Saiu mês passado a primeira edição da revista da Tina, depois de a personagem e sua turma aparecerem durante anos em diversas revistas e almanaques da Turma da Mônica e, recentemente, em edição especial e minissérie com histórias de aventura. Anos atrás, quem imaginaria que ela teria uma revista só dela!
Fazendo uma pequena viagem no tempo ao reler o livro As melhores histórias da Tina (Mauricio de Sousa Editora/L&PM, 1991), se pode ver que a adolescente cresceu (dando lugar agora aos personagens da Turma da Mônica Jovem), mas suas histórias continuam com o mesmo toque ingênuo daquelas do final dos anos 80 e 90. Em 2004 aparecia o encaminhamento do interesse em haver um espaço maior para a Tina, com a primeira edição do Almanaque da Turma da Tina, da Editora Globo, tendo o mesmo reestreado em 2007 pela Panini. Vale lembrar que a Tina apareceu pela primeira vez nos quadrinhos do Mauricio de Sousa em 1964, bem diferente da personagem com curvas voluptuosas que temos visto nos últimos anos: os mesmos cabelos de casca de banana, mas na altura do ombros, os óculos também eram redondos, só que enormes, camiseta e calça boca de sino, seguindo a moda hippie.
As histórias com os amigos Rolo, Pipa e Zecão vêm numa revista com formato americano e ainda traz uma sessão de entrevista ― nesta primeira edição com a Mônica Sousa, filha de Mauricio que o inspirou na criação da personagem Mônica ― feita pela Tina, agora uma estudante de jornalismo (pelo menos é o que se pressupõe, pois ela está na faculdade) e o Blog da Tina. O conteúdo deste não é muito desenvolvido, com pequenas notas sobre tecnologia, esporte, vestibular, alimentação e namoro, é claro. Estas duas páginas, em estilo de revista adolescente, destoam da personagem já num universo mais jovem e maduro.
Esse, aliás, é o paradoxo que, apesar da alegria com a chegada da revista, não deixa de me causar certo desconforto. De um lado, parece haver este desejo juvenil rumo à idade adulta, dos meandros da vida, de aventuras mais estruturadas, como a última história ("Enigma de Atlântida") ― embora eu prefira as historinhas do cotidiano; de outro lado, o roteiro das histórias permanece um tanto simples, infantil, para a complexidade que se instaura, ou poderia se instaurar, neste momento. Talvez esteja aí o cerne da questão ― os temas recorrentes da turma, amor, paquera, estudos, e mesmo as pequenas aventuras cotidianas geralmente com um toque de comicidade e leveza, deveriam a partir desta renovação das personagens alcançar um salto de complexidade?
As personagens sofreram uma repaginada em sua aparência desde as recentes edições especiais, embora Tina seja a que continue de fato mais fiel, não às suas origens, mas ao estilo da década de 90: seios fartos geralmente marcados por um belo decote em tops ou mesmo camisetas, calça jeans justinha e minissaia valorizando os quadris. Mas não teria ficado a doce Tina meio exagerada na capa da edição de lançamento (como estrela de rock provocante e sem os óculos, quase uma marca registrada da personagem)?
Já a Pipa da nova revista está bem mais magra do que aquela que víamos em seu "uniforme" de blusa branca e saia preta. Fora o rostinho maquiado. Até o Zecão aparece com um visual mais "clean", o nariz ligeiramente menor, e ainda protagonizando uma história em que praticamente se torna um metrossexual!
Mas a maior transformação é a do Rolo, que transitou de hippieà laFFLCH a galã da novelinha Malhação. Agora seu rosto não é mais quase que completamente envolto pelos cachos azuis, as orelhas estão à mostra, ganhou um nariz mais afilado, olhos menores e sombrancelhas marcantes. Vai fazer falta aquele Rolo atrapalhado, bicho-grilo, de cabelão e barba no mínimo revoltos...
Assim, as personagens acabaram perdendo seu lado caricatural, sucumbindo à estética. Ainda assim, Tina foi a mais poupada nesta plástica, restando como símbolo da indefinição que a revista traz entre a coexistência da juventude e o infantil, a internet e o papel. Daí a pouca consistência e a sensação de "quero mais", ou "falta alguma coisa". No entanto, é a ingenuidade que continua sendo o traço mais forte do Mauricio, e isso é louvável, talvez até um pouco incompreensível, mas surpreende por conseguir mantê-la até hoje.
