Qua, 21hs. ― Ainda estou "pilhado" terminada a mesa que mediei com Juliano Spyer, Rogério Bonfim (da VirtualNet) e Soninha Francine. A última, que assumiu a subprefeitura da Lapa ontem, chegou atrasada, mas não prejudicou, em nada, o andamento dos trabalhos. Nossa mesa era sobre "Mídias Sociais nas Eleições", dentro do espaço Campus Blog, na Campus Party 2009. Continuo aqui ― no meio da balbúrdia ― e posso escrever ainda um relatório porque serviram Red Bull na mesa, e vai ser difícil dormir depois de "ganhar aaasas"... "E este 'merchan' aqui, hein?", foi o comentário da mesma Soninha sobre a bebida, imediatamente antes de abrir sua lata... O Interney me cumprimentou por ter mediado a mesa mais longa do Campus Blog. Começou, pontualmente, às 17h50; era para terminar, oficialmente, por volta das 19; mas, com o delay da Soninha, excepcionalmente fechamos às 20 horas.
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Em seguida, o Inagaki me chamou para gravar alguma coisa (que eu não sei o que é) no estande da TV Cultura. Cheguei lá en retard ― corri o máximo que pude, Ina ― e ele estava com o Merigo, o Ian Black, e o Manoel do BlogBlogs, entre outros, gravando, possivelmente, um depoimento para o já famoso documentário sobre blogs... Como eles estavam se apresentando, um a um, concluí que iria demorar e voltei pra cá. Estou próximo à equipe da Pólvora Comunicação, agência do Ina e do Edney. Concluo que a Campus Party tem, pelo menos, três turnos: manhã, tarde e noite. A galera na minha frente, do meu lado e atrás não parece que está cronologicamente no fim do dia, como eu, mas apenas no começo da noite... Ontem, o Wagner Cocadaboa Martins me contou que grava, com o saudoso Chico Barney (comprador de cerveja lá na Casa Mário de Andrade), personagens esdrúxulos da Campus Party, a partir da uma da manhã. "Só à uma da manhã, porque a idéia, justamente, é registrar quem ainda circula nesse horário". Parece que gravaram um índio; sim, os há na Campus Party. Agora há pouco estavam numa rodinha, perto da Agência Click, dançando ou cantando, o que me lembrou uma roda de capoeira, mas tudo bem.
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O Gilberto Gil também estava por lá. Antes dos índios, diga-se de passagem. Assistia a uma roda de um pessoal que parecia dos pontos-de-cultura, que criou em sua gestão no MinC. Confesso que me impressionou o fato de ele estar aqui, na Campus Party, porque já não é mais ministro... Seu interesse por internet é, realmente, genuíno? Depois me ocorreu, é claro, que seu último disco tem alguma relação com a internet na temática ― não parei para ouvir, contudo ―, mas aí é outra história... Foi a maior "celebridade" que avistei por estas plagas, fora a Soninha, talvez. Mas o pessoal de internet ― comme il fault ― parece não ligar muito. "Ah, o Gilberto Gil", alguém observou, quase num muxoxo nerd. Mesmo a Soninha, que eu achei que ia atrair uma pequena multidão, atraiu, efetivamente, quem gostaria de ouvi-la ― e não eram muitas pessoas. A mesa dos podcasts, com os Jovens Nerds, e a mesa sobre publicidade em blogs, hoje à tarde, estavam mais cheias. Acho saudável esse "desinteresse" pelas celebridades. É ― dizem ― a tal da "horizontalidade" da WWW.
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À mesa, pois. (Está tudo embaralhado, ainda, na minha cabeça, perdoem a(s) delonga(s)...) Aproveitamos bastante o Spyer e o Bonfim, antes da Soninha desembarcar, porque era, praticamente, óbvio que ela monopolizaria as atenções (como, de fato, monopolizou). Tivemos quase uma hora para falar da experiência do Spyer com mídias sociais na campanha do Kassab e da experiência do Bonfim criando ferramentas para o todo-poderoso Google. O Spyer me pareceu mais politizado e começou descendo o sarrafo na lei eleitoral. Já o Bonfim é um grande realizador em ambientes como o Orkut e focalizou suas ações nas comunidades. Eu queria que o Spyer falasse mais dos projetos Leia Livro e Radar Cultura, que, igualmente, coordenou, mas ele preferiu focar nas eleições propriamente ditas (e com razão). E eu queria que o Bonfim desse uma dica de como pegou o cliente mais desejado do planeta, mas ele preferiu abordar as complicações da legislação (que obrigaram sua empresa a ir até o congresso, por exemplo). Gostei de conhecê-los pessoalmente. O Spyer tem uma larguíssima experiência ― e, inclusive, conhece bastante o Digestivo ― e o Bonfim é de se admirar como empreendedor.
