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Quinta-feira,
12/12/2002
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Redação
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Teaching students not to think
Os melhores alunos não são necessariamente os melhores - e provavelmente, como sugere Andrew Conway na Spectator, nem sejam bons o suficiente. Isso, vale lembrar, na Inglaterra. Por causa, basicamente, de dois motivos: da falta de curiosidade dos alunos, e da postura politicamente correta que são obrigados a assumir. Conclusão: não acumulam conhecimento além do que lhes é cobrado, e, sem desconfiar do que o professor ensina, não conseguem pensar sozinhos. Repito: isso na Inglaterra, onde existe debate sobre o assunto, e espaço, como na Spectator, para um professor universitário escrever sobre o assunto. E, vá lá, escrever como gente, e não como professor universitário. Acompanhe, a seguir, os imperdíveis melhores momentos:
There is only one problem - they lack even the slightest spark of initiative or intellectual curiosity.
The attitude of most students, as far as I can tell, is one of good-humoured resignation; they have learnt not to question what their teachers tell them - an attitude which, in many ways, I find more depressing than the plagiarism itself.
Of course one shouldn't get too nostalgic for the good old days. Correlli Barnett and others have argued that the effect of the old public-school-and-Oxbridge education was to instil a deadening Civil-Service mentality - the familiar 'on the one hand ...on the other hand' habit (or, as my A-level history teacher told me, 'Always use the word "whereas" at least once in each paragraph') - which left the nation's finest minds incapable of making firm decisions.
Today's students are terrified of taking a point of view, in case it turns out to be wrong. Confronted with a direct question - 'Was the Protestant Reformation a success?' - they will twist and turn to avoid giving a direct answer. 'In conclusion' - this, by the way, is a genuine quotation from a first-year essay, not my own invention - 'it is clear that while some have regarded the Reformation as a success, others have regarded it as a failure, and we may therefore say with confidence that it is a very complex matter.'
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Postado por
Eduardo Carvalho
12/12/2002 às 17h41
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Gerundismo
Obra da Dani, do Mundo Perfeito
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Julio Daio Borges
12/12/2002 às 16h06
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Valsinha
Rio, 2 de fevereiro.
Caro Poeta,
Recebi as suas duas cartas e fiquei meio embananado. É que eu já estava cantando aquela letra, com hiato e tudo, gostando e me acostumando a ela. Também porque, como você já sabe, o público tem recebido a valsinha com o maior entusiasmo, pedindo bis e tudo. Sem exagero, ela é o ponto alto do "show", junto com o "Apesar de Você". Então dá um certo medo de mudar demais. Enfim, a música é sua e a discussão continua aberta. Vou tentar defender, por pontos, a minha opinião. Estude o meu caso, exponha-o a Toquinho e a Gessy, e se não gostar foda-se, ou fodo-me eu.
- Valsa hippie é um título forte. É bonito, mas pode parecer forçação de barra, com tudo o que há de hippie à venda por aí. Valsa Hippie, ligado à filosofia hippie como você a ligou, é um título perfeito. Mas hippie, para o grande público, já deixou de ser a filosofia para ser a moda pra frente de usar roupa e cabelo. Aí já não tem nada a ver. Pela mesma razão eu prefiro que o nosso personagem xingue ou, mais delicado, maldiga a vida, em vez de falar mal da poesia. A sua solução é mais bonita e completa, mas eu acho que ela diminui o efeito do que segue. Esse homem da primeira estrofe é o anti-hippie. Acho mesmo que ele nunca soube o que é poesia. É bancário e está com o saco cheio e está sempre mandando sua mulher à merda. Quer dizer, neste dia ele chegou diferente, não maldisse (ou "xingou" mesmo) a vida tanto e convidou-a para rodar. Convidou-a pra rodar eu gosto muito, poeta, deixa ficar. Rodar que é dar um passeio e é dançar. Depois eu acho que, se ele já for convidando a coitada para amar, perde-se o suspense do vestido no armário e o tesão da trepada final. "Pra seu grande espanto", você tem razão, é melhor que "para seu espanto". Só que eu esqueci que ia por ítens. Vamos lá:
- Apesar do Orestes (vestido dourado é lindo), eu gosto muito do som do vestido decotado. É gostoso de cantar vestidodecotado. E para ficar dourado o vestido fica com o acento tendendo para a primeira sílaba. Não chega a ser um acento, mas é quase. Esse verso é, alias, o que mais agrada, em geral. E eu também gosto do decotado ligado ao "ousar" que ela não queria por causa do marido chato e quadrado. Escuta, ô poeta, não leve a mal a minha impertinência, mas você precisava estar aqui para sentir como a turma gosta, e o jeito dela gostar desta valsa, assim à primeira vista. É por isso que estou puxando a sardinha mais para o lado da minha letra, que é mais simplória, do que pelas modificações que enriquecendo os versos, talvez dificultem um pouco a compreensão imediata. E essa valsinha tem um apelo popular que nós não suspeitávamos.
