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BLOG

Sábado, 20/9/2008
Blog
Redação
 
Paralamas gravando na Bahia

"A Bahia já nos proporcionou momentos incríveis, como nos inúmeros shows ao longo de anos, quando sempre nos deparamos com platéias das mais quentes e participantes, Olodum e Timbalada com a gente em cima do palco na Concha... Teve uma vez em que Os Paralamas foram homenageados pelo bloco afro Arakêto, em plena favela dos Alagados, aquela que dá nome à canção, uns vinte e dois anos atrás. Nós, na época, garotos classe média do Rio de Janeiro, ali, recebendo o reconhecimento daquela gente por falar da sua verdade para o resto do país. Ou no dia em que gravamos 'Carro Velho' com o próprio Carlinhos Brown... Mas desta vez a Bahia nos deu algo muito mais precioso, difícil de medir mas fácil de sentir. Estávamos super à vontade, como se a gente não tivesse saído de casa. Os trabalhos rolaram na maior harmonia, sob as bênçãos dos orixás. Deve ser isso que eles chamam de axé... e o axé foi fortíssimo!"

Palavras de João Barone, do Paralamas do Sucesso, falando sobre a experiência de gravar novamente na Bahia. E quando ele diz que "A Bahia já nos proporcionou momentos incríveis", não é rasgação de seda gratuita. No ano passado, tive a honra de conhecer o Paralamas pessoalmente. Quando comentei de um show que eles fizeram aqui na cidade, há bem uns nove anos, que ficou marcado para qualquer um que estivesse presente porque foi sensacional e porque o Paralamas começou a tocar já no amanhecer do domingo (a festa teve início no sábado à noite), todos eles lembraram.

Que o novo CD do Paralamas fique logo pronto, pois todos nós, fãs da banda (baianos ou não), já estamos ansiosos.

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Postado por Rafael Rodrigues
20/9/2008 à 00h21

 
Bate-papo com Odir Cunha

Odir Cunha tem mais de trinta anos de jornalismo e o reconhecimento de prêmios como Esso e APCA. Conforme ele mesmo conta aqui, começou em jornal diário, passou por revistas, rádios, tevês, assessorias de imprensa, internet e, hoje, escreve livros e dá palestras. Também passou por uma reviravolta grande, nos últimos tempos, e redescobriu o valor do que chama atualmente de "vida simples". Em O Barqueiro de Paraty (Mundo Editorial), seu mais novo livro (que será lançado nesta segunda, 22/9, a partir das 19 hs., na FNAC Paulista), pretende sinceramente ajudar as pessoas na difícil tarefa de "não perder a coragem de perseguir seus sonhos"... ― JDB

1. Você esteve no "topo do mundo" dentro do jornalismo brasileiro ― só em termos de prêmios, ganhou dois Esso e três APCA ―, mas, ao mesmo tempo, sofreu uma reviravolta e prega, hoje, um retorno à "vida simples", com menos dinheiro e mais equilíbrio. Como é isso?

Na verdade, Julio, eu só sofri uma reviravolta no aspecto material, que é o menos importante. No mais, eu só evoluí. Tenho me dedicado a ler, estudar, conversar, adquirir conhecimento e reavaliar conceitos. Hoje sou um ser humano melhor e, conseqüentemente, um profissional melhor. Sou um jornalista bem mais capaz, pois além de lidar bem com a parte técnica da profissão, aprendi a lidar com as pessoas.

Mas vivo de escrever livros, prioritariamente, porque é o que eu quero e porque acho que dessa forma posso ser mais relevante. No nosso país não é uma atividade normalmente mais bem remunerada do que o jornalismo, mas isso não me importa. Em dezembro completo dois anos exclusivamente como escritor, e as contas estão em dia (toc-toc-toc).

A vida simples é a vida sábia, a vida que lhe dá mais tempo para as coisas essenciais, a vida que respeita os relacionamentos, o meio ambiente, o saber... Ela só é simples no aspecto material, pois não é preciso ser milionário para vivê-la bem, mas é exigente quanto aos valores. É uma vida que valoriza a ética e a virtude, qualidades antagônicas ao nosso tempo.

