Este blog é uma construção. Trata-se de uma rede de compartilhamento de conteúdos relacionados a cultura, produção cultural, gestão cultural, economia da cultura e economia criativa, que conecta pessoas interessadas no desenvolvimento da cadeia produtiva da cultura: produção, distribuição, comercialização e consumo.
Dia 23 de setembro, a partir de 19hs., no campus Aimorés do Centro Universitário UNA, em Belo Horizonte, dois caras da pesada vão falar sobre projetos culturais, projetos editoriais, literatura e leis de incentivo. Maria Helena Cunha, gestora cultural, faz a mediação e promove o papo. Os convidados são Sérgio Fantini e José Eduardo Gonçalves. Fantini, como se não bastasse ser escritor e autor de uma dezena de livros, sabe direitinho o que é um bom projeto cultural e o que é um projeto lixão. Isso porque ele é um dos responsáveis por essas avaliações na Fundação Municipal de Cultura. Não que ele vá contar qual é o pulo do gato, mas a platéia vai tentar. José Eduardo, atualmente presidente da Rádio Inconfidência e apresentador do Rede Mídia, na Rede Minas, é também gestor de não sei quantos projetos bem vivos, dois deles, pelo menos, são bem conhecidos da cidade: a coleção de livros "BH a cidade de cada um" e o "Ofício da Palavra", evento que traz escritores ao belíssimo Museu de Artes e Ofícios uma vez por mês. É ou não é uma boa oportunidade? E, além disso, com entrada franca.
Eu acordei dominando a cama toda, esparramada, totalmente em revolta por dormir sozinha, talvez comemorando a minha liberdade. Acordei meio triste pra não me cansar sendo feliz o tempo todo, e isso me trouxe uma alegria deprimente.
Tomei um banho demorado, já que estava com pressa, e li o jornal inteiro de ontem (também estou atrasada nisso), achei tempo ainda de tirar mais uma soneca, um dia essa pressa me mata...
Cheguei no escritório a pé, porque estava muito sem trânsito, não vi necessidade em usar o carro. O elevador chegou umas dez vezes, mas eu fiquei esperando juntar mais gente pra não subir sozinha. Não conversei com ninguém.
Como tava calor, eu desliguei o ar condicionado e coloquei meu casaco, transpirei de frio o resto da manhã. Combinei de almoçar com umas pessoas que dei o cano, e atendi umas outras duas amigas que berravam alô compulsivamente enquanto eu permanecia muda do outro lado da linha.
Decidi que era hora de começar o regime, então pedi um sorvete de brigadeiro, logo 12h00, depois eu marco com o meu personal, roubo na contagem e me convenço de que estou perdendo peso e ganhando músculo.
Saí pra almoçar e acabei jantando, foi um jantar bem rápido levando em conta de que eu já tinha comido a sobremesa. Pedi frango com linguine na manteiga, e fiquei arrotando frutos do mar por horas.
Como estava com muito sono pedi meu café descafeinado, mexi e depois coloquei açúcar. Pedi a conta e resolveram chamar a policia quando eu paguei com o troco e embolsei o dinheiro. Ofereci meu celular, pois estava sem crédito.
A policia chegou e me pediu identidade, já fui logo dando os três baseados prontos pra ver que sou moça direita, que não mereço ir pra cadeia, e depois de chorar copiosamente eles me deixaram entrar na viatura, mas só depois que eu insisti muito!
Entendi que tudo que eu dissesse seria usado contra mim, e vi que estava ferrada, pois soltei o verbo. Achei cansativo o papo de que estava desrespeitando homens da lei, os mandei à merda com muita gentileza. Chegando na delegacia, dei meu endereço pra um assaltante, pisquei pro tarado sexual, e fiquei conversando com o traveco ao lado sobre depilação no buço.
O delegado estava em choque, olhava pra mim pasmo e trêmulo enquanto eu ia me despindo e cantando um hino gospel, o que ele esperava de uma judia puritana como eu? "Daqui a pouco é aniversário de Jesus", ainda tentei puxar assunto...
Não sei onde esse mundo vai parar, as pessoas parecem não me entender.