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A Soninha, porém, desestabilizou tudo. Eu senti que ela estava chegando porque começaram a aparecer luzes na minha cara e câmeras de televisão. Logo, ela estava do lado da mesa, com seu traje de motoboy (é verdade, ela veio mesmo de moto) e eu a convidei a participar conosco. Não fui de todo cavalheiro e antes que ela pudesse se acomodar ― sem o casacão (ia dizer "jaco") ― tasquei-lhe uma pergunta. (A novidade aqui, hoje, são os megafones, para ajudar a poluir o som...) A Soninha é muito desenvolta e, apesar de respeitar a minha mediação (obrigado, Soninha), poderia, facilmente, ter engatado uma primeira ― como o Noblat, ontem ― e ninguém a interromperia, até amanhã. Fora o que estava no menu, procurei trazer a política, em si, para a discussão, perguntando a ela sobre as "esperanças" para o Obama e as "expectativas" para as eleições brasileiras em 2010.
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Sobre o Obama, Soninha disse que ele tem tudo para nos decepcionar, porque é quase impossível, no caso dele, não decepcionar seus "eleitores" (no mundo tudo). Não por que seja culpa dele, Obama, mas porque sua posição ― de Presidente dos United States ―, em algum momento, obriga-o a dizer "não". Soninha falou ainda do slogan "Yes We Can", que foi uma grande sacada, já que poderia, muito bem, ser "Yes He Can" ("Ele" em vez de "Nós"). Eu lembrei que o tal do "We" evoca, justamente, a constituição americana ― "We the People..." ― mas não obtive eco na minha observação. Sobre as eleições do ano que vem, Soninha não se mostrou nada melindrada e apostou na confirmação do Serra, na oposição, e de algum outro candidato ― que pode não ser a Dilma ―, pelo lado do governo. Perguntei sobre o Aécio, mas Soninha não crê que ele seja um "nome", na disputa majoritária, talvez no senado... Enfim, a mesa tocou outros pontos, mas, para não ficar só nisso, é bem provável que eu disponibilize o áudio. E talvez entreviste a Soninha, numa próxima oportunidade. Ela se mostrou animada com a possibilidade. Legal.
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E eu não poderia deixar de abordar a relação "internet e obesidade" (ou sedentarismo), com a qual fiz piada no Twitter ontem, mas que me parece séria pacas. Computador engorda, mas ninguém fala. Computador em excesso leva à obesidade mórbida. Sem brincadeira, se alguma academia de ginástica organizasse uma ação na Campus Party, seria muito eficiente, porque todos estão precisando. Mesmo. Quase todo mundo me pareceu mais magro na foto que disponibiliza na WWW. E eu não me excluo. Mais gordo e mais velho. (E não só eu!) Computador envelhece, rapazes. (Sempre penso no Steve Jobs. Tudo bem que ele sofreu, ou ainda sofre, um câncer...) Enfim, "campuseiros" e geeks em geral, cuidem-se. Ninguém quer vê-los com problemas de colesterol, de pressão ou com diabetes nos próximos anos. (Isto não é uma maldição; é um alerta.)