- Ainda baseado no argumento acima, prefiro abraçar ao bailar. Em suma, eu não mexeria na segunda estrofe.
- A terceira é a que mais me preocupa. Você está certo quanto ao "o mundo" em vez de "a gente". Ah, voltando à estrofe anterior, gostei do último verso onde você diz "e cheios de ternura e graça" em vez de "e foram-se cheios de graça". Agora estou pensando em retomar uma idéia anterior, quando eu pensava em colocá-los em estado de graça. Aproveitando a sua ternura, poderíamos fazer "Em estado de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar". Só tem o probleminha da junção "em-estado", o em-e numa sílaba só. Que é o mesmo problema do começaram-a. Mas você mesmo disse que o probleminha desaparece, dependendo da maneira de se cantar. E eu tenho cantado "começaram a se abraçar" sem maiores danos.
Enfim, veja aí o que você acha de tudo isso, desculpe a encheção de saco e responda urgente. Há um outro problema: o pessoal do MPB-4 está querendo gravar essa valsa na marra. Eu disse que depende de sua autorização e eles estão aqui esperando. Eu também gostaria de gravar, se o senhor me permitisse, porque deu bolo com o "Apesar de Você", tenho sido perturbado e o disco deixou de ser prensado. Mas deu para tirar um sarro. É claro que não vendeu tanto quanto a Tonga, mas a Banda vendeu mais que o disco do Toquinho tocando Primavera. Dê um abraço na Gesse, um beijo no Toquinho e peça à Silvina para mandar notícias sobre shows etc. Vou escrever a letra como me parece melhor. Veja aí e, se for o caso, enfie-a no ralo da banheira ou noutro buraco que você tiver à mão.
Valsinha
Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a dum jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra rodar
Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado, cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda a cidade enfim se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz
Carta de Chico Buarque a Vinicius de Moraes, em "Achados"
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Julio Daio Borges
12/12/2002 às 12h04
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Assim falou os mano
Direto do Dicionário dos Mano (e de outras tribos também...):
* tretar: brigar
* ir pra balada: ir a uma festa
* chapar o coco: beber
* capotar: cair
* furar: fazer amor
* se ligar: entender
* dar uns pega: fumar
* dar um rolê: passear
* rangar: comer
* cair pra dentro: entrar
* deschavar: destruir, matar
* trocar idéia: falar
* vazar: ir embora
* apagar: dormir
* (es)tar afim: estar apaixonado
* dar uns cato: namorar
* dar um migué: mentir
* curtir um som: ouvir música
* cair a casa ou ficar na água: dar-se mal em alguma coisa
* irado ou bem lôco: interessante
* uns truta ou uns camarada: uns amigos
* na área ou nas quebrada: no bairro
* cair pro litoral: ir ao Guarujá
* parada firmeza: alguma coisa legal
Por e-mail, através do meu cunhado, Felipe Albuquerque
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Julio Daio Borges
11/12/2002 às 16h11
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Mise en abime
Miguel de Cervantes levou dez anos para escrever a segunda parte de Don Quixote de La Mancha. Nestes dez anos, a primeira parte ficou famosa. De sorte que, quando o cavaleiro e seu fiel Sancho Panza retomam suas aventuras pelo mundo, é o mesmo mundo do primeiro volume mas com uma diferença importante: neste mundo existe um livro publicado e muito comentado sobre as aventuras de um certo fidalgo chamado Don Quixote de la Mancha e seu escudeiro, do qual o próprio Don Quixote, tornado famoso pelo livro, ouve falar, embora não chegue a ler. As alucinações do Don no primeiro volume tomam forma e o assolam de verdade no segundo, em grande parte porque, depois da publicação do primeiro volume, suas humilhações são esperadas, e provocadas, pelo público. E assim, como observou o escritor Martin Amis num comentário sobre a obra, o aristocrata enlouquecido pela literatura que se transforma no seu próprio personagem andante num mundo irreal, do primeiro volume, enfrenta uma realidade enlouquecida pela literatura, no segundo.
Como o próprio Cervantes, que quando escreveu o segundo volume já não era o mesmo escritor, era o mesmo escritor tocado pelo sucesso da primeira parte, portanto com outra relação com seu personagem - e com a realidade.
Acho que o Borges tem um conto sobre a impossibilidade de desenhar um mapa cem por cento fiel do mundo e dos seus habitantes, pois o último homem desenhado teria que fatalmente ser o desenhista fazendo o desenhista fazendo o desenhista fazendo o desenhista fazendo o desenhista...
