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Segunda-feira,
10/3/2008
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Redação
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Novo site da Filmes Polvo
(...)um ano de revista, novo visual do site, novo redator, novas sessões, apresentação da edição especial: eis um momento de tal forma especial para nós que, independente de quantas palavras forem ditas(...), não seria minimamente possível transmitir, aqui, nosso estado atual, misto de satisfação plena, espanto, alegria, exaustão, emoção e, sobretudo, de amor.(...)
Rafael Ciccarini, no editorial da Filmes Polvo (você pensou que fosse outra coisa?), que está com novo site (e que, claro, linca pra nós).
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Julio Daio Borges
10/3/2008 à 00h27
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Frases de Mario Quintana
O despertador é um acidente de tráfego do sono.
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O bom da chuva é que parece que não tem fim.
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Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro.
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O primeiro sinal da incompreensão é o riso; o segundo, a seriedade.
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Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não lêem.
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Amar é mudar a alma de casa.
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A alma é essa coisa que nos pergunta se a alma existe.
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Só o que está perdido é nosso para sempre.
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Quem nunca se contradiz deve estar mentindo.
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Um lugar só é bom quando a gente pode fugir para outro lugar.
Mario Quintana, em Para viver com poesia, que acaba de sair do forno.
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Julio Daio Borges
7/3/2008 à 00h15
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Um Luis no fim do túnel
No fim do túnel Rebouças tem uma luz. Lá é o Rio, a zona sul do Rio de Janeiro, que é uma cidade feia, no geral, como qualquer outra grande cidade. Digo, a maior parte da cidade do Rio de Janeiro é muito feia. A exceção é essa zona sul que, por contraste, é um lugar famoso pela beleza natural. Mais do que isso, o que existe ali é uma vibração peculiar. Ali é o Rio, simplesmente o Rio, em qualquer época do ano, sem a definição mensal do seu nome completo, inalterável em sua alegre urbanidade.
Entrei nessa luz, atravessando o Rebouças, numa tarde quente e cinzenta; margeando a lagoa Rodrigo de Freitas até desembocar na Av. Nossa Senhora de Copacabana e, dali, contando as ruas até virar e estacionar o carro na Barão de Ipanema, uma rua calma, sombreada por aquelas árvores que a gente só vê no Rio, cujos troncos negros estão sempre úmidos ao contato. Estacionei muito próximo a uma árvore dessas e bati com o joelho nela, ao sair do carro, sujando meu jeans.
O suposto barão de Ipanema, seja ele quem for, provavelmente não iria reclamar do fato da sua rua estar em Copacabana. É uma característica carioca legítima, todos parecem estar permanentemente à vontade, na zona sul do Rio.
Depois de me acomodar no apartamento em que eu me hospedava, desci e liguei de um orelhão para o Luis Eduardo Matta, o LEM, um dos colunistas do Digestivo Cultural, que mora por ali e marcamos um encontro. Fui esperá-lo na calçada do cine Roxy, no final da tarde. Ou princípio da noite, tanto faz.
Eu não conhecia o Luis e, no telefonema, disse a ele que era fácil me identificar: careca com blusa preta. Ele disse que não haveria problemas, mesmo porque era um bom fisionomista e havia visto alguma foto minha na Internet. Caminhando para o cine Roxy, começei a torcer para que ele fosse mesmo um bom fisionomista porque, como constatei, o Rio é uma cidade cheia de carecas. De blusas pretas, inclusive.
Fiquei por ali, zanzando na calçada, até que um cara saiu pelas portas envidraçadas do Roxy e veio diretamente em minha direção, "Guga, muito prazer em te conhecer". Embora eu também já tivesse visto alguma foto do Luis na internet, demorei um segundo para ajustar o foco. Porque só conhecia o Luis textualmente e, nos textos, é um sujeito mais velho, ou menos jovial, sei lá. Mas ali estava um cara que aparentava ser ainda mais jovem do que já é, ainda que sua jovialidade seja uma coisa cuidadosamente controlada. Trajes, atitude e cordialidade impecáveis, um controle muito fino da situação, assumindo discretamente o papel do anfitrião que deixa os convidados à vontade, apesar do convite ter partido de mim. Mas, tudo certo, ali é o território do Luis. Ele, como eu já disse, com a roupa impecável de um jovem executivo bem sucedido. Eu, totalmente pecável, jeans, camiseta e barba por fazer. Tudo bem, as ruas de Copacabana são cheias de tipos estranhos.
