"Mais um livro está saindo do forno. E, dessa vez, um livro 100% Web, integralmente disponibilizado em PDF e também por um site para leitores debaterem e conversarem entre si (e com os autores) sobre assuntos de interesse comum. O livro é uma coletânea e se chama Para entender a internet: Noções, práticas e desafios da comunicação em rede (acima, a capa). Participam 38 autores, todos eles protagonistas brasileiros em seus campos de atuação."(...)
[...]Aqui nos EUA, metade dos jornais vão morrer nos próximos dez anos. Os grandes, tipo New York Times, sobreviverão. Possivelmente sairão menores do que entraram. A curto e médio prazo, a situação no Brasil é diferente. Os governos FH e Lula trouxeram muita gente para a classe média e o número de alfabetizados aumenta. Há mais leitores de jornal. Mas, a longo prazo, isso só quer dizer uma coisa: os grandes grupos de mídia brasileiros têm mais tempo do que os norte-americanos para enfrentar as mudanças que já estão acontecendo. Em sua maioria, estão postergando tais mudanças por dois motivos. O primeiro é que não sabem exatamente o que têm de fazer. O segundo é porque nós, jornalistas, somos bichos extremamente conservadores. Resistimos a mudanças.[...]
[...]aqui nos EUA, os leitores com menos de 40 anos não lêem jornais.[...] Lêem os sites de jornais, é verdade. E é por isso que uma das sugestões da moda é que se os jornais cobrarem alguns centavos por cada artigo on-line tudo se resolve. [...]em todo o Vale do Silício, há uma certeza: jornais não conseguirão cobrar por conteúdo. Por um motivo simples: notícia de graça existe às pencas na Web. O que acontece com quem cobra por conteúdo é que termina sem ser lido. O New York Times cobrava pela leitura de seus colunistas, e o dinheiro lhe rendia uma quantia bastante razoável. Mudou de idéia e sacrificou a fonte de renda porque suas colunas não eram mais tema de debate. Deixar de repercutir é justamente o que um jornal não pode fazer.[...]
[...]Nosso modelo de imprensa não é uma tradição de séculos. Ele data, isto sim, de entre os anos 1920 e 40, nos EUA. Alguns princípios são sacrossantos para nós, jornalistas. Um deles é a separação entre Igreja e Estado: quem mexe com publicidade, nas grandes empresas, não dá pitaco na redação.[...] Outro princípio que corre em nosso sangue é o da isenção e objetividade.[...] O modelo caducou.[...] Vocês, leitores, não acreditam que sejamos objetivos.[...] Não é só no Brasil, é em todo o mundo: leitores não acreditam na objetividade jornalística. E uma campanha publicitária não resolverá o problema.[...] Nos próximos anos, queiramos nós jornalistas ou não, o jornalismo será refundado, recriado, reinventado. Se continuarmos como estamos, na defensiva, fingindo que o problema é apenas um modelo de negócios, o novo jornalismo surgirá independentemente de nós.[...]
[...]pusemos uma rotativa nas mãos de quase todo mundo. Agora, acabou.[...] A 'rotativa' é a internet. O modelo de negócios da imprensa era baseado na escassez de distribuição. Quem tinha o poder de imprimir informação e botá-la nas bancas de todo a cidade, estado ou país podia ganhar muito dinheiro. Acabou. Às vezes, vejo jornalistas discutindo a falta de qualidade de informação on-line como se o produto que produzimos todos os dias fosse a melhor coisa do mundo. Não é.[...] Não é repetindo mil vezes que produzimos algo melhor do que o blog da esquina que vamos convencer alguém disso. Não é repetindo duas mil vezes que alguém tem que pagar pela produção destas notícias que o público, comovido, dará um passo à frente e pagará. A informação que temos é igual à informação que existe em vários outros lugares, de graça.[...]
[...]O jornalista profissional, por ser pago para se dedicar[...], acumula fontes, sabe a quem perguntar, tem acesso a figuras no poder, após anos de experiência sabe o que fazer, não é ingênuo. Blogueiros que trabalham somente à noite poderão fazer o mesmo? Cheguei aos Estados Unidos convicto de que não. Hoje, tenho minhas dúvidas.[...] Não porque o blogueiro solitário fará o que um repórter faz. Mas porque um grande grupo de blogueiros e seus leitores, dedicados a descobrir informação sobre algum assunto, podem ser capazes de mais do que repórteres.[...] Por anos, falei eu mesmo muito mal da Wikipédia. Mas se algo de muito importante está acontecendo em alguma parte do mundo, a página da Wikipédia sobre aquele assunto é a melhor cobertura que há. Lá, gente de toda parte está reunindo o melhor que sai na imprensa por toda parte. Um trabalho, diga-se, incrivelmente responsável, com o cuidado de citação de fontes para cada novo dado.[...]
