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Segunda-feira,
25/2/2008
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Redação
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Tupiniquin
No meio desse turbilhão de lançamentos na mídia e nas rádios de novas bandas de rock e cantoras de MPB, é difícil encontrar algo que chame a atenção pela qualidade, originalidade e irreverência. Um dos lançamentos dessa semana me chamou a atenção justamente pela tentativa ― acredito que bem sucedida ― de misturar "mais-do-mesmo" com modernidade. O jovem compositor Jorge Sampaio, conhecido e auto-denominado como Tupiniquin, estréia no cenário musical hoje com seu álbum Made in São Paulo (lançado pela gravadora Curve Music) apostando em um som de qualidade que resulta num caldeirão cheio de boas referências.
O trabalho inteiramente autoral tem pitadas de rock à la Los Hermanos, samba, pop e muito suingue. As melodias de suas canções me lembraram muito as da banda Berimbrown, mas diferente da proposta dos mineiros, Tupiniquin não pretende levantar a bandeira do orgulho black: ele apenas levanta a bandeira do sincretismo musical, característica forte da música brasileira, que originou um pop descolado. As canções falam de amor, cotidiano e até de música. Estrangeirismos nas letras deixam à mostra uma grande influência do movimento tropicalista. Os arranjos são muito bons, bem variados e originais. Na interpretação, creio que ainda deixa a desejar um pouco, mas tendo em vista que o disco foi composto e produzido inteiramente pelo artista, já merece respeito.
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Débora Costa e Silva
25/2/2008 às 14h53
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Duas vezes Nélida Piñon
Passei a desconfiar seriamente de que 2008 será um ano rico para a literatura brasileira após receber, na semana passada, a notícia de que Nélida Piñon lançará dois livros em breve. O primeiro, a coletânea de ensaios Aprendiz de Homero, sairá já no princípio de março, pela Editora Record. Cabe ressaltar que Homero, extraordinário poeta épico da Grécia Antiga e um dos ícones da grande literatura universal, é uma referência na literatura de Nélida Piñon, sendo ― junto com Cervantes, Shakespeare, Camões, Machado de Assis, entre alguns outros ―, constantemente citado por ela em muitos dos seus discursos e palestras proferidos dentro e fora do Brasil. Sobretudo quando a escritora discorre sobre os cânones que alicerçaram a arte da criação literária, ajudando, também, a forjar o imaginário humano.
O outro lançamento de Nélida, previsto para o segundo semestre, e também editado pela Record é o de um volume de memórias, Coração andarilho, cuja redação exigiu da escritora, nos últimos meses, entre quatorze e quinze horas de trabalho diário. Desde a publicação, em 2004, de Vozes do deserto ― vencedor do Jabuti de melhor romance, em 2005 ―, os leitores de Nélida, dentre os quais me incluo, aguardam sua nova investida na prosa de ficção e, após um jejum de quatro anos, já estamos em festa. Ambos os livros sairão, também este ano, na Espanha, pela prestigiada Alfaguara.
E os êxitos de Nélida Piñon parecem não conhecer limites. No Brasil, a Record acaba de lançar novas edições de O calor das coisas e de Vozes do deserto (a sexta). Além disso, nos próximos meses, vários livros da escritora sairão na Europa, em diferentes idiomas e, muito provavelmente, Nélida já está se preparando para uma nova turnê mundial de lançamentos, palestras e homenagens. Uma de nossas mais importantes escritoras vivas, cuja prosa literária é, inegavelmente, a mais bela do português brasileiro contemporâneo, é um exemplo de que o romance não só não morreu, como parece adquirir vigor renovado a cada passar de ano.
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Luis Eduardo Matta
25/2/2008 à 01h47
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Montana, blog
Crônicas gonzo, resenhas à la Borges, depoimentos sobre jazz. Testemunhos, mentirinhas e afins. Blog pra trocar idéia, bater papo; pra filosofia de baixo impacto, pra psicanálise de boteco virtual. Blog sem fins lucrativos. Um amador!
