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Sábado,
5/7/2008
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Redação
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Flip 2008 ― II
Há uma semana desta sexta edição da Flip, a revista CartaCapital publicou um longo texto a propósito da natureza da Festa Literária de Paraty. Dizia a reportagem, assinada por Ana Paula Sousa, que a "Era dos Eventos" chegou para ficar. E mais: nessas ocasiões, a literatura é deixada de lado, em detrimento da presença dos autores diante do público, sendo aqueles (os autores) instados a falar sobre temas distantes da literatura, assunto que lhes seria mais natural.
No segundo dia das mesas, Ingo Schulze, em certa medida, concordou com essa premissa apontada pela reportagem, muito embora isso tenha ocorrido de forma indireta. A explicação: o texto que o escritor alemão leu foi o conto "Nada de literatura ou epifania no domingo ao entardecer". Na apresentação dos autores, o mediador, o cineasta Carlos Augusto Calil, fez uma introdução absolutamente esclarecedora dos componentes da mesa, para além de Ingo Schulze. De Modesto Carone, por exemplo, Calil analisou sua obra à luz da perspectiva das formas breves, tema da mesa. Já acerca de Rodrigo Naves ressaltou-se a presença crítica do autor, talvez mais conhecida do que sua obra de ficção. Depois da introdução, aos autores restou tão somente a leitura dos textos, como procedeu Schulze. E nada além disso ― apenas o fato de que a tradução de Schulze, muitas vezes, parecia mais convulsiva do que a própria leitura do autor.
De fato, as intervenções iniciais são, nesta Flip, quase definitivas. Foi o caso, por exemplo, de Samuel Titan Jr., que "presidiu" duas mesas na sexta-feira, 4 de julho. Na primeira, em que estavam presentes o escritor João Gilberto Noll e a cineasta argentina Lucrecia Martel. Titan, que é crítico literário, norteou as discussões por um caminho denso, para dizer o mínimo. Nesse sentido, de um lado, é evidente que a qualidade do debate está garantida, uma vez que o crítico consegue dar significado distinto àquele dado pelo próprio autor. Por outro lado, também é correto afirmar que as perguntas são específicas demais. O resultado, como se viu, foi um João Gilberto Noll tão ensimesmado com o que lhe foi perguntado. Ainda assim, ele respondeu sobre sua relação primal com a literatura. O mais interessante, no entanto, foi a opção de Noll em se desvencilhar da estrutura clássica da narrativa. Segundo ele, a literatura deve estar fora do convívio social. De maneira semelhante, Lucrecia Martel também expôs o formato de sua narrativa: conversação, muito influenciada pelos telefonemas dados por sua mãe. Nas palavras da cineasta, sua influência é menos clássica do que a tradicional.
(Continua no próximo post.)
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Fabio Silvestre Cardoso
5/7/2008 às 11h58
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Flip 2008: Vídeos das Mesas
Direto do Blog da Flip, comandado pelo Fabio Danesi Rossi (segundo o Eduardo Carvalho, "Escola Digestivo...").
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Julio Daio Borges
4/7/2008 às 17h50
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Flip 2008, bastidores I
Na sala de imprensa, vejo Sergio Rodrigues atendendo a um pedido de Ancelmo Gois, d'O Globo. Eduardo Carvalho também freqüenta o lugar, mas permanece alheio às necessidades dos jornalistas que, ao meu lado, comentam quais mesas devem participar. "Você faz aquela". "O Caco Barcellos não vem". "Preciso mandar o texto para o jornal depois do almoço". Esse tipo de conversa é bastante comum por ali.
Enquanto isso, perto do começo da coletiva com o escritor francês Pierre Bayard ― autor do livro Como falar dos livros que não lemos? ― uma nova categoria de repórteres se faz presente no encontro com Neil Gailman: o jornalista-fã. O autor nem precisou contar piadas para que ganhasse o riso dos que ali estavam para entrevistá-lo. Mais do que isso: ao final, muitos correram para pedir autógrafo. E depois reclamam dos blogueiros...
