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BLOG

Quarta-feira, 25/8/2010
Blog
Redação
 
O sertão do tamanho do mundo

Revista eletrônica "para ser lida sem pressa" mostra o que o sertão tem de melhor. Numa época de jornalismo em tempo real, o jornalista gaúcho José Paulo Borges, 63 anos, ousa produzir uma revista eletrônica atemporal, a fim de mostrar o que o sertão tem de mais sertajeno. "Um sertão orgulhoso de ser 'do tamanho do mundo', como diria Guimarães Rosa. Mas ciente de que muitos tijolos ainda precisam ser assentados na construção de um sertão livre do estigma de miséria e atraso marcado sua história", diz o jornalista a respeito da missão do site que acaba de ser lançado por ele: Sertão Melhor.

A revista traz seções interessantes, como a "Bem dito Chico" - antologia dos melhores textos sobre o Rio São Francisco. Na seção "Turismo", o destaque da edição do lançamento é a matéria "Nas pegadas do beato Antônio Conselheiro". A manchete da matéria principal diz, corajosamente, que quem se omite a respeito da degradação do Rio São Francisco é cúmplice. Mas também tem o "Sertão Empreendedor", "Sabores e Saberes", "Cultura", e muito mais.

Depois de mais de 30 anos de atuação na imprensa escrita de São Paulo (jornal Última Hora, sucursal paulista de O Globo, do Rio, Agência Estado e Portal do Estadão, entre outros meios impressos e eletrônicos), a paixão por um "Sertão Melhor" só pode ter uma razão: atualmente o empreendedor (BSJ - Borges Serviços Jornalísticos) gaúcho reside no sertão pernambucano, em Petrolina.

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Postado por Débora Carvalho
25/8/2010 às 17h54

 
3 perguntas: Bumblefoot

Em março publiquei uma extensa entrevista com Ron Bumblefoot Thal, guitarrista do Guns N' Roses. Desde então, ele tem estado bastante ocupado, seja com a banda ou em sua carreira solo. Aproveitei para fazer uma breve entrevista com ele.

1) Nós conversamos há cerca de seis meses e, desde então, você tem estado bastante ocupado com o Guns N' Roses (GNR). Vocês fizeram toda a turnê sul-americana, a primeira parte da europeia e estão retornando para a estrada para a segunda parte da turnê pela Europa. Como está indo até agora? Como você sente a reação dos fãs em relação a essa versão "não-tão-nova" do GNR e para as músicas do Chinese Democracy?

É bom voltar à estrada, com uma versão do GNR "não-tão-nova", mas muito vigorosa. Nós crescemos muito na turnê e têm sido as melhores apresentações do GNR que eu tenha participado. Como nos aproximamos do aniversário de dois anos do lançamento do Chinese Democracy, é bom ver o público cantando junto com as músicas novas, não apenas os clássicos.

2) Mesmo com uma agenda ocupada com o GNR você tem conseguido lançar algumas coisas bem legais da sua carreira solo. Você está relançando seu primeiro disco solo, The Adventures of Bumblefoot; está prestes a lançar um livro de tablaturas e colocou uma música disponível no Rock Band Network ("Guitars SUCK"). Como se sente ao lançar novamente seu primeiro disco? Quais foram os principais desafios par desenvolver o livro de tablatura? E como é a oportunidade de ter uma música no Rock Band Network?

Relançar meu primeiro disco, The Adventures Of Bumblefoot, é como se eu tivesse reconquistado o uso de um dos meus membros que perdi por 15 anos. A Shrapnel Records lançou o disco em 1995 nos EUA, a Roadrunner Records na Europa e no Japão. É um disco instrumental de guitarra, meio experimental, com algo de Zappa... Foi bem na época, bons comentários, foi um bom primeiro álbum. Depois que meu contrato se encerrou, o disco nunca mais foi produzido pela gravadora, não estava mais disponível. Ano passado a Shrapnel entrou em contato comigo sobre relançar o álbum e nós trabalhamos juntos para atualizar a capa e adicionamos uma faixa extra de uma trilha de videogame da SEGA que eu fiz em 1996. Estou muito satisfeito de estar disponível novamente!