2. A saga de Pedro ― protagonista do seu novo livro, O Barqueiro de Paraty ― se assemelha à sua, já que passou por uma crise de meia-idade, teve problemas no casamento e até, no caso dele, afastou-se dos filhos. Como você, felizmente, Pedro deu a volta por cima ― falta às pessoas, hoje em dia, esse jogo de cintura?

Não quero ser pretensioso, mas falta às pessoas a sabedoria para enxergar o óbvio. Sem conhecimento para discernir, elas engolem o que é vendido pela publicidade, pela moda, pelos meios de comunicação ― que, no fundo, é a mesma coisa. E engolem sem sentir o sabor, engolem correndo para poder engolir mais e mais. Vivemos a era da quantidade, das aparências. Os poucos que se dão conta da armadilha optam por outro caminho.

Logo que passei por esses problemas que você citou escrevi Dinheiro, é possível ser feliz sem ele (Editora Elevação, 2001). Com o livro, quis dar um alento para aqueles que passam por um momento complicado financeiramente e se sentem o cocô do cavalo do bandido.

Hoje, a tendência entre as pessoas de maior sabedoria, entre as que vivem nos países de melhor qualidade de vida, como os escandinavos, é adotar a vida simples, ou a simplicidade voluntária. Antes do final do ano sairá um novo livro meu sobre o assunto (Viva Simples, Editora Novo Conceito), analisando o que já acontece no mundo neste sentido. Sem querer ser catastrófico, afirmo que a vida simples é a única forma de vida que pode salvar a humanidade.

Em O Barqueiro de Paraty trato desse tema, claro. Trato porque acredito nele e vivo conforme essa crença. Gostei do livro porque tem algo que todos os bons livros precisam ter, que é a coerência. Não faço nenhuma mágica para que Pedro se transforme em um homem muito interessante. Não faço com que ganhe na loteria, por exemplo (risos). Ele vai descobrindo sua riqueza interior e isso o torna um ser humano melhor, um ótimo amigo e o tipo de homem desejado pelas melhores mulheres.

3. Você se apóia, também, nas idéias do filósofo romano Epitecto. Acredita que ― até com o sucesso de cursos como os da Casa do Saber, sobre grandes pensadores ― estamos vivendo um retorno à tradição fundada por Sócrates, Platão e Aristóteles? Falta às pessoas, no fundo, uma "filosofia de vida"?

Bem, Julio, tudo é uma questão de porcentagem. Sempre faltou à grande maioria das pessoas uma filosofia de vida. Quando falamos de busca de conhecimento, de uma visão menos materialista da vida, estamos falando da mesma elite intelectual de sempre. Mas sinto um interesse crescente por filosofia, que, afinal, não passa da eterna busca de se compreender por que estamos aqui.

O prazer de se pensar, de se buscar respostas para as dúvidas atávicas do homem tem sido partilhado, creio, por um número crescente de pessoas. A literatura tem popularizado a filosofia e isso é ótimo. Acredito que o universo de interessados no tema tende a crescer.

4. Num texto seu sobre o fenômeno dos blogs, você se preocupa com o fato de o isolamento, proporcionado pelo uso excessivo do computador, acabar prejudicando laços importantes na vida de qualquer ser humano, com os familiares, os de amizade, até os de trabalho. Estamos correndo o risco de perder as referências, de certo modo?

Corremos este risco, sim. As ruas estão mais perigosas, os relacionamentos mais voláteis, as conversas menos conclusivas. A internet, por sua vez, é uma tentação segura e viciante. Nela tudo pode ser rápido, imediato. Você pode se expor, ou não. Pode contestar autoridades, dar sua opinião sobre tudo e todos, ou apenas colocar-se como um voyeur da vida dos outros.

O blog é a maneira de cada um mostrar a sua cara nesse meio vertiginoso e movediço que é a internet. Psiquiatras deveriam analisar os blogs de seus pacientes, pois eles dizem muito sobre cada um de nós. É um exercício de egocentrismo atroz, de agudo individualismo, mas também pode ser apenas profissional, ascético, inodoro e indolor. Ele exprime, enfim, a alma de quem lhe dá vida.

