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Sexta-feira, 29/2/2008
Blog
Redação
 
Música Popular, não

Sabe lá o que é escrever durante trinta anos sobre música popular? E ouvir tudo o que se grava, do péssimo ao detestável, receber telefonemas às três da madrugada para resolver a aposta que um grupinho animado e desconhecido faz na mesa de bar: "Camisa Amarela" é de Ary Barroso ou Assis Valente? Ou um outro, da senhora grã-fina, recém-chegada de Paris, que precisa, urgentemente, da gravação de "Tem galinha no bonde", para a filha completar seus estudos na Sorbonne. É aturar 3 mil mocinhas sem talento ou formosura; é agüentar os trezentos filhinhos de nossos amigos, meninos de genialidade indiscutível; é levar pedrada na cabeça quando não se gosta da maneira de um instrumentista tocar; é passar dias e dias de sua vida na televisão para julgar um concurso de sambas em que só há mambos; é ouvir o mesmo disco de Elizeth que Ofélia repete 15 vezes até Eliana aprender; é fazer nove programas de rádio por semana; é receber medalhas e títulos ridículos e ainda agradecer com discurso; é ouvir durante vinte horas seguidas os sambas iguais que as "escolas" fazem todos os anos; é passar horas inúteis no Museu da Imagem e do Som; é ouvir diariamente a pergunta cretina "como vai a nossa música popular?"; é escrever para jornais, revistas, calendários, enciclopédias, sempre sobre o mesmo assunto, e ainda ser chamado de papa(...).

Lúcio Rangel, em Samba, Jazz... (isso porque ele não conhecia os escritores novos...).

[2 Comentário(s)]

Postado por Julio Daio Borges
29/2/2008 à 00h38

 
Jornalismo 2.0, o livro

"Este é um livro sobre pessoas, e não sobre tecnologia. Com certeza, há muita tecnologia nas páginas a seguir, mas na essência o que vamos encontrar aqui são pessoas tentando desenvolver suas habilidades dentro de um cenário novo e imprevisível. E são elas que importam, não o software mais recente ou o website. Se as pessoas conseguirem aprender como fazer a tecnologia trabalhar a seu favor, o resto é apenas detalhe.

"Como jornalistas, precisamos mudar nossas práticas para nos adaptarmos, mas não nossos valores. Somos como os marinheiros do provérbio inglês que escolhi para título desta introdução ('Um mar tranqüilo não faz um bom marinheiro'): nem o desejo de retornar a mares tranqüilos pode acalmar a água à nossa volta.

"Seguindo ainda a metáfora da navegação: é hora de navegar conforme o vento. É hora de reorientar nosso navio e deixar que o vento que sopra nesse novo mar trabalhe a nosso favor, e não contra nós.

"Vamos usar as melhores práticas desenvolvidas por outros jornalistas para sinalizar o caminho. Vamos tomar como ponto de partida o trabalho criativo e inovador desenvolvido pelos jornais, estações de rádio e televisão e websites (...). Podemos aprender bastante com todas essas experiências.

"E como Benjamim Franklin já dizia, 'quando você pára de promover mudanças, você está acabado'."

Mark Briggs, na introdução do seu Jornalismo 2.0 (de graça, em português, para quem não quer ficar parado...).

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Postado por Julio Daio Borges
28/2/2008 à 00h55

 
Iron Maiden no Brasil. De novo

Eu fico aqui me perguntando... O que faz uma banda com três guitarristas (isso mesmo, três) em sua formação? Tudo bem, a pergunta original não é essa. Então lá vai: por que ir ao show? Não há muitas razões para fazê-lo. Exceção feita, claro, aos mais fanáticos, que seguirão a banda onde ela estiver. Todos nós já sabemos sempre o que esperar do Iron Maiden: mais do mesmo. A sensação que dá é que eles atravessaram as últimas décadas tocando a mesma música ininterruptamente. Não que tudo o que eles fizeram seja ruim. Pelo contrário. Prova disso é o disco Piece of Mind. Porém, lá se vão 25 anos. E não chega a surpreender o fato de que o último lançamento relevante deles (Fear of the Dark) já tenha mais de quinze. De lá pra cá, o sexteto inglês se escorou na muleta dos anos 80 e viveu exclusivamente da venda de seus discos clássicos e dos zilhões de CDs e DVDs ao vivo, que vêm sempre recheados com os mesmos sucessos daqueles dias gloriosos.