O livro de tablaturas é algo que comecei em 1997. Eu coloquei cada parte de guitarra de cada música em fitas-cassete e ouvia com uma guitarra na mão, alguns segundos por vez, reaprendendo tudo que eu toquei e colocava em um software de notação (musical). Demorou seis meses, duzentas páginas de digitação e palhetadas específicos, notação musical e tablatura para cada nota tocada no disco. Tudo foi um grande desafio, mas estou orgulhoso de ter feito. O livro e o CD estão disponíveis na minha loja on-line. Os CDs são autografados e eu doo US$ 5,00 de cada CD vendido para pesquisas sobre esclerose múltipla.

Sim, minha música "Guitars SUCK" está disponível no Rock Band Network! É a primeira de muitas músicas que espero colocar no Rock Band. Eu gostaria de colocar algumas músicas dos discos Normal e Abnormal.

3) Eu sei que você está vendendo dois de seus discos (Normal e Abnormal) aqui no Brasil através de uma distribuição via fãs. Como funciona e por que escolher essa forma? Há planos de vender mais coisas aqui?

Eu tenho procurado distribuição no Brasil e na América do Sul há muito tempo, mas nunca encontrei uma boa opção. Eu queria uma coisa conveniente e fácil para os consumidores, alguma coisa em que o preço não ficasse tão caro pelas taxas de distribuição. Quando ouvi sobre o Mercado Livre, pareceu a melhor opção, a forma mais direta de conexão com as pessoas. Com uma grande ajuda dos amigos no Brasil, nós fizemos acontecer. Estamos vendendo o Normal e o Abnormal e se houver demanda por mais CDs e produtos, nós vamos disponibilizá-los.

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Postado por Rafael Fernandes
25/8/2010 à 01h27

 
Economist matando os blogs

Brendan Greeley, da Economist, sobre uma pauta sugerindo fim da blogosfera...

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Postado por Julio Daio Borges
25/8/2010 à 00h38

 
Gillmor e o futuro da mídia

Steve Gillmor, em "The Client-side Revolution: What's Next", no IT Conversations.

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Postado por Julio Daio Borges
24/8/2010 à 00h20

 
Nick Carr sobre The Shallows

Nicholas Carr, em entrevista a Dr. Moira Gunn, sobre The Shallows: What is the Internet Doing to Our Brains.

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Postado por Julio Daio Borges
23/8/2010 à 00h00

 
Autores & Ideias no Sesc-PR II

* (Começou aqui...) Foi "pauleira" a volta para São Paulo, com um jogo da seleção na sexta, 25 (contra Portugal) e outro na segunda, 28 (contra o Chile). Claro que estive on-line no Paraná, mas há sempre coisas para se resolver no escritório (de que a internet simplesmente não dá conta). Trabalhei, em resumo, na segunda, porque desembarquei na sexta à tarde e só consegui ir para casa (em meio ao trânsito da nossa vitória, chocha, contra Portugal).

Cascavel, 29/6, terça-feira — O acesso a Cascavel se dá por Curitiba. Segui para a capital do Paraná basicamente no primeiro horário. Assim, madruguei — só que fui mais esperto, dessa vez, com a mala. Segui o exemplo do Cardoso e não despachei bagagem, fiz check-in automático, em Congonhas. Encontrei meu colega de mesa na sala de espera, já em Curitiba, enquanto ele terminava um livro da Cosac Naify, que resenharia mais tarde.

* Pegamos um aviãozinho de hélice, mas o Cardoso achou o serviço de bordo melhor do que qualquer outro. O aeroporto de Cascavel me lembrou o de cidades pequenas na Bolívia e até no Marrocos. Era, praticamente, um corredor, onde a distância entre "desembarque" e "embarque" não era grande, de modo que o fluxo de pessoas podia se misturar. A delicada Lysiane Baldo, nossa anfitriã em Cascavel, chegou logo em seguida, no carro do Sesc-PR.

* O hotel, Harbor Self, era da mesma cadeia de Londrina — e oferecia a melhor conexão de internet em toda a viagem. Como o tempo — nas nossas cidades — havia sido escasso, tínhamos coisas a fazer on-line. Portanto, almoçamos cada um por sua conta, liberando, inclusive, a Lysiane. Me esbaldei com um filé à parmegiana, no restaurante quase deserto do hotel, enquanto Paraguai e Japão disputavam uma vaga nos pênaltis. Ainda deu tempo de escrever sobre "internet e ensaísmo" e de ver um pouco de Espanha e Portugal (#fail).