Caminhamos até um pequeno bar das imediações, onde escolhi uma mesa na calçada, porque gosto de fumar enquanto bebo. Uma garçonete gorducha nos atendeu. Quebrei o gelo, pedindo logo um Red Label com duas pedras e meia. De gelo. Ela saiu, toda sorridente. Quando voltou, Luis pediu uma taça de vinho, mas acho que atrapalhei um pouco o ritual dos tomadores de vinho, que gostam de uma certa seriedade ao escolher, pedir e serem servidos. A moça ficou rindo porque eu contei três pedras de gelo no meu copo de uísque e não duas e meia, como havia pedido.
Conversamos um bom par de horas, talvez mais, talvez menos. Falamos do Digestivo Cultural. Luis se interessava pelos outros colunistas mineiros atuais, a Ana Elisa e a Pilar Fazito, que ele conheceu no último réveillon. Eu me interessava pelos amigos dele, o Ram, o Rafael Lima, ex-colunistas, o Polzonoff. Contou casos engraçados, vivenciados com essa turma. Imitou, com perfeição, a fala do Lula, a voz do Paulo Coelho, com seus sotaques distintos. O Luis tem um talento mímico que ele usa quando quer, mas duvido que consiga me imitar com o pouco material que ofereci, porque não falo muito e gosto de ouvir coisas interessantes, de forma que nossa conversa era, basicamente, eu ouvindo o que ele tinha pra dizer, sobre assuntos diversos. E ele tem muito a dizer. Passamos sobre o problema educacional brasileiro, religião, literatura e coisas assim. Luis tem uma opinião muito clara e bem estruturada sobre cada um dos assuntos que aborda. Não é muito de perguntar. Melhor pra mim, que não sou muito de responder.
Lá pelo quarto uísque me bateu uma fome. Mandei vir um omelete, presunto e queijo. Luis, ainda bebericando sua única taça de vinho, pediu um carpaccio. A comida tem o poder de assentar as coisas em seus devidos lugares e eu senti que já estava meio cansado. Mas eu disse que ia passear um pouco pela Av. Atlântica, antes de ir dormir. Pagamos a conta e o Luis, muito gentilmente, ainda me acompanhou até lá. Atravessamos alguns quarteirões e ele me mostrava detalhes de uma arquitetura oculta, nas fachadas dos prédios mal iluminados do bairro. Preocupou-se, mais de uma vez, com a forma com que eu pretendia atravessar as ruas, passando à frente dos poucos carros que vinham. Um hábito mineiro, talvez, porque em Belo Horizonte, se você não fizer isso e esperar pacientemente que todos os carros passem, não vai sair da calçada.
No calçadão da Av. Atlântica havia o burburinho normal de uma noite quente, uma noite de sábado. Gringos passeando, exibindo um exotismo de feições, cor da pele, roupas, mas nada fica muito exótico no Rio. Moças, que parecem ter saído daquele filme da Demi Moore, pernas nuas e saltos plataforma, batendo impacientes pelo calçadão, nas imediações da boate Help. Os gringos seguiam atrás, como sonâmbulos. Um povo sentado pelas mesas sem fim na calçada; o carioca não faz alarde e toma seu chope no meio do fuzuê. Ali nos despedimos, eu e o Luis. Ele voltando e eu indo noutra direção. Eu estava com a idéia boba de ver o mar à noite, mas desisti. Deixei para fazer isso na manhã seguinte, antes de voltar a BH.
Estava chovendo, garoando, na manhã seguinte. Andei por ali e, mais uma vez, senti que minha cidade natal estava mais dentro de mim do que eu dentro dela. Não me lembrei se eu cheguei a comentar isso com o Luis, que eu também nasci no Rio. Mas sou da zona norte, o que, pra ele, deve significar tanto como se eu dissesse que nasci na Baixa Eslobóvia. Não sei.
