"Eu gostava mais da Bravo! no começo, na época do Wagner Carelli, da Flávia Rocha e do Michel Laub. Acontece que a revista dava muito prejuízo e, graças a um arranjo familiar, conseguiu ser incorporada à Editora Abril. Mas, se acabou salva financeiramente, editorialmente falandoa Bravo! morreu. Foi diluída, para entrar no 'padrão Abril', terminou sem identidade e hoje ninguém sabe quem escreve lá. Como vem fechada dentro de um plástico, não podemos nem folheá-la nas bancas (para saber como anda)...
"Nunca fui leitor assíduo da Cult, mas acho que ela foi importante por ser focada, estritamente, em literatura, no final dos anos 90. Pessoalmente, acho o Manuel da Costa Pinto muito condescendente com a literatura brasileira contemporânea, mas repeito a realização editorial dele na Cult, numa época em que não havia quase internet, sites e blogs literários etc. Depois que o Manuel saiu, até entendi a necessidade da Daisy Bregantin em ampliar o escopo da revista, mas, tirando a fase do Luís Antônio Giron, a Cult se transformou numa "prima pobre" da Bravo!, sobrando algumas entrevistas e alguns dossiês que, às vezes, são bons. (Ultimamente, acho que a Daisy têm acertado mais nos cursos.)
"Li o 'Caderno2' durante praticamente toda a minha juventude. Como leitor, foi o que me formou (em termos de jornalismo cultural em papel). Mas confesso que esperava mais da volta do Daniel Piza ao Estadão, como editor-executivo, em 2000 (mesmo ano em que eu fundei o Digestivo). Tudo bem que, no final da década de 90, eu praticamente abria o 'Caderno2' só para ler o Paulo Francis, mas, mesmo assim, esperava que o Daniel implementasse a mesma revolução que ocorreu no 'Caderno Fim de Semana', da Gazeta Mercantil, durante a sua 'gestão' como editor (1996-2000). Claro que a responsabilidade não é apenas dele, mas todas as atenções, naquele momento, estavam sobre ele...
"Hoje acho o 'Caderno2' e a 'Ilustrada' muito dependentes da 'agenda', dos press-releases e das assessorias de imprensa. Talvez porque as estruturas das redações de publicações em papel tenham diminuído a ponto de um 'assessor' influente emplacar mais pautas que um editor oficialmente nomeado. É preocupante, ainda, que uma única pessoa cuide de uma editoria importante quase sozinha. Por exemplo, no 'Caderno2', o Lauro Lisboa Garcia escrevendo quase tudo sobre 'música', o Luiz Carlos Merten, quase tudo sobre 'cinema' e o Ubiratan Brasil, quase tudo sobre 'livros'. Depois de algum tempo assim, é impossível um jornalista não se repetir, e o leitor se desinteressa, porque já sabe o que vai encontrar...
"Eu gostaria de acrescentar - embora seja bastante recente -, a Piauí, que, a meu ver, é a grande novidade dos últimos tempos, nessa leva de 'jornalismo literário' brasileiro. Além de ser incrivelmente bem escrita, não é populista (a Piauí se dá ao luxo de não publicar uma única linha sobre a morte do Michael Jackson, por exemplo), e traz notas e reportagens culturais que não encontro em nenhum outro lugar. É, verdadeiramente, indispensável, ao contrário da Veja (que virou commodity). Quando eu não lia a Piauí, sabia que estava 'perdendo' alguma coisa. É raro sentir isso em relação a algum outro periódico do Brasil..."