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Quinta-feira,
17/3/2005
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Redação
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Crise dos 40
Em um dos meus acessos hipocondríacos, identifiquei-me com tudo de ruim que a crise dos 40 possui.
É, 40.
Na crise dos 20, as pessoas têm ataques de revolta gratuita. Essa é a fase na qual as garotas resolvem andar sem sutiã para protestar contra o machismo e o capitalismo, enquanto os moleques descobrem o punk, a galeria do rock e Che Guevara. Eu era assim com 15 anos. Um revoltado-wannabe. Um palerma juvenil. Mas o trabalho me salvou. Não tinha muito tempo para perder com isso.
A crise dos 30 é mais romântica. Tem um quê de filosofia. O filme High Fidelity (Alta fidelidade) é uma ótima referência sobre este período. É uma época em que fazemos o balanço de nossas vidas. Juntamos os prós e os contras para trilhar os rumos finais. Eu já pensei em tudo e já adiantei a lição de casa. Agora espero o próximo round.
E esperar é sempre complicado. É sempre chato. Acaba sendo um jeito forçado de reavaliar nossos conceitos.
O primeiro conceito derrubado foi o de realização profissional. Houve um tempo em que eu acreditei nisso aí. Hoje não passa de uma má recordação. Tornou-se incompatível comigo. Minha personalidade ficou rasa demais para eu inflar meu ego com conquistas profissionais. Sinceramente, só trabalho por dinheiro. E se pudesse, passaria o dia deitado no sofá, lendo qualquer coisa.
Algumas outras características da crise dos 40 são mais visíveis e não se limitam aos meus conceitos. Passei, na adolescência, de extrovertido-boboca para introvertido-anti-social e agora não sou nem um e nem outro. Tornei-me um observador mais palpitante. Acredito que neste ponto evolui. Diante da crise dos 40, encontrei um meio termo entre o errante e o "acertivo". Encontrei a mediocridade. Tornei-me alguém melhor. Só espero que nenhum médico me desminta.
Eduardo Phillipe, no seu Excentricidades, que linca pra nós.
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Julio Daio Borges
17/3/2005 às 12h07
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A vida mais ou menos
Várias vezes eu frequentei fóruns e algumas vezes eu fui moderadora. Como moderador, você pode ver os IPs e saber quem é quem. É impressionante. Algumas pessoas criam cinco, dez identidades diferentes para postar no fórum elogios e textos concordando com elas mesmas, numa tentativa de impressionar a audiência com a popularidade que seus comentários atingem e fazer parecer que são inteligentes e articuladas... em bom português, uma maluca conversa esquizofrênica entre alteregos virtuais. E muita gente acredita, debate e discute, sem saber que está falando com uma única pessoa, multiplicada em vários apelidos.
DaniCast, no MadTeaParty ontem, comentando um texto meu.
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Julio Daio Borges
17/3/2005 às 10h27
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Nada a comemorar
Sinto muito decepcioná-los, mas a data de ontem [15 de março de 2005] não merece comemoração. Não é marco de democracia alguma. Muito pelo contrário. Há 20 anos, dois senhores chegaram ao poder sem eleição direta. Às custas de barganhas políticas e acordos "de lideranças", o que no Brasil é sinônimo de troca de favores. Não reconheco valor algum em insetos da estirpe de José Sarney que em vários canais de TV no dia de ontem se auto proclamou o cara que "abriu os poços artesianos" da democracia, no seu estilo poético sempre farto em mau gosto.
Marcelo "Ernesto Varela" Tas, bravo como nunca, no Blog do Tas. (E pensar que eu o encontrei ontem, na fila do Vivo Open Air...)
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Julio Daio Borges
17/3/2005 às 10h14
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Carta ao pai morto
Pai,
amanhã, dia 22 de agosto, é seu aniversário. E você está morto. Pela primeira vez você aniversaria, estando morto. Isto quer dizer: você, em verdade, não aniversaria, você está além do tempo, fora dele, imerso na eternidade. Você, que já morreu, isentou-se do tempo, não aniversaria mais, nem morre mais. Você está maduro, cumprido, completo, além da sorte, do rumor do mundo. Eu me lembro de você, com carinho, ternura e tristeza. Eu, ainda tecido de tempo, eu que morro a cada dia, me lembro de você e de seu aniversário. Você, nascendo, inaugurou a possibilidade de que eu nascesse. Você, nascido, me precedeu, e agora sucedo a você, e me lembro de você, por você, em seu nome. É possível que você precise desta minha lembrança — pequeno ramo de flores que ofereço a você, por você e para você, substituto que sou de você, cuja chama viva continua a viver em mim: você está no reino da imemória, e o seu calor passou para as minhas mãos, para que eu me lembre dele, e o honre. Precedido por você, sucedendo você, plantei, por minha vez, as sementes das árvores que, já nascidas, me sucedem e me sobreviverão. Quero honrar sua memória — e sua vida. Quero que o seu aniversário seja, mais uma vez, o dia do compromisso meu com você: de que eu assuma a minha vida e a minha liberdade. De que eu seja fiel ao que de melhor for vivo em você. Assumindo minha vida e minha liberdade, sou fiel a você, à chama que você me legou, à vida que tenho e que, sem você, seria impensável. Prossigo, por mim, por você, por todos os que nos antecederam, por meus filhos e pelos que me sucederem, por todos os homens, a minha caminhada. Que ela seja corajosa, bondosa, firme. Que eu tenha as coragens que faltaram a você, os gestos libertários que seus braços não puderam esboçar. Que você se sinta mais livre e mais vivo, em mim. Que eu leve, mais longe, a vida que você me legou. Que eu salve você, dentro de mim, que eu esteja, em mim, bem vivo para que você — que eu continuo — fique bem vivo, livre, humano e profundo, em mim, por mim, por você, por todos.
