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Sexta-feira, 29/8/2008
Blog
Redação
 
Discurso Obama Convenção



Obama, e a transcrição, na CNN.

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Postado por Julio Daio Borges
29/8/2008 às 07h56

 
O poeta, de Vinicius de Moraes

A vida do poeta tem um ritmo diferente
É um contínuo de dor angustiante.
O poeta é o destinado do sofrimento
Do sofrimento que lhe clareia a visão de beleza
E a sua alma é uma parcela do infinito distante
O infinito que ninguém sonda e ninguém compreende.

Ele é o etemo errante dos caminhos
Que vai, pisando a terra e olhando o céu
Preso pelos extremos intangíveis
Clareando como um raio de sol a paisagem da vida.
O poeta tem o coração claro das aves
E a sensibilidade das crianças.
O poeta chora.
Chora de manso, com lágrimas doces, com lágrimas tristes
Olhando o espaço imenso da sua alma.
O poeta sorri.
Sorri à vida e à beleza e à amizade
Sorri com a sua mocidade a todas as mulheres que passam.
O poeta é bom.
Ele ama as mulheres castas e as mulheres impuras
Sua alma as compreende na luz e na lama
Ele é cheio de amor para as coisas da vida
E é cheio de respeito para as coisas da morte.
O poeta não teme a morte.
Seu espírito penetra a sua visão silenciosa
E a sua alma de artista possui-a cheia de um novo mistério.
A sua poesia é a razão da sua existência
Ela o faz puro e grande e nobre
E o consola da dor e o consola da angústia.

A vida do poeta tem um ritmo diferente
Ela o conduz errante pelos caminhos, pisando a terra e olhando o céu
Preso, eternamente preso pelos extremos intangíveis.

Vinicius de Moraes, aos 20 anos, em O Caminho para a Distância.

[3 Comentário(s)]

Postado por Julio Daio Borges
29/8/2008 à 00h02

 
Balangandãs de Ná Ozzetti

Sem frutas no cabelo, colares extravagantes e saia rodada, mas portando pulseiras coloridas, sapatos vermelhos e vestido preto, Ná Ozzetti revisita o universo de Carmen Miranda no show Balangandãs à sua maneira: delicada e sofisticada. Em parceria com os músicos Dante Ozzetti (violão), Mário Manga (guitarra, violão tenor e violoncelo), Zé Alexandre Carvalho (contrabaixo acústico) e Sérgio Reze (bateria e percussão) ― que entram no clima vestindo camisetas listradas à là Bando da Lua ― a cantora montou um repertório de 20 canções que refletem momentos diversos da trajetória musical da pequena notável para mostrar a riqueza das composições e dar sua interpretação a elas. Como na época em que integrava o Grupo Rumo, nos anos 80, a paulistana divulga o trabalho de uma artista antiga, que interpretou composições de grande riqueza musical, valorizando essas obras e ressaltando as influências que Carmen gerou na música brasileira.

A "baiana" (que na verdade era portuguesa) influenciou muito a própria Ná em sua forma de cantar. No show, isso fica evidente nos vocalizes agudos e nas interpretações despojadas, cênicas e divertidas que a cantora faz em músicas como "Fon Fon" (Braguinha/Alberto Ribeiro), "O chattanooga choo-choo" (Harry Warren), "Adeus batucada" (Sinval Silva), "Na batucada da vida" e "Boneca de Piche" (ambas de Ary Barroso), sendo que as três últimas já haviam sido cantadas por Ná em outras ocasiões. A partir da canção "Diz que tem" (Vicente Paiva/Hanibal Cruz), os músicos fazem também backing vocal, dando mais corpo às músicas e "colorindo" ainda mais o show. A utilização da guitarra em "E o mundo não se acabou" (Assis Valente) e "O tic-tac do meu coração" (Valfrido Silva/Alcyr Pires Vermelho), por exemplo, deu uma cara mais moderna e sofisticada às canções, sem empobrecer clássicas marchinhas e sambas transformando-as em pop. Pelo contrário: os arranjos só ajudaram a destacar a beleza das melodias e harmonias. A dinâmica feita pela percussão incrementa ainda mais as releituras, mantendo o show no ponto ideal entre o samba intimista e o suingado.

Ná não deixa de cantar também grandes sucessos como "Tico-tico no fubá" (Zequinha de Abreu), "Tahi" (Joubert de Carvalho) e a marcante "Disseram que voltei americanizada" (Luiz Peixoto/Vicente Paiva), que retrata o momento em que Carmen foi muito criticada pela mídia brasileira, por ter vivido um longo período nos Estados Unidos. Balangandãs passou por Brasília, Rio de Janeiro, Curitiba e agora está em São Paulo, em cartaz no Teatro Fecap, até dia 31 de agosto.

Para ir além
Teatro Fecap

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Postado por Débora Costa e Silva
28/8/2008 às 19h57

 
Pernas, pra que te quero?

Tivemos lá em casa um whippet, um cãozinho que é uma miniatura perfeita do grande greyhound, aquele galgo de corridas. Seu nome era Ninute, que é uma palavra do vocabulário da minha mãe, que ela usa quando vê bebês bonitinhos ou passarinhos pequeninos, por exemplo.