O nome da turnê atual já entrega o ouro: Somewhere back in time. Para relembrar aqueles velhos e maravilhosos tempos de Powerslave. Quanta saudade. Naquela época vivíamos o ápice do New Wave of British Heavy Metal e o Iron Maiden reinava absoluto. Eles conseguiram criar uma imagem, uma atitude, uma marca peculiar e conquistaram fãs pelo mundo todo. Porém o tempo passou e a banda estagnou na primeira metade dos anos 80. Não buscaram renovar seu som. Preferiram não correr riscos, com medo de perder aqueles velhos fãs. Fãs que se tornaram tão xiitas quanto os do Kiss e fizeram de sua obsessão pelo Iron Maiden uma religião.

Outro dia eu assistia (de novo) ao filme Rock Star e em determinado momento a banda se reunia em estúdio para discutir o direcionamento musical para o próximo disco. Foi ali que o líder da banda resolveu colocar ordem na casa e dizer que eles não mudariam seu som. Continuariam dando aos fãs os que eles querem ouvir. Mesmo que o filme seja remotamente baseado no Judas Priest, essa cena me fez lembrar bastante do Iron Maiden. Uma banda que já foi grande um dia, mas que jamais ousou arriscar diferentes sonoridades, sempre se ateve à mesma fórmula e que hoje vive exclusivamente daquele passado longínquo, "somewhere back in time".

Por isso o Iron Maiden soa hoje como uma banda que já encerrou as atividades, mas que resolveu aderir à onda revival do rock. Essa mesma onda em que grandes bandas do passado se reúnem em turnês milionárias, pejorativamente apelidadas de caça-níqueis. Quanta maldade. Mas há uma diferença. Enquanto clamamos desesperadamente por uma turnê do Led Zeppelin, não precisamos nos esforçar para ir atrás do Iron Maiden, que, ao lado do Deep Purple, se consolidou como o arroz-de-festa do rock. Cedo ou tarde, eles sempre vêm até nós. E sempre tocando as mesmas músicas. Não tenho certeza se Roberto Carlos fará o especial de fim de ano na Globo, mas sei que o Iron Maiden retornará ao Brasil daqui a dois ou três anos.

Nota do editor
Leia também: "O fundamentalismo headbanger".

[19 Comentário(s)]

Postado por Diogo Salles
27/2/2008 às 16h01

 
Daniel Piza na Imprensa

Eu gosto da Piauí porque é uma revista que preza pela qualidade do texto. Mas discordo de algumas coisas. Achava que fosse ser mais bonita. Piauí não me convida muito à leitura. Prefiro revistas mais brancas. Há um excesso de reportagens sobre personagens folclóricos e questões exóticas e um pouco de medo de falar dos grandes temas. Perdeu-se, ainda, uma grande oportunidade de abrir um espaço à crítica cultural. Na New Yorker, por exemplo, você encontra a grande reportagem, perfil, serviço, poemas, contos e, no final, uma seção de críticas e ensaios de alto nível. As revistas culturais brasileiras, em geral, estão todas muito ruins. A Entrelivros, que era uma revista interessante, está por acabar acabou. Não pega. A Cult é complicada. Ora é muito séria, ora perde a mão. A Bravo, que já foi ambiciosa e qualificada, foi piorando com o passar do tempo. Existe sempre a pressão por vender muito. E muita gente acha que vender muito é vender 50, 60 mil exemplares. Só que no Brasil, onde os livros vendem 2, 3 mil cópias, se uma revista vender 20 mil exemplares está bom. Existe também um negativismo muito grande nessa área. Entrei em 1991 no "Caderno2", trabalhei na "Ilustrada" e Gazeta Mercantil. E só ouvi coisas negativas, do tipo "o leitor não está interessado nisso", "revista de cultura não dá certo no Brasil", "jornalismo sofisticado não dá certo". Derramam um caminhão de negativismo na cabeça dos jovens que chegam às redações. Isso é um problema sério.