Te amo, pai.
Hélio Pellegrino, em homenagem a Braz Pellegrino, no livro que Antonia Pellegrino organizou.
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Julio Daio Borges
17/3/2005 às 09h13
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Orgulho da influência
O que me parece estar se enfraquecendo, enquanto perspectiva cultural hegemônica, é um jeito de contar a história da cultura brasileira que se firmou a partir da Universidade de São Paulo. E essa perspectiva não é apenas literária. De modo mais amplo, pode ser definida como a aposta na ilustração da burguesia paulista, na sua atualização cultural e científica, como caminho para a superação do atraso brasileiro.
* * *
Fui convidado para escrever uma apresentação das vanguardas dos anos 50/60 para um volume intitulado 100 Anos de Poesia: Um Panorama da Poesia Brasileira no Século XX, organizado por um grupo chamado O Verso, do Rio de Janeiro. Escrevi um texto breve, buscando o máximo de objetividade e isenção crítica. O texto foi aceito e foi assinado um contrato de edição. Algum tempo depois, o editor me escreveu dizendo que Haroldo de Campos vetara terminantemente a publicação de um texto assinado por mim enfocando a obra dele. Eu poderia escrever sobre as outras vanguardas, mas sobre a Poesia Concreta, não. Caso contrário, nenhum poema concreto poderia ser reproduzido na antologia. Ao mesmo tempo, Campos teria sugerido uma lista de nomes confiáveis, que estariam autorizados a escrever sobre a Poesia Concreta. O que mais impressiona é que Haroldo se teria recusado a sequer ler o meu texto. O veto a uma idéia, que é a expressão do desejo de silenciar a discordância, já é uma violência grande, mas é muito maior a violência do veto a uma pessoa, a um nome, independentemente de qualquer consideração crítica.
* * *
Creio que é possível identificar muito facilmente, nos poetas jovens, as suas marcas de filiação. Uma linhagem procede ostensivamente de João Cabral de Melo Neto, normalmente passando pelo filtro da Poesia Concreta; outra repete à exaustão a imagética e a dicção do último Drummond; uma terceira traz à flor da pele, na dicção uniformemente "alta" e no gosto do vocábulo "poético", as marcas da Geração de 45; e há ainda os herdeiros da "poesia marginal" e da contracultura dos anos 60/70, que apostam no happening, na exploração da coloquialidade e na estilização de procedimentos da primeira poesia modernista. De tal forma que no geral me parece que existe agora, para parodiar Harold Bloom, uma espécie de "orgulho da influência".
Paulo Franchetti, da Unicamp, em entrevista à revista Babel, no início dos anos 2000 (mas ainda atual).
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Julio Daio Borges
17/3/2005 às 09h01
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Para ler no botequim
Infelizmente, o mercado editorial no Brasil é uma tristeza. Para não me deprimir, tenho inclusive evitado pensar sobre o assunto. As editoras estão fazendo livros cada vez mais caros, na contra-mão da expansão editorial do resto do planeta. Mesmo aquelas editoras que apostaram em livros populares, agora estão se rendendo à lógica do mercado, e já aumentaram barbaramente seus preços. As capas em geral são muito feias, pretensiosas. Não há um tratamento artístico, no sentido "trágico" do termo. No máximo, um design bonitinho, ou elegante. Por outro lado, com a economia crescendo, e o analfabetismo caindo, haverá um crescimento natural do mercado de livros. Essa é minha esperança.
Miguel do Rosário em entrevista na Novae, promovendo seu primeiro livro de contos.