[...]para mim, como para um enorme número de jornalistas, este processo gera uma ansiedade profunda. Este não é um momento tranquilo. A indústria que está ameaçada, afinal, é aquela que nos paga salários. E, em alguns casos, é um trabalho pelo qual temos uma devoção quase religiosa. Temos uma cultura profundamente arraigada. Este processo de transformação não afeta apenas o jornalismo, evidentemente: a indústria musical e de cinema estão aí para demonstrá-lo.[...] Jornalista adora culpar o patrão. Mas não é só o patrão que é pouco transparente. Nós, enquanto classe, também somos.[...] Se a imprensa é o quarto poder, é o mais opaco dentre eles.[...] É um mundo muito diferente este que está à nossa frente. E as mudanças estão apenas começando.[...]
"Just in case no-one told you, printed newspapers are dead. We know it, they know it; we're just pretending they're doing fine to be polite." (@jearle)
"...the newspaper business has been on a slow, unstoppable train ride to hell for many decades and that the Web has only accelerated its descent." (Jack Schafer, Slate)
"The MSM [Mainstream Media] is officially dead, and it's time to bury it, although no honor guard or a 21 gun salute will be necessary at this funeral." (Python)
"Are newspapers dead, dead, dead? You bet." (Sam Churchill, dailywireless.org)
"Journalism is dead. Long live the blogosphere." (Rip Ragged)
"Newspapers are 'dying' of natural causes. Putting them on life-support just draws out the inevitable. Pull the plug and move on." (@DaveTitle)
"If newspapers are dying, how come mine's got so many f&*%ing pages?" (@margaretriver)
"Good journalism isn't dead, it's just terribly ill." (Nick Davies)
"Journalism is dead and newspapers killed it." (@Jessebgill)
"Traditional journalism is a dead man walking." (Brian Solis)
Vamos direto ao ponto, deixando um pouco de lado a comoção causada pela despedida do maestro John Neschling: como foi o primeiro concerto da temporada 2009 da Osesp com o novo regente principal, o francês Yan Pascal Tortelier?
Noite de sexta-feira, dia 6 de março, falta pouco mais de meia hora para o início do concerto. No saguão da Sala São Paulo um bufê com crepes, deliciosas fogazzas de carne, vapor de sopas, café, champagne, doces e um burburinho grã-fino. A mais bela violinista da Osesp, deslumbrante em saia de tule e blusa pretas, pede para colocar na conta uma tortinha de maçã.
Já dentro da sala, nesse espaço de sonho e técnica incrustado na Estação Júlio Prestes, sento na terceira fileira da plateia e aguardo a entrada do maestro. Quando vejo o senhor de olhos claros e cabeleira completamente branca me espanto ao comparar a sua imagem divulgada na imprensa, uma foto de muitos anos atrás, provavelmente. Ele parece tão bem hoje, não compreendo o porquê desta anacronia fotográfica.
E foi assim que começou a temporada 2009 da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo: com um suspiro profundíssimo. Tortelier está agora tão perto de mim, que ouço sua respiração, todos seus grunhidos orquestrais, presencio seu olhar ora doce, ora vivaz. Sua casaca comprida lembra a roupinha de gala do Mickey e, se fosse engraçado o sublime espetáculo de ser sugado pelo som retumbante de uma orquestra ao vivo e ao lado, imaginaria as costuras cedendo ao impacto dos movimentos de seus braços.
Aplaudido de pé logo no final das Variações Enigma, Opus 36, de Edward Elgar, Tortelier estava radiante. Os músicos batiam o pé no palco. Ele é, sem dúvida, um bom regente. Mas a orquestra, digamos assim, ajudou. Tocou não só com vontade, mas com boa vontade. Na Sinfonia n.º 2 em mi menor, Opus 27, de Rachmaninov, a Osesp deu tudo de si. A plateia bateu palmas de pé, mais uma vez efusivamente e, embora pedisse bis, o trabalho daquela noite se deu por encerrado.
"Nunca uso uma partitura quando rejo minha orquestra. Um domador de leões entra na jaula com um livro sobre como domar um leão?", já havia dito o maestro grego naturalizado americano Dimitri Mitropoulos. Pois Tortelier entrou assim, de mãos limpas, mas não se encontrou diante de um leão indomável, e sim de um gatinho brincalhão a rolar seu novelo de lã... magistralmente.
Sempre que um negócio vai à falência, há uma tristeza natural não apenas entre os funcionários, mas também na comunidade. Se é assim com a pizzaria do lado da sua casa, imagine com um jornal.
Pois o Rocky Mountain News, que um dia já ganhou o prêmio Pulitzer (provavelmente o mais prestigioso do jornalismo mundial), teve cenas trágicas na última quinta, quando a redação foi reunida e comunicada de que a edição da última sexta-feira seria a última da história do veículo.
Publicado desde 23 de abril de 1859, o periódico não suportou um prejuízo total de US$ 16 milhões no ano passado.
Na reunião com os funcionários, que teve narração ao vivo via Twitter, a pergunta que não quer calar: já que a edição impressa é economicamente inviável, por que não fazer um produto exclusivamente on-line?
A resposta, de um dos diretores da empresa, é devastadora. "Se achássemos isso possível, não estaríamos aqui hoje".