Daniel Piza, na revista Imprensa de janeiro (via Jornalismo Cultural PUC Minas, que linca pra nós).

[4 Comentário(s)]

Postado por Julio Daio Borges
27/2/2008 à 00h21

 
Que Colunista é essa?


Tente advinhar (nos Comentários) antes de clicar na foto, via Blog do Caron, que linca pra nós.

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Postado por Julio Daio Borges
26/2/2008 à 00h13

 
Tupiniquin

No meio desse turbilhão de lançamentos na mídia e nas rádios de novas bandas de rock e cantoras de MPB, é difícil encontrar algo que chame a atenção pela qualidade, originalidade e irreverência. Um dos lançamentos dessa semana me chamou a atenção justamente pela tentativa ― acredito que bem sucedida ― de misturar "mais-do-mesmo" com modernidade. O jovem compositor Jorge Sampaio, conhecido e auto-denominado como Tupiniquin, estréia no cenário musical hoje com seu álbum Made in São Paulo (lançado pela gravadora Curve Music) apostando em um som de qualidade que resulta num caldeirão cheio de boas referências.

O trabalho inteiramente autoral tem pitadas de rock à la Los Hermanos, samba, pop e muito suingue. As melodias de suas canções me lembraram muito as da banda Berimbrown, mas diferente da proposta dos mineiros, Tupiniquin não pretende levantar a bandeira do orgulho black: ele apenas levanta a bandeira do sincretismo musical, característica forte da música brasileira, que originou um pop descolado. As canções falam de amor, cotidiano e até de música. Estrangeirismos nas letras deixam à mostra uma grande influência do movimento tropicalista. Os arranjos são muito bons, bem variados e originais. Na interpretação, creio que ainda deixa a desejar um pouco, mas tendo em vista que o disco foi composto e produzido inteiramente pelo artista, já merece respeito.

[1 Comentário(s)]

Postado por Débora Costa e Silva
25/2/2008 às 14h53

 
Duas vezes Nélida Piñon

Passei a desconfiar seriamente de que 2008 será um ano rico para a literatura brasileira após receber, na semana passada, a notícia de que Nélida Piñon lançará dois livros em breve. O primeiro, a coletânea de ensaios Aprendiz de Homero, sairá já no princípio de março, pela Editora Record. Cabe ressaltar que Homero, extraordinário poeta épico da Grécia Antiga e um dos ícones da grande literatura universal, é uma referência na literatura de Nélida Piñon, sendo ― junto com Cervantes, Shakespeare, Camões, Machado de Assis, entre alguns outros ―, constantemente citado por ela em muitos dos seus discursos e palestras proferidos dentro e fora do Brasil. Sobretudo quando a escritora discorre sobre os cânones que alicerçaram a arte da criação literária, ajudando, também, a forjar o imaginário humano.

O outro lançamento de Nélida, previsto para o segundo semestre, e também editado pela Record é o de um volume de memórias, Coração andarilho, cuja redação exigiu da escritora, nos últimos meses, entre quatorze e quinze horas de trabalho diário. Desde a publicação, em 2004, de Vozes do deserto ― vencedor do Jabuti de melhor romance, em 2005 ―, os leitores de Nélida, dentre os quais me incluo, aguardam sua nova investida na prosa de ficção e, após um jejum de quatro anos, já estamos em festa. Ambos os livros sairão, também este ano, na Espanha, pela prestigiada Alfaguara.