Guilherme Montana, que Comenta aqui, no seu blog.
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Julio Daio Borges
25/2/2008 à 00h30
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Entrevista a O Tempo
1) De 2000 para cá, que é o período referente à existência do Digestivo Cultural, o site teve muitas caras, estilos, colaboradores etc. Hoje, em fevereiro de 2008, como você definiria a "filosofia" do Digestivo? Qual seria a melhor definição para o site e para o que ele divulga, prega e acredita dentro do que faz?
A sua pergunta é boa porque eu sempre tive dificuldade para definir o Digestivo Cultural. E parece que, à medida que o site vai incorporando novas seções e funcionalidades, o grau de complexidade vai aumentando...
Para simplificar, a definição que eu mais uso é a de revista eletrônica focada em jornalismo cultural. Isso porque, em 2000, a internet brasileira era uma criança e buscamos as definições no papel, nas publicações que nos inspiraram — como a Bravo! sob o comando do Wagner Carelli, o "Caderno Fim de Semana" editado pelo Daniel Piza e, claro, as colunas do Paulo Francis, que eram uma revista em si.
Mas, como você mesmo disse, o Digestivo já passou por tantas encarnações que eu poderia tentar defini-lo pelas seções que fomos criando ao longo dos anos: Newsletter, Notas, Colunas, Editoriais, Comentários, Ensaios, Blog, Entrevistas e Podcast.
Acontece que o Digestivo Cultural é, também, uma comunidade de Leitores. É uma plataforma de lançamento para novos autores. É uma referência em matéria de jornalismo colaborativo; e o é, ainda, em matéria de sustentação como empresa jornalística — então é um case de empreendedorismo...
Logo, se eu continuar aqui, não acabamos nunca essa lista.
2) Num mercado virtual tão complicado, em que várias iniciativas não permanecem por muito tempo (caso mais recente: o fim do NoMínimo), o que você apontaria como o segredo da longevidade do Digestivo Cultural? Como se sustentar e ficar de pé nesse universo meio selvagem?
O "segredo" maior talvez seja a persistência. Mas eu vou tentar contextualizar mais, porque, naturalmente, não é tão simples assim.
Bom, em primeiro lugar, com o estouro da Bolha, em 2000 mesmo, pegamos uma internet "deserta" — então crescemos num momento em que havia pouca competição (o termo "Web 2.0" é de 2005), em que podíamos errar ainda e corrigir a trajetória depois.
Em segundo lugar, optamos pelo modelo de custo mínimo ou "quase zero" (como se costuma falar). Eu assumi a programação do site, a edição e até alguns textos. Trabalhei em paralelo, com outro emprego, trabalhei muito em casa. Montei o escritório no "ano quatro" do Digestivo, tive profissionais remunerados só recentemente e ainda hoje não conseguimos remunerar todos os nossos colaboradores...
Em terceiro lugar, uma certa "visão", administrativamente falando. Eu sempre briguei muito para que a internet fosse levada a sério no Brasil e continuo brigando com algumas pessoas que ainda acham que ela não é o futuro...
(A tal persistência talvez seja um pouco de teimosia minha, mas funcionou.)
3) O fim do NoMínimo deixou muita gente órfã na internet e pegou a todos de surpresa. Por que sites como ele e o Digestivo (que é exceção) têm essa dificuldade de ficar muito tempo no ar? A internet não é um meio seguro?
Embora o NoMínimo fosse um exemplo em termos de jornalismo na internet do Brasil, ele nunca foi um bom exemplo de internet business, digamos assim. Por motivos que não ficaram muito claros ainda, sua estrutura era caríssima (replicava o modelo da imprensa-impressa, só que não tinha "impressão"), logo, quando o principal patrocinador saiu, o site deixou imediatamente de existir. Em muitos sentidos, era um case de internet pré-Bolha, em que se investia, muitas vezes, a fundo perdido.
