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Terça-feira, 8/7/2008
Blog
Redação
 
Uma criatura

Sei de uma criatura antiga e formidável,
Que a si mesma devora os membros e as entranhas,
Com a sofreguidão da fome insaciável.

Habita juntamente os vales e as montanhas;
E no mar, que se rasga, à maneira de abismo,
Espreguiça-se toda em convulsões estranhas.

Traz impresso na fronte o obscuro despotismo.
Cada olhar que despede, acerbo e mavioso,
Parece uma expansão de amor e de egoísmo.

Friamente contempla o desespero e o gozo,
Gosta do colibri, como gosta do verme,
E cinge ao coração o belo e o monstruoso.

Para ela o chacal é, como a rola, inerme;
E caminha na terra imperturbável, como
Pelo vasto areal um vasto paquiderme.

Na árvore que rebenta o seu primeiro gomo
Vem a folha, que lento e lento se desdobra,
Depois a flor, depois o suspirado pomo.

Pois esta criatura está em toda a obra;
Cresta o seio da flor e corrompe-lhe o fruto;
E é nesse destruir que as forças dobra.

Ama de igual amor o poluto e o impoluto;
Começa e recomeça uma perpétua lida,
E sorrindo obedece ao divino estatuto.
Tu dirás que é a Morte; eu direi que é a Vida.

Machado de Assis, em Toda Poesia.

[1 Comentário(s)]

Postado por Julio Daio Borges
8/7/2008 à 00h27

 
Flip 2008 — IV (parte 2)

(Continuação do post anterior).

Machado de Assis voltou ao palco quando do encontro entre a historiadora Lilia Schwarcz (mediadora), o diplomata Sérgio Paulo Rouanet, a escritora Ana Maria Machado e o cineasta Luiz Fernando Carvalho. De todas as mesas da Flip, essa, certamente, era uma das mais conceituadas, tendo em vista o gabarito dos convidados.

Talvez isso tenha causado certo temor em Lilia Schwarcz, visivelmente nervosa ao apresentar os convidados. Isso não a impediu, contudo, de realizar uma introdução que norteou o diálogo entre os autores. Ela falou a respeito da dualidade em Machado de Assis, especialmente tendo em perspectiva os livros Esaú e Jacó e Memorial de Aires. Na seqüência, Sérgio Paulo Rouanet esbanjou erudição e clareza ao analisar a obra do autor não tanto a partir de outras referências, como a psicanálise, quanto a partir da leitura atenta dos textos machadianos. Aqui, fez alusão a seu mais recente trabalho, o ensaio Riso e Melancolia, comentando de que maneira a obra machadiana diz aos leitores de que forma eles podem interpretar suas referências intelectuais, como Laurence Sterne, Xavier de Maistre, Diderot.

Ana Maria Machado levou o debate para uma seara menos densa, mas não menos importante. A autora questionou o ponto de vista adotado por Machado de Assis a propósito de mostrar Capitu como culpada da história. Ela obteve, ainda, aplausos mais efusivos quando disse que a obra de Machado de Assis deve ser lida no original, posto que é um clássico, além de ter dito que "o professor deve ler os livros indicados também".

Esse posicionamento de Ana Maria Machado reafirmou o ponto de vista do cineasta Luiz Fernando Carvalho. Em determinado momento, o diretor de TV responsável pela série Hoje é dia de Maria foi categórico ao afirmar que "não acredita na idéia de adaptação de uma obra". Para o cineasta, isso é um tipo de assassinato. A respeito de Machado de Assis, Carvalho contou alguns detalhes de seu projeto para apresentar Capitu, atração de TV que se baseia no romance Dom Casmurro e também assinalou a relação entre a obsessão machadiana e a idéia do doente imaginário, personagem de Molière. Além disso, Carvalho ressaltou que não assiste muito à televisão. Segundo ele, uma coisa é ser pago para fazer; outra coisa é assistir. Mesmo no fim da Flip, depois da capitulação dos autores em duas mesas, foi interessante que alguém ligado ao audiovisual tenha dito isso.

Encerramento
Mais de quinze mesas depois, a Flip 2008 chega ao final, assim como esta cobertura feita diretamente de Paraty. A todos, até a próxima!

