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BLOG

Terça-feira, 28/10/2008
Blog
Redação
 
The Future of Managing Content

* The days of the centralized distribution hub are ending;
* Around 10 billion videos are viewed monthly online in the U.S. alone;
* On YouTube 13 hours of content are uploaded every minute.

Chad Hurley, fundador do YouTube, agora ajudando a matar a velha TV...

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Postado por Julio Daio Borges
28/10/2008 à 00h12

 
Impresso pra quê?

Os estudantes entram no curso de jornalismo pensando, principalmente, na produção de matérias e nos jornais que eles mesmos irão fazer; entretanto, a realidade encontrada é bem diferente (pelo menos na UFPB) e esses estudantes logo são desestimulados, tanto pelo sucateamento do curso quanto pelos professores, que não procuram novos métodos para estimular o alunado.

O discente de jornalismo, quando se depara com a realidade do curso, vê que nem tudo é um mar de rosas, aliás, nem ao menos um açude... Enquanto se vê uma distinção clara entre teoria e prática (que não deveria existir), os estudantes são levados apenas a um curso de comunicação (neste contexto, entendendo comunicação como teoria e jornalismo como prática), onde a teoria é ensinada de forma muito eficiente, cuidada com muito zelo pelos professores.

Entretanto, as cadeiras que deviam servir de base para a práxis da profissão estão totalmente ultrapassadas; além de não haver professores para ministrá-las, os alunos não conseguem produzir o tão desejado "jornal" e, quando produzem, ele só sai meses após a escritura dos textos. A maior falta de estímulo, para os alunos, é não ver os seus textos publicados, já que eles escrevem as matérias apenas para os professores guardá-las em uma gaveta empoeirada ou em um velho escaninho(...).

Em meio às facilidades de que tanto se ouve falar no contexto das novas mídias digitais, vê-se essas facilidades pouco aproveitadas pelos docentes. Eles deveriam conhecer um pouco mais sobre mídia — já que se dizem estudiosos dela —, ou pelo menos explorá-la de um modo mais eficiente, o que melhoraria tanto a condição deles, pois teriam um alunado mais interessado, quanto a dos próprios estudantes, que estariam estimulados e, assim, teriam um rendimento melhor...

Allysson Viana, no seu blog, que linca pra nós.

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Postado por Julio Daio Borges
27/10/2008 à 00h39

 
Biografias literárias

Você é daquele tipo de leitor que fica se questionando ao longo da leitura de um livro sobre a influência da vida do autor em sua escrita e na história em que conta? Claro que existe uma relação entre as duas coisas, mas nem sempre ela é perceptível ou proposital. Em seu seminário no curso de Criação Literária na Academia Internacional de Cinema (AIC), o poeta, ensaísta e tradutor Rodrigo Petrônio, autor de livros como Pedra de Luz, apresentou aos alunos alguns casos em que a biografia do escritor influenciou formas de linguagem e histórias clássicas da literatura. Na entrevista que segue abaixo, Petrônio lançou um olhar mais analítico sobre essa relação entre ficção e realidade.

Como preparou este seminário?

Na verdade, fui desenvolvendo esse tema de modo muito pessoal, tateando, tangenciando, vendo o que realmente me interessava nele. Os grandes biógrafos acabam conseguindo reintegrar vida e obra. Mas às vezes eles carecem de profundidade analítica ou tendem a se ocupar mais dos dados biográficos do que da significação simbólica que esses dados tenham para a obra do autor tratado. Este conceito de biografia que desenvolvo se expande para todos os gêneros. Trata-se do "eu" entendido como matriz mítica de produção literária, em outras palavras, como matéria-prima da ficção. Dessa maneira, como intersecção dos planos do real e do imaginário, da vida e da ficção, ele transcende a concepção estrita de gênero e acaba desaguando em todas as modalidades literárias, de acordo com o uso consciente desses recursos pelos autores.

Gostaria de entender melhor como é essa abordagem do "eu"; o quanto (e o que) de autobiográfico há nas obras e de que forma os fatos reais, vividos pelos autores, são inseridos nos escritos?