Ainda o Pai das Cobras, no Estadão
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Julio Daio Borges
11/12/2002 às 10h05
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As Cobras
Durante as duas décadas em que foram desenhadas por Verissimo, as Cobras divagaram sobre a imensidão do universo, conversaram com Deus, participaram de eleições, montaram times de futebol, mas uma coisa nunca tinham feito: mover-se. Pois agora elas se movem, como provam as tiras animadas acessíveis nesta página (clique sobre cada uma das imagens e confira):
[Também no Portal Literal]
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Julio Daio Borges
10/12/2002 às 17h16
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Portal Literal
Cada qual vai para um quarto. Renê sabe que eu não gosto de promiscuidade. Eu vou para o quarto com o paulista. Sento num sofá. Ele também senta. Depois deita a cabeça no meu colo, diz que não está com vontade de fazer nada, "esses caras cismaram que eu hoje tinha que ir com uma garota pra cama, mas vamos só conversar, está OK?". Eu digo que está OK. Ele diz que não quer estragar as coisas. Eu digo que está bem. (Quero ir para o Zum Zum.) Passo a mão nos cabelos dele. "Eu não quero fazer isso", diz ele, tirando a roupa. Eu também tiro a roupa e nos deitamos, ele sempre dizendo que não quer, mas me papando assim mesmo.
Adivinha quem é, acabei de descobrir neste site
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Julio Daio Borges
10/12/2002 às 16h58
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Método
A preguiça resolve problemas. Quanto estou cheio de coisas pra fazer, deito no chão com um livro e fico assim durante dois ou três dias. De vez em quando paro pra ouvir Gilbert e Sullivan. Não falha: algumas coisas se resolveram sozinhas, outras chegaram a uma crise que já não precisa da minha intervenção, e quase sempre algum amigo meu, que havia pedido um favor, deixou de se considerar amigo meu, e portanto o favor não precisa mais ser feito. Tente, old boy.
Alexandre Soares Silva, no seu recém-inaugurado blog
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Julio Daio Borges
9/12/2002 às 13h41
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Espectador idiota
A Fox exibe o episódio dos Simpsons sobre o Brasil e, no intervalo, coloca no ar uma nota institucional, explicando que o programa "diverte através do exagero". Fosse o brasileiro um povo bem humorado e isso seria completamente inútil. Explicar ou justificar uma piada, como precisou fazer a Fox, é tratar o espectador como idiota - ou assumir que ele realmente é um.
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Eduardo Carvalho
8/12/2002 às 20h58
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Máfia do Dendê
Paulo Francis chamava de Máfia do Dendê "os baianos que gostam de cantar na televisão". É a turma encabeçada por Caetano, disfarçada de liberal e intelectual, que controla a produção de música brasileira e apóia Antonio Carlos Magalhães. Ninguém ousa desafiá-los: não tem espaço, se for músico; e perde o emprego, se for jornalista. É um esquema canalha e corrupto, mas nunca discutido. Um método grotesco de promoção da mediocridade, que afoga a criatividade e cala a resistência. Isso é, em bom português, ditadura. Imposta exatamente pelos metidos a bacanas que, há poucas décadas, brincavam de oposição. E, hoje, lucram com isso, colecionando elogios de celebridades, de Sontag a Almodóvar, e dinheiro fácil, incorporando estilos e reciclando fórmulas. Uma moleza.
Mas não é, na verdade, só de moleza que eles gostam. Caetano, por exemplo. Em 1993, quando um jornalista foi procurá-lo em Londres para uma entrevista, quando comemorava 25 anos de exílio, foi curto e grosso: só concederia em troca de uma coisa. E vocês sabem qual é. O homem saiu correndo. E quase perdeu o emprego por causa disso. É assim que funciona: a Máfia do Dendê também tem os seus métodos próprios de tortura. Que são indiscutivelmente piores do que muitos aplicados pela Ditadura Militar. Uma aplicação de Caetano Veloso é talvez o pior massacre a que um homem pode se submeter. Esta é - reparem no trocadilho - uma ditadura invertida.
Quem conta essa história, com todas as letras, é o premiado jornalista investigativo Cláudio Tognolli, em imperdível conversa com, entre outros, Roberto Freire e Sérgio Martins. E aponta, ainda, os membros da Máfia, que todo mundo sabe qual é: além de Caetano, Gilberto Gil, Maria Betânia, e Gal Costa. Não precisava nem dizer: exatamente os mesmos que, ontem, no Ibirapuera, reuniram mais de cem mil pessoas, embaixo de chuva. E por quê? Porque ninguém resiste à persistente propaganda, há semanas em cadernos culturais, da volta dos Doces Bárbaros. Muito mais bárbaros do que doces, ao que parece.
Essa patrulha nojenta encontra, na imprensa brasileira, um único opositor, segundo Tognolli: Luís Antônio Giron, "o homem que mais entende de música". Mas seu empenho solitário dificilmente será suficiente. A Máfia do Dendê abafa com facilidade ruídos dissonantes. E, com insistente promoção, cativa novas gerações, que mereceriam, em 2002, coisa melhor ou, no mínimo, diferente do que seus pais, há três décadas, tiveram. A doutrinação, que começa na escola - com Caetano elevado a poeta erudito - e passa pela imprensa - como se fossem eles expoentes do bom gosto -, está na hora de acabar. Esta ditadura está longa demais. Cansou.
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Postado por
Eduardo Carvalho
8/12/2002 às 17h03
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