Numa entrevista para o portal G1, realizada no ano passado, o diretor Hector Babenco disse que andava lendo muitas novidades da literatura brasileira, mas nada que chamasse sua atenção como algumas obras de escritores espanhóis e argentinos. Na época, ele acabava de lançar O passado, filme baseado no romance do portenho Alan Pauls, e sabia bem do que estava falando.
Nascido em Buenos Aires, em 1959, Alan Pauls escreveu O passado em 2003. O livro vendeu bem e teve boa repercussão entre os críticos. Agora, seguindo a mesma linha intimista, História do pranto (Cosac Naify, 2008, 88 págs.), seu mais recente livro, é distribuído no Brasil pela editora Cosac Naify. Trata-se de uma aposta editorial ousada, dado o estilo próprio do autor ― um livro de palavras, associações, pensamentos e reflexões ― e, por isso mesmo, certeira.
História do pranto é um livro muito bem escrito e parte de um argumento bastante original. Mesclando um formato próprio ao romance psicológico e a novela política, Alan Pauls apresenta o testemunho vertiginoso de um garoto que acredita ser o Super-Homem para recuperar a história da esquerda argentina dos anos 70.
A transição da infância para a adolescência marca a revisão ideológico-sentimental de um menino bastante sensível, filho de pais divorciados da classe-média de Buenos Aires. "Um repugnante cantor de protesto, uma namorada chilena de direita, um oligarca torturado, um vizinho militar que talvez não seja o que parece, e um inusitado polvo no fundo de uma piscina..." são outros personagens e elementos que gravitam em torno do protagonista, criando um universo estranho e alvo das análises do garoto.
História do pranto é um livro que consolida Alan Pauls como um dos maiores escritores contemporâneos da Argentina. Dono de um estilo próprio, o autor tem um excelente domínio vocabular e sintático, capaz de traduzir todo o sentimento de inadequação do protagonista por meio de um intenso fluxo de consciência. Para chegar a esse resultado, ele se vale de períodos gigantescos, à la Proust, e justifica a preferência: "Gosto de trabalhar a frase como se fosse um transe, e não há dimensão mais narcótica na literatura que a sintaxe. Uma frase longa transforma a literatura numa arte ambiental: o leitor pode viver dentro da frase, como se estivesse num ecossistema raro, cheio de prazeres e perigos." Mas, diferentemente do autor francês, os períodos de Alan Pauls, permeados de apostos e orações explicativas, contêm uma visão crítica e irônica que transita entre o pessimismo adulto e a ingenuidade infantil, própria ao personagem.
O ritmo da narrativa é bastante ágil e esse é um efeito próprio ao recurso dos fluxos de consciência. Conseqüentemente, há um distanciamento entre o protagonista e o mundo exterior ali representado: às vezes, tem-se a impressão de estar dentro de uma bolha, ao lado do garoto, enquanto os outros personagens encenam um circo de horrores do lado de fora.
Observado à distância, o retrato do período da ditadura argentina é questionado pela criança, que não entende bem o que está acontecendo, mas sabe que não quer chorar a dor dos outros. Desse modo, tanto o cantor de protesto que volta do exílio anos mais tarde, quanto o suposto vizinho militar lhe despertam mais a revolta por ceder sua compaixão sem querer do que a compaixão em si.
Essa revolta por sentir-se obrigado a sofrer a dor de gerações anteriores também está presente nos contos do israelense Etgar Keret, que retrata a juventude judaica, farta com a herança da Shoah. Mais do que "revisionismo", essa postura parece querer encerrar de uma vez por todas o cultivo de tradições culturais e ideológicas nocivas ao surgimento do novo. Uns poderiam chamar essa atitude de anárquica, outros de alienada. Polêmica à parte, parece inaugurar um novo estilo literário que, talvez, marcará o início do século XXI.
A História do pranto, de Alan Pauls, não é para qualquer um. Trata-se de um livro exigente que requer um leitor atento, perseverante e crítico, alguém disposto a captar a ironia mordaz e os pontos de vista que fogem do senso comum, mas que, ainda assim, não tenha perdido a ternura. Em troca, oferece uma história muito bem narrada, reflexões edificantes e a visão de um novo movimento literário ― infelizmente, ainda ausente no Brasil.