A princípio, a relação entre biografia e literatura nos soa como um aparente truísmo, na medida em que sempre há algum componente pessoal naquilo que se escreve. Entretanto, há uma diferença entre um uso ocasional e um uso programático. No primeiro caso, temos uma espontaneidade na criação e um mero acidente entre o discurso ficção e os fatos empíricos. No segundo, essa relação é motivada. Não digo que haja uma hipotética e equivocada intenção do autor. Vou mais além. Há estruturas narrativas biográficas implicadas na própria obra. Nesse caso, os termos de vida e obra tornam-se conversíveis uns nos outros e complementares. Por outro lado, creio que estejamos um pouco viciados em um tipo de referencial moderno. Também a própria estrutura poética é organizada por meio de regras retóricas e poéticas que são impessoais, de domínio coletivo. Há uma primazia da matéria de que se trata, considerada mais importante do que a expressão ou a vida íntima do autor.

Como se dá esse processo com autores como Cervantes, Dante, Kafka, Proust, Joyce, citados nas aulas?

A partir do século XV essa relação começa a se tornar complexa e ocorre uma guinada substanciosa. Começamos a ter a presença do "eu" fático do autor, estruturando a experiência literária e demarcada com mais ênfase a partir de A divina comédia, e, sobretudo, a partir de Montaigne. Com os ensaios, esse "eu" passa a ocupar o papel de protagonista e de centro irradiador do discurso literário. Com Montaigne temos, na literatura, uma espécie de inauguração de um "eu" que se pretende genuíno, a um só tempo discursivo e empírico, literário e biográfico, bem como o jogo entre essas duas dimensões, ou seja, entre a poesia e a história, entre a realidade e forma ficta. O Dom Quixote não é nada mais do que uma grande bufonaria em torno desse deslocamento original, no qual a literatura ganha espessura humana, fisionômica e biográfica, mas sempre afirmando seu estatuto de "ficção".

Você citou em uma das aulas algumas formas de abordagem: testamento, testemunho, confissão, expressão e auto-retrato. Há mais alguma? Qual a principal característica de cada uma delas? É possível relacionar algum desses autores acima com alguma dessas "classificações"?

Todos esses itens que você menciona integram aquilo que podemos chamar de biografemas, marcas da vida programaticamente usadas na obra. É claro que não é possível captar de maneira transparente essa relação. Afinal, nem nós mesmos detemos a totalidade de relações possíveis e tangíveis de nossas próprias vidas. Mas a possibilidade literária de deixar um relato mais ou menos próximo de uma vivência pode ser aferida, de acordo com a própria organização da linguagem literária. Com Dante temos uma tal intersecção entre poesia e história, entre tempo e eternidade, entre particular e geral, entre biografia e destino humano coletivo, entre plano natural e plano sobrenatural, que ele permanece até hoje insuperável, um modelo sem parâmetro em nenhuma outra época ou literatura. Cervantes também, na dimensão da prosa, mas em uma dimensão menos profunda de integração de vida e de obra do que Dante. Por outro lado, Kafka produz um fenômeno curioso, que eu chamo de antibiografia, terceiro termo de um ternário, cujos correlatos seriam a biografia e a autobiografia propriamente ditas. Kafka inaugura uma negação sistemática do sujeito da escrita e do próprio princípio de singularização dos personagens. Seus personagens são sempre categorias genéricas vazias, sem enraizamento na experiência, carentes de qualquer confronto com as singularidades circundantes. Falando em termos filosóficos, a obra de Kafka se desdobra em um movimento puramente horizontal, de gêneros a gêneros, nunca desce às espécies e aos indivíduos. Procedimento rigorosamente oposto ao de Proust, cuja vida e obra atingem uma unidade sinfônica tão inextricável que podemos considerar impossível a divisão genérica de Em busca do tempo perdido, em termos de ficção e autobiografia. James Joyce faz uma mise-en-scène de história, literatura e biografia. Sabemos que todos os seus livros têm alter egos e máscaras, como Stephen Dedalus, Leopold Bloom, Shem, entre outros. Não é à toa que Joyce é um dos maiores devotos de Dante no século XX.