É tão fascinante, enfim, tão sedutor, que pode desviar as pessoas da vida lá fora. Meu texto, publicado no Observatório da Imprensa, só queria fazer as pessoas repensarem o tempo que passam na frente de uma tela de computador. Era uma época em que eu estava ficando mais de 10 horas por dia diante de uma.

5. Li, numa outra entrevista sua, que você, atualmente, consegue trabalhar em casa escrevendo e que, por conta disso, acabou assumindo muitas tarefas do lar, como a de preparar o jantar para seus familiares diariamente. Dentro do que você prega em termos de mudança na vida moderna, está também incluída essa de os homens dividirem melhor os afazeres domésticos com as mulheres?

Depois de me separar morei sete anos e meio sozinho e usei esse tempo para aprender a tomar conta de uma casa. Faz parte da filosofia de vida simples. Acho que todo homem deveria fazer isso durante um tempo. Os relacionamentos com as mulheres seriam melhores, pois dependeríamos menos delas neste aspecto e daríamos mais valor àquelas que optam por se dedicarem apenas ao lar.

Brinco que quero ser um misto de escritor de sucesso e um bom doméstico. Na verdade, é mais difícil passar roupa do que ganhar o Nobel de Literatura, por menos glamour que seja admitir isso (risos). E o prazer de fazer uma comida que agrade as pessoas ― situação que eu destaco em O Barqueiro de Paraty ― se compara ao de terminar um bom livro.

Faço o jantar para minha mulher e minha filha e através do preparo dos pratos eu também me comunico com elas e transmito o meu carinho e o meu amor. Acho que é uma boa maneira de os pais se comunicarem com seus filhos jovens, por exemplo. Ainda escreverei um livro sobre isso.

6. Voltando para a sua vida profissional, é inevitável que eu te pergunte alguma coisa sobre o jornalismo praticado hoje, afinal são mais de três décadas no ofício... Enfim, eu queria saber como você vê o trabalho de jornais, revistas, rádios e TVs atualmente. Num blog, você disse que o acesso à profissionalização melhorou, mas que as condições de trabalho decaíram bastante ― como manter a dignidade da profissão nesse cenário de grandes mudanças?

Nosso sindicato tem trabalhado para que o diploma de jornalismo se torne obrigatório. Pode parecer um movimento retrógrado, mas eu concordo com ele. Acho que o diploma preserva ao mínimo um mercado de trabalho demais vilipendiado.

Há anos escrevi um artigo para o Comunique-se intitulado "Todo mundo é jornalista, menos quem é", falando dessa ironia que é presenciar profissionais de várias áreas atuando em veículos de comunicação ― como apresentadores ou comentaristas ―, enquanto a maioria dos formandos não consegue trabalhar na área.

Não é justo. Veja que se você quiser ser um técnico de futebol, ou de tênis ― mesmo que tenha conhecimento técnico para isso ―, não poderá, a não ser que tenha o diploma superior de Educação Física. No entanto, ex-atletas e técnicos esportivos exercem funções jornalísticas e são remunerados por isso.

Fui criado na escola do Jornal da Tarde dos anos 70. Então, jornalismo para mim é crítica, é rebeldia, é inconformismo. Acho que manter essa atitude é que me dá força. Sei que o jornalista iniciante não pode se dar ao luxo de recusar um emprego por caprichos éticos ou ideológicos ― pois se agir assim provavelmente ficará sem ter onde trabalhar no Brasil, país em que boa parte das empresas de comunicação é controlada por grupos políticos ou econômicos com objetivos específicos. Mas é importante pautar seu caminho no jornalismo pela ética, pela honestidade, pela verdade ― eu não diria uma ética absoluta, pois é utopia, mas uma ética possível dentro das nossas circunstâncias.

