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Quarta-feira,
24/12/2008
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Redação
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Agarrar o tempo
Diziam-me há dias: "o tempo escoa-se como areia por entre os dedos". Pensando há alguns anos tratarem-se estas observações de conversa de velhotes (ou de kotas, como diz actualmente a juventude), fico perplexa quando verifico que os mais novos com quem me cruzo também começaram a sentir o mesmo fenómeno.
A opção de vida numa pequena localidade passa também pela tentativa desesperada de, à semelhança do professor do Clube dos Poetas Mortos, conseguir "sugar o tutano da vida".
E foi assim que descobri um mundo de novidades: deparar-me inesperadamente pela manhã com um bando de perdizes a correr pelo jardim, ver o sr. Luís, fiel jardineiro, em desespero a tentar dar caça aos coelhos que devoram as couves da horta antes que elas cheguem ao prato, a lutar contra as toupeiras que não cessam o seu trabalho de escavação e ficar, fascinada, quando chego depois do pôr do sol, a olhar para uma coruja que elegeu como poiso predilecto o muro que ladeia o caminho de acesso a casa.
Quando o calor aperta, tenho dado por mim a olhar da janela sem pressas um lagarto de cores vivas que se expõe com atrevimento ao sol ou a relembrar o belíssimo tema "Blackbird" ao som do canto natural dos melros.
Já me perguntaram: "isto não é isolamento a mais?" — repondo sempre: "o isolamento, em tempos de correrias loucas nunca é em demasia"... e nesta vivência já decorreram catorze anos sem que disso me tenha dado conta.
Teresa, no seu Dias que Voam, um blog que, graças ao Eça, acabei de descobrir.
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Julio Daio Borges
24/12/2008 à 00h20
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Como trabalhar bem
1) Faça uma coisa de cada vez;
2) Descubra qual é o problema;
3) Aprenda a ouvir;
4) Faça perguntas;
5) Saiba distinguir o que faz sentido do que não faz;
6) Aceite as mudanças que vierem;
7) Admita seus erros;
8) Não complique;
9) Fique calmo;
10) Sorria.
Do mosso amigo Berkun (mais um que roubei do Edu Carvalho...).
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Julio Daio Borges
23/12/2008 à 00h46
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Não sei se ronco ou se babo
Tanto de meu estado sonâmbulo
me acho incerta.
Não sei se ronco,
não sei se babo.
Fato é que sinto um descompasso.
Meu raciocínio quer aprender.
Meu corpo quer adormecer.
Não sei mais o que faço.
Estando aqui, chego a dormir,
ficando lá, não dá para descansar,
e assim o tempo há de consumir.
O que entrou cristalizou.
Se bateu e não abriu,
que fazer se não voltou?
Deisi Perin, no Pó&Teias, que linca pra nós.
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Julio Daio Borges
22/12/2008 à 00h16
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Bate-papo com André de Leones
"Há uma idéia corrente de que não se pode elogiar ninguém publicamente, de que isso soa como 'troca de favores' ou coisa parecida. Eu elogio os autores de que gosto, de cujos livros eu gosto, mesmo que considere esses mesmos autores uns completos idiotas. Em outras palavras: muito embora eu me considere amigo de algumas das pessoas, quando cito seus nomes, estou me referindo aos seus livros e só. Elogio livros, não pessoas. A cretinice do meio literário brasileiro é tão acachapante que vive confundindo essas coisas..."
1. André: tendo sido criado em Silvânia, no interior de Goiás, e vivendo agora em Goiânia, o que você diria para os escritores brasileiros chorões que — para "acontecer" — acreditam que têm de vir ao eixo Rio-São Paulo?
Eu passo uns poucos dias por semana em Goiânia. A rigor, eu resido em Silvânia. Minhas correspondências vêm todas para cá. Eu voto aqui. O que eu diria aos chorões que querem se mudar para o eixo Rio-São Paulo a fim de que algo "aconteça"? Fiquem onde estão e parem de escrever.
2. Eu entendo que o Prêmio Sesc de Literatura — para o seu romance Hoje está um dia morto (Record, 2006) — foi um divisor de águas na sua carreira. Conte um pouco — até para os escrevinhadores de plantão — como chegou até lá e o que aconteceu depois.