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Postado por Fabio Silvestre Cardoso
7/7/2008 às 10h04

 
Flip 2008 ― IV

"Os livros que não lemos" era o tema da mesa de abertura do último dia da Festa Literária de Paraty. Eduardo Carvalho, direto do seu BlackBerry, já estava a caminho da estrada de volta para São Paulo, mas a discussão entre o psicanalista Pierre Bayard e o jornalista da Folha de S.Paulo Marcelo Coelho foi pertinente. Bayard atraiu a atenção do público principalmente graças à sua postura, algo irônica e certamente contestadora, a respeito da experiência da leitura. A partir do debate, a impressão é de que muita gente saiu do local com a sensação de que a proposta do autor francês era a de estabelecer uma nova forma de contato com a cultura, com os livros e com a literatura.

Pode-se afirmar, no entanto, que, em se tratando de impacto, nada se compara com a mesa "Folha Seca", que contou com a presença do crítico literário José Miguel Wisnik, do sociólogo Roberto DaMatta sob a mediação do jornalista Matthew Shirts. O tema? Futebol. Então, de repente, havia um auditório praticamente lotado para a discussão intelectual de um tema das multidões. Coincidentemente, há poucos dias, o Fluminense perdeu o título da Libertadores da América em uma partida, no mínimo, épica, com contornos que remetiam aos textos de Nelson Rodrigues.

Entretanto, o debate não era sobre os principais lances desta ou daquela partida. Mais do que tergiversar sobre o futebol de hoje e de ontem, os dois intelectuais, cada qual com sua formação, souberam dar um toque de classe ao apresentarem análises a propósito do significado do futebol para o Brasil e para os brasileiros. Assim, Wisnik mostrou de que forma seu livro Veneno Remédio ensaia um estudo sobre o esporte à luz das principais interpretações do Brasil no século XX. Nesse ponto, observa, Gilberto Freyre é o autor que mais se aproxima de uma interpretação mais bem acabada acerca do significado do futebol para a nação, ao apontar o esporte como democrático. E completou com sacadas do tipo: "o Futebol de Ronaldinho Gaúcho é pós-moderno, porque seus gols são verdadeiras citações literárias a outros mestres do jogo"; ou "O Brasil é um primor na tecnologia do ócio".

Roberto DaMatta, por sua vez, não apenas concordou com a tese de Wisnik, como também aproveitou para arrancar da platéia algumas risadas amiúde suas considerações. DaMatta soube, porém, dialogar à altura, sobretudo ao afirmar que "o Brasil não se realiza apenas no Futebol; do contrário, não estaríamos aqui [numa Festa de Literatura]". Na opinião do sociólogo, o esporte rearranja a questão da desigualdade de formas diversas, sem mencionar a questão da justiça do jogo (um dado que contrasta com a política, por exemplo), bem como o aspecto do mérito que valoriza o desempenho (e não a proteção deste ou daquele). Além disso, para DaMatta, o fato de o Estado não ter tentado (no passado, ao menos) organizar o jogo fez com que o futebol vingasse. Em uma platéia repleta de VIPs, esse discurso não poderia ter sido mais apropriado ― mas Orlando Senna, ministro do Esporte, apareceu lá para saudar os convidados depois.

(Continua no próximo post.)

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Postado por Fabio Silvestre Cardoso
7/7/2008 às 10h02

 
Flip 2008, bastidores III

No último dia de Flip, a sensação é de ressaca (sem dissimulação). É fato que as mesas do dia também foram interessantes; contudo, os jornalistas já começam a fazer a cobertura de maneira, digamos, mais esgarçada. Ao meu lado, um repórter de um renomado jornal carioca acompanha com interesse, via The Guardian, o embate entre Rafael Nadal e Roger Federer pelo torneio de Wimbledon. E a sala de imprensa, que já esteve com o jet-set do jornalismo cultural brasileiro, agora está esvaziada. Do lado de fora, os assessores de imprensa já respiram (e fumam, e bebem) aliviados, como se tivessem completado a jornada.