7. De novo, naquele seu texto sobre o futuro e os blogs, senti uma certa simpatia sua pelos chamados "cidadãos-repórteres", que não têm formação específica, mas que, através da internet, participam do jogo praticamente em pé de igualdade. Os jornalistas, em geral, criticam essas pessoas, porque elas, como você aponta, estão roubando sua audiência. Qual deve ser a postura do jornalista em relação ao que James Surowiecki chamou de A Sabedoria das Multidões?

Eu não as critico. Eu as admiro. Acho que a internet é o maior fenômeno democrático dos nossos tempos e o blog sua arma mais poderosa. E ele ainda está desenvolvendo esse poder, que é maior do que parece. Um dia blogs destituirão governos, promoverão lideranças, mudarão a mentalidade das pessoas (aliás, já estão fazendo isso).

Não acho que o blog deva representar uma reserva de mercado para jornalistas. Acho que nesse caso quem tem competência se estabelecerá. São necessárias muitas qualidades para fazer um blog funcionar bem, tornar-se atraente, ter credibilidade. Não é só uma questão de técnica jornalística.

Por outro lado, o forte dos blog é justamente o seu caráter libertário, anárquico, democrático. Por isso, não pode ficar restrito a um grupo de profissionais. Deve expressar o maior número de versões possíveis. Vejo o blog como a anti-matéria do jornalismo, o outro lado das verdades oficiais. Acho que ele é útil por ser justamente assim, imprevisível e indomável.

8. Apesar de toda a turbulência de que estamos falando ― no mercado do jornalismo ―, você realizou o sonho de milhares de colegas de trabalho: vive de escrever, de atividades ligadas ao texto e, inclusive, de palestras. O jornalista vem deixando, cada vez mais, de ser empregado numa redação, para se sustentar como profissional liberal. É esse o futuro?

Todo sonho tem seu preço, Julio. Desde que as pessoas estejam dispostas a pagá-lo, todo sonho se torna possível. O meu vem sendo acalentado há anos. O plano de viver como escritor provavelmente é mais antigo do que o de ser jornalista. Demorou para acontecer porque não me sentia capaz de escrever livros que pudessem acrescentar algo à vida das pessoas.

Não escreveria só por brincadeira, só para brincar com as palavras. Elas são poderosas e podem mudar o mundo. Se eu mudar alguma coisa em alguém, para melhor, já me dou por satisfeito. Vejo na literatura essa utilidade. Ela só é relevante quando educa, quando modifica. No mais, não vale a pena ser escrita.

Sempre incentivei colegas a escreverem livros. Acho que nós, jornalistas, temos a qualidade de sermos "clínicos gerais". Podemos versar sobre qualquer assunto, desde que pesquisemos corretamente, entrevistemos as pessoas certas e depois saibamos decodificar a linguagem técnica para o leitor comum.

Há muitos exemplos de jornalistas que estão trabalhando como escritores e isso é bom para o mercado editorial brasileiro, pois melhora a qualidade dos livros, torna-os mais confiáveis, mais profissionais.

Bem, respondendo à sua pergunta, acho que a tendência entre os jornalistas mais experientes é se sustentarem como profissionais liberais, mas os jovens ainda devem investir mais na profissão antes de partir para esse caminho.

9. Gostaria que você ― sempre pautado por uma carreira de mais de trinta anos ― desse alguns conselhos para quem está começando e não sabe se deve apostar na internet (uma mídia em ascensão) ou na velha imprensa (uma mídia em transição). O que você faria, por exemplo, se começasse hoje?

Não sei se as coisas precisam ser colocadas assim: ou uma, ou outra. Há exemplos bem-sucedidos dos dois lados. Alguns jornais e muitas revistas irão subsistir, apesar da ascensão da internet. Nenhum jovem que tenha a oportunidade de iniciar a carreira trabalhando na "velha imprensa" deve recusar, na minha opinião. Essas empresas dão um know-how importante.