Ouça o áudio da nossa mesa no Sesc de Cascavel

* O Sesc propriamente dito era pequenininho, mas nos brindou com a plateia mais interativa da turnê paranaense. A mediadora, Vera Ferreira Leite, que acabou ficando nossa amiga, estava preocupada com as perguntas e pediu sugestões quanto ao direcionamento. Como o público não era tão numeroso, sugeri uma abertura, desde o começo, para as perguntas — e para tudo que as pessoas quisessem saber... Nos bastidores, igualmente, conheci a Tere Tavares, uma leitora fiel do Digestivo, comentadora de longa data, que, inclusive, trouxe seus comentários impressos para me mostrar. Adorei. E ganhei um livro dela (como se não bastasse, tínhamos um amigo em comum: o Erwin Maack).

* A Vera preparou uma apresentação minha em cima de dados que eu havia fornecido para uma coletânea de que participei anos atrás. Mais uma vez a "eternidade" da internet: os dados, sobre nós, nem sempre são os mais atualizados, mas, em pesquisas na rede, isso não fica muito claro. E, na hora de corrigir, é você "contra" a internet ;-(

* A provocação, da Vera — de que eu deveria publicar um livro —, acabou induzindo a escolha do assunto naquela noite: literatura. Escassas perguntas sobre internet e comunicação. As pessoas queriam saber, por exemplo, onde encontrar boas "referências" — já que "todo mundo" publica e existe cada vez menos gente disposta a "filtrar". Eu indiquei o Sérgio Rodrigues. Depois, queriam saber, também, porque a poesia era tão desprezada como gênero... Eu sugeri que talvez ela tivesse sido ofuscada pelas letras de canções de música popular. Aquela plateia só de interessados constantemente nos desafiava ;-)


Um registro incipiente da plateia (by Cardoso)

* A Lysiane e a Vera, depois do evento, nos levaram a uma choperia, onde comemos pizza, e o tema da conversa foi, de novo, relacionamentos. Como os papéis (de homens e mulheres) mudaram — e alguns se inverteram — etc. A Vera estava aliviada, passada a mediação, e se revelou bem articulada, falando de Bauman e dos tais "amores líquidos". Esqueci de dizer a ela que um dos textos mais longevos do Digestivo é justamente um, da Gioconda Bordon, resenhando esse livro. Depois vieram uma porção de outros volumes "líquidos" de Bauman, mas essa ideia do "amor" talvez justifique — mesmo — muitos comportamentos atuais, pós-fragmentação da vida, da personalidade... e, claro, dos relacionamentos.


Pato Branco, 30/6, quarta-feira — Para a última cidade da nossa turnê, seguimos de van, com motorista e tudo. Pato Branco não era longe de Cascavel, mas a viagem demorou, porque só havia uma pista, disponível, na estrada (a outra estava em obras). Já em Pato Branco, as pessoas confundiam o Sesc com o Sesi e demos algumas voltas no quarteirão. O Cardoso enviou um SMS para os Daniéis (Galera e Pellizzari), e eles responderam que haviam se perdido, igualmente, em Pato Branco.

* Quando o Sesc se revelou, contudo, foi o mais impressionante de todos. Era novo, tinha menos de um ano, e era enorme. Um estacionamento amplo, uma entrada com passarela, biblioteca convidativa, muitas salas, incrível anfiteatro, mais de um andar e, atrás, um ginásio coberto digno das Olimpíadas de 2016 (se o Rio não conseguir se aprontar...). O Daniel Momoli, nosso anfitrião em Pato Branco, era, como seus predecessores, afável, e nos levou para almoçar.


* O hotel, San Pietro, era mais central, como o de Maringá. O quarto me pareceu o mais bem planejado — pequeno, mas com tudo o que era necessário. Internet 100%, mais uma vez. Revisei e despachei, finalmente, meu texto sobre ensaísmo na Web. Em seguida, assisti a um documentário sobre o cinema de John Ford. Era tão bonito, com a narração de Orson Welles, que até chorei — lembrando da minha família ("família" é um valor importante para o cinema de Ford). Também forneciam depoimentos: Spielberg, Clint Eastwood, Scorsese, e atores como John Wayne e Maureen O'Hara. O roteiro era de Peter Bogdanovitch.

