Dani Gurgel (@danigurgel) é fotógrafa de olhos espertos. E também musicista. Esses dois lados combinados fazem com que ela consiga registros precisos da atuação dos músicos. Como cantora, lançou no ano passado o disco Nosso, em parceria com diversos músicos e compositores. Está preparando seu trabalho seguinte, AGORA ― Dani Gurgel e novos compositores, a partir de financiamento dos fãs via ArtistShare. Nesse modelo, os interessados podem optar por diferentes tipos de produtos, com benefícios diversos (outras informações aqui). A seguir, três perguntas para ela:
1. Dani, como surgiu a oportunidade de financiar seu disco via ArtistShare? E como vão indo as coisas até agora?
O ArtistShare é um selo como qualquer outro, que não funciona como nenhum. Um selo normal na parte de ter seus artistas, seu catálogo de discos etc. Fui convidada por eles pra lançar esse disco novo dessa maneira, com eles. Como nenhum porque eles não bancam ninguém, eles apenas dão a infraestrutura para que eu capte recursos com meu próprio público. Até agora tudo está ótimo, estamos no começo do projeto e já temos alguns participantes Bronze, que são os que têm até o nome no encarte do disco.
2. Você tem se saído bem como artista independente ― você mesma correndo atrás das oportunidades. Essa é a saída para os músicos novos e/ou de nicho?
Acho que não existe saída certa, nem padrão. E sou contra chamar qualquer tipo de som de nicho. Hoje em dia qualquer som tem um público que não precisa mais ir em lugares específicos pra encontrá-lo. Pela internet, especialmente o MySpace, você acha o que gosta, e ouve. Existem milhares de novas ferramentas, e acho que cada um tem que achar a que se dá melhor. O disco dessa maneira dá muito trabalho, muita canseira, e é difícil de administrar. Você, além de artista, é produtor, administrador, videomaker, fotógrafo, e bidu.
3. Você é uma ótima fotógrafa e este é seu "ganha pão" principal, vamos dizer assim. Como conciliar um trabalho intenso com a música ― estudo, composição, gravação, ensaios, shows etc.?
Digo que, antigamente, um dia eu era fotógrafa e no outro musicista. Hoje, todo dia sou os dois.Tem que conciliar, aprender a fazer uma coisa conviver com a outra. Muitas das minhas fotos são de músicos ou assuntos relacionados, então sempre gera um conhecimento de outros sons, mais músicos, novos amigos. Ao mesmo tempo, eu mesma cuido da arte e das fotos do meu próprio som. Eu concilio fotografia e música fazendo delas uma coisa só.
A escritora Hilda Hilst costumava aconselhar aos jovens autores que lhe telefonavam ou escreviam: "Escreva em inglês, ninguém sabe o que é o português". Em vista disso, o discurso de Isaac Bashevis Singer, Prêmio Nobel de Literatura de 1978, vem bem a calhar. Veja mais abaixo o que ele diz sobre escrever numa língua que quase ninguém mais fala (ou lê), em seu caso, o iídiche.
Depois, se quiser, leia o original em inglês e acompanhe o próprio Singer no vídeo mais abaixo. A tradução para o português é minha.
Isaac Bashevis Singer ― Estocolmo, 10 de Dezembro de 1978
"Vossas Majestades, Vossa Alteza Real, Senhoras e Senhores,
As pessoas me perguntam com frequência, 'Por que você escreve em uma língua moribunda?'. Quero explicá-lo em poucas palavras.
Primeiramente, gosto de escrever histórias de fantasmas e nada se encaixa melhor num fantasma do que uma língua morta. Quanto mais morta é a língua, mais vivo é o fantasma. Fantasmas amam o iídiche e, até onde eu saiba, todos o dominam.
Em segundo lugar, não apenas creio em fantasmas como também creio na ressurreição. Estou certo de que, quando o Messias regressar, milhões de cadáveres fluentes em iídiche se levantarão de seus túmulos e a primeira pergunta que farão será: 'Há algum novo livro em iídiche para ler?' Para eles, o iídiche não será uma língua morta.
Terceiro: por 2000 anos o hebraico foi considerado uma língua morta. Subitamente, ele se tornou estranhamente vivo. O que aconteceu ao hebraico pode também ocorrer ao iídiche um dia (embora eu não tenha a mínima ideia de como isso poderia se passar).
Há ainda uma quarta razão secundária para não renunciar ao iídiche e esta é: o iídiche pode ser uma língua moribunda mas é a única que eu conheço bem. O iídiche é minha língua materna e uma mãe nunca está realmente morta.
Senhoras e senhores: há quinhentas razões pelas quais eu comecei a escrever para crianças, mas para economizar tempo irei mencionar somente dez delas. Número 1) Crianças leem livros e não resenhas. Elas não dão a mínima para a crítica. Número 2) Crianças não leem para buscar sua identidade. Número 3) Elas não leem para se ver livres de culpa, para saciar sua sede de rebelião, ou para se desembaraçar da alienação. Número 4) Elas não veem utilidade na psicologia. Número 5) Elas detestam sociologia. Número 6) Elas não tentam entender Kafka ou o Finnegans Wake. Número 7) Elas ainda creem em Deus, na família, anjos, demônios, bruxas, gnomos, lógica, claridade, pontuação, e outras coisas obsoletas. Número 8) Elas amam estorias interessantes, não comentários, guias ou notas de rodapé. Número 9) Quando um livro é chato, elas bocejam descaradamente, sem qualquer vergonha ou medo da autoridade. Número 10) Elas não esperam que seu bem-amado escritor redima a humanidade. Jovens como são, elas sabem que isto não está sob o poder dele. Apenas adultos possuem tais ilusões infantis."
"Aos 101 anos, Oscar Niemeyer desponta como uma das promessas da nova arquitetura brasileira. 'É um alento contar com uma pessoa dessas para desenhar projetos inviáveis que são sucesso de crítica', apontou o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, que acaba de contratar o arquiteto para esboçar o Município da Música. A obra, baseada nos desenhos da Pampulha, será construída sobre as ruínas da antiga Cidade da Música, abandonada por Paes justamente por não ter sido projetada pelo arquiteto-revelação. A filosofia de Paes é endossada pelo governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, que acaba de fechar com Niemeyer um pacote de 152 novos projetos, dentre os quais a construção de um novo Distrito Federal (baseado nos desenhos da Pampulha). Procurado pela redação, Niemeyer agradeceu os elogios mas foi breve, pois está atarefado com o desenvolvimento de um novo projeto (baseado na Pampulha): 'Quero redesenhar o Maracanã para a Copa de 2014. Penso em me inspirar na Pampulha', disse."