Se eu começasse hoje, algo que certamente eu faria é me preparar melhor para a profissão. Não apenas para ser um jornalista, mas para ser um comunicador, um especialista em comunicações. Trataria de falar e escrever bem o Inglês e o Espanhol, faria cursos de oratória e me especializaria na língua portuguesa, nossa sagrada matéria-prima. Assistiria a muitas palestras, leria mais livros, viajaria mais, provavelmente aproveitaria para fazer uma pós-graduação logo após a faculdade, pois depois o tempo passa e a gente se acomoda.

Creio que se o jovem estiver bem preparado, poderá se tornar um bom jornalista em qualquer mídia. A adaptação de uma para outra sempre foi muito tranqüila para mim. Comecei em jornal diário, passei por rádios, revistas, fiz tevê, assessoria de imprensa, internet e hoje escrevo livros, sou curador de exposições e dou palestras. Parece muita coisa diferente, mas são atividades ligadas pelos mesmos princípios.

10. Queria terminar com conselhos seus, agora, para o público em geral ― aquele que, como você escreve em O Barqueiro de Paraty, "não deve perder a coragem de perseguir seus sonhos"...

Sim, porque as pessoas às vezes duvidam de seus sonhos, envergonham-se deles, perdem a coragem de mantê-los vivos. Às vezes é mesmo muito difícil, reconheço. Tanta coisa age contra nossos sonhos, que corremos o risco de abandoná-los. Mas eles, quando puros, autênticos, são a nossa própria vida. Abandoná-los é deixar de viver.

Em O Barqueiro de Paraty mostro que não é preciso ser um super-homem, ou uma super-mulher, para se alcançar nossos objetivos, desde que nos empreguemos de corpo e alma nessa tarefa. E desde que estes objetivos sejam plausíveis, claro. Os sonhos precisam ser adaptáveis à realidade também.

Bem, Julio, fiquei feliz com o livro. Ele me deu a sensação de que pode amparar pessoas na busca do equilíbrio e da felicidade. Gostei do resultado final, do trabalho quase artesanal dos editores. Sem falsa modéstia, acho que ele dará uma injeção de coragem em muita gente que está titubeante diante da vida...

Para ir além






[10 Comentário(s)]

Postado por Julio Daio Borges
19/9/2008 à 00h27

 
Caderno de Imagens

Rita da Costa Aguiar, no seu blog, que eu descobri fazendo uma pesquisa.

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Postado por Julio Daio Borges
15/9/2008 à 00h30

 
Produtor Cultural Independente

Este blog é uma construção. Trata-se de uma rede de compartilhamento de conteúdos relacionados a cultura, produção cultural, gestão cultural, economia da cultura e economia criativa, que conecta pessoas interessadas no desenvolvimento da cadeia produtiva da cultura: produção, distribuição, comercialização e consumo.

Alê Barreto, no seu blog, que linca pra nós.

[1 Comentário(s)]

Postado por Julio Daio Borges
12/9/2008 à 00h55

 
Boas idéias em BH

Dia 23 de setembro, a partir de 19hs., no campus Aimorés do Centro Universitário UNA, em Belo Horizonte, dois caras da pesada vão falar sobre projetos culturais, projetos editoriais, literatura e leis de incentivo. Maria Helena Cunha, gestora cultural, faz a mediação e promove o papo. Os convidados são Sérgio Fantini e José Eduardo Gonçalves. Fantini, como se não bastasse ser escritor e autor de uma dezena de livros, sabe direitinho o que é um bom projeto cultural e o que é um projeto lixão. Isso porque ele é um dos responsáveis por essas avaliações na Fundação Municipal de Cultura. Não que ele vá contar qual é o pulo do gato, mas a platéia vai tentar. José Eduardo, atualmente presidente da Rádio Inconfidência e apresentador do Rede Mídia, na Rede Minas, é também gestor de não sei quantos projetos bem vivos, dois deles, pelo menos, são bem conhecidos da cidade: a coleção de livros "BH a cidade de cada um" e o "Ofício da Palavra", evento que traz escritores ao belíssimo Museu de Artes e Ofícios uma vez por mês. É ou não é uma boa oportunidade? E, além disso, com entrada franca.