A internet exige que o jornalista, ou o dono da publicação, tenha espírito empreendedor, porque, além da parte editorial, ele vai ter de vender a idéia, vai ter de pensar na parte comercial, vai ter de sujar as mãos de graxa (e não só de tinta). Não há uma estrutura pronta, como na imprensa tradicional, portanto, depois de algum tempo, o jornalista típico desiste.
Fora que, no Brasil, muitas empresas jornalísticas foram concebidas, se desenvolveram e se consolidaram atreladas a governos ou a grupos políticos. Conseqüentemente, muitos jornalistas, e até publishers, quando chegam à internet — onde o business plan tem de funcionar — se atrapalham e desistem.
4) A internet é um caminho sem volta? Quer dizer, é inevitável que o melhor da produção de jornalismo migre para o meio virtual? Onde se encaixariam hoje, portanto, as revistas de informação e os jornais impressos?
É isso mesmo; é um caminho sem volta.
Jornalisticamente falando, talvez a internet brasileira ainda não tenha chegado lá. Mas, economicamente, é indiscutível.
Não há como competir com o que é de graça. Os jornalistas e as empresas jornalísticas sabem disso. Então a única chance de manter uma posição no mercado é migrar para a Web.
Eu não gostaria de colocar a resposta só em termos de competição, mas, nos Estados Unidos, em algumas áreas, a melhor informação disponível já está na internet.
Em matéria de tecnologia, por exemplo: não existem jornalistas "de papel", digamos assim, que cubram melhor o assunto do que blogueiros como Michael Arrington, Om Malik, John Battelle, Steve Gillmor.
Alguns deles até tiveram passagens pelo papel, mas a internet os conquistou irreversivelmente. Logo, as grandes marcas de jornais e de revistas têm de fazer a mesma coisa: têm de ser grandes referências na internet também. Porque, fora dela, não vão sobreviver. As novas gerações consomem cada vez menos papel, e todo mundo sabe igualmente disso...
5) A que o meio digital e as novas tecnologias têm obrigado os demais meios (impresso, TV, rádio) a se adaptarem?
Eu não sei se existem tantas mudanças em cada meio específico. Talvez uma mudança de linguagem. Mas a grande mudança, mesmo, é a de migrar para a internet.
Assim como o papel vira site ou blog, o rádio vira podcast e a TV vira webcast, YouTube ou Joost (o que prevalecer). Não existe inovação, hoje, que não passe pela internet. As grandes mudanças são tecnológicas e a internet é uma nova tecnologia, ao contrário do papel, do rádio, da TV...
Os jornalistas têm de se adaptar e as empresas jornalísticas, também. É uma contagem regressiva, lenta para alguns, mas irreversível para todos.
Concluindo: quem escreve, vai ter de aprender HTML e vai ter de blogar; quem "irradia", vai ter de virar podcast e tocar nos "MP3 players"; e quem faz TV, vai ter de entender a audiência do YouTube e a tecnologia de streaming do Joost (a TV digital já é velha perto disso...).
6) Você costuma sempre dizer que entrou no jornalismo pela "porta dos fundos", pois veio de outro ramo (Engenharia de Computação) para criar o Digestivo Cultural. Desde então, assumiu a posição de jornalista e crítico cultural e se imbricou nesse meio. Da sua posição hoje de editor do Digestivo e envolvido no ramo, como caracterizaria o jornalismo cultural feito no Brasil?
É irônico. Eu vim para esta área porque, há dez ou mais anos, admirava os jornalistas culturais e queria ser como eles. Hoje, porém, acompanho cada vez menos — e, daqui a pouco, nem vou poder falar nada porque simplesmente não vou mais saber o que acontece...
