o nosso descobrimento ou relembrar os ciclos do nosso desenvolvimento e a pintura retratar o colorido da nossa flora e da nossa fauna. A escultura homenageia as nossas celebridades, as artes plásticas fazem o lixo se transformar em luxo. A dança exibe todo nosso "jogo de cintura". Os nossos artesãos mostram a sua genialidade com o aproveitamento de nossos recursos naturais; a arquitetura também se faz presente, especialmente revelando os carnavalescos como verdadeiros "arquitetos sociais". A fotografia, o cinema, artes cênicas e gráficas, todas elas se fazem presentes na fantasiosa corte do Rei Momo.
O carnaval, que possui a magia de transformar artistas em passistas e passistas em artistas, é responsável pelo mais abrangente acervo da nossa cultura popular. Senão, vejamos. Redescobrindo a nossa história, nada tem escapado à sensibilidade dos carnavalescos que, da tradição à globalização ou da tragédia à comédia, têm retratado nossos usos e costumes ― festa para os mais diversos meios de comunicação. A nossa geografia tem sido motivação para os compositores explorarem os milhares de quilômetros de nossas belas praias, o imenso "mar verde" da selva Amazônica, o paraíso ecológico do Pantanal, as serras e cachoeiras do sul, a biodiversidade da mata atlântica e todas as riquezas naturais deste país continente.
No campo empresarial o destaque fica para o formato empreendedor de gestão que faz da ousadia, da criatividade e da empregabilidade ― soma das competências e habilidades ― o tripé de um modelo exemplar de organização competitiva. O mundo dos negócios ainda tem que se conscientizar que somente um ambiente de trabalho prazeroso poderá produzir a Excelência. O prazer, no seu mais refinado conceito, é a energia (insubstituível) que gera vencedores. Até a modernidade do Terceiro Setor, com sua responsabilidade social através do voluntariado, de há muito faz parte do "DNA" das escolas de samba, e de outras agremiações similares, que têm desenvolvido excelentes projetos especiais, que vão da pedagogia à tecnologia, contribuindo para reduzir os índices de exclusão social.
A elevação da expectativa de vida, a nova estrutura do mercado mundial de trabalho e as mudanças de estilo de vida das pessoas são tendências que elegem a indústria do turismo como um dos mais promissores empreendimentos do futuro. Ao som dos seguidores do lendário Mestre André ― bateria nota 10 ― encerramos com o nosso cautelar grito carnavalesco: vamos explorar o turismo, não os turistas.
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Faustino Vicente
18/1/2008 às 03h46
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Retrospectiva 2007
Diogo Salles, que você conheceu aqui, agora no JT (e no site dele).
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Julio Daio Borges
15/1/2008 à 00h16
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Saldo esperado sem a CPMF
Fico me policiando para não escrever textos "umbigais" ou "ególotras" neste blog. Nada contra esse tipo de approach adotado por certas pessoas em seus escritos. Eu mesma mantinha um blog nessa linha. Era depressivo, escuro, cansado. Pois vivi uma época assim, não faz muito tempo.
Aos poucos, uma realidade mais amigável e novos projetos antes impensáveis começaram a acenar para mim. Passei por mudanças. Nada radical. Tampouco inconsistentes, espero.
Tudo foi se ajeitando em seu devido tempo. Demorou mais do que eu queria, doeu, magoou certas pessoas, espantou outras.
Mas o saldo foi positivo: reconheci os amigos verdadeiros, reencontrei minha fé perdida, passei a acreditar mais na bondade, compreensão e tolerância humanas, busquei ajuda e engoli o orgulho, aprendi que mesmo nas relações familiares tudo tem seu preço, muito caro no meu caso.
E assim flagro-me pensando no que parece uma prévia do meu "balanço de fim de ano".(...)
Suzi Hong, que voltou com o Tudo vai ser diferente (por que alguém ainda se lembra do SpamZine?).
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Julio Daio Borges
14/1/2008 à 00h17
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Vizinhança
Salvei um copo. Fui apanhar o cinzeiro na mesa, esbarrei no copo que rolou até a beirada. Minha mão trêmula da ressaca conseguiu alcançá-lo a tempo. Talvez nem tudo esteja perdido.
A vizinha discute com o marido. Ela fala do som alto que eu ouvi até de manhã. Ele parece que não liga muito. O cara é meio surdo, fala alto e cuspindo e ela diz pra ele não cuspir nela. Diz que se ele fosse homem me dava um tiro na cara, que a vida deles virou um inferno desde que mudei pra cá.