E, nessa manhã de Domingo, antes de voltar pro ap. em que eu estava, quero crer que vi o Millôr Fernandes, se exercitando pela ciclovia da praia, montado numa bicicleta.
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Guga Schultze
6/3/2008 às 22h18
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A loucura por Hilda Hilst
(...)É horrível ser louco. Meu pai foi esquizofrênico paranóico e ele sofreu muito. As pessoas fantasiam muito com a loucura, ficam imaginando só um lado poético, genial de ser louco. Mas não é só isso. Padecer de loucura é terrivelmente doloroso. E não sei até onde a loucura garante a boa qualidade da sensibilidade ou percepção de alguém. O mundo teve loucos geniais, Nietszche, Nijinsky, tantos outros. Mas teve os horríveis. Hitler também tinha uma sensibilidade diferente do convencional, mas era um carniceiro monstruoso. E também deve ter muito louco chato, maluco mesmo, como acontece com [quase] todo o mundo.
Trecho de Hilda Hilst, no Scream & Yell, via Love, love, my season.
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Julio Daio Borges
6/3/2008 à 00h59
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A língua nossa de cada dia
"Toda noite, duzentos milhões de pessoas sonham em português" ― com esta frase, começa o documentário Língua ― vidas em português, de Victor Lopes. Filmado em seis países (Portugal, Moçambique, Índia, Brasil, França e Japão), o filme trata da capacidade que nosso idioma tem de modificar o próprio corpo, como diria o escritor Mia Couto. Mas essas modificações derivadas do casamento com outros solos (para usar outra expressão de Couto) são capazes de transformar o português em outra língua?
Na verdade, não. Apenas mudanças estruturais alteram uma língua, o que não ocorreu no Brasil, nem nos outros países usuários do português. Mas não podemos ignorar as diferenças entre o português do Brasil ― filho que se tornou maior que o pai ― e o de Portugal. Por exemplo: se você estiver em Lisboa, deve pedir uma bica e não um cafezinho. Isso mesmo: bica, que, na gíria dos jovens paulistas, significa pontapé. E quem nunca ouviu um relato das confusões geradas pelo significado da palavra "bicha", que, em Portugal, significa fila? Pensando nessas e em outras diferenças, como as de pronúncia e de morfologia e sintaxe ― em Portugal, diz-se "dá-me um baijo" e, no Brasil, "Me dá um beijo" ―, os lingüistas falam em diferentes modalidades de português. O nosso é o português brasileiro.
Em oito séculos de português, muita coisa se perdeu e se modificou, vossa mercê há de concordar. Os mais conservadores, como José Saramago, acham que nosso vocabulário está diminuindo e que, com isso, a comunicação será prejudicada. Então, nos comunicaremos com grunhidos ― numa espécie de retorno às cavernas. Talvez, esta seja uma visão parcial do nosso idioma, pois da mesma forma que algumas palavras estão em desuso, outras vão sendo criadas. A língua portuguesa também está viva e, como tal, sofre transformações todo dia. Mas o mesmo Saramago, na última parte do documentário, faz diferença entre a língua como mero instrumento de comunicação e a que se transforma, pelas mãos de escritores poetas e cronistas, em fonte inesgotável de beleza. E acrescenta: "Aquilo que sobrou, aquilo que as bibliotecas guardam, dava para passar a vida inteira mergulhado na língua portuguesa".
Para ir além
Língua ― vidas em português, com José Saramago, Martinho da Villa, João Ubaldo Ribeiro, Madredeus e Mia Couto. Já está nas locadoras e entra este mês na programação do Canal Brasil.
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Daniela Lima
5/3/2008 às 09h36
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Livros do Mal em Vídeo
Em outubro de 2001, Daniel Galera, Daniel Pellizzari e Guilherme Pilla criaram em Porto Alegre o selo editorial Livros do Mal. Como parte da estratégia de lançamento da empreitada, fizeram esse Vídeo do Mal — VDM #UM. O vídeo foi exibido em telão no evento de inauguração do selo e enviado para uns poucos porcos sodomitas selecionados cuja identidade permanecerá anônima.