E os êxitos de Nélida Piñon parecem não conhecer limites. No Brasil, a Record acaba de lançar novas edições de O calor das coisas e de Vozes do deserto (a sexta). Além disso, nos próximos meses, vários livros da escritora sairão na Europa, em diferentes idiomas e, muito provavelmente, Nélida já está se preparando para uma nova turnê mundial de lançamentos, palestras e homenagens. Uma de nossas mais importantes escritoras vivas, cuja prosa literária é, inegavelmente, a mais bela do português brasileiro contemporâneo, é um exemplo de que o romance não só não morreu, como parece adquirir vigor renovado a cada passar de ano.

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Postado por Luis Eduardo Matta
25/2/2008 à 01h47

 
Montana, blog

Crônicas gonzo, resenhas à la Borges, depoimentos sobre jazz. Testemunhos, mentirinhas e afins. Blog pra trocar idéia, bater papo; pra filosofia de baixo impacto, pra psicanálise de boteco virtual. Blog sem fins lucrativos. Um amador!

Guilherme Montana, que Comenta aqui, no seu blog.

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Postado por Julio Daio Borges
25/2/2008 à 00h30

 
Entrevista a O Tempo

1) De 2000 para cá, que é o período referente à existência do Digestivo Cultural, o site teve muitas caras, estilos, colaboradores etc. Hoje, em fevereiro de 2008, como você definiria a "filosofia" do Digestivo? Qual seria a melhor definição para o site e para o que ele divulga, prega e acredita dentro do que faz?

A sua pergunta é boa porque eu sempre tive dificuldade para definir o Digestivo Cultural. E parece que, à medida que o site vai incorporando novas seções e funcionalidades, o grau de complexidade vai aumentando...

Para simplificar, a definição que eu mais uso é a de revista eletrônica focada em jornalismo cultural. Isso porque, em 2000, a internet brasileira era uma criança e buscamos as definições no papel, nas publicações que nos inspiraram — como a Bravo! sob o comando do Wagner Carelli, o "Caderno Fim de Semana" editado pelo Daniel Piza e, claro, as colunas do Paulo Francis, que eram uma revista em si.

Mas, como você mesmo disse, o Digestivo já passou por tantas encarnações que eu poderia tentar defini-lo pelas seções que fomos criando ao longo dos anos: Newsletter, Notas, Colunas, Editoriais, Comentários, Ensaios, Blog, Entrevistas e Podcast.

Acontece que o Digestivo Cultural é, também, uma comunidade de Leitores. É uma plataforma de lançamento para novos autores. É uma referência em matéria de jornalismo colaborativo; e o é, ainda, em matéria de sustentação como empresa jornalística — então é um case de empreendedorismo...

Logo, se eu continuar aqui, não acabamos nunca essa lista.

2) Num mercado virtual tão complicado, em que várias iniciativas não permanecem por muito tempo (caso mais recente: o fim do NoMínimo), o que você apontaria como o segredo da longevidade do Digestivo Cultural? Como se sustentar e ficar de pé nesse universo meio selvagem?

O "segredo" maior talvez seja a persistência. Mas eu vou tentar contextualizar mais, porque, naturalmente, não é tão simples assim.

Bom, em primeiro lugar, com o estouro da Bolha, em 2000 mesmo, pegamos uma internet "deserta" — então crescemos num momento em que havia pouca competição (o termo "Web 2.0" é de 2005), em que podíamos errar ainda e corrigir a trajetória depois.

Em segundo lugar, optamos pelo modelo de custo mínimo ou "quase zero" (como se costuma falar). Eu assumi a programação do site, a edição e até alguns textos. Trabalhei em paralelo, com outro emprego, trabalhei muito em casa. Montei o escritório no "ano quatro" do Digestivo, tive profissionais remunerados só recentemente e ainda hoje não conseguimos remunerar todos os nossos colaboradores...

