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Sexta-feira, 24/10/2008
Blog
Redação
 
A Mário de Andrade ausente

Anunciaram que você morreu.
Meus olhos, meus ouvidos testemunham:
A alma profunda, não.
Por isso não sinto agora sua falta.

Sei bem que ela virá
(pela força persuasiva do tempo)
Virá súbito um dia,
Inadvertida para os demais.
Por exemplo assim:
À mesa conversarão de uma coisa e outra.
Uma palavra lançada à toa
Baterá na franja dos lutos de sangue,
Alguém perguntará em que estou pensando,
Sorrirei sem dizer que em você
Profundamente.

Mas agora não sinto a sua falta
(É sempre assim quando o ausente
Partiu sem se despedir:
Você não se despediu.)

Você não morreu: ausentou-se.
Direi: Faz tempo que ele não escreve
Irei a São Paulo: você não virá ao meu hotel.
Imaginarei: Está na chacrinha de São Roque.

Saberei que não, você ausentou-se. Para outra vida?
A vida é uma só. A sua continua
Na vida que você viveu.
Por isso não sinto agora a sua falta.

Manuel Bandeira, no E cinco espinhos são em nossas mãos, cuja titular Comenta aqui.

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Postado por Julio Daio Borges
24/10/2008 à 00h00

 
How to track stocks in Google

Jason Striegel, no Hackszine.com, um site que eu acabei de descobrir...

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Postado por Julio Daio Borges
23/10/2008 à 00h52

 
Minicursos na PUC Minas

Para quem se interessa por aspectos da linguagem e dos estudos de lingüística e literatura, ainda há vagas para diversos minicursos do ISD, como ficou carinhosamente conhecido o III Encontro Internacional de Interacionismo Sociodiscursivo. Admito: o nome é assustador, mas "a coisa" nem é assim tão distante de qualquer pessoa que esteja aí encarando a linguagem no dia-a-dia. Para participar dos minicursos, é necessário se inscrever no evento, claro. Professores do país inteiro ministrarão aulas e oficinas sobre: análise do trabalho educacional a partir de textos, gêneros textuais e virtuais, argumentação, identidades e "misturas" de gêneros, o discurso do professor, avaliação formativa, rádio escolar, ensino de escrita, LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), mecanismos enunciativos e jogos eletrônicos. É só escolher. Além desses minicursos, é possível assistir a palestras com respeitáveis pesquisadores, mundialmente reconhecidos, como Jean-Paul Bronckart e Joaquim Dolz. O Encontro acontece em Belo Horizonte, no campus Coração Eucarístico da PUC Minas, nos dias 18 e 19 de novembro.

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Postado por Ana Elisa Ribeiro
22/10/2008 às 18h42

 
Satã, uma biografia

O livro Satã, uma biografia (Globo, 2008, 388 págs.), de Henry Ansgar Kelly, é meio surpreendente, mas não de uma maneira muito elogiosa. A surpresa principal está no fato de que o autor leva o assunto a sério.

Há uma diferença entre fazer uma pesquisa séria, que é o ponto positivo desse livro, e levar a sério o assunto dessa mesma pesquisa. O pesquisador deve, necessariamente, ter uma noção clara da natureza da matéria sobre a qual se dedicou tanto (o livro tem 385 páginas de uma catalogação de dados exaustiva. Eu, pelo menos, considero isso uma dedicação infernal).

Alguém pode fazer um estudo em profundidade da história e da práxis da alquimia medieval, por exemplo. Mas quando o pesquisador começa a acreditar na Pedra Filosofal e faz com que você possa imaginar que ele está em casa tentando transformar moedinhas de cobre em moedinhas de ouro, aquela pesquisa talvez fique comprometida.

Kelly pesquisou a Bíblia, toda ela, atrás das pegadas do Dito-Cujo para chegar à conclusão de que o capeta que todos conhecem, o chifrudo sinistro ou bagunceiro, não é bem aquele que está lá, no livro original. Ou aqueles, já que aparece sob nomes diferentes a ponto de sugerir entidades diversas.

Segundo Kelly, o capeta bíblico é mais como uma espécie de advogado (bastante apropriado isso) de Jeová. Mas o próprio Senhor não tem certeza se ele está na folha de pagamentos e, se indagado a respeito, com certeza desconversaria: "Pergunte pro Jó, fale com São Paulo, eles é quem sabem, sei lá. Tô ocupadíssimo aqui com Moisés, tá me dando muito trabalho, agora não posso responder, volte outra hora". O nome "satã", na Bíblia, é freqüentemente usado como o antigo substantivo que realmente é, significando "o adversário", ou "o inimigo" (e qualquer semelhança com um advogado pode ser mera coincidência. Ou não).