Eu vivia e trabalhava (como professor de Química) em Silvânia. Escrevi esse romance a partir de um projeto fracassado de roteiro de cinema (eu fizera um curso de cinema anos antes). Entendi que aquele projeto de roteiro poderia render um bom romance e segui em frente. Quando terminei de escrevê-lo, um amigo chamado Aldair Aires (um escritor daqui de Goiás, infelizmente já falecido) me falou sobre o Prêmio SESC de Literatura, o qual eu sequer conhecia.
O Prêmio SESC é maravilhoso para autores inéditos na medida em que a premiação é o lançamento e distribuição do livro pela editora Record. Além disso, os autores vencedores fazem uma turnê de lançamento pelo Brasil. Venci o prêmio, tive o meu primeiro romance lançado por uma grande editora (chegou à 2ª edição) e a Record aceitou publicar o meu segundo livro, de contos, o recém-lançado Paz na terra entre os monstros. Em resumo, posso dizer que o Prêmio SESC me deu uma carreira. Mesmo em se tratando de Brasil, não creio que seja pouco.
3. A gente brincou, na noite do seu último lançamento, que tiraram sarro de você quando, escolhido pelo projeto Amores Expressos, veio parar logo em São Paulo... Gostou da experiência do blog (existencial)? E o livro, será que vê finalmente a luz do dia em 2009?
Eu fiquei um pouco chateado com isso de curtirem com a minha cara por ser o único autor com destino doméstico, mas depois pensei o óbvio: não é o destino que definirá a qualidade da obra. O romance que originalmente escrevi para o Amores Expressos, Como desaparecer completamente, é uma das melhores coisas que já fiz. Trabalhei nele feito louco e tenho muito orgulho dele.
Por outro lado, aconteceu uma coisa muito chata em relação à Companhia das Letras. A editora não teve transparência com os escritores. Dizendo claramente: a Companhia das Letras não agiu profissionalmente com os autores do projeto, na medida em que demorou mais de um ano (no meu caso, pelo menos) para dizer se publicaria o livro ou não (eles tinham, por contrato, o direito de não publicar alguns dos livros). E o que é pior: não recebi deles a notícia de que o meu livro não seria publicado. Aliás, eu jamais recebi sequer um telefonema ou e-mail de alguém da Companhia das Letras. É o oposto do tratamento que recebo da minha editora, a Record, que sempre fala comigo diretamente, sem rodeios e da maneira mais polida possível. Assim, Como desaparecer completamente deverá sair pela Record (ou não; quem sabe?) sem, obviamente, qualquer alusão ao projeto Amores Expressos. Tudo o que sei é: esse livro será publicado, ainda que em capítulos no meu blog.
4. Você também me contou dos inúmeros originais que te encaminham por e-mail — e, para o meu total espanto, você confessou que lê e ainda envia feedbacks (!). Tem mesmo esperança de encontrar uma pepita de ouro em meio a tanto cascalho?
Confesso não ter tido mais tempo para fazer esse trabalho. Atualmente, para ganhar a vida, encaro um monte de revisões e algumas palestras, bate-papos em feiras e bienais, coisas desse tipo. Mas, sim, quando eu lia o que me mandavam, tinha esperança de encontrar coisas boas. Aqui e ali, até encontrava, mas eram sempre textos que ainda precisavam ser trabalhados, lapidados. E eu, claro, dizia isso aos autores. Eles nem sempre gostavam (risos). Mas era só a minha opinião.
5. Em relação ao seu atual blog, você gosta de fabular no dia-a-dia e até criou situações embaraçosas para pessoas próximas. Eu tive a impressão, lendo seu Paz na terra entre os monstros, de que você literalmente vive no mundo da sua ficção. É isso mesmo?
Não sou tão maluco assim (risos). Tampouco me lembro de ter criado situações embaraçosas para pessoas próximas (se isso aconteceu, não me recordo ou não fiquei sabendo do embaraço alheio). Agora, acho bacana contar coisas que acontecem no meu cotidiano de um jeito diferente, fabulando, inventando, exagerando ou até mesmo "mentindo", isto é, ficcionalizando. Não diria que vivo no mundo da minha ficção, mas penso nela quase que o tempo todo. Eu sentimentalizo e, depois, racionalizo as coisas que acontecem comigo para que, se for o caso, possa transformá-las em ficção. Mas, sempre, o que mais me interessa nesse processo é pensar sobre a maneira por meio da qual construirei ou reconstruirei essas histórias, literariamente falando. A estrutura, o modo como as diversas partes de uma narrativa podem ser articuladas e, claro, o resultado disso tudo é o que há de mais instigante para mim enquanto escritor.