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Queria falar um pouco, também, da mesa "Uso de mídias sociais na publicidade". Foi uma das melhores. Os publicitários da iThink, da LiveAD, da Bullet e da Espalhe soltaram várias pérolas. A seguir, algumas. "O Estadão tem uma página sobre marketing por semana; se eu quiser ler sobre o assunto, não vou esperar todo esse tempo, vou acessar o blog do Merigo, que escreve todo dia". "Não existem mais mídias principais hoje, todas as mídias são coadjuvantes". "O grande anunciante se ilude [dando um tiro de canhão, por exemplo, na novela das oito da Globo] e achando que todo mundo vai escutar sua mensagem...". "Seu consumidor [o alvo da sua campanha] aparentemente não lê blog, não tá no Orkut? Não interessa, meu amigo: ele vai pelo Google. E ninguém escapa da indexação do Google". "Mesmo quando o consumidor fala mal [em mídias sociais], o consumidor propicia o diálogo sobre a marca". "[Se você gasta 90% da sua verba no mainstream] Se você tem de 'comprar' a pessoa para ela 'falar' de você, então você é um péssimo anunciante e seu produto deve ser uma porcaria".
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Qui, 11hs. ― Fui interrompido, no meio da minha narrativa (acima), ontem à noite, para finalmente participar da tal gravação. Era um depoimento, para o Ian Black (e não para o Inagaki), sobre uma pesquisa que ele está fazendo, a respeito das ligações entre literatura e internet. Para vocês saberem como esses campuseiros são malucos, ele se dispôs a me entrevistar quase 11 horas da noite de ontem. E fomos até a meia-noite na conversa. A Campus Party me lembrou um cassino, no bom sentido da palavra: nunca pára. É como a própria internet, aliás. Não sei se vou incluir o conteúdo da gravação aqui, nem sei se posso, mas tem um ponto, "em off", que posso abordar. Lembramos de como a blogosfera do Brasil foi "literária" há uns 5 anos e como isso se evaporou... Até a Geração 90 blogava!
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Assim como os jornalistas quiseram tomar conta da Web no início ― nos anos em torno da bolha ― os escritores brasileiros quiseram se apropriar da blogosfera tupiniquim na aurora dos anos 2000. A literatura era um issue. "Onde foram parar esses autores?", eu e o Ian nos perguntávamos, de repente, ontem, após a gravação. Evoquei, inclusive, um post do Inagaki, citado pela Daniela Castilho, em que ele dizia que não seria (nem queria ser mais) o próximo Guimarães Rosa etc. e tal. Como se desabafasse da pressão por ter de fazer literatura, que imperava na blogosfera de então... O mesmo Inagaki e o Edney, indiretamente, criaram um "monstro", concatenando a blogosfera do Brasil, como ninguém mais. Porém, a literatura passou, ou as ambições literárias e, com elas, os jovens autores...
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Antes do Ian, conversei com o mesmíssimo Inagaki, mas não sobre isso (porque la disparission da literatura não havia me ocorrido ainda ― estou um mala, com esses galicismos, não estou?). Eu e o Ina fizemos uma avaliação ― em meia hora? ― destes anos todos, de "militância", por assim dizer, na internet brasileira. Como foi duro, como foi custoso, como foi desafiador... Suddenly, ontem à noite, no meio da Campus Party, concluíamos que a ficha tinha finalmente caído. Que aquelas pessoas, em volta de nós, estavam vivendo o que passamos anos pregando. Era o nosso dream-come-true... Devíamos estar felizes? Talvez sim, mas estávamos, quase à meia-noite, trabalhando. A "troca da guarda" trouxe um monte de trabalho pra nós. Que bom! Que legal poder ― no meio da balbúrdia ― concluir isso com o grande Alexandre Inagaki...
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Hoje ― quinta-feira ― estou aqui, no escritório. (Trabalhando!) E eu sei que é brega, mas eu ia dizer que o meu coração ficou lá na Campus Party. Porque ficou, de verdade. Como eu disse, no meu primeiro relato, já fui a muitas feiras ― de músicos, bienais do livro, até festas literárias...! Gozei os nerds no primeiro dia, mas percebi, como outras vezes (na verdade), que a minha turma é, mais do que todas, a da internet e, neste instante, está lá na Campus Party... A Web brasileira, com todos os seus problemas, com tudo o que há para melhorar ainda, com todas as críticas que eu mesmo faço, é o nosso legado agora. É o que nós mesmos construímos. É a principal "obra" da nossa geração. É o que vamos deixar para as próximas... Amigos, eu me emocionei de ver. (E, agora, vocês podem chorar...) A gente se vê na Campus Party.
