A escritora Hilda Hilst costumava aconselhar aos jovens autores que lhe telefonavam ou escreviam: "Escreva em inglês, ninguém sabe o que é o português". Em vista disso, o discurso de Isaac Bashevis Singer, Prêmio Nobel de Literatura de 1978, vem bem a calhar. Veja mais abaixo o que ele diz sobre escrever numa língua que quase ninguém mais fala (ou lê), em seu caso, o iídiche.
Depois, se quiser, leia o original em inglês e acompanhe o próprio Singer no vídeo mais abaixo. A tradução para o português é minha.
Isaac Bashevis Singer ― Estocolmo, 10 de Dezembro de 1978
"Vossas Majestades, Vossa Alteza Real, Senhoras e Senhores,
As pessoas me perguntam com frequência, 'Por que você escreve em uma língua moribunda?'. Quero explicá-lo em poucas palavras.
Primeiramente, gosto de escrever histórias de fantasmas e nada se encaixa melhor num fantasma do que uma língua morta. Quanto mais morta é a língua, mais vivo é o fantasma. Fantasmas amam o iídiche e, até onde eu saiba, todos o dominam.
Em segundo lugar, não apenas creio em fantasmas como também creio na ressurreição. Estou certo de que, quando o Messias regressar, milhões de cadáveres fluentes em iídiche se levantarão de seus túmulos e a primeira pergunta que farão será: 'Há algum novo livro em iídiche para ler?' Para eles, o iídiche não será uma língua morta.
Terceiro: por 2000 anos o hebraico foi considerado uma língua morta. Subitamente, ele se tornou estranhamente vivo. O que aconteceu ao hebraico pode também ocorrer ao iídiche um dia (embora eu não tenha a mínima ideia de como isso poderia se passar).
Há ainda uma quarta razão secundária para não renunciar ao iídiche e esta é: o iídiche pode ser uma língua moribunda mas é a única que eu conheço bem. O iídiche é minha língua materna e uma mãe nunca está realmente morta.
Senhoras e senhores: há quinhentas razões pelas quais eu comecei a escrever para crianças, mas para economizar tempo irei mencionar somente dez delas. Número 1) Crianças leem livros e não resenhas. Elas não dão a mínima para a crítica. Número 2) Crianças não leem para buscar sua identidade. Número 3) Elas não leem para se ver livres de culpa, para saciar sua sede de rebelião, ou para se desembaraçar da alienação. Número 4) Elas não veem utilidade na psicologia. Número 5) Elas detestam sociologia. Número 6) Elas não tentam entender Kafka ou o Finnegans Wake. Número 7) Elas ainda creem em Deus, na família, anjos, demônios, bruxas, gnomos, lógica, claridade, pontuação, e outras coisas obsoletas. Número 8) Elas amam estorias interessantes, não comentários, guias ou notas de rodapé. Número 9) Quando um livro é chato, elas bocejam descaradamente, sem qualquer vergonha ou medo da autoridade. Número 10) Elas não esperam que seu bem-amado escritor redima a humanidade. Jovens como são, elas sabem que isto não está sob o poder dele. Apenas adultos possuem tais ilusões infantis."
"Aos 101 anos, Oscar Niemeyer desponta como uma das promessas da nova arquitetura brasileira. 'É um alento contar com uma pessoa dessas para desenhar projetos inviáveis que são sucesso de crítica', apontou o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, que acaba de contratar o arquiteto para esboçar o Município da Música. A obra, baseada nos desenhos da Pampulha, será construída sobre as ruínas da antiga Cidade da Música, abandonada por Paes justamente por não ter sido projetada pelo arquiteto-revelação. A filosofia de Paes é endossada pelo governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, que acaba de fechar com Niemeyer um pacote de 152 novos projetos, dentre os quais a construção de um novo Distrito Federal (baseado nos desenhos da Pampulha). Procurado pela redação, Niemeyer agradeceu os elogios mas foi breve, pois está atarefado com o desenvolvimento de um novo projeto (baseado na Pampulha): 'Quero redesenhar o Maracanã para a Copa de 2014. Penso em me inspirar na Pampulha', disse."
É indiscutível como o triunfo do telefone, do avião, do automóvel. Há aliás toda uma correspondência viva e direta entre as artes de hoje e o nosso tempo tão diverso dos tempos idos.(...)