Quando você escreve, como você se coloca em seus escritos? Como está o seu "eu" inserido em seus poemas?

Gosto muito da poesia lírica, que tende a irradiar a sua voz e desdobrá-la em diversas metamorfoses. Tenho alguns trabalhos em prosa, mas nos quais esses aspectos biográficos entram de forma muito sub-reptícia, indireta. Gosto de explorar mais o imaginário do que os dados empíricos. Mas ando amadurecendo alguns escritos em prosa e tenho também começado a usar, conscientemente, esses recursos biográficos.

Para ir além
Criação Literária na AIC

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Postado por Débora Costa e Silva
25/10/2008 às 21h34

 
Eleição e Recursos Humanos

Os debates eleitorais para o segundo turno na cidade de São Paulo foram marcados pela agressividade, em especial da candidata Marta Suplicy.

Pelo que ouvi e li a respeito, não foi só em São Paulo que os políticos mais bem sucedidos de suas comarcas usaram tal estratégia. Em Belo Horizonte e Rio de Janeiro os candidatos se valeram da mesma tática.

O que causa estranheza é que os analistas de marketing eleitoral não recomendam que os candidatos se digladiem, afirmando que a história (sempre ela) demonstra que a conseqüência número 1 desta atitude é a queda nas pesquisas eleitorais.

A previsão se confirmou. Na primeira pesquisa pós-debate Kassab abriu 12 pontos de vantagem sobre a petista.

Agora, o que mais me indigna é que a agressividade dos candidatos deveria ser usada para algo mais útil. Em vez de prometerem o inalcançável e ficarem caçando picuinhas na vida alheia, os candidatos deveriam exibir seus currículos e usar suas energias para provar a veracidade deles.

Poderiam, também, usar tamanha disposição em atacar o adversário para matricularem-se em cursos de administração pública, gerência de recursos humanos e finanças.

Ora, todos sabem que o prefeito precisa dominar as técnicas de administração, já que governar é administrar, não é?

Sem uma visão ampla das matérias básicas (e não estou falando de ética, hein?) não é possível fazer um bom governo.

Ou seja, gostaria de ver 10% da agressividade dos programas eleitorais na formação técnica do governante. Se as empresas, privadas e públicas, capacitam cada vez mais seus funcionários, não acredito que nossos governantes não precisem de aulas também. Ou eles são melhores que esses funcionários?

Para finalizar, proponho uma eleição diferente. Uma comissão de experts em Recursos Humanos das maiores empresas do Brasil preparariam e aplicariam um processo seletivo nos candidatos a governo. Seria eleito o que se saísse melhor no processo seletivo.

Será que Kassab e Marta estariam eleitos?

[3 Comentário(s)]

Postado por Daniel Bushatsky
24/10/2008 às 16h38

 
Literatura e eventos mineiros

Se a gente cochilar um pouquinho, perde o bonde e se arrepende. Só em novembro, uma série de eventos relacionados à literatura está para acontecer em Belo Horizonte e vizinhanças. O jornal Letras deste mês, do Café com Letras, sairá recheado com um balanço da produção cultural belo-horizontina, mas confesso ter sido complicado fazer isso antes de o ano acabar. É que parece que tudo se concentrou em novembro, ressalvando-se aqueles eventos que têm agenda mais homeopática, como o Ofício da Palavra ou as Terças Poéticas.

Começamos a turnê pelo Fórum das Letras de Ouro Preto, em sua quarta edição, trazendo autores estrangeiros como nunca antes. Não que isso seja babação de ovo, mas parece importante que quem escreve acolá saiba que aqui também tem movimento, certo? O que acho relevante não é bem o fato de "o cara" vir, mas o fato de ele poder levar para lá uma impressão importante do que se pode fazer aqui. O Fórum das Letras é interessante, bonito e tem um dos leiautes mais bacanas de eventos que já visitei. Nunca fui à FLIP e dizem que o FLOP (como dizem alguns) tem se parecido com a festa de Paraty, mas sei lá. O Fórum das Letras começa dia 5 e vai até 9 de novembro, no Centro de Convenções da UFOP, sob a batuta da escritora Guiomar de Grammont, desta vez, com entrada franca.