Enfim, os problemas são aqueles que tão bem conhecemos (e não são de hoje mas vêm se agravando): matérias burocráticas que parecem simples releases de assessoria de imprensa, apenas para cobrir os lançamentos e eventos; pouca estrutura (gente), pouco tempo (muita pressão) e pouco espaço para analisar e refletir (criticamente); falta de interesse do leitor, da classe intelectual ou artística (que se sente injustiçada pela "cobertura") e de perspectiva (porque nunca foi uma editoria decisiva, a de cultura; e, com a "ameaça" da internet, a grana está cada vez mais curta nas empresas jornalísticas).
Para não dizer que não falei das flores, tem a Piauí, que é excelente (mas que só a família Moreira Salles sustenta). E tem a internet, que é vibrante. Talvez, na Web, não façamos estritamente jornalismo, mas é onde estão as pessoas e é onde, cada dia mais, vão estar. Não tem volta, de novo.
7) Conseguiria traçar um paralelo de diferenças e semelhanças desse jornalismo com relação ao feito em outros países (qualquer um que queira usar de comparativo)?
A crise do papel é geral e não é "culpa" do Brasil, dos jornalistas brasileiros ou das empresas jornalísticas daqui. É "apenas" o fim de algumas tecnologias. E é o fim de uma indústria que viveu muito tempo de vender o suporte junto com o produto (a informação).
Eu acho que as grandes instituições jornalísticas, no mundo, continuam — porque têm uma audiência mundial. Ou seja, o New York Times pode insistir mais, no papel, do que os jornais daqui, porque a sua base de apoio é global.
Em termos de jornalismo, acho que continua o mesmo "gap" de qualidade que sempre houve (com algumas menções honrosas como, novamente, a Piauí). Agora, em termos de tecnologia, eu vejo empresas como a BBC, o Guardian e o próprio New York Times se mexendo mais do que as nossas respectivas daqui.
Ainda assim, nos EUA, alguns analistas defendem que nem as grandes instituições do jornalismo mundial vão conseguir manter a soberania. Segundo os mesmos, a estrutura das redações "off-line" jamais poderá ser sustentada pelo "on-line". Logo, pode não ser, simples e apenasmente, uma questão de migração...
8) Quem seria, hoje e em atividade, bons jornalistas culturais? E do passado, quem você assumiria como influência para o trabalho que desenvolve no Digestivo?
Embora cada vez mais limitados pela atual conjuntura, os melhores jornalistas culturais continuam sendo o Daniel Piza (no Estadão), o Luís Antônio Giron (na Época), o Sérgio Augusto (também no Estadão), o Ruy Castro (de volta à Folha), o Mario Sergio Conti (na onipresente Piauí) e, entre os "novos", o Marcelo Rezende (na Bravo!). Existem outros fora de atividade (fora das publicações) e, na internet, existem dezenas deles — mas, aí, eu sou suspeito para falar...
Do passado, além dos de cima, — eu sou obrigado a repetir — o Paulo Francis. Sobretudo pela cultura. Para não ficar só em nomes — e só em publicações que já citei —, eu diria que sofri influência do jornalismo feito na Senhor, no Pasquim (agora em livro) e até do "Caderno2" (dos anos 80 e 90).
9) Quais os próximos passos (em termos de tecnologia, avanços, perspectivas) para projetos como o Digestivo Cultural, que existem exclusivamente na internet?
Eu acredito que o próximo passo, das publicações on-line, é serem cada vez mais permeáveis aos leitores.
Dou um exemplo, recente, do próprio Digestivo. Acabamos de inaugurar as páginas de "Comentários por Comentador" — e, ao contrário dos mais de duzentos Colunistas e Colaboradores que passaram por aqui, eu descubro que já tivemos quase mais de quatro mil Comentadores! São mais Comentários, em número, do que textos, há alguns anos...
Talvez o próximo passo, editorialmente falando, seja editar os próprios leitores. Já pensou?
Em termos de perspectivas, o ambiente é muito favorável — porque está claro que, ao abrigar cada vez mais pessoas, a audiência da internet (e das suas publicações) cresce cada vez mais. Então cresce a publicidade, crescem as receitas e as principais empresas de internet.