Ninute era, antes de mais nada, um cãozinho adorável. Ou melhor, eu adorava o bicho. Porque ele era trapalhão, inquieto, completamente infantil e dócil. Suas expressões de alegria eram coisas que só um whippet pode fazer, como pular de um sofá ao outro, dentro da sala.

É preciso notar que os sofás estavam distantes uns três metros um do outro. Ninute voava entre um e outro, quicando como uma bola de pingue-pongue batendo entre paredes. Quem viu se lembrará disso.

Certa vez estava eu chegando da rua e, no portão da nossa casa, vi que Ninute tinha "fugido". Eram pequenas fugas que ele praticava de vez em quando. É necessário dizer que nossa casa ficava no alto de uma rampa. A rua era uma rampa enorme, com mais de cem metros, do nosso portão até a esquina de baixo. Lá estava o Ninute, cheirando a esquina.

Coincidentemente eu estava segurando nas mãos o cronômetro que minha mãe usava para marcar o tempo. Ela praticava o método de Cooper. Ambos, o cronômetro e o método, heranças de meu avô.

Eu tinha ido, a pé, buscar o cronômetro que estava no conserto e voltei com ele nas mãos, cronometrando tudo. Cheguei no portão e vi o Ninute lá na esquina de baixo. Gritei: "Ninute!" e ele parou imediatamente e levantou, alegre, a cabeça, me reconhecendo. Disparou ladeira acima e eu, claro, cronometrei: 5,6 segundos até ele passar como uma bala pelo portão aberto, rodar derrapando pela grama, voltar pro meu lado, girar de novo e entrar outra vez, e fazer tudo outra e mais outra vez. Ele era assim, de uma alegria contagiante.

Sempre é bom lembrar que a rua era uma rampa forte, e que a esquina ficava uns cem metros abaixo. Fazendo as contas, na subida, Ninute passou por mim na velocidade aproximada de 64 quilômetros por hora. Um whippet é capaz disso, creiam.

Isso porque eu estava revendo a corrida que deu a Usain Bolt a medalha de ouro, nos cem metros rasos (e planos), nas olimpíadas recentes em Beijing e comparei seus meros 37,1 quilômetros por hora, de média, com a performance do meu cãozinho.

O ser humano tem um cérebro enorme em relação a outros bichos e uma das características desse cérebro é um excesso de felicitações por proezas mixurucas desse mesmo ser humano. Digo isso levando-se em conta todo o reino animal. Entre os seres humanos, tá bem, é uma proeza essa do Bolt.

Mas eu não corro a pé cem metros, nem quero fazer isso. Quando preciso me locomover mais rapido, normalmente piso no acelerador. E nem um guepardo, com seus 110 quilômetros por hora me acompanha, meu. E, como dizia a Xuxa, beijing, beijing, tchau, tchau.

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Postado por Guga Schultze
28/8/2008 às 17h12

 
dinosonic

9 0 0 0 no Flickr, uma dica de dissociative identity disorder, que linca pra nós.

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Postado por Julio Daio Borges
28/8/2008 à 00h39

 
Marcos Sacramento no YouTube







Marcos Sacramento, através do seu site, que linca pra nós.

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Postado por Julio Daio Borges
27/8/2008 à 00h46

 
Raridades paulistanas


foto: Sissy Eiko

O cenário é simples, uma mesa velha, algumas cadeiras, lençóis, uma samambaia... E o público fica em volta, próximo daquela narração ao mesmo tempo encenada. Os atores encaram com sutileza a platéia, e não é difícil ver os olhos cheios de lágrimas de muitos, co-autores daquela nova história.

Qual não foi minha surpresa ao receber o convite da fotógrafa Sissy Eiko para ir até a Vila Maria Zélia, recanto paulistano fincado na Zona Leste, e conferir a peça Dias raros. O grupo Teatro da Travessa, formado por quatro jovens atores, Francisco Wagner, Lígia Borges, Paulo Arcuri e Roberta Stein, interpreta com naturalidade a adaptação de contos retirados dos livros Dias raros e Duas tardes, do escritor paulista João Anzanello Carrascoza.

Num estilo sutil e poético, abordando diversas relações familiares, e a um só tempo com uma unidade bordada pelo delicado, pela superação ou pela desilusão, os contos de Dias raros são um capítulo à parte. Obra que encanta pelo singelo, pela finura com que reconhece e esmiúça tênues momentos entre pai e filho, irmãos e, como não poderia faltar, das desventuras amorosas.

O local de apresentação da peça, que tem orientação cênica de Luiz Fernando Marques, também é uma raridade que superou o tempo e vai começar a ser restaurada neste ano. A Vila Maria Zélia é como uma cidade em miniatura, palco de gravações de filmes a peças de publicidade. Com mais de 200 casas, ela é a primeira vila operária do Brasil e terminou de ser construída em 1917, idealizada pelo industrial Jorge Street.