Logo depois, dia 10, começa o 9º Encontro das Literaturas, promovido pela Fundação Municipal de Cultura de BH, com curadoria de gente bacana, entre eles o escritor Sérgio Fantini. O Encontro vai até dia 16, com entrada franca, um montão de oficinas e palestras, além de mesas-redondas instigantes. O local do evento parece ter migrado da linda Serraria Souza Pinto para espaços como o Chevrolet Hall, mas ainda estamos muito bem. Assim como o Fórum das Letras, o Encontro também tem programação infantil. Frise-se que grande parte dos residentes nesta capital mineira pensa que a Bienal do Livro e o antigo Salão do Livro (agora Encontro das Literaturas) são a mesma coisa. Não são.

Mais adiante, dia 20, em São João del-Rei, um tico mais longe de Belo Horizonte, mas não menos gostoso, vem o 2º Festival de Literatura, o Felit. Com curadoria do professor e escritor Mário Alex Rosa, estarão lá bandos e quadrilhas de escritores para falar das artes literárias. De 20 a 23, final de semana, uma excelente oportunidade para conversar e comprar livros que não são encontráveis em qualquer lugar.

Novembro vai ser mês de agenda cheia para quem gosta da arte da palavra (e não só dela). Bom motivo para fazer uma turnezinha por Minas e aproveitar para conhecer montanhas e cachoeiras. E se vai a Ouro Preto, visite Mariana. Se vai a São João, dê um pulo em Tiradentes. Clichês incontornáveis. Além dessas festas todas, ainda tem Terças Poéticas e Ofício da Palavra até Papai Noel chegar. Quem sabe o bom velhinho aprende a comprar livros para dar de presente?

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Postado por Ana Elisa Ribeiro
24/10/2008 às 12h20

 
Lei Rouanet na Carta Capital

A edição desta semana da revista Carta Capital traz um especial de onze páginas, patrocinado pela Petrobras, dividido em três matérias: uma análise dos reflexos da Lei Rouanet para a cultura brasileira dezoito anos após o seu surgimento, uma abordagem sobre o descompasso entre a produção cinematográfica nacional e o número de espectadores e uma entrevista com Juca Ferreira.

Há um artigo inevitável sobre o Programa Petrobras Cultural, mas o conteúdo da matéria sobre a Rouanet é surpreendemente incisivo e provocativo em se tratando de um especial patrocinado.

A entrevista com Ferreira também dá mais algumas pistas do que poderá ser a tão propagada ― e por enquanto apenas isso ― reformulação da Lei Rouanet. O ministro aponta que índices de renúncia passariam a ser definidos a partir de critérios de avaliação dos projetos, como acessibilidade e relevância cultural. Ele também promete um aumento do investimento direto do MinC em projetos, através de fundos setoriais. Ainda estamos pagando para ver.(...)

André Fonseca, no seu Cultura Em Pauta, que linca pra nós.

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Postado por Julio Daio Borges
24/10/2008 às 09h31

 
A Mário de Andrade ausente

Anunciaram que você morreu.
Meus olhos, meus ouvidos testemunham:
A alma profunda, não.
Por isso não sinto agora sua falta.

Sei bem que ela virá
(pela força persuasiva do tempo)
Virá súbito um dia,
Inadvertida para os demais.
Por exemplo assim:
À mesa conversarão de uma coisa e outra.
Uma palavra lançada à toa
Baterá na franja dos lutos de sangue,
Alguém perguntará em que estou pensando,
Sorrirei sem dizer que em você
Profundamente.

Mas agora não sinto a sua falta
(É sempre assim quando o ausente
Partiu sem se despedir:
Você não se despediu.)

Você não morreu: ausentou-se.
Direi: Faz tempo que ele não escreve
Irei a São Paulo: você não virá ao meu hotel.
Imaginarei: Está na chacrinha de São Roque.

Saberei que não, você ausentou-se. Para outra vida?
A vida é uma só. A sua continua
Na vida que você viveu.
Por isso não sinto agora a sua falta.