Nos próximos anos, com o eterno retorno do livro eletrônico, vamos assistir a uma revolução nos direitos autorais — e, quem sabe, muitos autores não possam viver do que publicam on-line?
10) E do Julio Borges jornalista, quais os próximos projetos?
Meus projetos se misturam com os do Digestivo, então volto a falar no site...
Tivemos um problema de infra-estrutura, com a nossa antiga empresa de hospedagem, no segundo semestre do ano passado, então a meta, para o curto prazo, é simplesmente manter todas as seções atualizadas: Notas, Colunas, Ensaios, Entrevistas, Blog e Podcast.
Depois, em paralelo, vamos continuar com os Eventos, que inauguramos em 2007. Se tudo se confirmar, vamos continuar discutindo a internet brasileira, com os principais protagonistas ao vivo (depois, no site, em áudio), e vamos realizar uma série inteiramente nova sobre literatura brasileira contemporânea, junto com a principal publicação literária brasileira. (Ainda nesta parte "presencial", eu dou uma aula em abril, no espaço da Revista Cult, sobre esses dilemas internéticos entre editores e leitores...)
Acabei de inaugurar uma coluna, misturando internet e business, na revista GV-executivo (nossa velha Parceira) — e eu arriscaria uma incursão futura, do Digestivo, em internet business.
Por fim, desde o Kindle (o novo "leitor" da Amazon), voltou a me assaltar a idéia de uma editora em PDF e uma porção de outras idéias para livros...
Como diz o Carpinejar, gosto tanto do que faço que "posso me esgotar fisicamente sem perceber"...
Nota do Editor
Entrevista concedida a Marcelo Miranda, do jornal O Tempo, de Belo Horizonte. Originalmente publicada em 17/2/2008.
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Julio Daio Borges
22/2/2008 às 12h08
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For Emerging Artists
I used to own a record label. That label, Luaka Bop, still exists, though I'm no longer involved in running it. My last record came out through Nonesuch, a subsidiary of the Warner Music Group empire. I have also released music through indie labels like Thrill Jockey, and I have pressed up CDs and sold them on tour. I tour every few years, and I don't see it as simply a loss leader for CD sales. So I have seen this business from both sides. I've made money, and I've been ripped off. I've had creative freedom, and I've been pressured to make hits. I have dealt with diva behavior from crazy musicians, and I have seen genius records by wonderful artists get completely ignored. I love music. I always will. It saved my life, and I bet I'm not the only one who can say that.
David Byrne, sobrevivendo, na Wired.
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Julio Daio Borges
22/2/2008 à 00h11
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Curso de Criação Literária
Para quem se interessa em aprimorar a escrita, tanto de prosa quanto de poesia, e ainda participar de seminários e palestras sobre literatura pode aproveitar a abertura de inscrições para o curso de Criação Literária promovido pela Academia Internacional de Cinema. O curso começa no dia 3 de março e tem duração de um ano, dividido em dois semestres.
Serão estudadas técnicas e conceitos dos três principais gêneros literários: poesia, ficção (romance, conto, novela) e não-ficção (biografia, ensaio, crítica).
Os alunos terão aulas com Michel Laub, Rodrigo Petrônio, Márcia Tiburi, Marcelo Rezende, Nelson de Oliveira, Flávia Rocha (fundadora e diretora da AIC), Wagner Carelli e outros autores que serão convidados ao longo dos semestres. No segundo semestre, cada participante irá desenvolver um projeto de livro, além de poder participar como voluntário na edição de uma antologia em livro, reunindo os melhores textos produzidos no decorrer do curso.
Para ir além
Site da AIC
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Débora Costa e Silva
21/2/2008 às 16h42
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Mistérios Literários
(Escritor) Não é profissão, não. E talvez poesia não seja nem literatura. É uma coisa tão extemporânea, tão fora das normas que ou a poesia é a pura literatura ou ela não é literatura.