Em terceiro lugar, uma certa "visão", administrativamente falando. Eu sempre briguei muito para que a internet fosse levada a sério no Brasil e continuo brigando com algumas pessoas que ainda acham que ela não é o futuro...

(A tal persistência talvez seja um pouco de teimosia minha, mas funcionou.)

3) O fim do NoMínimo deixou muita gente órfã na internet e pegou a todos de surpresa. Por que sites como ele e o Digestivo (que é exceção) têm essa dificuldade de ficar muito tempo no ar? A internet não é um meio seguro?

Embora o NoMínimo fosse um exemplo em termos de jornalismo na internet do Brasil, ele nunca foi um bom exemplo de internet business, digamos assim. Por motivos que não ficaram muito claros ainda, sua estrutura era caríssima (replicava o modelo da imprensa-impressa, só que não tinha "impressão"), logo, quando o principal patrocinador saiu, o site deixou imediatamente de existir. Em muitos sentidos, era um case de internet pré-Bolha, em que se investia, muitas vezes, a fundo perdido.

A internet exige que o jornalista, ou o dono da publicação, tenha espírito empreendedor, porque, além da parte editorial, ele vai ter de vender a idéia, vai ter de pensar na parte comercial, vai ter de sujar as mãos de graxa (e não só de tinta). Não há uma estrutura pronta, como na imprensa tradicional, portanto, depois de algum tempo, o jornalista típico desiste.

Fora que, no Brasil, muitas empresas jornalísticas foram concebidas, se desenvolveram e se consolidaram atreladas a governos ou a grupos políticos. Conseqüentemente, muitos jornalistas, e até publishers, quando chegam à internet — onde o business plan tem de funcionar — se atrapalham e desistem.

4) A internet é um caminho sem volta? Quer dizer, é inevitável que o melhor da produção de jornalismo migre para o meio virtual? Onde se encaixariam hoje, portanto, as revistas de informação e os jornais impressos?

É isso mesmo; é um caminho sem volta.

Jornalisticamente falando, talvez a internet brasileira ainda não tenha chegado lá. Mas, economicamente, é indiscutível.

Não há como competir com o que é de graça. Os jornalistas e as empresas jornalísticas sabem disso. Então a única chance de manter uma posição no mercado é migrar para a Web.

Eu não gostaria de colocar a resposta só em termos de competição, mas, nos Estados Unidos, em algumas áreas, a melhor informação disponível já está na internet.

Em matéria de tecnologia, por exemplo: não existem jornalistas "de papel", digamos assim, que cubram melhor o assunto do que blogueiros como Michael Arrington, Om Malik, John Battelle, Steve Gillmor.

Alguns deles até tiveram passagens pelo papel, mas a internet os conquistou irreversivelmente. Logo, as grandes marcas de jornais e de revistas têm de fazer a mesma coisa: têm de ser grandes referências na internet também. Porque, fora dela, não vão sobreviver. As novas gerações consomem cada vez menos papel, e todo mundo sabe igualmente disso...

5) A que o meio digital e as novas tecnologias têm obrigado os demais meios (impresso, TV, rádio) a se adaptarem?

Eu não sei se existem tantas mudanças em cada meio específico. Talvez uma mudança de linguagem. Mas a grande mudança, mesmo, é a de migrar para a internet.

Assim como o papel vira site ou blog, o rádio vira podcast e a TV vira webcast, YouTube ou Joost (o que prevalecer). Não existe inovação, hoje, que não passe pela internet. As grandes mudanças são tecnológicas e a internet é uma nova tecnologia, ao contrário do papel, do rádio, da TV...

Os jornalistas têm de se adaptar e as empresas jornalísticas, também. É uma contagem regressiva, lenta para alguns, mas irreversível para todos.