Mas o que fica mesmo da leitura é a constatação da fantástica (porque incrível) falta de bom senso, unidade ou simples coesão do texto bíblico. Se por um lado a presença factual do Canhoto é rara e esparsa no calhamaço que é a Bíblia, por outro lado ele garante sua presença demoníaca no suplício que é tentar levar a sério um texto completamente maluco.

Nota do Editor
Leia também "Dos Lobisomens".

[1 Comentário(s)]

Postado por Guga Schultze
22/10/2008 às 15h52

 
Web-based Finance Application

In the wake of Mint leaving beta and Quicken Online dropping its subscription fee, there's never been a better time to start using a web-based personal finance application.[...]

Adam Pash, no Lifehacker, porque eu tenho pensado em passar minhas finanças pro on-line...

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Postado por Julio Daio Borges
22/10/2008 à 00h53

 
Mulher acordando

Não existe mulher feia ao despertar. Estirada na cama, com as pálpebras pesadas de sonhos, qualquer mulher é bonita. O pesadelo começa quando elas retiram a remela dos olhos e encostam o pé no chão. Divorciada das fantasias galopadas em silêncio, a maioria se transforma, misteriosamente. A realidade é que, depois do primeiro bocejo, pouco sobra dos anjos que ronronam safadezas e mordem a fronha do travesseiro com preguiça de encarar um pedaço dormido de pão.[...]

Rian Santos, no Spleen e charutos, que linca pra nós.

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Postado por Julio Daio Borges
21/10/2008 à 00h15

 
Na CDHU, o coração das trevas

Acabou mal o seqüestro perpetrado por Lindemberg em Santo André e a polícia, que poderia ter sido truculenta, matando antes o seqüestrador, acabou sendo crucificada por não agir como a ROTA da época dos grupos de extermínio.

"Bandido bom é bandido morto", diria o leitor ao ver o corpo ensangüentado de Eloá no colo de um policial, saindo do cativeiro. Mas até que ponto uma reação amalucada, desencadeada por um jovem de vinte e dois anos, infantil como a ex-namorada seis anos mais nova, pode qualificá-lo para uma vaga em frente ao rifle de um atirador de elite?

O cenário dificultava a ação policial. Quem imaginaria que um seqüestro em um apartamento da CDHU repercutiria tanto? Se a polícia nunca apareceu por lá para reprimir o tráfico de drogas que ganha vinte mil reais a cada dois dias, por que apareceria para dar cabo da vida de um maluco? Centenas de pessoas cercavam o condomínio aguardando o desfecho do caso. Um apartamento minúsculo, no segundo andar de um prédio, com uma única entrada e paredes finas impossibilitava a aproximação silenciosa dos agentes policiais. A negociação com Lindemberg fora interrompida por diversos interessados que não eram do ramo, com papo-furado, cheios de boas intenções para tentar convencer um louco a agir com bom senso. As redes de tevê fechavam o cerco a todo momento. "Lindemberg já correu o Código Penal, disse o Delegado daqui", "O Promotor veio garantir a aplicação da lei e a integridade física de Lindemberg".

Era necessário lembrar o seqüestrador, enquanto ele apontava a arma carregada para as vítimas, de que seria preso ao final?

Tragédia. Num primeiro momento a vingança de Lindemberg era contra a namorada. Depois das entrevistas catastróficas às redes de tevê, sua personalidade liberou a raiva contra toda a sociedade. Ele não reconhecia mais as reféns como as únicas vítimas. Decidiu apontar a arma contra o telespectador. "Vocês vão sofrer". "Pode avisar todo mundo que vai acabar mal"."O diabinho tá duelando com o anjinho aqui". Mesmo assim, as câmeras injetavam ainda mais veneno nas veias do sujeito, junto com a adrenalina que fluía a cada estocada de interrupção da programação pelas emissoras.

Nem as vítimas foram poupadas do picadeiro. Os corpos furados de bala, deformados e derramando sangue foram perseguidos pelos cinegrafistas, do condomínio ao hospital, até dentro das ambulâncias. Demonstrações lamentáveis de insensibilidade e desrespeito com os envolvidos.

A polícia errou ao permitir a recaptura da refém e só. Afinal, existe sincronismo capaz de superar a intempestividade de um maluco?

Vale lembrar um aforismo de G. K. Chesterton: "O jornalismo consiste em dizer que 'Lorde Jones morreu' para pessoas que não sabiam que Lorde Jones estava vivo".

Antes de apontar os culpados do caso, leitor, reflita se você conhece o ambiente em que ocorreu a tragédia de Santo André.

Nota do Editor
Leia também "A Brasilianização do Mundo".