Assim, é num dos galpões do antigo boticário desta cidade dentro de uma outra cidade que a peça é encenada. E onde também é possível conhecer um pouco da história da vila, com fotos e textos informativos. Dias raros fica por lá até 31 de agosto, sempre aos sábados e domingos. As reservas podem ser feitas com Lígia Borges pelo número (11) 7408-5152.

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Postado por Elisa Andrade Buzzo
26/8/2008 às 12h31

 
Ainda a Flip

A Flip é muito mais um evento social do que literário. Muita gente implica com o evento, que é um auê, uma pequena bagunça em torno de uma experiência que é acima de tudo íntima, solitária. Não vejo muito problema nisso.

Ir à Flip não é a mesma coisa do que ler os escritores que estão falando lá, óbvio. A idéia da Flip, acho, é que pessoas interessadas em livros, em literatura, se encontrem para conversar, nas mesas oficiais ou fora delas. Conversar sobre livros não é a mesma coisa que lê-los, claro. O que não significa que seja ruim, errado.

Ao contrário: é muito saudável que a literatura seja exposta assim, publicamente, sem o ranço que costuma acompanhá-la em ambientes acadêmicos, fechados. Claro que a Flip também tem os seus momentos de afetação burocrática, que, infelizmente, este ano acompanhou a sua abertura. Mas no geral não é assim: as mesas são boas, divertidas, e os escritores — se nem sempre são os melhores, os que mais gostaríamos de ouvir — normalmente são relevantes, interessantes.

E o público da Flip não é composto exclusivamente por intelectuais, acadêmicos. O legal é que é um evento que atrai uma variedade incrível de pessoas — estudantes, bibliotecários, banqueiros, empresários, professores, etc. —, que não imagino se reunindo com facilidade em outros ambientes. E talvez esse seja o seu maior mérito: atrair pessoas gostam sinceramente de ler, mas que não por isso acham que a vida está trancada numa biblioteca.

Edu Carvalho, na provavelmente melhor definição da Flip, no seu blog (que voltou com força total).

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Postado por Julio Daio Borges
26/8/2008 à 00h32

 
La même chose

Ele não sabia, mas eu chegava na aula virada. Não dormia, e não era vagabundagem. Vinha do trabalho. Saía por volta das seis da manhã, chegava em casa, tomava uma xícara de café preto bem forte, e ia tomar o ônibus para a aula. Chegava na faculdade lá pelas sete, não tinha uma viva alma por ali. Eu ia direto para o segundo andar, entrava na sala de aula improvisada, e ele estava ali. Muito raro ele não chegar primeiro.

Trazia uma maleta cheia de livros, quase mais peso do que era aconselhável carregar. Ele sofrera um acidente de moto uma vez, e ficara com uma seqüela num braço. Não conseguia estendê-lo completamente, mas não abria mão dos calhamaços de livros. Eu tinha a maior admiração do mundo por ele. Ainda tenho.

Eu chegava ali, sem dormir, pronta para uma manhã inerte. Pronta para ficar muda. Pronta para apenas deixar a carcaça funcionar e desligar meu cérebro de tudo. Do mundo. Eu passava as madrugadas inteiras operando como uma peça de engrenagem. Por que ali havia de ser diferente?

Mas havia ele. E eu era a primeira da turma a chegar, mas aquilo me envergonhava, porque eu não era uma aluna competente. Aplicada. De talento. Eu era igual ou pior que os demais. Descrente. Apática. Eu não iria me sobressair ali, mas isso não fazia diferença para ele. Ele me recebia com sorrisos às sete e quinze da manhã e dizia "vem aqui que eu quero te mostrar uma coisa". E espalhava páginas de jornal em cima da mesa, livros, e falava e gesticulava e defendia seus pontos de vista como a coisa mais fundamental do mundo. Como se não houvesse aquele desânimo a pairar sobre todos e inclusive sobre ele. Só que a gente se rendia, e ele não. Ele nunca. Ficava a brigar sozinho por aquilo de que não conseguia nos persuadir.

Eu não consigo expressar o quão feliz eu me sentia ao sentar ali e ficar ouvindo aquelas coisas. Aqueles papos, aquelas queixas que ele tinha do mundo e de nós. Eu seria capaz de ficar por horas ouvindo, anotando, viajando naquelas suas histórias. Por vezes, dava vontade de ir atrás do velho e perguntar se poderia segui-lo. Se ele poderia me ensinar a ser como ele. Mas acho que eu não era e, triste, me conformei.

Enfim, estou pronta para voltar para a boca da noite. Para perder de vista a luz do sol. Para esquecer por mais umas noites que o dia existe. Mas, na saída, não poderei voltar à sala de aula e ouvi-lo mais um pouco. Terei que adentrar outra sala, e admirar o silêncio.

Cláudia Flores, no seu blog, que linca pra nós.

[1 Comentário(s)]

Postado por Julio Daio Borges
25/8/2008 à 00h02

 
Weird Fishes/Arpeggi



Radiohead, dica do SOL, que linca pra nós.

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Postado por Julio Daio Borges
22/8/2008 à 00h56

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