Manuel Bandeira, no E cinco espinhos são em nossas mãos, cuja titular Comenta aqui.

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Postado por Julio Daio Borges
24/10/2008 à 00h00

 
How to track stocks in Google

Jason Striegel, no Hackszine.com, um site que eu acabei de descobrir...

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Postado por Julio Daio Borges
23/10/2008 à 00h52

 
Minicursos na PUC Minas

Para quem se interessa por aspectos da linguagem e dos estudos de lingüística e literatura, ainda há vagas para diversos minicursos do ISD, como ficou carinhosamente conhecido o III Encontro Internacional de Interacionismo Sociodiscursivo. Admito: o nome é assustador, mas "a coisa" nem é assim tão distante de qualquer pessoa que esteja aí encarando a linguagem no dia-a-dia. Para participar dos minicursos, é necessário se inscrever no evento, claro. Professores do país inteiro ministrarão aulas e oficinas sobre: análise do trabalho educacional a partir de textos, gêneros textuais e virtuais, argumentação, identidades e "misturas" de gêneros, o discurso do professor, avaliação formativa, rádio escolar, ensino de escrita, LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), mecanismos enunciativos e jogos eletrônicos. É só escolher. Além desses minicursos, é possível assistir a palestras com respeitáveis pesquisadores, mundialmente reconhecidos, como Jean-Paul Bronckart e Joaquim Dolz. O Encontro acontece em Belo Horizonte, no campus Coração Eucarístico da PUC Minas, nos dias 18 e 19 de novembro.

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Postado por Ana Elisa Ribeiro
22/10/2008 às 18h42

 
Satã, uma biografia

O livro Satã, uma biografia (Globo, 2008, 388 págs.), de Henry Ansgar Kelly, é meio surpreendente, mas não de uma maneira muito elogiosa. A surpresa principal está no fato de que o autor leva o assunto a sério.

Há uma diferença entre fazer uma pesquisa séria, que é o ponto positivo desse livro, e levar a sério o assunto dessa mesma pesquisa. O pesquisador deve, necessariamente, ter uma noção clara da natureza da matéria sobre a qual se dedicou tanto (o livro tem 385 páginas de uma catalogação de dados exaustiva. Eu, pelo menos, considero isso uma dedicação infernal).

Alguém pode fazer um estudo em profundidade da história e da práxis da alquimia medieval, por exemplo. Mas quando o pesquisador começa a acreditar na Pedra Filosofal e faz com que você possa imaginar que ele está em casa tentando transformar moedinhas de cobre em moedinhas de ouro, aquela pesquisa talvez fique comprometida.

Kelly pesquisou a Bíblia, toda ela, atrás das pegadas do Dito-Cujo para chegar à conclusão de que o capeta que todos conhecem, o chifrudo sinistro ou bagunceiro, não é bem aquele que está lá, no livro original. Ou aqueles, já que aparece sob nomes diferentes a ponto de sugerir entidades diversas.

Segundo Kelly, o capeta bíblico é mais como uma espécie de advogado (bastante apropriado isso) de Jeová. Mas o próprio Senhor não tem certeza se ele está na folha de pagamentos e, se indagado a respeito, com certeza desconversaria: "Pergunte pro Jó, fale com São Paulo, eles é quem sabem, sei lá. Tô ocupadíssimo aqui com Moisés, tá me dando muito trabalho, agora não posso responder, volte outra hora". O nome "satã", na Bíblia, é freqüentemente usado como o antigo substantivo que realmente é, significando "o adversário", ou "o inimigo" (e qualquer semelhança com um advogado pode ser mera coincidência. Ou não).

Mas o que fica mesmo da leitura é a constatação da fantástica (porque incrível) falta de bom senso, unidade ou simples coesão do texto bíblico. Se por um lado a presença factual do Canhoto é rara e esparsa no calhamaço que é a Bíblia, por outro lado ele garante sua presença demoníaca no suplício que é tentar levar a sério um texto completamente maluco.

Nota do Editor
Leia também "Dos Lobisomens".

[1 Comentário(s)]

Postado por Guga Schultze
22/10/2008 às 15h52

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