Na coletiva, Bayard respondeu com ironia à pergunta inicial feita por este repórter: "Por que devemos ler o seu livro?". Para o autor, o importante não era efetivamene ler o livro, mas, sim, comprar o livro. Segundo Bayard, que também assinou romances policiais, o fundamental é que as pessoas, de alguma forma, entrem em contato com a leitura. E, por tabela, rechaçou a idéia do cânone, tal qual defendida pelo crítico Harold Bloom. "São os leitores que devem construir seu próprio cânone", concluiu.
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Fabio Silvestre Cardoso
4/7/2008 às 16h47
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Flip 2008 ao vivo (assista!)
Cortesia da Oi, confira aqui a programação, e prepare-se para as próximas mesas.
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Julio Daio Borges
4/7/2008 às 12h11
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Flip 2008 ― I
Para quem conhece Paraty de outras ocasiões ― menos literárias, porém não menos atraentes ― a cidade não parece estranha como a capital da literatura nesta sexta edição da Flip, que começou anteontem, dia 2, com a palestra do crítico literário Roberto Schwarcz a propósito do homenageado deste ano, o escritor Machado de Assis. Ao caminhar pela pedregosa Paraty, o que se vê é um lugar totalmente adequado aos acontecimentos ora em curso. Nas ruas, muitas são as pessoas que andam com as camisetas desta e de outras edições; o comércio local, por sua vez, fica sempre pronto a indicar quais são os produtos mais tradicionais; e mesmo nas ruas já existe um mercado informal com os produtos mais afeitos ao público que frequenta a Flip. Assim, se é comum em algumas metrópoles vendedores de CDs piratas, por aqui, em cinco minutos de passeio, é possível ser abordado pelos portadores de um audiolivro. Em outra cidade, isso seria apenas fora do comum; em Paraty, parece natural. Simples assim.
E talvez o maior atestado de que o evento, sim, pegou é não somente a mobilização, mas, também, o fato de que as crianças aderiram à Flip. Prova disso é a programação da Flipinha, que conta com a presença de pais e filhos, estes certamente mais elétricos do que aqueles; contudo, ainda assim, com alguma atenção. Foi o que se viu na apresentação de uma peça que teve início às 18h30 de quinta-feira, dia 3, com direito à música de Chico Buarque e Hino à Bandeira. A compreensão era quase nula para quem estava de fora, mas o tom era de discurso político, de consciência social. Em poucos minutos, a canção "Cálice" soava a partir das caixas de som, e os atores, no palco, performavam. De repente, palmas, muitas palmas. Parece que havia alguma mensagem de fundo. Escrevo "parece" porque, sinceramente, não deu para entender qual era a proposta ― talvez a iniciação das crianças no teatro do absurdo. Vai saber.
Um pouco distante do palco, logo na porta da tenda da Flipinha, é possível ler a mensagem de apresentação sobre a exposição de trabalhos das crianças sobre a obra de Machado de Assis. Em linhas gerais, o texto tratava de questões de fundo, como identidade e alteridade. É a partir daí que a suspeita aventada por alguns se cristaliza, ou melhor, se comprova. A edição deste ano da Festa Literária de Paraty está um tanto mais conceitual e, alguém certamente dirá, mais acadêmica. E é dentro dessa perspectiva que a presença de Roberto Schwarz na abertura faz do evento um acontecimento mais vetusto, uma vez que é um acadêmico, célebre autor de "As idéias fora do lugar", texto que pertence aos clássicos de interpretação do Brasil. Desse modo, na sua intervenção inicial, Roberto Schwarz apontou como a obra de Machado de Assis é fundamental para o entendimento do Brasil. E a palestra do pensador repisou nesses pontos, muito embora tenha se fixado em aspectos não necessariamente abordados com freqüência nos romances de Machado de Assis, como os trechos de abertura e as novas leituras sobre o autor de Memórias Póstumas de Brás Cubas.