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Julio Daio Borges
16/3/2005 às 15h18
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Mulher é tudo igual
Eu e a Marieta Severo não temos tempo pra solidão. Ela foi casada com Chico Buarque, eu com João Teodoro. Ambos nos deram muito trabalho. Teodoro era alcoólatra e me batia na cara. Passei com ele os piores momentos da minha vida. Como se não bastasse era meio veado, o cara. Vivia se enroscando com garotinhos por aí, depois os trazia pra casa e me apresentava como coleguinhas de trabalho. Ora, vê se eu sou boba. Punha os moleques pra dormir na minha cama, "ele não tem pra onde ir, coitado", e dormia comigo no sofá da sala. No meio da noite, João sumia.
Quando bebia além da conta e se punha a fazer escândalo, eu lhe dizia: qualquer hora pego minha bolsa e vou embora sem nem me despedir. Ele não acreditava. "Mulher é tudo igual", dizia.
Um dia eu estava na cozinha preparando o almoço quando João entrou e me viu despejar meio litro de azeite, dos bons, no copo do liquidificador. "Pra que tanto azeite?", berrou. A receita é essa, molho pesto é assim mesmo, vai azeite pra burro. Não sei por que, meus olhos se encheram de lágrimas. Liguei o liquidificador na potência máxima e aquele barulho infernal, e aquele manjericão todo moendo lá dentro, e aquelas nozes sendo trituradas, e aquele verde virando pasta cheirosa, foi me dando uma coisa de novidade, de começar de novo, uma coragem, que eu fui ao quarto e peguei minha bolsa. O liquidificador ficou ligado. Depois disso arranjei tanta coisa pra fazer, pra me divertir, que nem tive tempo pra solidão. João Teodoro estava certo, mulher é tudo igual. Um dia vira tudo Marieta.
Ivana Arruda Leite, que - hoje mesmo -, em Doidivana, já linca pra nós (pro blog).
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Julio Daio Borges
16/3/2005 às 13h38
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pessoas que me acontecem
Tem pessoas novas na minha vida. Pessoas que foram chegando devagar e ocupando um lugar especial no meu coração. Pessoas que me fazem sorrir e me encantam. Pessoas com conteúdo! Pessoas que têm o que dizer! Pessoas que sonham... Pessoas que deixaram tudo para viver seus sonhos e pessoas que estam contruindo sonhos como eu. Pessoas que quero aqui comigo para sempre. Pessoas que foram embora e voltaram.
Tudo o que eu vivi nos últimos anos, parece-me tão distante, como se eu tivesse vivido dez vidas. Foram tantas pessoas me acontecendo e tantas promessas (algumas nunca se realizaram) e amores perdidos e coisas não ditas. É engraçado perceber que a gente é tão querida por pessoas que mal conhecemos. Elas vão chegando devagar, aproximando com sutileza... E de repente a gente não quer mais sair de perto delas...
Mônica no Crônica Excêntrica, que igualmente linca pra nós.
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Julio Daio Borges
16/3/2005 às 13h32
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A opinião que se publica
"Não procuro dirigir nem criar a opinião pública no meu Estado. Ao contrário, procuro apenas sondar com cautela as opiniões em que o Estado se divide e deixo-me ir, confiado e tranquilo, na corrente daquela que me parece seguir o rumo mais certo."
Julio Mesquita, founding father do Estadão, citado numa conversa com o Rodrigo Mesquita ontem.
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Julio Daio Borges
16/3/2005 às 10h45
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Por que votar em Bussunda?
Porque é um empregão! Quatro anos, quem sabe até mais, com ar condicionado, cafezinho, secretária, imunidades, os caraminguás no final do mês e amplas possibilidades de sanear definitivamente as combalidas finanças de nosso candidato.
Mas por que Bussunda? Por acaso a boneca já perguntou alguma vez por que Gastone Righi? Por que Aecinho? Por que Dasso Coimbra? Genoíno? Então não enche o saco.
A palavra do candidato
E onde eu entro nisso? Pois é... Este ano completo 26 anos e nunca tive uma carteira de trabalho, tenho um nome a lazer. Há mais de 6 anos entrei na faculdade e estou longe de terminar, mamãe não larga do meu pé... e não dá mais grana. Pois é... tá foda.
Eu sei que a situação está difícil para todo mundo, mas é que eu tenho mais chance, galera. Tenho a imprensa do meu lado. Não custa dar uma forcinha. Além do mais, para mim bastam as mordomias, o salário e a aposentadoria no segundo mandato. Prometo que não vou roubar.
Eleitor, temos um encontro marcado para o dia 15 de novembro, mas liga antes pra confirmar, sei lá, de repente eu viajo...
Bussunda em 1988, depois da Abertura, em O melhor do jornal O Planeta Diário, quando o Casseta & Planeta era engraçado.
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Julio Daio Borges
16/3/2005 às 10h18
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