* Na volta para o Sesc, conhecemos o Neri Schneider, diretor dessa nova unidade de Pato Branco. Um veterano do Sesc da Esquina, muito simpático, que nos falou do desafio de atrair o público, atendendo a vários municípios próximos. Nossa mesa foi naquele "super anfiteatro", sendo que, no camarim, um verdadeiro banquete nos esperava. Não deu tempo de comer nem a metade, junto com o mediador, o Leo, pois Daniel já nos anunciava...


O camarim em registro do Cardoso

* Entramos um a um, como em Maringá. O auditório estava praticamente lotado e a maioria era "jovem", como em Londrina. Eu ficava pensando em como não entediar aqueles estudantes e procurava recordar o estudante que fui (na mesma idade). Tentei não ser muito técnico, mas um veterano de internet — escondido no meio dos colegiais — quase me corrigiu, quando comentei da Amazon apagando um título do Orwell no Kindle de alguns leitores...

* O sujeito havia lido o CardosOnline há quase uma década, citou o Spamzine, do Inagaki, e poderia ter subido no palco, tranquilamente, para discutir conosco. Jamais esperaríamos isso em Pato Branco (que imagináramos, erroneamente, ser o local menos "globalizado" que iríamos visitar). Graças a ele — de quem, infelizmente, não lembro o nome —, a juventude se soltou e começou a perguntar. Também alguns professores. Com essa participação, tivemos certeza de que o evento havia funcionado ;-)


Ouça o áudio da nossa mesa no Sesc de Pato Branco

* Encerramos a noite com um jantar num "pizza & grill", a convite do Daniel — embora não restasse muito de fome, após um camarim tão farto ;-) O dia seguinte foi da longa viagem de volta. Primeiro, para Cascavel. Depois, para Curitiba. Por fim, para São Paulo. E o Cardoso ainda teria de esperar, em São Paulo, para ir até Porto Alegre. Quase perdi o embarque em Curitiba (tive de implorar para fazer o check-in — o sistema havia caído...). No desespero de entrar no avião, quase não consegui dar um último abraço no Cardoso e desejar-lhe tudo de bom... E o Sesc foi, mais uma vez, impecável, pagando o nosso cachê no dia seguinte, sem atrasos ;-)

[2 Comentário(s)]

Postado por Julio Daio Borges
20/8/2010 à 00h13

 
Autores & Ideias no Sesc-PR I


Cartaz do evento, clique na imagem para ampliar
(não tem o meu nome; pois confirmei só na véspera)

* Por coincidência, quando estava cobrindo o Festival de Curitiba, recebi um e-mail da Mariana Sanchez, me convidando para uma edição do "Autores & Ideias", do Sesc Paraná. Primeiro, seria em agosto; depois, no início de junho. Finalmente, foi nas duas últimas semanas de junho. E meu colega de mesa foi o "Cardoso" — André Czarnobai —, do saudoso CardosOnline. Percorremos, na penúltima semana de junho, os SESCs de Curitiba (22), Londrina (23) e Maringá (24). E percorremos, na última semana de junho, os SESCs de Cascavel (29) e Pato Branco (30).

* Antes de começar, eu gostaria de elogiar o profissionalismo do Sesc Paraná, ao cobrir absolutamente todas as despesas, desde transporte e hospedagem até refeições e translados, sem contar o pagamento de um cachê acima de média (para esse tipo de evento). E gostaria de elogiar, também, os profissionais do Sesc-PR, que foram excepcionalmente atenciosos, nos recebendo, nos transportando, até nos levando para almoçar e jantar, como amigos de longa data, irrepreensíveis em todas as cidades.

* Também gostaria de comentar que me senti muito lisonjeado em participar de um evento como "autor". Coloco entre aspas, porque, na internet, somos "de tudo um pouco". Principalmente, nós, pais de iniciativas como o Digestivo e o CardosOnline. São tantas coisas para se cuidar, desde a edição de textos até a parte técnica do site, passando pelo contato com leitores e, no meu caso, pela parte comercial — que a gente até se esquece de que é, igualmente, autor; afinal, escreve. E, no fim de contas, é por isso que começou. (Eu comecei porque não tinha onde publicar — já contei diversas vezes.) Logo, ser chamado de autor é uma honra e um reconhecimento por um objetivo que às vezes parece ter ficado para trás.


