Antes de sair da casa do meu pai, eu tive um casinho com um cara problemático. Ele me ligava todos os dias e me contava suas mazelas. O cachorro que estava doente, o céu que estava cinza e chuvoso, o emprego sem graça, o livro que havia perdido no ônibus, o vinho sujo e barato.
Inventei várias desculpas para não atender ao telefone. Inventei várias cólicas e dores de cabeça para não precisar sair com ele. Mas a culpa era minha.
Eu estendi minha mão, braços e pernas quando ele estava mal. Emprestei meu colo, meus ouvidos e minha paciência e meu jeito de "mulher compreensiva e terna". Aí deu nisso: um chiclete ― e dos mais vagabundos.
Às vezes até que ele era legal. Ou era o meu humor e as garrafas de vinho que faziam com que tudo fosse lindo e suportável. Não sei...
Morte agora ou depois? Quando você for votar, esta questão precisa estar respondida. Quando um americano for votar, a importância da resposta é quase crucial. Os Estados Unidos ainda são o grande império contemporâneo, portanto, os mais influentes, os maiores consumidores e os maiores manipuladores do mundo.
Eles comandam guerras e desmatamentos. E é justamente nas duas últimas palavras que precisa haver foco. Se você quer ver morte agora, torça por um republicano. Se você quer morte depois, torça por um democrata. Explico: republicanos preferem guerras, e os democratas preferem investimentos em outros setores da economia que não armamentos. Estes outros setores provocam poluição e desmatamentos, que geram, no futuro, morte.
Você também pode torcer pensando em dinheiro: escolha o candidato financiado pelas empresas nas quais você acredita.
Ressalto: não sou contra os EUA! Pelo contrário, os admiro. Possuem qualidade de vida e sua influência na política externa é admirável, mas que ao votar o eleitor precisa fazer uma escolha, ele precisa.
Outra coisa que me surpreende é sua democracia. O voto é indireto (no Brasil é direto) o que abre a possibilidade de um candidato com menos votos ganhar a eleição.
Mais intrigante do que isto é que em um país que já foi dividido pela escravidão, com a Ku Klux Klan ainda sendo uma "importante" organização, com cada vez mais neonazistas e neofascistas, haja a possibilidade de um afrodescente, mulçumano, assumir o cargo de imperador!
Ser rei não é fácil. Ser o rei de um país hegemônico, nem se fale. Ser um rei negro em uma época de crescentes preconceitos, nem se diga. É por isso que torço por Obama. Ele é a imagem de um povo que sabe se reciclar se quiser ficar no poder. Ele é transcendente à questão do preconceito.
Aliás, duas considerações: (i) a maioria das pessoas não sabe, muito menos os nazistas de plantão, mas no Antigo Egito a cor da pele era irrelevante. A dinastia mais importante de faraós era negra (para saber mais confira a revista National Geographic de fevereiro de 2008); (ii) não sei se vai ser a China o país que superará os EUA, mas algum dia algum país os ultrapassará ― a história nos ensina que todo império rui. É importante, porém, que absorvamos do grande líder o que é positivo, como aprendemos filosofia da Grécia, medicina do Império Otomano, e "pão e circo" dos Romanos. Dos EUA devemos aprender que a discriminação racial não pode ser levada a sério, sob pena de condenarmos o próprio imperador!
Neste sentido, se você prefere ver mortes depois, é acionista de empresas ligadas ao gabinete do imperador e, ainda por cima, não é preconceituoso, torça por Obama.
Trabalho em grupo, você começa a fazer na primeira série, e vai até o final da sua vida. Mesmo assim, sempre tem um cidadão que não sabe lidar com trabalho em grupo. As figuras típicas, geralmente, são:
* O nerd, que faz tudo o que você não sabe fazer (e muito menos quer saber como fazer); afinal, ele é nerd: tá lá pra isso.
* O finge-que-sabe, mas não sabe coisa nenhuma (apesar de ter um bom discurso).
* O boa-pinta, que cede casa, a comida e a bebida, e tem uma ligeira participação no trabalho braçal (mas ninguém vai reclamar, afinal, ele cedeu casa, comida, bebida...).
* O confete, que mais pula, grita e bagunça do que faz alguma coisa.
* O criativo, com boas idéias e propostas. (Alternando-se com o confete, mas para melhor: já que, de fato, faz o trabalho.)
* O mala, que não faz coisa nenhuma (sequer se encaixa na classificação confete): é um chato, é o que sobra, o cream cracker (da cesta de café da manhã que sua mãe ganhou).
"Não estamos sentindo o cheiro da decomposição divina? Deus está morto! Deus continua morto! E fomos nós que o matamos! Como nos consolaremos, nós, os asassinos dos assassinos! [...] Não nos forçamos a nos tornar nós mesmos deuses? [...] Jamais houve ação mais grandiosa, e aqueles que nascerão depois de nós pertencerão, por causa dessa ação, a uma história mais elevada que toda a história anterior! [...] Esse acontecimento enorme ainda está a caminho, ele anda, e não chegou ainda às orelhas dos homens. É preciso dar tempo ao relâmpago e ao trovão, é preciso dar tempo à luz dos astros, é preciso dar tempo às ações, mesmo quando elas estão feitas, para que sejam vistas e ouvidas."
O professor australiano Gunther Kress, atualmente em ação na Universidade de Londres, veio à Faculdade de Educação (e à de Letras) da UFMG falar sobre multimodalidade. Basicamente, ele aborda o letramento e a leitura de imagens, e não apenas de um jeito simpático e bem-humorado, mas propondo questões que deixam a gente com a cuca quente. Quando sai fumacinha é porque funcionou. Ele mostra coisas legais no PowerPoint que ele traz e sugere um jeito bacana de a gente pensar em como se dá o processo de leitura, inclusive cognitivamente.
Kress trabalha muito em parceria com Theo Van Leeuwen, ambos em projetos semelhantes, que incluem a leitura de jornais impressos e de sites. Vou saber se Van Leeuwen é simpático em setembro, quando ele vai a Recife falar sobre... multimodalidade.
Esses australianos estão batendo os recordes de simpatia, mas se não escrevessem em inglês, talvez não estivessem onde estão. Escrever em português é como brincar de esconde-esconde.
A internet tem sido uma bênção, não só para a música erudita, mas para qualquer pessoa que se interesse por cultura em geral. Graças ao avanço tecnológico, estamos na iminência de ter digitalizado todo o patrimônio cultural da humanidade: fonogramas, fotos, vídeos, textos.
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A internet não atrapalha, não ― e ajuda um montão. Com relação a meu início de carreira, a internet deixa o acesso à informação muito mais fácil e rápido. A gente não tem mais desculpa para ser desinformado, ou para escrever besteira ― estamos a um clique dos compositores e intérpretes sobre os quais devemos escrever.
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Eu respondo a todo mundo que me procura no Orkut. Quem mais aparece por lá é gente que me viu na televisão, como jurado de Prelúdio, o programa de calouros de música clássica da TV Cultura. Quanto ao leitor de jornal, das duas, uma: ou ele não está no Orkut, ou ele não se importa muito comigo...