6. A gente falou em situações-limite, no Digestivo, e os Leitores se desdobraram em relatos fantásticos. Senti que, no seu caso, o sexo é uma experiência-limite, assim como as diferenças de idade, os relacionamentos que findam e a (óbvia) morte — a sua literatura se alimenta sempre de extremos assim?
Posso dizer que sim, mas algo está mudando. O romance Como desaparecer completamente se alimenta de todas essas coisas, também, mas busquei nele uma mudança de registro, um reconstruir-se que não existia antes e, arrisco a dizer, até mesmo algum otimismo. O desfecho dele é a coisa mais "feliz" que já escrevi, e afirmo isso sem ironia. Quero muito que as pessoas leiam esse livro, e logo.
7. Você escreveu, recentemente, o que chamou de um "ensaio", sobre os seus contemporâneos. A Geração 90, que ficou bastante queimada, hoje foge do rótulo, como o diabo da cruz — você se identifica com algum grupo, nem que seja esse, de "contemporâneos" mesmo?
Acho que foi mais uma diatribe o que escrevi no blog, e menos sobre os meus colegas escritores (embora cite alguns) e mais sobre a forma como, especialmente na blogosfera, impera uma boçalidade e uma agressividade enormes em relação aos autores contemporâneos. Adoro o blog do Sérgio Rodrigues, por exemplo, mas é incrível como ele é mal freqüentado, com aquelas caixas de comentários muitas vezes repletas de coisas torpes, raivosas, frustradas.
Também fiquei impressionado com o que, algumas vezes, fizeram da tal Copa de Literatura. A Copa é uma idéia bacana, mas foi, aqui e ali, quase que implodida por uma série de bate-bocas nem sempre produtivos, instigantes ou sequer inteligentes.
Curto alguns caras da Geração 90, como o Fernando Bonassi. Acho Subúrbio um livro muito bom. Não sei se Michel Laub se "enquadra" (não sei se alguém se "enquadra", aliás) nesse rótulo de "Geração 90", mas gosto de todos os livros dele. Música anterior foi um livro importante para mim na medida em que, quando do lançamento dele, eu engatinhava com os meus primeiros rascunhos e o Laub exibia uma simplicidade aparente, uma fuga de toda e qualquer obviedade ou apelação, um cuidado com a escrita que eu até hoje persigo.
Agora, eu não me identifico com ninguém, estilisticamente falando, mas aprecio muito as literaturas de Adriana Lisboa, Carola Saavedra, Flávio Izhaki, Wesley Peres, Lúcia Bettencourt, Luiz Ruffato, Maira Parula, Simone Campos, Marcelo Moutinho, Bruna Beber e muitos outros, só para ficar nos meus contemporâneos (e nos que lembrei agora, de imediato).
Há uma idéia corrente de que não se pode elogiar ninguém publicamente, de que isso soa como "troca de créditos" ou coisa parecida. Eu elogio os autores de que gosto, de cujos livros eu gosto, mesmo que considere esses mesmos autores uns completos idiotas. Em outras palavras, muito embora eu me considere amigo de algumas das pessoas citadas acima, quando cito seus nomes estou me referindo aos seus livros, e só. Elogio livros, não pessoas. A cretinice do meio literário brasileiro é tão acachapante que vive confundindo essas coisas.
8. E por falar, num certo sentido, em avaliações críticas, como sente a recepção à sua obra — é satisfatória, é o que você esperava, é surpreendente? Ou você não se importa tanto com esse tipo de coisa?
Eu me importo, e muito. Quem diz não ser afetado por críticas negativas é mentiroso. Agora, eu procuro separar: há as críticas negativas dignas, que foram escritas com cuidado e merecem ser lidas com atenção, e há críticas negativas que não passam de ataques rasteiros e muitas vezes pessoais. Ambas doem um bocado, é claro, mas eu procuro me ater ao "melhor dentro do pior". Se vou desenvolver um tumor por conta disso, não sei. Quanto à recepção aos meus livros como um todo, o primeiro recebeu críticas muito boas e uma ou duas negativas. Considero isso bastante satisfatório. Já o segundo acabou de ser lançado e, portanto, ainda é bastante cedo para avaliar.
9. O Daniel Galera falou, até numa entrevista aqui, que, no Brasil, faltam mais leitores, para "fazer a roda [do mercado editorial] rodar". Você tem alguma carência como escritor ou gostaria de fazer alguma sugestão nesse sentido?