A primeira edição do Autores & Ideias
(com Daniel Galera e Daniel Pellizzari)

* Por último, foi uma honra também suceder o Daniel Galera e o Daniel Pellizzari, que realizaram a primeira edição do Autores & Ideias, em maio deste ano. E foi divertido saber que, depois de mim e do Cardoso, o Autores & Ideias prossegue, neste segundo semestre, com Fabrício Carpinejar e Marcelino Freire. Todo mundo que me lê, sabe da minha admiração pelo Galera — sendo ele, junto com o Michel Laub, dois dos meus prosadores preferidos nessa geração. Conversando com o Cardoso, aliás, percebi uma afinidade maior com os autores do Sul — como inconscientemente já manifestei, a respeito da poesia inicial do próprio Carpinejar, dos contos da Cíntia Moscovich e da crítica literária do Polzonoff.

* Inclusive, perguntei, para o Cardoso, se as pessoas, do Sul, liam mais (como já me falaram). Ele disse que não, que talvez comprem mais livros — mas livros que não leem, do mesmo jeito (como no resto do Brasil). A propósito, não conhecia o Cardoso pessoalmente, só de ler e por e-mail. A lenda do CardosOnline surgiu, para mim, numa das primeiras entrevistas do Digestivo — quando me perguntaram se o site era inspirado no e-zine mais famoso do Brasil. Não fui um leitor do CardosOnline, enquanto ele durou, mas li, indiretamente, nos livros do Galera e do próprio Cardoso. Dentes Guardados, que eu considero um dos melhores livros do anos 00, saiu inteiro do CardosOnline. É uma prova — de 2001 (!) — de que a internet pode ser literatura (embora essa discussão tenha persistindo durante anos).


O Cardoso, na época em que nos encontramos

Curitiba, 22/6, terça-feira — Uma das minhas primeiras conversas com o Cardoso, como não poderia deixar de ser, foi sobre a Livros do Mal, a editora mais importante a surgir na internet, por iniciativa do Galera e do Pellizzari. Foi numa cantina, à qual o Sidail de Oliveira, do Sesc da Esquina, nos levou para almoçar (assim que chegamos em Curitiba). O Cardoso contou que um sujeito, em Porto Alegre, tinha montado uma editora "sob demanda", e descobriu o filão dos que publicavam na internet (republicando-os em livro). Chamou a turma do CardosOnline, mas, quando Galera e Pellizzari deram uma olhada na "operação", concluíram que era mais interessante fazer por conta própria (típica conclusão de empreendedor) — e lançaram a Livros do Mal.

* Mais adiante (anos depois), concluíram que gastavam mais tempo, e energia, na administração da editora do que escrevendo seus próprios livros (a razão pela qual eles haviam começado). O Cardoso exemplificou, dizendo que enviar os títulos da Livros do Mal, para determinadas localidades, custava às vezes mais caro do que o próprio volume. Ou seja, o frete não compensava nem disponibilizar (quanto mais vender) em alguns estados. Junta-se a isso, também, o fato de o Daniel Galera ter sido convidado para publicar na Companhia das Letras, durante a segunda Flip — deixando a Livros do Mal em stand-by desde então.


Ouça o áudio da nossa mesa em Curitiba, no Sesc da Esquina

* Nossa primeira mesa, pelo Autores & Ideias, foi na mesma noite daquele primeiro dia, no referido Sesc da Esquina. E o Luís Henrique Pellanda, subeditor do Rascunho, foi nosso mediador. (Mais uma vez, surge minha admiração pela cena literária do Sul — agora pela figura do Rogério Pereira, criador do Rascunho). Eu imaginava o Pellanda mais "jovenzinho", assim como o nosso Rafael Rodrigues aqui (Editor-assistente do Digestivo). É um homem feito — não que o Rafa não o seja ;-) —, e realizou uma mediação corretíssima. Exigiu, de nós, mais do que qualquer outro mediador — pois convive com nossos trabalhos (e havia pesquisado, ainda mais, para aquele encontro).