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Postado por Ana Elisa Ribeiro
11/9/2008 às 23h56

 
Curitiba

Daniel Caron, no seu blog, que linca pra nós.

[1 Comentário(s)]

Postado por Julio Daio Borges
11/9/2008 à 00h16

 
Parece filme, mas é a vida

Eu acordei dominando a cama toda, esparramada, totalmente em revolta por dormir sozinha, talvez comemorando a minha liberdade. Acordei meio triste pra não me cansar sendo feliz o tempo todo, e isso me trouxe uma alegria deprimente.

Tomei um banho demorado, já que estava com pressa, e li o jornal inteiro de ontem (também estou atrasada nisso), achei tempo ainda de tirar mais uma soneca, um dia essa pressa me mata...

Cheguei no escritório a pé, porque estava muito sem trânsito, não vi necessidade em usar o carro. O elevador chegou umas dez vezes, mas eu fiquei esperando juntar mais gente pra não subir sozinha. Não conversei com ninguém.

Como tava calor, eu desliguei o ar condicionado e coloquei meu casaco, transpirei de frio o resto da manhã. Combinei de almoçar com umas pessoas que dei o cano, e atendi umas outras duas amigas que berravam alô compulsivamente enquanto eu permanecia muda do outro lado da linha.

Decidi que era hora de começar o regime, então pedi um sorvete de brigadeiro, logo 12h00, depois eu marco com o meu personal, roubo na contagem e me convenço de que estou perdendo peso e ganhando músculo.

Saí pra almoçar e acabei jantando, foi um jantar bem rápido levando em conta de que eu já tinha comido a sobremesa. Pedi frango com linguine na manteiga, e fiquei arrotando frutos do mar por horas.

Como estava com muito sono pedi meu café descafeinado, mexi e depois coloquei açúcar. Pedi a conta e resolveram chamar a policia quando eu paguei com o troco e embolsei o dinheiro. Ofereci meu celular, pois estava sem crédito.

A policia chegou e me pediu identidade, já fui logo dando os três baseados prontos pra ver que sou moça direita, que não mereço ir pra cadeia, e depois de chorar copiosamente eles me deixaram entrar na viatura, mas só depois que eu insisti muito! Entendi que tudo que eu dissesse seria usado contra mim, e vi que estava ferrada, pois soltei o verbo. Achei cansativo o papo de que estava desrespeitando homens da lei, os mandei à merda com muita gentileza. Chegando na delegacia, dei meu endereço pra um assaltante, pisquei pro tarado sexual, e fiquei conversando com o traveco ao lado sobre depilação no buço.

O delegado estava em choque, olhava pra mim pasmo e trêmulo enquanto eu ia me despindo e cantando um hino gospel, o que ele esperava de uma judia puritana como eu? "Daqui a pouco é aniversário de Jesus", ainda tentei puxar assunto...

Não sei onde esse mundo vai parar, as pessoas parecem não me entender.

Camila Fremder, no seu blog, uma dica da nanielas (via Twitter).

[3 Comentário(s)]

Postado por Julio Daio Borges
10/9/2008 à 00h05

 
Pastelaria, de Mário Cesariny

Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura

Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio

Afinal o que importa não é ser novo e galante
― ele há tanta maneira de compor uma estante

Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício

Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola

Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come

Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!

Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora ― ah, lá fora! ― rir de tudo

No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra

Mário Cesariny, dica do Островок, νησάκι, isolotto, islote, islet, ilhota!, que linca pra nós.

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Postado por Julio Daio Borges
9/9/2008 à 00h30

 
A Viagem de Klimt

Dica do Eduardo Siqueira, cujo blog linca pra nós.

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Postado por Julio Daio Borges
8/9/2008 à 00h25

 
Os argentinos saem na frente

...de novo

ou O revisionismo de Alan Pauls


Numa entrevista para o portal G1, realizada no ano passado, o diretor Hector Babenco disse que andava lendo muitas novidades da literatura brasileira, mas nada que chamasse sua atenção como algumas obras de escritores espanhóis e argentinos. Na época, ele acabava de lançar O passado, filme baseado no romance do portenho Alan Pauls, e sabia bem do que estava falando.