Hoje (quarta-feira, 21/1), às 17h50, assista à mesa "Mídias Sociais nas Eleições", direto do Campus Blog, da Campus Party 2009, com a participação de Soninha Francine, Juliano Spyer e Rogério Bonfim, e com a mediação de Julio Daio Borges. (Toda a programação, que também pode ser assistida aqui, está disponível neste link.)
Escrevo do Campus Blog, enquanto o Noblat fala e é "mediado" pelo Jorge Rocha. Coloco entre aspas porque o Noblat engata uma primeira e ninguém consegue segurá-lo. Anotei que a primeira pergunta do Jorge deveria ser: "Noblat, o jornalismo morreu definitivamente?". Encontrei, antes, o Wagner "Mr Manson" Martins e ele lembrou que o Noblat foi "pato" do Cocadaboa. Não é que o Noblat igualmente lembrou (na sua explanação)? E prestou sua homenagem, pessoalmente, ao Manson. "Você continua fazendo aquilo?" (com sotaque nordestino) O Noblat, contudo, é muito simpático e conquistou a platéia. É daqueles jornalistas que não existem mais; com uma longa carreira em redações (que não existem mais ― também). Gostei da idéia dele de uma "grade de programação" pro blog. E ri da sua observação sobre a Campus Party: "Redação de jornal é um pouco menos barulhenta...".
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A Campus Party é atordoante. Vários palcos com palestrantes ao mesmo tempo. Um palco maior, com volume mais alto, no meio. Fora estandes (é assim que se escreve?), com música própria. Tecno. Barulhos de jogos. Gente falando. Toques criativos de celular... Foi difícil usar o Twitter ao longo do dia. Talvez eu use menos amanhã. Até porque vou mediar uma mesa no Campus Blog às seis da tarde. Mas eu ia falar da Campus Party... Vim com a referência da Flip, por causa dos convidados internacionais, mas fui remetido, inúmeras vezes, às minhas experiências em "Feiras da Música" (ainda existem?). Aqueles espaços imensos, muita coisa simultaneamente, gente fantasiada, conhecidos da área etc. Íamos para ver músicos e assistir a shows; procurar novidades em equipamentos, também. Aqui, na Campus Party, o público vem para ver os blogueiros ― embora muitos deles já sejam ―, "webcelebridades", conhecer novidades (ferramentas?) e interagir socialmente. Uma forma de estar na internet e na "vida real" ao mesmo tempo.
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Tirei sarro dos nerdsno Twitter logo de manhã. Ocorre que o público se diversificou e aquela se tornou uma falsa primeira impressão. Se, no início, os geeks ― vamos usar esta palavra mais simpática ― chegaram primeiro, com seus mochilões e muxoxos, o mundo corporativo desembarcou logo em seguida, com suas camisas e hostess (tem plural?), para a noite fechar com uma turma que lembra, neste momento, os frequentadores de eventos de música eletrônica. Como disse Tim Berners Lee (falta um hífen em algum lugar), "se você acha a Web estranha, é porque a humanidade é estranha; e se você me pede uma opinião sobre a Web, você me pede uma opinião sobre a humanidade". No meio da tarde, por exemplo, ia gozar os velhos hippies que, igualmente, dão o ar da graça, com suas barbas, seus notebooks adesivados com slogans e suas corcovas, quando reconheço o admirável Hugh MacLeod, do Gaping Void. Barbudo ruivo, com oclinhos fundos, e um computador vermelho. Como eu disse, cuidado com as (falsas) primeiras impressões...
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O Tim me lembrou meus professores da Poli. Se teve um estalo na década de 90 e criou, simplesmente, a World Wide Web, atualmente se tornou um embaixador da coisa toda. Portanto se burocratizou, fica muito preocupado em discutir regras, suas propostas soam abstratas demais (como a da Web Semântica) e muita gente não se interessa. Tim se recusa a discutir o presente, as realizações concretas (as marcas e as empresas de internet, por exemplo), está ocupado com os conceitos; é, como eu disse no Twitter, um acadêmico. Brilhante mas está desconectado da "realidade" da WWW que concebeu há quase 20 anos. Já o Hugh é um sujeito que aconteceu, mundialmente, por conta dos desenhos que distribui pela internet. É alguém que teve sua vida transformada pela Rede. Logo, embora seja um idealista, acredita que existe uma saída para quem está preso agora num escritório (ele era publicitário) e guarda um talento represado qualquer. É mais a minha história da internet, também. Não uma questão de "standards", mas de mudar, efetivamente, a vida das pessoas.