* Confesso que me surpreendeu, por exemplo, o Pellanda nos perguntando quanto achávamos que iam durar os jornais impressos. O que, aliás, foi um tema nas outras cidades também. Enquanto aqui, em São Paulo, jornalistas e profissionais ligados à mídia impressa negam as evidências até a morte, no Sul me espantou que essa ideia já tenha sido assimilada. Ou seja: ao contrário dos profissionais do Estadão e da Folha, no Sul a "morte" já é uma questão fechada — a única discussão é sobre "quando" ela ocorrerá.

* Também confesso que estava mais nervoso na estreia e que talvez tenha soado mais formal e prolixo do que gostaria (tirem suas próprias conclusões). Geralmente, as perguntas da plateia costumam quebrar esse gelo. E, justamente, havia um senhor, muito lépido, que tomou várias iniciativas nessa direção. Depois, no final, veio nos dizer que a internet era como uma "vaca mágica": "Você tira dela o leite que quiser" (referia-se aos tempos da censura, os quais viveu — contrapondo ao presente, quando tudo está acessível... no mundo inteiro, em várias línguas etc.).


* Do Sesc da Esquina, seguimos, por sugestão da Mariana Sanchez, para o Beto Batata, com mais gente do Sesc, o Sidail e a Deborah Belotti. Praticamente invadimos a festa de aniversário de um amigo do marido da Mariana e nos fartamos com as famosas batatas que levam o conceito da rede Baked Potato ao extremo. Falamos sobre jazz, cinema, e o Cardoso dividiu um pouco da sua experiência como roteirista. Evocamos, para variar, a lembrança do Galera e do "Mojo" (Daniel Pellizzari); e Cardoso nos contou duas anedotas sobre os encontros do Galera com o Chico Buarque (que sempre o convidava para jogar futebol, sendo que ele, Daniel, não joga). A Deborah nos deu uma carona salvadora de volta.

Londrina, 23/6, quarta-feira — No dia seguinte, embarcamos para nossa segunda cidade. E, no aeroporto, nos esperavam as simpatissíssimas Rita Ribas e Yuka Toyama Borges. Montaram, simples e apenasmente, a agenda mais completa que encontramos na nossa turnê pelo Paraná. Mal chegamos e já descobrimos que havíamos saído, ao mesmo tempo, na Folha de Londrina e no Jornal de Londrina. Na Folha foi interessante porque estampamos a capa do caderno de cultura (tudo bem que com as legendas, das nossas fotos, trocadas). E eu disse "interessante" também porque, que eu me lembre, isso nunca aconteceu em nenhum outro lugar — e, muito menos, nas nossas próprias cidades (o que fez um de nós evocar aquele ditado: "Santo de casa não faz milagre").


A piscina do Harbor Self de Londrina

* Almoçamos no Villa Fontana, que me lembrou a rede Ráscal (ainda que eu e o Cardoso tenhamos trocado o bufê por comida japonesa). Londrina — que eu não conhecia — me lembrou Ribeirão Preto, uma cidade aparentemente próspera, crescendo e com uma porção de empreendimentos. Nosso hotel, aliás, era num local privilegiado, próximo ao lago Igapó (que prometemos percorrer a pé, mas que no dia seguinte... não tivemos forças). Como o Wi-Fi pegava melhor fora do quarto (do que dentro), tentei aproveitar, no tempo livre, as áreas externas do Harbor Self enquanto trabalhava on-line.

* Do almoço e de uma conversa animada sobre família com a Rita e a Yuka, seguimos non-stop para a UEL (Universidade Estadual de Londrina), que, por sua vez, me lembrou, bastante, a USP: com um campus amplo, muito verde, muitos espaços e um certa tranquilidade que nunca mais encontramos no mundo profissional. Demos uma volta de carro, enquanto o Cardoso revelava que seus melhores amigos são do tempo da faculdade (o que não sei se é o meu caso). E a Yuka me mostrou, destacadamente, o CECA (Centro de Educação, Comunicação e Artes), onde leciona um dos mais longevos Colunistas do Digestivo, o Jardel ;-)