Ferreira Gullar
* * *
Parece que o romance se tornou o ponto culminante na vida espiritual de um homem. Qualquer pessoa, seja ela um ministro, um assassino de bebês ou uma prostituta, para realizar-se plenamente em qualquer uma dessas especialidades, escreve um romance. Todos se tornaram romancistas. Mas a gente confunde o fato de estar alfabetizado com o fato de ser escritor. A narrativa é uma arte que tem suas regras, como a pintura, como a música, não é um puro vômito confessional nem resultado de uma experiência rica ou particular.
Juan José Saer
* * *
Antes, para ser escritor, um jornalista precisava abandonar a sua profissão; hoje, se alguém quer ser escritor de sucesso, precisa antes ser jornalista; mais do que isso, precisa ter espaço cativo em grandes jornais; ou não existe. Todos os escritores de sucesso no Brasil atual têm espaços fartos de mídia... Na maior parte das vezes o jornalista é um carteiro, o sujeito que leva a mensagem ao destinatário. Nada mais. É uma profissão não necessariamente criativa. Já a literatura não pode ser profissão, pois só funciona como iluminação, ruptura, invenção. O resto é negócio.
Juremir Machado da Silva
Todos no volume Literatura e Jornalismo, da coleção Mistérios da Criação Literária, onde eu também dou meu depoimento (ainda apareço no volume Por que escrevo?; obrigado, Brito!).
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Julio Daio Borges
21/2/2008 à 00h45
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O amor
O amor divide o mundo em duas partes: os que são felizes, e os infelizes. No amor, tudo conta. Charme, orgulho, raiva, mais a ponta, do cigarro, do ciúme. O amor é um vício e o melhor artifício para suportar a não eternidade da carne — quando ele, amor em si, é imortal.
Amor de verdade é imoral. O amor constrói almas, paredes, cidades inteiras e, às vezes, se destrói por besteiras. É a água de um lago plácido calmante e também a cascata de 30 metros que cai em fio cortante. O amor detona guerras e apazigua as terras do coração de um guerreiro. É a minha sede, a sua rede, a viúva-negra, minúscula e letal, tecendo a teia.
Amor de verdade é incondicional. O amor que impõe regras é pavor, o amor sob quaisquer circunstâncias é horror. O amor soma os sete pecados capitais e mais mil pesadelos irreais. É como os vagões de um trem carregado de surpresas. É cheio de belezas, certezas e incertezas. É a ferida que dói e a brisa que assopra. É o que consola, isola e assola.
Amor de verdade é crueldade. O amor é o vilão e é também o perdão. É a devoção, a perdição, a loucura e a abstenção. É a esperança sem data, é a chupada com marca. É a crença diante da perda possível para tantos. É a batalha, a explosão de corpos no espaço. É a provocação, a rebeldia e a hipocrisia. É a doação de quem precisa aprender a dar sem nada esperar em troca.(...)
Lidice-Bá, no seu blog, que eu acabo de encontrar.
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Julio Daio Borges
20/2/2008 à 00h08
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Internet e melhores jornais
(...)Os jornais estão perdendo leitores para a internet. E não apenas leitores. Talvez mais preocupante no curto prazo seja a tranferência dos anúncios classificados — o "maná de ouro" — para a rede, principalmente os de empregos, de imóveis e de veículos.
(...)Para ir atrás do leitor e da publicidade, todos os jornais coincidem em vislumbrar um futuro que integra o papel com a internet. Mas as oportunidades que a rede oferece são desiguais e nem todos os jornais a abraçaram com a mesma intensidade.
"Se tivesse que fundar agora El País, provavelmente não seria em papel. Faria alguma coisa na internet e uma versão em papel com o que considerasse mais atraente". Estas palavras(...) são de Juan Luis Cebrián, o primeiro diretor de El País e principal executivo da Prisa, o maior grupo espanhol de comunicação, que edita o jornal.
Matías M. Molina, que praticamente criou a Gazeta Mercantil, no livro Os Melhores Jornais do Mundo.