O sistema educacional brasileiro está falido. O número de leitores de Dostoiévski, Pynchon e Montale não irá aumentar (irá diminuir) caso não haja uma revolução no ensino e caso toda essa porcariada de auto-ajuda utilizada por alguns professores em suas "didáticas" não seja extirpada das escolas. Conheço uma formanda em Letras que não conhece (nem "ouviu falar" de) Sebald, Joyce e Faulkner, mas "adora" (sic) Augusto Cury. Não, as coisas não vão melhorar.
Sugestões: eu promovo rodas de leituras e visito salas de aulas, falo sobre meus colegas contemporâneos, leio textos de Maira Parula, Wesley Peres, Bruna Beber, do próprio Galera, tento mostrar para eles que literatura não é só mais um troço chato que cai na joça do vestibular. Mas a maioria desses alunos com quem falo está "vencida", é apática.
A gente faz o que pode. Nós, escritores brasileiros contemporâneos com um pingo de decência, fazemos o que podemos. Inclusive, e sobretudo, continuando a escrever.
Para ir além
Blog de André de Leones
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Julio Daio Borges
19/12/2008 às 07h56
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Converta de PDF para .DOC
Através do PDF to Word Doc Converter, direto do Curious? Read, um site que eu acabei de descobrir (porque o contrário é bem mais fácil, vai...)
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Julio Daio Borges
19/12/2008 à 00h48
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Compre seu comercial na TV
Você está em casa sem fazer nada, liga a televisão e de repente vê aquele seu "amigo" em um comercial dizendo o quanto ele é legal, esperto, pegador e curte a vida pra caramba. Sim, essa cena apocalíptica pode ser verdade, e é tudo culpa do Google.
Ariel Schneller, 24 anos, um jogador professional de pôquer, veiculou um comercial na TV para promover o seu próprio site: Foxwoodsfiend.com. Ele fez isso através de uma ferramenta experimental do Google para compra de espaço publicitário televisivo.
Schneller pagou apenas 500 dólares para atingir 330 mil assinantes da Dish Network, em canais como Oxygen, ESPN2 e WPT, ou seja, US$ 1.50 para cada mil espectadores.(...)
Merigo, um dos reis do Twitter, no seu blog.
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Julio Daio Borges
18/12/2008 às 13h56
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Uma impressão sobre Capitu
Machado de Assis sumiu na Capitu de Luiz Fernando Carvalho. Pelo menos o Machado que mais me marcou. Lembro dele fácil, engraçado, de uma profundidade invisível. Mas Capitu tem um clima um pouco obscuro, pesado; e é intelectual demais. Também não sei se esse clima teatral combina com a naturalidade do texto de Machado, que é encantadora e não aparece em lugar nenhum na minissérie.
Essa naturalidade de Machado talvez seja a sua característica mais marcante e acho que aí está a sua maior graça. Machado tem um ritmo rápido, preciso, despretensioso, inclusive em seus momentos mais "profundos". Minha impressão é que a minissérie, ao contrário, está o tempo inteiro trabalhando para parecer inteligente, profunda. Machado ― cujo texto é acessível a qualquer colegial ― está quase impenetrável em Capitu.
Acho que tudo que é de fato inteligente ― como Capitu é ― corre o risco de parecer inteligente ― e de ficar pedante e perder a naturalidade. Em Machado, repito, a profundidade ― a observação psicológica mais delicada ― é transparente; ela borbulha pelo texto como se aquelas sacadas escapassem sozinhas. Em Capitu, o esforço para "respeitar a inteligência do telespectador" é óbvio ― e essa obviedade estraga tudo.
Não tudo, na verdade: porque Capitu é esteticamente deslumbrante. Gostei muito também da abertura, daquelas cartolas circulando por trens pichados no Rio hoje. E os atores também estão ótimos. A trilha sonora, agora, está um espetáculo à parte. Disse que a naturalidade de Machado não está em lugar nenhum na minissérie. Não é verdade: a forma como a música aparece em Capitu é maravilhosa. (Também fui atrás de Beirut etc.)
Li vários artigos sobre a minissérie e os elogios parecem unânimes. Nossa televisão é tão carente que os críticos se sentem obrigados a elogiar incondicionalmente qualquer suspiro de inteligência e beleza. Esperava de Daniel Piza, por exemplo, que ― apesar de ter contribuído como consultor ― fosse mais ponderado na sua avaliação, ou, pelo menos, que apontasse as restrições que deve ter encontrado em Capitu, como costuma fazer mesmo com filmes e livros de que gosta muito.