Paraty em tempo de Flip não é Flip. Que o diga Marcelino Freire. Parece ter sido do blogueiro e autor de Contos Negreiros a iniciativa de instaurar a 1ª Picareta Cultural da cidade. Resultado: às 3h da madrugada, jovens boêmios transformaram um pedaço do centro histórico numa espécie de sucursal da Vila Madalena, com direito a poesia declamada e ode à literatura de gosto duvidoso. Não havia bafômetro, assim como não houve critérios de seleção para os participantes. Este, aliás, poderia ter sido o mote do evento: etílico, sim; elitista, não.

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Postado por Fabio Silvestre Cardoso
6/7/2008 às 17h11

 
Flip 2008 - III (parte 2)

(Continuação do post anterior.)

Na mesa "Paraíso Perdido", às 17h, o holandês Cees Noteboom e o colombiano Fernando Vallejo travaram um interessante debate sobre preferências estéticas, literatura de viagem, ceticismo e visão de mundo. O interessante, no caso, se deu especificamente porque houve certa tensão entre os debatedores, em especial entre Vallejo e o mediador, Angel Gurria, jornalista do Financial Times. Difícil indicar com exatidão quando as rusgas começaram. Mas desde o início da mesa Vallejo se recusou a responder objetivamente o que o mediador lhe perguntava. Irreverente, o Diogo Mainardi da Colômbia, como escreveu Edu Carvalho, fez troça ao falar que não comentaria sobre política, religião e literatura num lugar tão agradável como Paraty, assinalando que a ocasião é para outro tipo de sentimento (felicidade). Gurria tentou, sem sucesso, outras vezes extrair respostas de Vallejo sobre a importância do lugar na sua literatura. Com isso, estabeleceu-se um clima intermediário entre o desconforto e a ironia. O público, que até então aplaudia cegamente a qualquer intervenção dos convidados, ficou dividido. Só alguns cumprimentavam o que o autor de O Despenhadeiro dizia.

Cees Noteboom obteve êxito, no entanto, ao elevar o debate. De fato, o holandês conseguiu catalizar a discussão para algo mais positivo, como quando tratou de sua estratégia de escrita (durante seu processo de criação, escreve 500 palavras por dia); ou quando falou acerca de sua relação com os livros de viagem (para ele, o fundamental é que o escritor viajante apreenda a essência do lugar em que está de passagem); ou, ainda, quando, de leve, ironizou a posição de Vallejo ao afirmar que o mundo também pode ser um lugar agradável. De sua parte, o escritor colombiano ficou isolado, mas, aqui e acolá, encontrou espaço para disparar contra a Igreja Católica ("o Cristianismo é uma empresa criminal, suja de sangue"); contra Darwin ("a Teoria da Evolução não explica muito"); e até mesmo contra os físicos quânticos. Nesse momento, o mediador não resistiu: "Em que você acredita, Vallejo?" Aí, sim, as palmas, efusivas, apareceram. Polêmica à parte, é possível observar uma diferença elementar no processo de criação desses escritores: enquanto Vallejo prefere formar sua narrativa com base na "língua falada transformada em língua literária", Noteboom possui uma relação mais íntima com a escrita, a ponto de, até hoje, escrever com sua caneta Mont Blanc em folhas especiais.

Para o último dia, Sérgio Paulo Rouanet, considerado por muitos o principal intelectual do País, promete fechar com categoria a sexta edição da Festa Literária de Paraty. Além dele, há, também, Pierre Bayard, Marcelo Coelho, Ana Maria Machado, sem mencionar o debate sobre futebol entre José Miguel Wisnik, Roberto DaMatta e Matthew Shirts.

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Postado por Fabio Silvestre Cardoso
6/7/2008 às 11h55

 
Flip 2008 ― III

Sábado foi o dia em que o público esteve mais presente junto dos autores convidados da Flip. E isso se deve não somente ao fato de as palestras terem sido bem conduzidas por parte dos mediadores, mas, principalmente, porque, ao que parece, a audiência realmente esperava pelos palestrantes do dia. O exemplo mais contundente dessa situação, sem dúvida, foi o acontecimento Neil Gaiman. Tamanha era a expectativa, que a mesa de Pepetela quase não foi comentada ao longo do dia nas ruas de Paraty. E próximo das 19h, os atendentes da Livraria da Vila reclamavam, entre atônitos e eufóricos, que um dos livros do autor estava esgotado no estoque.