Nesse sentido, o que se pode esperar das palestras é um debate intelectual sobre livros e literatura, sobretudo quando o tema for Machado de Assis, tendo em vista a presença de nomes como Sérgio Paulo Rouanet, Lilia Schwarcz, Flora Susskind. E mesmo quando o tema for futebol, José Miguel Wisnik e Roberto DaMatta prometem uma tabela com teor mais abstrato do que o de costume ao falar do ludopédio. E a respeito dos contadores de história, para hoje, a expectativa é a das "Formas breves" de Ingo Schultze e Modesto Carone, bem como da "Estética do Frio" de Vitor Ramil, Martín Kohan e Nathan Englander. Mais notas em breve.
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Fabio Silvestre Cardoso
4/7/2008 às 11h04
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Caminho de hamster
Fedendo a cigarro e a mim mesmo
cruzo uma avenida
ao anoitecer
sirenes, carros
vozes abafadas
avenida larga e áspera
numa rua transversal
o cadáver de um cachorro
atropelado
rodas metálicas em ritmo lento
fedendo a esgotos e a mim mesmo
a um pouco de fogo, do isqueiro
fedendo como aquela maçã podre
fedendo a música estúpida
desses tempos
e a mim mesmo
o lixo recolhido exala
um cheiro nítido na calçada
fedendo a sapatos e a mim mesmo
a ratos, ao suor dos néons
a cadeiras e a mim mesmo
a notícias inúteis e a mim mesmo
fedendo sob a lua
narinas entupidas de gás carbônico
o som do motor do ônibus
fedendo as mesmas camisas
fedendo a miopia e a mim mesmo
fedendo a esquinas
exalando cheiros
fedendo a expectativas
que no entanto acabam
na próxima linha
O grande Régis Bonvicino, "fedendo a si mesmo", em as escolhas afectivas.
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Julio Daio Borges
4/7/2008 à 00h51
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Música Independente 2.0
O mercado independente de música está crescendo. O que está em queda são as antigas relações gravadora-artista, sobretudo no mainstream. O CD, hoje, é apenas um suporte de divulgação das bandas e, não, sua sustentação principal. Tanto no Brasil quanto na Europa e nos EUA, pequenos selos ganham relevância com artistas alcançando sucesso de público e de crítica. E isso não é conseguido com vendagem de discos e, sim, com uma boa divulgação, shows e, claro, alguma qualidade e criatividade. Para conquistar seu espaço, as bandas novas precisam conhecer como funciona o mercado em que estão entrando. Se entrar com uma visão romântica de que serão acolhidas por uma grande gravadora e ficarão ricas, vão quebrar a cara. Isso pode até acontecer, mas precisam se perguntar até que ponto irão abrir mão da liberdade criativa para fazer sucesso. O modelo mais utilizado, e coerente, é trabalhar em parceria com pequenos selos independentes. Aqui no Brasil, ainda há muito o que crescer neste sentido.
* * *
Recebi alguns discos de bandas independentes no formato SMD e achei bem interessante. Acredito que as bandas e selos devam buscar outras formas de comercializar música. Mas também precisam ficar cientes de que os outros formatos podem conviver com eles. Ainda não encontramos o momento ideal da comercialização de música pela internet, mas este comércio naturalmente será a regra no futuro. As próprias gravadoras já descobriram que não adianta mais lutar contra e, agora, buscam formas de lucrar com a Web. Enquanto isso, todos procuram maneiras criativas de distribuir seus trabalhos. Até uma das maiores bandas do mundo, o Radiohead, acirrou esta discussão sobre o valor da música.