Mas as opiniões mais sensatas encontrei fora dos jornais. Um amigo, por exemplo, um cara que deve ligar a televisão duas vezes por ano, me disse que estava esperando Capitu como uma final de Copa do Mundo, e se decepcionou: achou difícil, pretensioso. Conversei com outras pessoas que acharam a mesma coisa.
Eu mesmo estou tomando cuidado para não escrever que a minissérie é ruim; não é. Vou continuar assistindo os próximos capítulos: achei muito boa, e é evidente que o pessoal se esforçou para isso. Só acho que talvez ela fosse um pouco melhor se esse esforço fosse mais discreto.
Eduardo Carvalho, no seu blog (que voltou a ser atualizado diariamente), na melhor opinião que li sobre Capitu até agora.
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Julio Daio Borges
18/12/2008 às 13h33
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Cartola e O Mundo é um Moinho
Cartola e seu pai, depois do fechamento do Zicartola, uma indicação do Ruy Neto, no blog da Cultura, que linca pra nós.
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Julio Daio Borges
18/12/2008 à 00h14
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Deficiente capilar
Nesses dias de chuva, chuva, chuva, eu tive que pegar um ônibus. Normalmente não ando de ônibus. As minhas fadas madrinhas, como na história da Bela Adormecida, me deram esse dom, ainda no berço: "terás medo das filas, das aglomerações, não usarás guarda-chuvas e não andarás de ônibus". Então eu não ando. Nem uso guarda-chuva. Mas ocasionalmente tenho que pegar um ônibus. Mesmo debaixo de chuva.
Como eu disse, chovia pacas. No ponto de ônibus tinha uma marquise, sei lá, com uns três metros quadrados de cobertura, abrigando umas trinta pessoas. Espremidas umas contra as outras, segurando suas sombrinhas e esperando o ônibus. Chamo a atenção para o fato de que a maioria delas segurava um guarda-chuva ou uma sombrinha; tudo molhado e molhando os vizinhos, todos espremendo-se uns contra os outros; uma pequena multidão de mau humor.
Pensei em falar para uma dona gorda, com meio corpo pra fora da cobertura da marquise, que seria bem melhor se ela esperasse o ônibus na calçada, devidamente protegida pela própria sombrinha, dando lugar a quem não tinha proteção nenhuma contra o aguaceiro. O olhar furibundo da dona gorda gelou minha careca, já fria pela chuva que caía. Rimas inúteis, pensamentos inúteis.
A calçada tinha uma rampa de acesso, especial para deficientes físicos. Alguns ônibus também têm uma rampa móvel para o mesmo fim. Debaixo da chuva percebi, com mais intensidade, que eu sou um deficiente capilar. Pensei num projeto de lei que estabeleça marquises pela cidade, para uso exclusivo de deficientes capilares. Para os dias de chuva e de sol. Imagino até o logotipo, a ser gravado em cada uma delas: um ovo dentro de um círculo vermelho. Assim como a gente não estaciona o carro sobre o desenho de uma cadeira de rodas, nenhum neandertal poderá ficar sob a marquise com o desenho do ovo.
Ficaremos nós ali, nos dias de chuva, esperando nossos ônibus. Ou sob o sol causticante, desfrutando a sombra protetora. Nossas marquises abrigarão poucas pessoas, em agradável conversação, porque não somos maioria e sorrimos com certa facilidade. O golpe profundo que sofremos contra nossa vaidade e amor-próprio nos tornou mais gentis.
As bandas de heavy metal passarão com suas guitarras sobre a cabeça, protegendo as cabeleiras; os emos passarão, as gotas de chuva pingando das franjas e se misturando às lágrimas que descem pelo rosto; as donas gordas e cabeludas passarão ao largo, com suas sombrinhas, ou ficarão nas imediações, ainda lançando seus olhares furibundos. Mas estaremos amparados pela lei.
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Guga Schultze
17/12/2008 às 13h18
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Ano Novo
Nenhum segundo a mais
espero
para explodir
os dias que estão em mim.
Adriana, que vocês conhecem daqui, no seu blog.
[2 Comentário(s)]
Postado por
Julio Daio Borges
17/12/2008 à 00h27
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