O vídeo passou mais de seis anos perdido numa única fita VHS empoeirada que foi carregada de estante em estante ao longo de mudanças interestaduais. Ei-lo, agora, digitalizado em toda (ou quase) sua glória, com porcos, vermes, diabos, máscaras antigás, tacos de beisebol, churros e nonsense no embalo de Mogwai, com flashes de uma Porto Alegre — e de uma época — que jamais será esquecida.
Daniel Galera, em seu Orkut, dias atrás.
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Julio Daio Borges
5/3/2008 à 00h30
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Big Bang
Acho que até o homem mais ateu, na hora da morte, clama por Deus. E o mais religioso, desconfia do paraíso!
Estas afirmações não possuem o menor lastro de confiabilidade. Pior, são à prova de comprovações científicas. A única possibilidade seria irmos a um próximo mundo para comprovar (ou isto não seria possível?). Porém, a resposta está no seu íntimo, não está? Na sua essência. Naquele medo que te dá um frio na barriga ao ouvir as palavras "morte", "desconhecido", "espírito", "inferno" e "paraíso". Aparece, também, em falas espontâneas, aparentemente sem sentido: "cruz-credo"; "ave-maria"; "oh Deus!".
O nome que se dá a este sentimento que criou as lendas, as religiões, os mitos e a própria ciência é medo!
Já dizia um famoso filósofo grego que o ser humano é naturalmente sociável. Questiono se esta sociabilidade não decorre do sentimento citado acima, pois sempre é bom estar com alguém quando se está aflito. "Jogue a primeira pedra quem não sente o mesmo"!
Freud, em seu livro O mal estar na civilização, já dizia que a coletividade possui um sentimento de oceanicidade, ou seja, todo mundo quer sempre fazer parte de alguma coisa.
É verdade que, às vezes, me confundo, não sabendo se é medo ou carência o nome desta agonia. Seria a carência decorrente do medo, ou vice-versa? Estamos ou não diante do temor de ficarmos sozinhos, de não ansiar o futuro... ou isso é carência?
Independentemente do que seja, os governos deveriam obrigar, por meio de lei, todas as escolas a oferecerem em seus currículos o ensino religioso. Notem que eu não disse catequese ou aula sobre o primeiro testamento, eu disse ensino religioso, uma espécie de workshop mais aprofundado.
Isto ajudaria as crianças e futuros adultos a estudar os principais fundamentos de cada religião, no que elas se baseiam e por que elas atraem ou não tantos fiéis. De quebra desenvolveriam uma maior tolerância com o "diferente".
Aprendendo suas essências talvez descobrissem mais cedo o que no fundo todos queremos: paz espiritual e respostas, mesmo que estapafúrdias, para não temermos o desconhecido. Se é através do Hinduísmo, da Cientologia ou da pura ciência, não importa. O que vale é a segurança.
Fora isto, vocês já perceberam que várias histórias bíblicas possuem um porquê científico ou moral? A circuncisão, nos meninos judeus recém-nascidos, é uma forma milenar de prevenir infecções. Jesus Cristo, ao transformar a água em vinho, semeou a esperança e o otimismo.
Ora, as religiões de uma forma geral possuem como seus dogmas os acontecimentos inexplicáveis, ou leis para "obrigar" a sociedade a se comportar, se desenvolver, saindo, assim, do mundo das trevas.
Ou alguém dúvida que sem a tábua das dez leis seria impossível estarmos aqui hoje? Na sociedade atual (talvez por isto o número cada vez maior de descrentes) o papel da religião está nas mãos dos juristas, dos médicos e dos cientistas.
Resta, portanto, para a religião, a filosofia e seus ensinamentos, que fazem as engrenagens da sociedade rodar melhor!
Deixemos a discussão entre os teólogos e os cientistas para o que ainda não conseguimos decifrar, mas não podemos esquecer, jamais, de sermos tolerantes, lembrando que a intolerância não encontra respaldo nem na religião e nem na ciência!
Minha sugestão: faça das religiões o seu "big bang", pegue o que há de melhor em cada uma delas, descarte as baboseiras, adapte com a ciência e viva feliz.
Ou seja, não tenha medo!
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Daniel Bushatsky
4/3/2008 às 19h48
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Um brilhante guitarrista
De todos os shows a que assisti na vida, nunca, mas nunca o artista faleceu, até hoje...