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No Campus Blog, gostei muito da mesa sobre podcasts mediada pelo Cris Dias. Foi um pouco como a mesa de "Internet & Humor", que fizemos lá na Mário de Andrade. Animadíssima, com muitas risadas, convidados espertos e uma platéia viva. Combinação rara de acontecer e difícil de repetir. Impossível de planejar. O Cris levou a discussão adiante com muita habilidade, marcando presença mas sem aparecer demais, fazendo perguntas mas abrindo também para a platéia. O Maestro Billy se revelou uma simpatia, com excelente voz de locutor. Experimentadíssimo (niguém deve ter gravado quase mil podcasts, no Brasil, como ele). Os Jovens Nerds são uma piada em pessoa. O locutor principal parecia um político, cumprimentava todo mundo, era adorado e poderia, tranquilamente, se candidatar a vereador. O outro, um Armínio Fraga mais gordo, complementava, rememorando detalhes da produção e revelando os podres. O pessoal do IDG, igualmente, brilhou. A moça, que eu escuto na CBN, me lembrou a jornalista de Boleiros 2; e o rapaz tinha um jeito mais cerebral, falando com muita propriedade. Enfim, foi uma mesa de alto nível, a de podcasts.
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Mal acompanhei, como disse de manhã, a mesa da Bia Kunze, sobre mobilidade. Uma pena. Não encontrei posição e o som estava particularmente difícil. Ocorre que o Campus Blog é um palco entre vários, logo há bastante concorrência sonora. Depois, no mesmo espaço, um pesquisador apresentou estatísticas interessantes sobre blogs, mas, do mesmo jeito, o som não me ajudou. Espero que disponibilize sua apresentação em algum lugar da Web, porque os dados sobre a blogosfera do Brasil eram reveladores. Na sequência, encontrei, provavelmente, o pessoal da grande imprensa falando sobre estratégias com mídias sociais. Foi interessante a declaração de um jornalista oriundo do papel: "Em jornal, era mais fácil, tinha a primeira página. O mais importante vinha no alto. Depois, à direita. Por último, embaixo e à esquerda". Ainda se disse impressionado com o Orkut: "40 milhões de pessoas! Só a Globo tem isso; e as pessoas são praticamente obrigadas a ver a Globo... Às vezes eu tenho vontade de matar aquele turco que inventou. Fico olhando pra ver se entendo a atração que exerce o negócio".
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E a Bia Kunze tem razão: uma das melhores coisas da Campus Party é encontrar as pessoas. Está todo mudo sempre tão ocupado com seus afazeres on-line, no esquema 24/7, que, se não se vê no Twitter, praticamente não se vê em nenhum outro lugar (físico). A Campus Party é a oportunidade de poder trabalhar com todos esses internautas que lemos, comentamos, lincamos. No mesmo espaço físico. O Inagaki e o Edney estavam muito bem-humorados para quem trabalhou organizando o Campus Blog. O Cris Dias sempre na mesma serenidade. O Pedro Markun sempre ocupadíssimo. A Brambilla tão amável. A Ceila sorrindo e vivendo a Web com intensidade. O Jorge afiado para o Noblat (que o enrolou). E até o Manson, brother, desde quando não me passava seu nome verdadeiro, com medo de que eu fosse delatar o Cocadaboa... Essas pessoas, além de escrever a história da internet brasileira, escreveram, inconscientemente, a história umas das outras.