Esses dias, encontrei o cara com o ouvido encostado no outro lado do muro, sentindo as vibrações do meu som. Pensei em ir lá, mas ao mijar e me ver no espelho, desisti. Acho que ela tem razão, eu mereço um tiro na cara. Meus dentes parecem pequenos cadáveres. Meu rosto cansado e sofrido não me diz mais nada. Não, não tinha jeito.
Olhei pela janela e eles ainda estavam lá. O cara ficava olhando pra boca da mulher com a única cara que ele, naquela altura da vida, poderia ter. Foi aí que me veio a idéia. E se eu comesse a vizinha? Quem sabe ela parava de brigar um pouco com ele, eu já não agüentava mais ver aquilo. Liguei o chuveiro pra fazer a barba.
Ele trabalhava numa fábrica de sapatos ou de absorventes. Saía cedo e só voltava no início da noite. Ela ficava lá, lavando, cozinhando, e sempre tentava acompanhar o rádio com aquela voz horrível, com aquele corpo horrível. Mas eu também era horrível. Naquela vizinhança, ninguém sabia o que era o amor. Talvez um casal de estudantes que morava há três ou quatro casas à minha direita. Eles ainda não haviam vivido o suficiente.
Era sempre assim, tudo uma questão de tempo.
José Guilherme Fidelis, no seu artificcional, que linca pra nós.
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Julio Daio Borges
13/1/2008 à 00h49
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Réveillon com Digestores
Como sempre, resolvi onde iria passar meu réveillon no derradeiro momento. Recebi um convite em cima da hora de uns primos, naquele esquema carnavalesco que agora é chamado "0800", ou seja, sem pagar nada, e me mandei para o Rio.
Embora a turma toda fosse animada e muito gente boa, deixei-os para encontrar outra turma tão animada e gente boa quanto e que, até então, eu acreditava ser mais séria, sisuda e caladona (rá! Ledo engano.). Lá pelas tantas, fui encontrar outros colunistas do Digestivo Cultural ― Ram, LEM, Diogo Salles e Rafael Lima ― para o nosso réveillon.
Pela internet, esses Digestores sempre me pareceram sérios demais. É um tal de discutir utilidade de papel em era digital, a necessidade de publicar, Paulo Francis aqui, o fim das redações de jornal acolá. Sei não, às vezes me sentia meio burrinha no meio de todo esse chumbo cruzado via lista de discussões. Ficava pensando se eu era a única ali que estava a fim de tomar um vinho, uma cerveja, ou até um sorvete; andar na praia ou numa alameda e fazer como o touro Ferdinando, que "só cheiraaaava as flores", ou fazer qualquer coisa que cobrasse menos do meu Tico-e-Teco.
Antes de colaborar no DC, eu já conhecia a Ana Elisa, ou Ana ê, para os chegados, o Guga e o Marcelo Miranda, também confundido com o governador do Tocantins. E só. Todo o resto do quadro de colaboradores, editores e colunistas era apenas verbo para mim. Verbo e ilusão, porque, queira ou não, a gente acaba imaginando um monte de troço sobre as mãos que teclam esses e-mails que a gente recebe.
E já pisei no Rio, cometendo gafes. A primeira foi ligar para o LEM e perguntar qual era o nome do Ram. Sim, porque LEM não é Luís? Ram, decerto, deveria ser Roberto, Ricardo, Renato ou sabe-se lá o quê. Um cara tão simpático que nunca me viu e me convida para passar o réveillon com eles, em sua casa, em meio a sua família... Eu deveria saber ao menos seu verdadeiro nome. E aí, descobri que o nome do Ram é "Ram" mesmo. Tudo bem, quem sou eu para dizer que este é um prenome incomum?
Só fui entender quando cheguei ao apartamento dele e a irmã abriu a porta. Enquanto eu deixava minhas sandálias ao lado da porta e todos me cumprimentavam, a mãe do Ram atravessou a sala, usando um sari lindo. A casa era toda decorada com motivos indianos e aquela gente tinha um bronzeado natural que nós, mortais brasileiros, nunca vamos conseguir ter. A confirmação da ascendência indiana veio quando alguns convidados abriram a boca e começaram a conversar em hindu, inglês e outro dialeto que, por mais que me esforce, não me lembro o nome. Diz aí, Ram.
Após o cumprimento inicial e suando às bicas, por conta do calor carioca e do trajeto feito à pé, juntei-me aos descalços na sala. E aí eu constatei algo que julgava impossível, até então: existe gente no mundo que fala mais e mais rápido do que eu. Senhoras e senhores, prezados amigos, ponham o Ram e o LEM para conversar e tomem seus lugares. Ver esses dois conversarem é um espetáculo à parte: por mais rápido que nossas cabeças "ping-pongueiem" de um lado para o outro, é difícil acompanhar o ritmo da conversação.