* * *
Como falei, estamos vivendo esta nova realidade e fica difícil prever o que o futuro reserva para a distribuição de música. O que sabemos é que a internet será o veículo principal tanto na comercialização quanto no download gratuito. Todo dia surge uma nova idéia que explora a Web de maneira inteligente e lucrativa, mas ainda não se chegou a um modelo ideal (e talvez nunca se chegue...). Como jornalista, acredito que o disco, enquanto conceito, deva existir. A idéia de "álbum" é muito importante para firmar o trabalho de uma banda. Ninguém baseia uma carreira apenas em faixas dispersas. Precisa ter uma unidade, uma idéia, juntas, num único conjunto, o disco. Mesmo que não seja lançado fisicamente, sua existência já funciona como "agendamento", o que para imprensa é muito importante. Na revista, recebemos muito e-mail de bandas querendo divulgar o trabalho, mas as que mais receberão destaque são as que têm algum disco pronto (mesmo que nunca lançado em formato físico). O disco não irá morrer, o que está entrando em decadência são as formas de distribuição e comercialização tradicionais. As bandas precisam compreender este momento se quiserem adquirir relevância nos próximos anos...
Paulo Floro, em entrevista à Movin' Up, que linca pra nós.
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Julio Daio Borges
3/7/2008 à 00h31
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frases soltas
ontem sonhei que tinha todas as respostas.
quando acordei, descobri que estavam de fato corretas.
decepcionante.
* * *
para um fóton, o tempo não passa.
um único instante abarca toda sua existência.
por algum motivo, isso me inquieta profundamente.
* * *
há muitas coisas que podemos ignorar.
quase todas, aliás.
(talvez todas, mas não quero parecer leviano.)
* * *
detesto quem relativiza em excesso.
a teoria da relatividade baseia-se numa constante.
para o inferno com o "tudo é relativo".
cássio koshikumo, no seu blog, que linca pra nós.
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Julio Daio Borges
2/7/2008 à 00h24
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Mulheres de A a Zezé
Alice, a pedófila. Belinha, parricida. Carlota, sofre de crise de abstinência de café, eu sei como é, é horrível. Diana, a caçadora ninfomaníaca.
Elisa, a namorada perfeita. Fátima Aparecida, bêbada, encontrou Jesus e depois O perdeu. Francisca, assassina. Guiomar, não lava, não passa e não cozinha, mas faz amor que é uma beleza.
Helena, a mentirosa, nunca poderia estar em uma novela de Manoel Carlos. Heloisa, pecadora. Jessica, mulher do Raimundo, era feia de rosto e boa vocês sabem do quê. Joana, morreu queimada no fogo de um orgasmo.
Julie Lacroix, Salete Silva de registro, escritora, inteligente, morre de medo de morrer. Karin, a gringa generosa. Laurinha, cruelmente assassinada e igualmente vingada. Lavínia, suicida. Luíza, artista que pinta pintos. Marta, a golpista. Miriam, recusa e renúncia. Nora Rubi, cleptomaníaca, abduzida para a prisão.
Olívia, a matadora de aluguel. Raimundinha, a cega. Selma, a enfermeira com que todo homem fantasia. Dona Teresa, viúva triste. Xânia, colega de Olívia, e Zezé, que se vira com o que a vida lhe dá e assim consegue o quer.
E também tem Ela, que cita Nietzsche na cama. Ela e outras mulheres (Companhia das Lestras, 2006, 169 p.) réune 27 contos breves de Rubem Fonseca, naquele estilo dele que você já conhece. Algozes ou vítimas e rodeadas de palavrões, elas se envolvem em situações de sexo, morte e outras sacanagens da vida.
Eu adorei a Alice e a Nora Rubi. E você, qual escolheria?
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Adriana Baggio
1/7/2008 às 14h26
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Amizade (1)
Nas mesas, nos bares,
amigos conversam
(não mais entre si)
com seus celulares.
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Guga Schultze
1/7/2008 às 13h22
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Julio Daio Borges
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