Homo sum: humani nihil a me alienum puto. Ou: "Sou homem: e nada que é humano me é estranho", Publius Terentius Afer, o dramaturgo romano (a frase não é de Goethe ou de outros a quem é frequentemente atribuída...).
Dom Rigoberto é um personagem de Mario Vargas Llosa que leva uma vida dupla. Durante o dia, é o competente gerente de uma companhia de seguros em Lima, no Peru. À noite, imagina picantes fantasias protagonizadas por sua ex-esposa e escreve cartas a diferentes interlocutores. Tanto as fantasias quanto as cartas fazem parte de seus volumosos cadernos, que dão título ao livro: Os cadernos de dom Rigoberto.
Impossível não lembrar de uma dessas cartas neste fim de semana, quando tanto as torcidas do time vencedor quanto do time perdedor (pobrezinho do meu Coxa...) acharam que tinham motivo para fazer baderna, destruir coisas e machucar pessoas.
Nesta missiva, Dom Rigoberto destila seu mau humor contra os esportes e os esportistas, defendendo que não há relação alguma entre o esporte de hoje e aquele da Grécia antiga, que justifica o lema de mens sana in corpore sano.
Com a palavra, Dom Rigoberto (grifos meus):
"Somente os chutes do futebol ou os socos do boxe, ou ainda as rodas autistas do ciclismo, e a prematura demência senil (além do definhamento sexual, da incontinência e da impotência) que eles costumam provocar, explicam a pretensão de estabelecer uma linha de continuidade entre os entunicados fedros de Platão [...] e as hordas ébrias que rugem nas arquibancadas dos estádios modernos (antes de incendiá-las) por ocasião das partidas de futebol contemporâneas, nas quais vinte e dois palhaços de desindividualizados por uniformes de cores espalhafatosas, agitando-se no retângulo de grama atrás de uma bola, servem de pretexto para exibicionismos de irracionalidade coletiva".