Concluindo: quem escreve, vai ter de aprender HTML e vai ter de blogar; quem "irradia", vai ter de virar podcast e tocar nos "MP3 players"; e quem faz TV, vai ter de entender a audiência do YouTube e a tecnologia de streaming do Joost (a TV digital já é velha perto disso...).

6) Você costuma sempre dizer que entrou no jornalismo pela "porta dos fundos", pois veio de outro ramo (Engenharia de Computação) para criar o Digestivo Cultural. Desde então, assumiu a posição de jornalista e crítico cultural e se imbricou nesse meio. Da sua posição hoje de editor do Digestivo e envolvido no ramo, como caracterizaria o jornalismo cultural feito no Brasil?

É irônico. Eu vim para esta área porque, há dez ou mais anos, admirava os jornalistas culturais e queria ser como eles. Hoje, porém, acompanho cada vez menos — e, daqui a pouco, nem vou poder falar nada porque simplesmente não vou mais saber o que acontece...

Enfim, os problemas são aqueles que tão bem conhecemos (e não são de hoje mas vêm se agravando): matérias burocráticas que parecem simples releases de assessoria de imprensa, apenas para cobrir os lançamentos e eventos; pouca estrutura (gente), pouco tempo (muita pressão) e pouco espaço para analisar e refletir (criticamente); falta de interesse do leitor, da classe intelectual ou artística (que se sente injustiçada pela "cobertura") e de perspectiva (porque nunca foi uma editoria decisiva, a de cultura; e, com a "ameaça" da internet, a grana está cada vez mais curta nas empresas jornalísticas).

Para não dizer que não falei das flores, tem a Piauí, que é excelente (mas que só a família Moreira Salles sustenta). E tem a internet, que é vibrante. Talvez, na Web, não façamos estritamente jornalismo, mas é onde estão as pessoas e é onde, cada dia mais, vão estar. Não tem volta, de novo.

7) Conseguiria traçar um paralelo de diferenças e semelhanças desse jornalismo com relação ao feito em outros países (qualquer um que queira usar de comparativo)?

A crise do papel é geral e não é "culpa" do Brasil, dos jornalistas brasileiros ou das empresas jornalísticas daqui. É "apenas" o fim de algumas tecnologias. E é o fim de uma indústria que viveu muito tempo de vender o suporte junto com o produto (a informação).

Eu acho que as grandes instituições jornalísticas, no mundo, continuam — porque têm uma audiência mundial. Ou seja, o New York Times pode insistir mais, no papel, do que os jornais daqui, porque a sua base de apoio é global.

Em termos de jornalismo, acho que continua o mesmo "gap" de qualidade que sempre houve (com algumas menções honrosas como, novamente, a Piauí). Agora, em termos de tecnologia, eu vejo empresas como a BBC, o Guardian e o próprio New York Times se mexendo mais do que as nossas respectivas daqui.

Ainda assim, nos EUA, alguns analistas defendem que nem as grandes instituições do jornalismo mundial vão conseguir manter a soberania. Segundo os mesmos, a estrutura das redações "off-line" jamais poderá ser sustentada pelo "on-line". Logo, pode não ser, simples e apenasmente, uma questão de migração...

8) Quem seria, hoje e em atividade, bons jornalistas culturais? E do passado, quem você assumiria como influência para o trabalho que desenvolve no Digestivo?

Embora cada vez mais limitados pela atual conjuntura, os melhores jornalistas culturais continuam sendo o Daniel Piza (no Estadão), o Luís Antônio Giron (na Época), o Sérgio Augusto (também no Estadão), o Ruy Castro (de volta à Folha), o Mario Sergio Conti (na onipresente Piauí) e, entre os "novos", o Marcelo Rezende (na Bravo!). Existem outros fora de atividade (fora das publicações) e, na internet, existem dezenas deles — mas, aí, eu sou suspeito para falar...