O que poderia ter dito Gaiman para atrair tanto magnetismo? Falou, entre outras coisas, sobre a relação entre cinema e literatura. Junto com Gaiman, Marcelo Tas (na mediação) e Richard Price tentavam dividir as atenções. Tarefa ingrata. O autor de Sandman conseguiu atrair para esta Flip um público distinto daquele que naturalmente participa de uma Festa Literária. É verdade que Gaiman já esperava isso. Na entrevista coletiva, ele afirmou que, quando da sua última visita ao Brasil, o gerente da Fnac teve de intervir para que a loja não fosse quebrada por fãs que não tiveram seus livros autografados. Assim, ele não deve ter ligado que até as 16h30 tivesse de assinar as obras para os fãs.

A seguir, logo depois do almoço, Contardo Calligaris e Alessandro Baricco fizeram da mesa "Fábulas Italianas" um palco para digressão e, sobretudo, justaposição de imagens e referências que apareciam fora do discurso oficial. Sob mediação de um austero (e bem preparado) Manuel da Costa Pinto, Calligaris e Baricco reconstruíram suas raízes literárias, desmontando com elegância as armadilhas do óbvio ― isto é, a participação nem sempre pertinente do público.

(Continua no próximo post).

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Postado por Fabio Silvestre Cardoso
6/7/2008 às 11h53

 
Flip 2008, bastidores II

O número de notáveis (no caso, celebridades do universo da cultura) presentes na Flip 2008 surpreende. De Maitê Proença a Pedro Malan, passando, claro, pelas proto-personalidades, como Marcelino Freire (descolado, como sempre). Na Tenda dos Autores, os assentos reservados transformam a Flip numa espécie de Ilha Fiscal. Em outras palavras, um lugar em que todas as personalidades precisam freqüentar.

Do lado de fora da Tenda do Telão, uma fila de autógrafos insiste em não diminuir. Neil Gaiman parece ter mais fãs que muitos conjuntos de rock. Aliás, há quem diga, aqui e ali, que seu estilo mais se assemelha a um ídolo pop.

E por falar nisso, os autores, finalmente, estão saindo do armário! Calma lá, leitor. Nada da vida privada, mas, especificamente, sobre a "angústia da influência". Nesta tarde, tanto Alessandro Baricco como Contardo Calligaris afirmaram que suas referências não estão somente ligadas à literatura, mas, também, ao cinema, aos quadrinhos e, nas palavras de Baricco, a todo um repertório de imagens acessível hoje em dia. Por seu turno, Calligaris defendeu a literatura como forma de expressão, sobretudo pela capacidade de dizer o essencial.

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Postado por Fabio Silvestre Cardoso
5/7/2008 às 16h14

 
Flip 2008 — II (parte 2)

Continuação do post anterior

Também mediada por Samuel Titan Jr., a mesa "Estética do Frio" foi a mais lúcida até aqui. Martín Kohan, Nathan Englader e Vitor Ramil, por ordem de importância, estiveram soberbos e definitivos. O argentino Martín Kohan, autor do livro Ciências Morais, apontou o propósito de sua obra de forma essencialmente clara, a saber: interessa ao autor descobrir qual é o mecanismo que estimula a obediência. "Por que as pessoas obedecem? Muitas agem assim porque desejam obedecer." Em Ciências Morais, Kohan mostra um pouco desse mecanismo aparentemente sem importância, mas, sem dúvida, essencial. De sua parte, Nathan Englander falou do escritor que deseja ser outro. O deslocamento em sua trajetória, conforme suas próprias palavras, é fundamental, pois dos lugares em que viveu ele conseguiu extrair matéria-prima para sua literatura, ou sobre "como as histórias afetam as cidades". Já Vitor Ramil, insistentemente questionado sobre a relação entre escrita e fotografia, acabou por confessar que sua formação é mais imagética do que livresca. Num daqueles momentos únicos da Flip, um convidado assumiu que a televisão teve um papel fundamental em seu projeto literário.