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Julio Daio Borges
19/2/2008 à 00h41
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No banco
O inferno são os outros, como disse Sartre. Às vezes a gente tende a concordar com ele e sua frase infernal. Os outros não somos nós, claro. São as outras pessoas.
Elas gritam, descontroladas, nos restaurantes. Conversam aos berros. Maltratam os garçons na sua frente. Ouvem suas músicas em alto e bom tom, dentro dos seus carros iguais. Ficam horas nos caixas eletrônicos dos bancos, filosofando profundamente enquanto teclam aqueles números. São muito cuidadosas: teclam um botão e olham pra tela, pra ver se teclaram corretamente. Ok, tudo certo. Teclam outro e conferem de novo. Uma senha de nove dígitos lentos, no Banco do Brasil.
Cada gerente de banco cria uma fila de espera de indivíduos confusos. Obviamente, esses esperam com paciência que o tal gerente acabe seu telefonema. Os gerentes vivem pendurados no telefone, atendendo minuciosamente um cliente que, ao contrário de você, nem se deu ao trabalho de ir até lá. O gerente de banco, enquanto telefona, nunca te olha. Eles devem ser treinados assim.
Algumas pessoas tentam entrar no banco, passando pela porta giratória. A porta não gira. O segurança pede que alguém volte atrás da linha amarela mas, antes de terminar a frase, a pessoa dá um único passo para trás, sem passar da linha amarela e já está voltando, lutando contra a porta giratória, que não vai girar a menos que essa pessoa fique, por um momento, parada atrás da linha amarela.
Essas pessoas nunca esvaziam as bolsas, ou os bolsos, do metal que carregam. Não da primeira vez. Botam um chaveiro na caçamba da porta. A porta não abre. Dão um passo curto pra trás, voltam e botam um celular. A porta não abre. Botam um relógio de pulso. A porta não abre. Botam um estojo de maquilagem, um anel, moedas. A porta não abre. Do lado de dentro alguém quer sair. Toda vez que um tenta entrar, o outro tenta sair.
As filas nunca estão formadas de acordo com as linhas desenhadas no chão, para orientação. Muitas e muitas pessoas entendem uma fila como algo que deve se estender a partir das costas de alguém. Não importa pra que lado a pessoa à sua frente, na fila, esteja virada. De forma que uma fila pode se estender em qualquer direção, no interior do banco.
O balcão de informações. Não tem ninguém trabalhando lá. Quando a fila, nos três caixas que estão trabalhando, começa a engrossar, dois deles imediatamente se levantam e somem pela portinha dos fundos, levando um monte de papéis, cada um. Fica só aquele, de óculos, meio abobado.
Aí chega um senhor bastante idoso e pouquíssimo amigável. Fura a fila (com todo direito) e quer saber quanto tem na sua conta, mas esqueceu a senha e pergunta pro caixa qual é a sua senha. O caixa sempre responde, primeiramente, que "o senhor deve se dirigir ao caixa eletrônico, para operações com senha". O senhor explica, rosnando, que se ele lembrasse a senha não precisaria de estar ali perguntando pela senha, "entendeu, meu filho?"
Na hora do pique máximo o pessoal da manutenção resolve trabalhar e inutiliza, por prazo indeterminado, três caixas eletrônicos, dos cinco que existem. Você está no meio da operação e lê na tela: "terminal em manutenção". Vai procurar as duas máquinas que ainda funcionam. Mas uma delas é só para emitir cheques.
Saio do banco e acendo um cigarro ali mesmo, na calçada. Um tomador-de-conta de carro vem pro meu lado e pede fogo. Fumamos os dois, em silêncio, em mútuo entendimento, observando as pessoas que saem pela porta giratória. Olham pra gente e desviam, rápidas, o olhar. Seguramente nós dois estamos incomodando. Elas não fumam.
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Guga Schultze
18/2/2008 às 15h23
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