Eu e o Rafael até tentávamos aproveitar uma brechinha ali, vez por outra, mas o Diogo ficava com uma expressão meio assustada com aquele turbilhão de informações todas. Quando eu liguei os fatos e lembrei que o Diogo era o das caricaturas, fiquei preocupada. Essa gente que desenha e fica calada observa tudo e um dia, certamente, usará isso contra os que falam pelos cotovelos.
Ficamos um bom tempo nesse embate, tomando vinho e falando mal da vida alheia. Ao vivo, o LEM, com sua voz de locutor, é muito... er, digamos, peculiar? Exótico? Indefinível, talvez fosse a palavra. Até o último minuto de 2007, tive a impressão de estar do lado de um niilista convicto, um carioca de alma paulista ou um brasileiro de alma britânica. Mas em 2008 ele resolveu assumir suas raízes e seu amor pelo samba-enredo. Se eu tivesse ficado mais tempo, talvez tivesse presenciado uma confissão de amor por Duque de Caxias, ou pelos bailes funks da periferia carioca, quem sabe. Mas a verdade é que ele parou no samba-enredo.
O Ram, com sua voz de dublador de desenho animado, e o Rafael tentavam convencer o LEM e o Diogo que eles estavam em estados trocados. O primeiro deveria ir para São Paulo e o segundo, ficar de vez no Rio. Mas eu sou apenas uma mineira e não me meto nesses qüiproquós do eixo.
Tivemos uma ceia indiana, com direito a grão-de-bico e uma mesa repleta de sobremesas, entre elas um doce de cenoura. Havia carne também, mas como eu não como nada que tenha mais de duas patas e adoro um mato, essa foi a parte que me interessou mais.
Em seguida, fomos ver os fogos na orla de Copacabana. O Ram se perdeu de nós, na hora, o LEM não queria por os pés na areia e, então, fomos eu e a Adriana, a simpática namorada do Diogo, pular as sete ondinhas ― eu sou supersticiosa mesmo, e daí? ―, enquanto o Rafael e o Diogo assistiam àquela "pataquada". Numa dessas sete ondinhas, meu celular caiu no mar e só fui dar pela falta dele já voltando para o apartamento do Ram.
Na volta, o papo foi um pouco mais cabeça-espiritual. Discussões sobre profissão, as exigências fora do País e aqui no Brasil etc. O Ram com o dilema da pós nos EUA e o Rafael com saudades dos cangurus australianos. Tá bom, houve uma hora em que ficaram falando sobre mulher e ele se lembrou das australianas, enquanto o LEM sonhava com uma francesa peluda*.
Eu me lembro de ter dito que escreveria sobre algum ponto específico tratado nesse encontro, mas acho que o teor etílico apagou o assunto da minha cabeça. Se alguém lembrar, complete a história, por favor.
Se é verdade o que dizem, passarei o ano de 2008 rindo até desopilar o fígado. Cheguei em casa às 4h da manhã, com a impressão de ter tido um excelente réveillon. E isso foi tão bom quanto o fato de ter conhecido essa gente agradável.
* É preciso dizer que a questão capilar aqui descrita ainda é um ponto nebuloso e controverso na discussão dos Digestores...
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Pilar Fazito
11/1/2008 às 21h37
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Kubrick, 80 anos
Lá pelos idos de 1987, quando eu tinha sete anos de idade, já era fã incondicional de Ludwig van Beethoven. Certa noite estava sem sono e comecei a "zapear" os canais. Parei num filme que me chamou a atenção por ter como trilha sonora as sinfonias do grande mestre alemão. Fiquei encantada, mas logo percebi que não se tratava de um filme normal ou mesmo suave. Era um filme forte, tenso e dinâmico, assim como as músicas de Beethoven, entretanto a violência era explícita. Laranja Mecânica, de 1971, muito tempo antes de eu pensar em nascer, foi-me apresentado dessa forma, assim como o diretor americano Stanley Kubrick.
O filme é espetacular, violento, provocativo, polêmico, beethoveniano, e nos leva a refletir sobre o sistema em que vivemos e como ele trata jovens delinqüentes. A trama é futurista e, para demonstrar o mundo moderno, fala-se uma língua quase própria, algo como "gírias futuristas". Nesse sentido, o livro A clockwork orange (título original), de Anthony Burgess, é mais envolvente. A linguagem das primeiras páginas parece coisa de maluco, nada se compreende, mas com o decorrer da leitura, gírias como "ultraviolência", "druguis" (os amigos Pete, Georgie e Dim) e "o velho entra e sai" (referindo-se a sexo) tornam-se parte do nosso vocabulário e passamos a utilizá-lo em nosso dia-a-dia. Claro que, quem o fizer, passará por louco. De qualquer forma, os agressivos jovens do filme estupram, espancam e, para "eliminar" esse instinto violento, um deles é preso e passa por uma lavagem cerebral tão violenta quanto suas ações.