Se você, assim como eu, pertence ao grupo de leitores que costuma seguir seus autores prediletos lendo tudo o que eles publicam, então pode ser que o americano Paul Auster também conste da sua lista de escritores que devem ser acompanhados de perto.
No Brasil foram traduzidos todos os seus doze livros de ficção, sendo o mais novo Homem no escuro (Companhia das Letras, 2008, 168 págs.), lançado antes aqui e depois em seu país de origem, atestando a ótima recepção do público leitor brasileiro em relação ao seu estilo.
No entanto, na crítica informal, no chamado "boca a boca", seu romance anterior Viagens no scriptorium, publicado no Brasil em 2007, não alcançou a expectativa desejada ― o que pode contribuir para que Homem no escuro seja recebido com uma certa dose de desconfiança. Mas vale a pena conferir.
Os que já são fãs poderão se reconciliar com o autor, e quem nunca leu será apresentado a um universo literário em que predominam várias camadas ficcionais de um modo direto, sem as barreiras do experimentalismo. Aliados a essa forma, em que uma história contém outras, estão temas da contemporaneidade como a arbitrariedade das guerras, o impacto do envelhecimento e da decrepitude humana numa sociedade em que a jovialidade, a saúde e a beleza se sobrepõem a tudo e a todos e, o mais importante, a combinação dessas características com a sensibilidade desejada para tocar o leitor. Lida a última palavra da última linha da última página, as histórias contidas ali reverberam para o nosso universo particular fazendo-nos pensar e sentir, tudo o que esperamos da boa literatura.
Numa dada madrugada, August Brill, crítico literário em fim de carreira, tenta driblar a insônia criando histórias para afugentar pensamentos insistentes de acontecimentos que prefere esquecer. Há um ano, desde que sofreu um grave acidente que quase o deixou inválido, Brill passou a morar com sua única filha, Miriam, e com sua neta Katya. Miriam está separada do marido e Katya voltou a morar com a mãe depois de seu namorado ter sido brutalmente assassinado no Iraque.
Numa determinada noite, enquanto o sono não vem, Brill dá continuidade à história de Owen Brick, um nova-iorquino que acorda em 2007 dentro de um buraco e ao sair se vê em plena Guerra de Secessão. Ocupando o cômodo de baixo da casa, Brill segue noite adentro rememorando seu passado, prosseguindo com a história de Brick e ainda permanece atento aos ruídos vindos dos cômodos de cima, tentando adivinhar se é Miriam ou Katya quem se levanta para usar o banheiro.
Muitas histórias vão surgindo durante o pensamento embaralhado de Brill nessa madrugada, cada uma retrata homens e mulheres que atravessam momentos de plena escuridão, quando se dá a perda da esperança e não há mais nada a fazer a não ser prosseguir com a vida.
Quando, nessa mesma madrugada, Brill tenta se distrair lendo o livro que Miriam está escrevendo, sobre a poetisa Rose Hawthorne, elege um verso dessa escritora do qual diz gostar imensamente: "Enquanto o mundo bizarro continua a girar".
Trata-se de uma espécie de síntese do pensamento de Brill, um reflexo do que ele vive nesse momento. Enquanto ele permanece praticamente inválido, o mundo continua aleatoriamente com suas atrocidades.
Mas algo acontece durante essa madrugada e Brill se vê impelido a sair da indiferença pela qual se sente tomado. No momento final do livro, durante a conversa entre avô e neta, são oferecidos ao leitor os pontos de ligação entre as histórias dos três moradores da casa e, depois de tantas revelações, cabe a cada leitor decidir se nos é dado a pensar e sentir com alguma esperança.
O Sebo do Bac e o blog Under Press convidam os twitteiros de plantão para o que eles chamam de primeiro concurso literário de microcontos "140 Letras".
Para participar, é preciso publicar no Twitter, até o próximo dia 20/09, quantos microcontos quiser, incluindo o identificador "#140″. Assim, cada microconto deverá ter, no máximo, 136 caracteres.
No dia 22 de setembro, cada um dos cinco jurados vai indicar cinco posts. O vencedor será divulgado no blog 140 Letras e no Twitter até o dia 30/09. Todas as regras do concurso estão no blog do concurso. Foram convidados cinco jurados twitteiros, ligados à literatura e ou ao jornalismo.