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Tentei assistir a outros eventos em outros palcos, mas nenhum me empolgou demais. Além do palco central, que teve o Tim e o Hugh... Muita coisa para desenvolvedores. Mas coisa muito básica, tipo a apresentação de ferramentas, técnicas ou softwares. Imaginava encontrar novidades que poderia aplicar no Digestivo, mas a própria internet, através de seus sites, continua sendo a grande divulgadora. Ou seja, você encontra alguma coisa que te interessa, num site que você admira, depois tenta implementar no seu. Não vai partir, diretamente, de uma linguagem ou de um aplicativo. Entendo as preocupações dos patrocinadores, mas não é assim que funciona. Pelo menos, não é assim que funciona comigo. Agora me ocorreu que, numa Bienal do Livro, os estandes das editoras funcionam melhor nesse ponto. Existe uma ligação (minha, talvez) com as editoras de livros que é diferente de uma ligação com as fabricantes de softwares.
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Fiquei pensando, ainda, na reclamação do Dahmer contra a Telefônica, na Folha, mas achei que as empresas atrapalharam pouco, digo, perto do que poderiam ter atrapalhado. Talvez elas saibam que os usuários de internet não suportam marketing goela abaixo, como pessoal da televisão que está acostumado, e precisam ter cuidado, para não criar antipatia, nem revolta. As empresas são aquelas de sempre, de telecomunicações, grandes portais, corporações "de fora" e algumas nacionais que cresceram à margem. Todo mundo sentiu falta do Google. E eu, particularmente, notei a ausência da grande mídia, estabelecida, com exceção da Abril. Um único estande vendendo assinaturas de publicações impressas; revistas de tecnologia, no caso. Algo completamente diferente de qualquer "feira" que já frequentei. Nenhum vendedor de jornal, nenhum vendedor de semanal de grande circulação. A gente ouve e repassa que o papel vai sumir, mas, quando ele some mesmo, é meio assustador...
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O Inagaki acertou, a guerra entre jornalistas e blogueiros ficou praticamente arquivada no ano passado. É verdade que, como vi menos publicações impressas (menos impressos, em geral), vi menos jornalistas também. Não dá para comparar, por exemplo, com eventos como a Flip, onde a massa de jornalistas é certamete maior do que a de escritores convidados. É como se a Campus Party prescindisse da velha imprensa, de certa forma. E não por esnobismo, mas porque tem tanta divulgação espontânea... Não deve haver nada parecido em termos de evento no Brasil. (E no mundo.) Montes de tweets por segundo; os Twitteiros, inclusive, estão reclamando... Não sei se é o ideal em termos de cobertura (tanto que estou agora escrevendo a minha), mas não deixa de ser espantoso. A "guerra" entre blogueiros e jornalistas ficou para trás, sim, mas porque os blogueiros venceram...
Leitor: acompanhe a minha cobertura, através do Twitter, direto da Campus Party. (Mais tarde, com o acumulo de informações, solto um Post inédito, aqui no Blog...)
"As travessuras da menina má é o meu livro preferido! É o máááximo! O cara é todo bonzinho e é apaixonado por uma mulher que faz ele de gato e sapato até o final da vida. É sempre assim! É do Mario Llosa Vargas (sic), né?"
Edu Carvalho, transcrevendo um diálogo (porque, gozado, eu também ouvi falar desse livro na praia, na "virada"...)
1. Você pode (quase) tudo. Quando faltar inspiração, escreva uma lista de dez motivos para fazer alguma coisa. No final, acabará se divertindo.
2. É bom ter audiência, mesmo sem fazer idéia de quem são os leitores. Você apenas precisa aprender a lidar com essa relação meio íntima com leitores tão anônimos.
3. Com o tempo você percebe que sobrevive sem comentários. Segundo as estatísticas, apenas 1% dos leitores deixa um. Então pare de implorar pelos comentários dos amigos.
4. Blogar ajuda a organizar as idéias, exercitar a escrita e você ainda corre o risco de escrever algo realmente bom.
5. Amigos distantes, ou distanciados, se sentem próximos ao ler o seu blog. Você não precisa de orkut para se relacionar, e só se expõe se, e o quanto, quiser.
6. Você está deixando um registro histórico, da sua vida ou da sua época, embora isso pareça uma grande pretensão agora.
7. O fato de blog não dar dinheiro não é motivo para parar. Pense bem: você realmente não começou porque havia essa possibilidade.
8. Provavelmente você terá mais leitores do que se publicar um livro.
9. Você pode terminar uma lista de dez com nove itens e nenhum editor vai chamar a sua atenção.