Outros filmes tão polêmicos estão sendo exibidos no Centro Cultural São Paulo para homenagear a carreira de Stanley Kubrick, que em 26 de julho deste ano completaria 80 anos de idade. Sua ampla obra pode ser vista, gratuitamente, até dia 13 de janeiro, mas, para quem perder, corra à locadora mais próxima e faça da sua casa um cinema com filmes de qualidade. O Centro Cultural exibirá filmes clássicos, famosos, e outros nem tão famosos assim. O público terá a oportunidade de rever ótimos filmes, como Laranja Mecânica, Lolita, O Iluminado, Barry Lyndon, Dr. Fantástico, 2001: Uma odisséia no espaço, Nascido para matar, e alguns dos mais recentes, como De olhos bem fechados, seu último filme; isso para não citar outros tantos.
Kubrick é considerado um excelente cineasta, com várias obras-primas, como as citadas acima; entretanto, há que se dizer que muitos de seus longas são tão lentos que beiram a sonolência. Explico: 2001: Uma odisséia no espaço, de 1968, uma epifania espacial, é classificado como uma de suas grandes obras, e é realmente, para muitos, a melhor ficção científica já produzida. Tal filme inaugurou uma era, foi totalmente original, e Kubrick conseguiu uma eficácia singular em passar o sentido de sua mensagem quando construiu a subjetividade da cena com imagem e música. A contagiante Also sprach Zarathustra, obra de Richard Strauss ― que era para ser provisória ― foi imortalizada nas telas de cinema, trazendo força, intensidade e, de certa forma, personalidade ao filme.
A história da tripulação de uma espaçonave, que é enviada para investigar o aparecimento de um monolito na órbita do planeta Júpiter, mas que possui um computador de bordo que revela tendências psicóticas e decide atacar os astronautas, é definitivamente interessante e possui imagens revolucionárias para a época. Entretanto, é um filme mais para se admirar do que qualquer outra coisa. Para muitos, pode ser chato e tedioso o fato de o primeiro diálogo aparecer somente 20 minutos após o início da película, mas tal fato chama a atenção para o mundo ali apresentado. Realmente, algumas pessoas podem achar o filme tão lento, que terão que ter muita paciência e café para conseguir assistir até o final. Kubrick gostava de assuntos futuristas, estava sempre de olhos bem abertos para o futuro.
Falando nisso, seu último filme De olhos bem fechados, de 1999 ― último filme também de Nicole Kidman e Tom Cruise juntos, pouco antes da separação do casal após 10 anos casados ―, é polêmico e confuso ao mesmo tempo. Como em muitos filmes de Kubrick, há violência, morte, sensualidade e nudismo. Apesar de pouco dinâmico, o filme é envolvente e perturbador. O casal Kidman e Cruise, que viviam uma crise conjugal durante as filmagens, interpreta outro casal também em crise. Depois que sua esposa admite ter desejos sexuais por outra pessoa, o médico William Harford é jogado numa aventura erótica que ameaça seu casamento e que o envolve em um misterioso caso de assassinato. Polêmico sim, mas definitivamente instigante.
Muitas histórias sobre guerra também povoam os filmes de Stanley Kubrick. Glória feita de sangue, de 1957, com o belíssimo Kirk Douglas, passa-se durante a Primeira Guerra Mundial, e tem como trama principal a traição em nome da manutenção do poder. Indo mais a frente na História, mais precisamente à Guerra do Vietnã, temos Nascido para matar, de 1987, em que jovens têm que combater os horrores de tal guerra.
Outro filme polêmico e aterrorizador é O Iluminado, de 1980, que tem como protagonista ninguém menos que Jack Nicholson. Baseado no romance de Stephen King, Kubrick conta a história do escritor que aceita um emprego para tomar conta, junto com a família, de um hotel isolado nas montanhas e passa a ter alucinações. Apesar de receber críticas ferrenhas, O Iluminado sem dúvida é um dos filmes de terror psicológico mais assustadores de Kubrick.
É impossível falar de toda obra de Stanley Kubrick aqui. Vale a pena conferir o festival em sua homenagem ou mesmo alugar os DVDs, para que se conheça a obra desse polêmico cineasta que faleceu em Londres, em março de 1999, logo após finalizar seu último filme.
Para ir além
Kubrick, 80 anos
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Postado por
Tatiana Cavalcanti
11/1/2008 às 02h23
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