O brilhante guitarrista canadense Jeff Healey faleceu em 3 de março de 2008, aos 41 anos de idade, de um câncer que o acompanhava há pelo menos 40 anos. A doença o cegou quando ainda era criança, mas isso não o impediu de aprender a tocar guitarra e se tornar uma sumidade no assunto.
Eu era uma garota de 17 anos quando presenciei seu show em 1997 e fiquei impressionada com aquele jovem cego tocando sentado e com a guitarra no colo, um jeito único de fazer música que ele teve que desenvolver devido à sua deficiência visual. Era um bluseiro brilhante que fará falta para a família e para o mundo da música, que apesar de não saber — pois ele era pouco conhecido — ficou mais triste após sua partida.
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Tatiana Cavalcanti
4/3/2008 às 15h42
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Ócio criticativo
Nunca pensei em alimentar um blog com as minhas mazelas diárias. Também nunca imaginei que ficar sem fazer nada fosse tão entediante... Afinal posso acordar e ir dormir a hora que bem entender, ir ao shopping quando quiser, me dar ao luxo de passear com o totó as quatro da tarde.... Como a realidade é impiedosa, logo me vi sem companhia para estas saídas. (A não ser a do cachorro, que por sinal adora...)
Além da preguiça, meu pecado moral mais valorizado parece ser a língua ferina. Eu nego veementemente, acredito sinceramente que exponho apenas uma faceta da realidade que as pessoas não querem ver, ao menos não assim de frente... Sabe como é? Até porque rude ou não, estatisticamente sou incontestável. Quando eu falo que vai dar merda... Pode esperar. Era nisso que eu queria chegar. Não que eu sou o ícone pop do egocentrismo, mas que tenho um talento que está sendo subaproveitado para crítica. Ué, evidenciar onde mora o problema das coisas pode ser um dom, por quê não?
Dani Maria, no que se dani..., que eu acabei de descobrir.
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Julio Daio Borges
4/3/2008 à 00h09
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Escrever: voltar-se pra dentro
O escritor é uma pessoa que passa anos tentando descobrir com paciência um segundo ser dentro de si, e o mundo que o faz ser quem é: quando falo de escrever, o que primeiro me vem à mente não é um romance, um poema ou a tradição literária, mas uma pessoa que fecha a porta, senta-se diante da mesa e, sozinha, volta-se para dentro; cercada pelas suas sombras, constrói um mundo novo com as palavras. Esse homem — ou essa mulher — pode usar uma máquina de escrever, aproveitar as facilidades de um computador ou escrever com caneta no papel, como venho fazendo há trinta anos. Enquanto escreve, pode tomar chá ou café, ou fumar. De vez em quando, pode se levantar e olhar pela janela as crianças que brincam na rua e, se tiver sorte, contemplar algumas árvores e uma bela vista, ou apenas topar com uma parede escura. Pode escrever poemas, peças de teatro ou romances, como eu. Mas todas essas particularidades só vêm depois da decisão crucial de sentar-se diante da mesa e, pacientemente, voltar-se para dentro. Escrever é transformar em palavras esse olhar para dentro, estudar o mundo para o qual a pessoa se transporta quando se recolhe em si mesma — com paciência, obstinação e alegria. Enquanto passo os dias, os meses, os anos sentado à minha mesa, acrescentando pouco a pouco novas palavras à página em branco, sinto-me como se criasse um mundo novo, como se trouxesse à vida aquela outra pessoa que existe dentro de mim, da mesma forma como alguém poderia construir uma ponte ou uma ábóboda, pedra por pedra. As pedras que usamos, nós os escritores, são as palavras. Quando as colhemos com as mãos — tentando intuir a maneira como cada uma se conecta às outras, contemplando-as às vezes de longe, às vezes quase chegando a acariciá-las com os dedos e a ponta da caneta, sopesando-as, virando-as de um lado e de outro, ano após ano, sempre com paciência e esperança —, criamos novos mundos.
Orhan Pamuk, em A maleta do meu pai, um livrinho poderoso.
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Postado por
Julio Daio Borges
3/3/2008 à 00h55
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