Nascido em Buenos Aires, em 1959, Alan Pauls escreveu O passado em 2003. O livro vendeu bem e teve boa repercussão entre os críticos. Agora, seguindo a mesma linha intimista, História do pranto (Cosac Naify, 2008, 88 págs.), seu mais recente livro, é distribuído no Brasil pela editora Cosac Naify. Trata-se de uma aposta editorial ousada, dado o estilo próprio do autor ― um livro de palavras, associações, pensamentos e reflexões ― e, por isso mesmo, certeira.

História do pranto é um livro muito bem escrito e parte de um argumento bastante original. Mesclando um formato próprio ao romance psicológico e a novela política, Alan Pauls apresenta o testemunho vertiginoso de um garoto que acredita ser o Super-Homem para recuperar a história da esquerda argentina dos anos 70.

A transição da infância para a adolescência marca a revisão ideológico-sentimental de um menino bastante sensível, filho de pais divorciados da classe-média de Buenos Aires. "Um repugnante cantor de protesto, uma namorada chilena de direita, um oligarca torturado, um vizinho militar que talvez não seja o que parece, e um inusitado polvo no fundo de uma piscina..." são outros personagens e elementos que gravitam em torno do protagonista, criando um universo estranho e alvo das análises do garoto.

História do pranto é um livro que consolida Alan Pauls como um dos maiores escritores contemporâneos da Argentina. Dono de um estilo próprio, o autor tem um excelente domínio vocabular e sintático, capaz de traduzir todo o sentimento de inadequação do protagonista por meio de um intenso fluxo de consciência. Para chegar a esse resultado, ele se vale de períodos gigantescos, à la Proust, e justifica a preferência: "Gosto de trabalhar a frase como se fosse um transe, e não há dimensão mais narcótica na literatura que a sintaxe. Uma frase longa transforma a literatura numa arte ambiental: o leitor pode viver dentro da frase, como se estivesse num ecossistema raro, cheio de prazeres e perigos." Mas, diferentemente do autor francês, os períodos de Alan Pauls, permeados de apostos e orações explicativas, contêm uma visão crítica e irônica que transita entre o pessimismo adulto e a ingenuidade infantil, própria ao personagem.

O ritmo da narrativa é bastante ágil e esse é um efeito próprio ao recurso dos fluxos de consciência. Conseqüentemente, há um distanciamento entre o protagonista e o mundo exterior ali representado: às vezes, tem-se a impressão de estar dentro de uma bolha, ao lado do garoto, enquanto os outros personagens encenam um circo de horrores do lado de fora.

Observado à distância, o retrato do período da ditadura argentina é questionado pela criança, que não entende bem o que está acontecendo, mas sabe que não quer chorar a dor dos outros. Desse modo, tanto o cantor de protesto que volta do exílio anos mais tarde, quanto o suposto vizinho militar lhe despertam mais a revolta por ceder sua compaixão sem querer do que a compaixão em si.

Essa revolta por sentir-se obrigado a sofrer a dor de gerações anteriores também está presente nos contos do israelense Etgar Keret, que retrata a juventude judaica, farta com a herança da Shoah. Mais do que "revisionismo", essa postura parece querer encerrar de uma vez por todas o cultivo de tradições culturais e ideológicas nocivas ao surgimento do novo. Uns poderiam chamar essa atitude de anárquica, outros de alienada. Polêmica à parte, parece inaugurar um novo estilo literário que, talvez, marcará o início do século XXI.

A História do pranto, de Alan Pauls, não é para qualquer um. Trata-se de um livro exigente que requer um leitor atento, perseverante e crítico, alguém disposto a captar a ironia mordaz e os pontos de vista que fogem do senso comum, mas que, ainda assim, não tenha perdido a ternura. Em troca, oferece uma história muito bem narrada, reflexões edificantes e a visão de um novo movimento literário ― infelizmente, ainda ausente no Brasil.

[2 Comentário(s)]

Postado por Pilar Fazito
7/9/2008 às 16h08

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