[9 Comentário(s)]

Postado por Vicente Escudero
20/10/2008 às 12h49

 
Carona é...

a mochila nas costas
a falta de grana
o polegar estendido
confiar no destino
saber esperar
o prazer da aventura
acreditar em Deus e na sorte
tornar-se amigo repentino
ser bandido e perigo
ter a esperança de rever algum dia

Alexandro Pedrotti, citado no Expedição Carona Estrangeira, que linca pra nós.

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Postado por Julio Daio Borges
20/10/2008 à 00h08

 
Bate-papo com Luiz Ruffato

O escritor Luiz Ruffato vai participar de um bate-papo com o público nesta quarta-feira sobre o tema do seu projeto literário Inferno Provisório. Após o debate, haverá coquetel de lançamento da obra O livro das Impossibilidades, seu mais recente trabalho. Nascido em Cataguases (MG), em 1961, Luiz Ruffato já publicou os livros Eles eram muitos cavalos (2001, Prêmio APCA e Prêmio Machado de Assis, da Biblioteca Nacional, também editado na Itália, França e Portugal) e o projeto Inferno provisório, em cinco volumes, dos quais quatro já foram lançados: Mamma, son tanto felice (também editado na França) e O mundo inimigo (ambos em 2005, Prêmio APCA), Vista parcial da noite (2006, Prêmio Jabuti) e O livro das impossibilidades.

Para ir além
Academia Internacional de Cinema ― Rua Doutor Gabriel dos Santos, 142, Higienópolis ― Quarta-feira, 22 de outubro, das 19h30 às 21h30 ― Entrada franca ― Inscrições pelo telefone: (11) 3826-7883.

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Postado por Débora Costa e Silva
19/10/2008 às 16h38

 
Dias de cão em Santo André

O final feliz do caso da garota mantida como refém, pelo ex-namorado, em Santo André, não acontecerá se a cobertura incessante e irresponsável de algumas redes de tevê não parar.

Manhã de ontem. Entre um pedaço de sanduíche de peru e um gole de suco tive o desgosto de assistir a uma entrevista com o seqüestrador chamado "Lindemberg". Todos pararam. Eu, a apresentadora e os convidados do programa. O seqüestrador se esquiva das respostas fáceis às perguntas da jornalista, a apresentadora expressa seu desamparo com a situação e a ausência de uma solução fácil. Não sinto compaixão pelo fracasso da jornalista. A lembrança de uma ridícula tatuagem na nuca de uma atriz, onde se lê "Livrai-nos de todo o mal" vem à minha mente e sugere à apresentadora do programa: "Por que você não repete o versículo da tatuagem, reclama da violência atual e não volta para a programação normal? Afinal, não é assim que as coisas se resolvem na televisão, com um clichê?".

O rapaz ainda está lá, com a arma apontada contra todos, sem saber dizer o porquê do seqüestro. Outro drama transformado em pauta. Segundo a polícia militar, o seqüestrador pretendia se entregar até ser entrevistado, pelo telefone, por uma rede de tevê. Antes, não tinha nada a perder, agora, ele deve se sentir orgulhoso pela cobertura do caso. Em 1932, o filho de um herói da aviação norte-americana, Charles A. Lindbergh, primeiro piloto em um vôo transatlântico sem escalas, foi seqüestrado. O caso ocupou a pauta da imprensa de lá até a criança ser encontrada morta. Em 2008, nosso "Lindemberg" resolveu se vingar e seqüestrar a ex-namorada.

Acabo de descobrir que o seqüestrador fez mais uma refém. Fotos e vídeos mostrando ela prensada contra o vidro da janela do apartamento onde todos estão confinados circulam sem parar pelos meios de comunicação. Nunca as redes de tevê aberta transmitiram Um dia de cão, filme em que Al Pacino interpreta um ladrão de banco cercado pela polícia e a imprensa durante um assalto. Embora ninguém tenha saído lesionado do filme, seus cento e vinte quatro minutos de duração não trariam o mesmo retorno financeiro que as cinqüenta e seis horas de seqüestro perpetradas pelo nosso "Lindemberg". O filme, acredito, também é violento demais para o público brasileiro. Os atos de "Lindemberg", não.

Nosso "Lindemberg" está cansado. Em um ambiente fechado, onde a temperatura é medida pela repercussão de cada um de seus atos, o calor das matérias jornalísticas aumenta sua esperança vazia. Ele não sabe o que quer, mas a tevê dá a ele cada vez mais.

Depois da atabalhoada entrevista, só resta aguardar que um arroubo de bom senso baixe sobre o seqüestrador, dizendo: "Ei, Lindemberg, esqueça isso, vá para casa, descansar". Ou, quem sabe, numa hipótese remota, que as redes de tevê não contribuam para mais um vídeo macabro no YouTube.

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Postado por Vicente Escudero
17/10/2008 às 10h23

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