David Sedaris, o último convidado do dia, foi saudado e celebrado como um dos principais humoristas norte-americanos. O tom da palestra foi sempre irônico, sarcástico até. Sobre o fato de ter sido escolhido humorista do ano pela revista Time, Sedaris riu de si mesmo: "Fui indicado no dia 10 de setembro de 2001. Três dias depois, a revista já tinha outra capa, pelos motivos que todos já devem saber". O jornalista Matthew Shirts, que teve a incumbência de apresentar Sedaris, não teve dúvida em assumir sua postura como parte da platéia. Também, pudera: as sacadas do autor, que considera seus escritos como não-ficção "com algum espaço", tiravam risos até dos tradutores. Piadas à parte, acerca do seu processo criativo, Sedaris esbanjou sinceridade ao afirmar que escrever, para ele, é fazer contas sobre quais palavras ele deve usar quando elabora suas histórias. E a platéia, claro, aplaudiu...

A expectativa para este sábado é, sem dúvida, Neil Gaiman, a despeito de Contardo Calligaris e Alessandro Baricco, cujo lirismo promete encantar os presentes na Flip. Cees Notebom e Fernando Valejo, com bastante polêmica, questionam o consenso na mesa "Paraíso Perdido". Por fim, Tom Stoppard com o rock do Shakespeare. A conferir.

[1 Comentário(s)]

Postado por Fabio Silvestre Cardoso
5/7/2008 às 11h59

 
Flip 2008 ― II

Há uma semana desta sexta edição da Flip, a revista CartaCapital publicou um longo texto a propósito da natureza da Festa Literária de Paraty. Dizia a reportagem, assinada por Ana Paula Sousa, que a "Era dos Eventos" chegou para ficar. E mais: nessas ocasiões, a literatura é deixada de lado, em detrimento da presença dos autores diante do público, sendo aqueles (os autores) instados a falar sobre temas distantes da literatura, assunto que lhes seria mais natural.

No segundo dia das mesas, Ingo Schulze, em certa medida, concordou com essa premissa apontada pela reportagem, muito embora isso tenha ocorrido de forma indireta. A explicação: o texto que o escritor alemão leu foi o conto "Nada de literatura ou epifania no domingo ao entardecer". Na apresentação dos autores, o mediador, o cineasta Carlos Augusto Calil, fez uma introdução absolutamente esclarecedora dos componentes da mesa, para além de Ingo Schulze. De Modesto Carone, por exemplo, Calil analisou sua obra à luz da perspectiva das formas breves, tema da mesa. Já acerca de Rodrigo Naves ressaltou-se a presença crítica do autor, talvez mais conhecida do que sua obra de ficção. Depois da introdução, aos autores restou tão somente a leitura dos textos, como procedeu Schulze. E nada além disso ― apenas o fato de que a tradução de Schulze, muitas vezes, parecia mais convulsiva do que a própria leitura do autor.

De fato, as intervenções iniciais são, nesta Flip, quase definitivas. Foi o caso, por exemplo, de Samuel Titan Jr., que "presidiu" duas mesas na sexta-feira, 4 de julho. Na primeira, em que estavam presentes o escritor João Gilberto Noll e a cineasta argentina Lucrecia Martel. Titan, que é crítico literário, norteou as discussões por um caminho denso, para dizer o mínimo. Nesse sentido, de um lado, é evidente que a qualidade do debate está garantida, uma vez que o crítico consegue dar significado distinto àquele dado pelo próprio autor. Por outro lado, também é correto afirmar que as perguntas são específicas demais. O resultado, como se viu, foi um João Gilberto Noll tão ensimesmado com o que lhe foi perguntado. Ainda assim, ele respondeu sobre sua relação primal com a literatura. O mais interessante, no entanto, foi a opção de Noll em se desvencilhar da estrutura clássica da narrativa. Segundo ele, a literatura deve estar fora do convívio social. De maneira semelhante, Lucrecia Martel também expôs o formato de sua narrativa: conversação, muito influenciada pelos telefonemas dados por sua mãe. Nas palavras da cineasta, sua influência é menos clássica do que a tradicional.

(Continua no próximo post.)

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Postado por Fabio Silvestre Cardoso
5/7/2008 às 11h58

 
Flip 2008: Vídeos das Mesas







Direto do Blog da Flip, comandado pelo Fabio Danesi Rossi (segundo o Eduardo Carvalho, "Escola Digestivo...").

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Postado por Julio Daio Borges
4/7/2008 às 17h50

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