Ouça eu e o Cardoso no Boletim Cultural do Rogério Cavalcante

* Na rádio UEL, nos esperavam para a gravação de três (!) entrevistas. A primeira foi, praticamente, uma breve participação no Boletim Cultural, do igualmente simpático Rogério Cavalcante. Como não tenho prática de falar em rádio, ainda mais quando o tempo é curto, fiquei com a sensação de que o Cardoso, que produz boletins para a Oi FM, me deu um banho. De certa forma, compensei na gravação do Trem das Onze, do Jersey Gogel — na realidade, uma longa entrevista sobre o Digestivo Cultural. O que mais me chamou a atenção, depois que terminamos, foi o comentário do mesmo Jersey: "Pensei que você fosse filho de algum 'grande nome' da imprensa". Concedemos, finalmente, nossa última entrevista para uma apresentadora da TV UEL. Deve ter sido pensando nela que o Daniel Galera respondeu quando lhe perguntaram se preferia "ler ou escrever": "Mulher gostosa!".


Ouça o áudio da nossa mesa no Sesc de Londrina

* O Sesc de Londrina me lembrou o da Vila Mariana. Numa espécie de camarim, nos esperava o mediador, Cláudio Osti. Fomos fotografados enquanto conversávamos sobre política (um dos muitos interesses de Osti). Quando nos dirigimos ao local do debate, me senti um superstar, com a nossa maior plateia, cheia de estudantes, de educadores e com um poderoso microfone. Osti, como mediador, foi o mais solene de todos, embora soubesse buscar a intimidade da audiência, sempre que necessário. Notei ainda que, em Londrina, voltavam as questões sobre internet e educação — e descobri que talvez estivéssemos falando, em excesso, sobre cultura e mídia. Era, também, a época do Cala Boca Galvão e fomos aprendendo a usar esse "gancho" nas outras cidades, principalmente quando a plateia era de entusiastas do Twitter.

* Encerramos a noite, eu e o Cardoso, no restaurante do hotel, conversando longamente a respeito das similaridades entre o Digestivo e o CardosOnline. Descobrimos novas coincidências — como o inesgotável tema dos colaboradores. Também a solidão, ocasional, do editor. E as infinitas razões para continuar ou descontinuar uma publicação. O CardosOnline parou de circular — para usar uma expressão da moda — em 2001, mas não foram poucas vezes, durante a viagem, que perguntaram, ao Cardoso, como colaborar no e-zine. A internet não é tão efêmera quanto parece; e esse seu aspecto de "eternidade" pode soar, inclusive, assustador.


Maringá, 24/6, quinta-feira — Como a distância, para a terceira cidade, era mais reduzida, trocamos o avião pelo ônibus. O Cardoso me ajudou com a mala, porque eu — como Pascal naquela carta — não havia tido tempo de fazer uma menor (quando saí de São Paulo). Já em Maringá, pegamos, nós mesmos, um táxi, porque havia outro evento concorrido no mesmo dia, e desembarcamos no hotel Elo. De lá, telefonamos para a Laíde Cecilia de Sousa, nossa anfitriã em Maringá, notificando que desembarcáramos sãos e salvos e que iríamos tomar nosso desjejum nas proximidades.

* Mais uma cidade arborizada e alegre. E a padaria, perto do hotel, nos fez cair o queixo — muito sofisticada. Não imaginávamos. Os sanduíches, quando chegaram, estavam maravilhosos. Na caminhada de volta, prometemos, mais uma vez, fazer um turismozinho. Em Maringá, isso significava subir a famosa escadaria de sua catedral. Na família do Cardoso — de Porto Alegre —, ninguém havia logrado tal feito. E como já estávamos meio cansados (encerrado a primeira etapa da nossa turnê), não seria ele o primeiro ;-)


Ouça o áudio da nossa mesa no Sesc de Maringá

* Quem nos falou desse e de outros marcos da cidade, quando já esperávamos na antessala do Sesc Maringá, foi o Joel Cardoso (coincidência de sobrenomes não planejada) — jornalista que nos presenteou com um exemplar de seu Epítome. Marcelo Bulgarelli, nosso mediador, foi quem nos avistou logo na entrada. Com a Laíde, então, a empatia foi mútua, a ponto de ela nos querer, em Maringá, durante outros eventos que não apenas o Autores & Ideias.