Entrei no Twitter há pouco tempo e logo pude perceber a agilidade dessa ferramenta. Pessoas comentam... ou melhor, "tuitam" sobre notícias que nem bem chegaram aos portais. Essa semana tivemos o já tradicional "protesto" de alunos na USP. Até aí, nenhuma novidade. Mas, dessa vez, o "protesto" veio com alguns ingredientes a mais. E foram exatamente esses ingredientes, bastante indigestos, que precipitaram o confronto de estudantes com a Polícia Militar dentro do campus.
Ao pensar em algo para "tuitar" a respeito, lembrei-me que fatos como esse raramente (ou nunca) acontecem devido a um único fator. Enumeradas todas as bestialidades humanas desse episódio, cheguei rapidamente ao produto final. E lá fui eu postar sobre a conclusão de meus estudos ― nada acadêmicos, diga-se de passagem. Mas essa "tuitada" rendeu mais do que eu poderia esperar. Muita gente me pergunta como acontecem as ideias para as charges e eu nunca sei explicar (porque não há mesmo uma explicação). Pois aí está: um tweet despretensioso, que reverberou um pouco além da conta na minha cabeça, foi transportado para o papel e acabou virando charge.
Como eu já disse uma vez, existem poucas, pouquíssimas coisas que não dão em charge. Eis o resultado, que está na página 2 do Jornal da Tarde de hoje...
Não tenho ídolos. Infelizmente. Já tentei me apaixonar por algumas pessoas, mas depois de 5 minutos googleando, desisto. Sejamos realistas: nos dias atuais, com tantos enganos e engodos, tá difícil arranjar alguém em quem se inspirar.
Um amigo me sugeriu que eu pegasse as partes especiais de cada um criando um andrógeno, parecido com o Edward Mãos de Tesoura. O filme, um conto de fadas moderno, mostra claramente que criar andrógeno não é a melhor solução, eles sofrem. Os filmes e a literatura mostram esse conflito. Ninguém os aceita, e pior os entende.
Difícil, não? Não posso decepar as melhores partes de cada pessoa e, também, não posso aceitar as falhas delas.
Ao idolatrar os personagens de filmes, quadrinhos e televisão, acabei satisfazendo minha carência por ídolos. Cada um pode me ensinar uma coisa e cada fraqueza, quando descubro, me força a ver que ninguém é imbatível. Melhor assim do que criar um Frankenstein.
Caro leitor, não venha me dizer que minha estratégia é a mesma de criar um andrógeno ou um monstro (dependendo do ponto de vista), porque não é. Já é tudo fictício mesmo.
Peguemos o exemplo do Super-Homem, o meu favorito. Para começar, ele é o único super-herói que acorda super-herói e só precisar colocar a fantasia para ninguém perceber quem é ele (já o Batman, por outro lado, precisa vestir os mais variados apetrechos para ser super-herói). O sentimento é muito altruísta e ele não persegue a glória. Depois, na maioria das histórias, não basta supervelocidade, visão fora do comum ou força suficiente para parar uma locomotiva. Ele precisa vencer a criptonita, demonstrando força de vontade e um desejo real de salvar o mundo.
Outro que eu não poderia esquecer é o detetive Tintin. Seu criador conta histórias do investigador em todas as partes do mundo. Mais curioso é que ele nunca saiu da França para escrevê-las. Já o impressionante é que Tintin resolve todos os problemas usando a inteligência e não a força.
Esses personagens demonstram que a justiça, a lealdade, a força de vontade devem prevalecer sobre o egoísmo, a preguiça e a covardia.
Provavelmente neonazistas e outros grupos xenófobos não devem ter tido a oportunidade de ler ou assistir desenhos enquanto crianças. Caso contrário, não agiriam com tamanha agressividade.
Pelo contrário, eles devem ter se inspirado em ídolos como Hitler e Stálin, que mataram milhões em prol de uma sociedade mais "limpa" ou "justa". Acho, que na verdade, esses grupos não só não leram meus heróis favoritos, como faltaram às aulas de história, que conta que o racismo não é o melhor modo para se resolver problemas.
Enquanto não arranjo um ídolo por aqui, deixo vocês pensando nas histórias infantis e no mundo mágico que viveríamos se tivéssemos um pouco dos princípios de nossos heróis favoritos.