Do passado, além dos de cima, — eu sou obrigado a repetir — o Paulo Francis. Sobretudo pela cultura. Para não ficar só em nomes — e só em publicações que já citei —, eu diria que sofri influência do jornalismo feito na Senhor, no Pasquim (agora em livro) e até do "Caderno2" (dos anos 80 e 90).

9) Quais os próximos passos (em termos de tecnologia, avanços, perspectivas) para projetos como o Digestivo Cultural, que existem exclusivamente na internet?

Eu acredito que o próximo passo, das publicações on-line, é serem cada vez mais permeáveis aos leitores.

Dou um exemplo, recente, do próprio Digestivo. Acabamos de inaugurar as páginas de "Comentários por Comentador" — e, ao contrário dos mais de duzentos Colunistas e Colaboradores que passaram por aqui, eu descubro que já tivemos quase mais de quatro mil Comentadores! São mais Comentários, em número, do que textos, há alguns anos...

Talvez o próximo passo, editorialmente falando, seja editar os próprios leitores. Já pensou?

Em termos de perspectivas, o ambiente é muito favorável — porque está claro que, ao abrigar cada vez mais pessoas, a audiência da internet (e das suas publicações) cresce cada vez mais. Então cresce a publicidade, crescem as receitas e as principais empresas de internet.

Nos próximos anos, com o eterno retorno do livro eletrônico, vamos assistir a uma revolução nos direitos autorais — e, quem sabe, muitos autores não possam viver do que publicam on-line?

10) E do Julio Borges jornalista, quais os próximos projetos?

Meus projetos se misturam com os do Digestivo, então volto a falar no site...

Tivemos um problema de infra-estrutura, com a nossa antiga empresa de hospedagem, no segundo semestre do ano passado, então a meta, para o curto prazo, é simplesmente manter todas as seções atualizadas: Notas, Colunas, Ensaios, Entrevistas, Blog e Podcast.

Depois, em paralelo, vamos continuar com os Eventos, que inauguramos em 2007. Se tudo se confirmar, vamos continuar discutindo a internet brasileira, com os principais protagonistas ao vivo (depois, no site, em áudio), e vamos realizar uma série inteiramente nova sobre literatura brasileira contemporânea, junto com a principal publicação literária brasileira. (Ainda nesta parte "presencial", eu dou uma aula em abril, no espaço da Revista Cult, sobre esses dilemas internéticos entre editores e leitores...)

Acabei de inaugurar uma coluna, misturando internet e business, na revista GV-executivo (nossa velha Parceira) — e eu arriscaria uma incursão futura, do Digestivo, em internet business.

Por fim, desde o Kindle (o novo "leitor" da Amazon), voltou a me assaltar a idéia de uma editora em PDF e uma porção de outras idéias para livros...

Como diz o Carpinejar, gosto tanto do que faço que "posso me esgotar fisicamente sem perceber"...

Nota do Editor
Entrevista concedida a Marcelo Miranda, do jornal O Tempo, de Belo Horizonte. Originalmente publicada em 17/2/2008.

[1 Comentário(s)]

Postado por Julio Daio Borges
22/2/2008 às 12h08

 
For Emerging Artists

I used to own a record label. That label, Luaka Bop, still exists, though I'm no longer involved in running it. My last record came out through Nonesuch, a subsidiary of the Warner Music Group empire. I have also released music through indie labels like Thrill Jockey, and I have pressed up CDs and sold them on tour. I tour every few years, and I don't see it as simply a loss leader for CD sales. So I have seen this business from both sides. I've made money, and I've been ripped off. I've had creative freedom, and I've been pressured to make hits. I have dealt with diva behavior from crazy musicians, and I have seen genius records by wonderful artists get completely ignored. I love music. I always will. It saved my life, and I bet I'm not the only one who can say that.

David Byrne, sobrevivendo, na Wired.

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Postado por Julio Daio Borges
22/2/2008 à 00h11

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