* A mesa, em si, foi uma das mais descontraídas e, na minha opinião, uma das mais fluídas. Tivemos a apresentação grandiloquente do Joel, que nos elevou às alturas, com direito à doação de novos exemplares de Epítome, e até entrada, triunfal, com ele anunciando nossos nomes por extenso (escandindo cada sílaba). A descontração, claro, ficou por nossa conta, a fim de quebrar, necessariamente, o gelo (depois de tantas glórias...). Meio sem planejamento, tentei não vir com um discurso pronto — procurando extrair, da plateia, o que ela realmente gostaria de saber. Às vezes o papo sobre internet, sobre tecnologia, tende a ficar meio esotérico — e eu fico pensando o que as pessoas, que foram nos ouvir, levarão de proveitoso. (A Laíde — que solicitou avaliações dos participantes — me revelou, no encerramento, que a estratégia havia funcionado.)


Eu, desprevenido, em click do Cardoso

* Eu e Cardoso jantamos pizza, nas cercanias do hotel, e conversamos, mais uma vez longamente, sobre empreendimentos colaborativos. Naquela noite, Cardoso me contou da sua participação no Overmundo. Falamos, ainda, sobre relacionamentos — e descobrimos que havíamos nos tornado, efetivamente, amigos. Como, talvez, já éramos, por afinidade (via internet). Anotei que, quando nos encontrávamos, o assunto parecia inesgotável — como, na adolescência, ao discutir por horas a fio, com amigos... sobre música, meninas, sonhos, enfim ;-)

(Continua...)

[1 Comentário(s)]

Postado por Julio Daio Borges
18/8/2010 às 10h58

 
A fã número um de Ray Bradbury

Algumas senhoritas não têm a sorte de conhecer seu escritor predileto antes de ele ficar bem velhinho. Essa aí curte o Ray Bradbury, que completa este mês 90 anos de idade...



(Esse videoclipe, aliás, me lembra este post publicado no falecido blog O Garganta de Fogo.)

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Postado por Yuri Vieira
18/8/2010 às 09h43

 
Pequena notável


(cinemanet.com)

"Acusamos o recebimento", como se diria outrora, do CD Carmem Miranda Hoje, fruto do trabalho conjunto do escritor e biógrafo Ruy Castro e do músico Henrique Cazes. Na verdade é um suporte multimídia, composto por doze faixas musicais e duas faixas bônus. A primeira, com o vídeo "Querido Adão", cuja música, se adotada bailes de carnaval resgataria a qualidade dos salões. A segunda faixa, com entrevista de Ruy Castro e Henrique Cazes trazendo informações sobre a cantora, sua época e detalhes da produção. As músicas originais foram "restauradas" com o acréscimo de cordas e percussão, enriquecendo-as e livrando-as da estridência típica dos antigos discos de vinil. Lembre-se que Ruy Castro assina uma biografia da cantora: Carmem, uma biografia, de 2005. Nossa coleção de sambas inusitados, que já contava com o "Samba fúnebre" de Pixinguinha e com o "Samba italiano" de Adoniran Barbosa, fica agora acrescida de "O samba e o tango", escrito por Amado Régis.

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Postado por Ricardo de Mattos
16/8/2010 às 10h33

 
A idade de ser feliz


Quintana por Canini

Existe somente uma idade para a gente ser feliz.

Somente uma época na vida de cada pessoa
em que é possível sonhar e fazer planos
e ter energia bastante para realizá-los,
a despeito de todas as dificuldades e obstáculos.

Uma só idade para a gente se encantar com a vida
e viver apaixonadamente
e desfrutar tudo com toda intensidade
sem medo nem culpa de sentir prazer.

Fase dourada em que a gente pode criar
e recriar a vida à nossa própria imagem e semelhança
e vestir-se com todas as cores
e experimentar todos os sabores.

Tempo de entusiasmo e coragem em que todo desafio
é mais um convite à luta que a gente enfrenta
com toda disposição de tentar algo novo,
de novo e de novo, e quantas vezes for preciso.

Essa idade tão fugaz na vida da gente chama-se PRESENTE,
também conhecida como AGORA ou JÁ
e tem a duração do instante que passa.

Mário Quintana, em A Recreativa (encartada na última Revista da Cultura).

[1 Comentário(s)]

Postado por Julio Daio Borges
13/8/2010 à 00h17

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