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Sexta-feira,
15/4/2005
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Redação
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Felicidade (extra)conjugal
Uma vez na sua vida com Paul, Nancy se deixara beijar por outro homem, um beijo guloso, de pé, com a boca aberta e as pernas afastadas. Agora que pensava nisso, tinha sido também com um ator. Um ator jovem, praticamente desconhecido. Agora, pensando em Watterson, e depois no ator juvenil, ela retrocedeu até uma verdade que tinha descoberto para si mesma. Algo que havia descoberto observando o progresso da vida amorosa extramarital de suas amigas - embora fingindo nada observar. A verdade é que havia certo tipo de homem, atraente e famoso à sua maneira e assediado por mulheres, com que mulheres saudáveis, mulheres como Nancy, podiam concebivelmente ter um caso amoroso, mas não casar, ainda que ele fosse o último homem na face da Terra. Certa feita Nancy ouvira o chistoso dito francês segundo o qual se pode amar pelo Bois sem comprá-lo. (Soava melhor que o dito americano: por que criar uma vaca quando o leite é tão barato?) Ela usaria a observação sobre o Bois para justificar o comportamento de alguns homens dos quais gostava, sem gostar, porém, do seu comportamento. Somente nos últimos três ou quatro anos se sentira tentada a aplicá-la de mulher para homem. Bem, não desposaria um homem como Watterson, mas já que existiam homens como Watterson, por que não investigá-los? Por que não sondar pelo menos outro homem? Ela conhecia cada pêlo do corpo de Paul; conheciam tudo um do outro que gostassem de aprender com naturalidade. Um homem novo seria um completo estranho e Nancy tinha curiosidade a respeito de si mesma, também. Talvez fosse estranha, para si mesma e para qualquer outro homem. A oportunidade era boa para descobrir. Assim, calmamente, ela pôs na cabeça que teria um caso com John Watterson, o ator.
Mais uma vez, John O'Hara, no mesmo livro. Porque esse cara tem futuro (já morreu).
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Julio Daio Borges
15/4/2005 às 12h52
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Ficar ou não ficar?
Devo terminar? Suponho que sim. É terrível a gente se envolver com tantos homens e fazer da vida uma bagunça, e depois aparece alguém, com quem a gente de fato quer ficar, porque ama essa pessoa, no entanto ela é a única com que não se pode ficar porque, nesse caso, ela imediatamente ficará igual aos outros, e a gente não quer que essa pessoa se assemelhe ao resto. Essa pessoa especial tem uma coisa que os outros homens não têm - e essa coisa nos impede de ficar com ela.
Uma escritora da nova literatura feminina brasileira? Não, um escritor da velha literatura masculina norte-americana. John O'Hara, em BUtterfield 8.
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Julio Daio Borges
15/4/2005 às 12h42
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Ele, Cardoso
Como eu cursava jornalismo há pouco menos de um ano e havia todo um FUZZ a respeito da INTERNET, houve a coincidência de haver arrecadado muito mais E-MAILS do que telefones dos meus COLEGAS. Certa tarde de ÓCIO, escrevi algo muito parecido com uma COLUNA e mandei para toda a minha lista de contatos. Eram comentários sobre livros, discos e filmes, além de alguns poemas, microcontos, opiniões sobre o mundo, filosofia barata e histórias que havia vivenciado nos últimos tempos. Por CHISTE jornalístico, eu montei o texto de modo a parecer algo que pudesse ter sido publicado em uma REVISTA, um jornal. No fundo, era uma forma ENGRAÇADINHA de me COMUNICAR ao mesmo tempo com todas aquelas pessoas, mas a resposta que eu obtive foi TÃO impressionante que resolvi fazer uma SEGUNDA edição, no dia seguinte. Dessa vez, dividi o e-mail em SEÇÕES, e incluí textos que os amigos me mandaram em resposta ao primeiro e-mail. Lá pelo QUARTO número, o genial FELIPE BECKER me disse que devia batizar aqueles DEVANEIOS diários de CardosOnline, em alusão ao meu APELIDO adquirido ainda nos primeiros dias de aula de maneira DEVERAS constrangedora. Pois batizei-o, e permaneci enviando os e-mails a uma lista que crescia progressivamente, à medida que os recipientes ORIGINAIS encaminhavam para os seus amigos, e para os amigos de seus amigos, e assim por diante. Um belo dia, Daniel Galera me respondeu um COL [CardosOnline] propondo que UNÍSSEMOS forças e montássemos algo naquele formato, mas de uma forma mais REGULAR. Convidei Marcelo Träsel, ele convidou Guilherme Pilla: estava criado o STAFF original. Uma vez estabelecido no formato de PUBLICAÇÃO, a popularidade do troço foi tomando proporções absurdas, e se espalhou de uma forma INCONTROLÁVEL. Dois COLaboradores destacaram-se logo nos primeiros números: Daniel Pellizzari (o popular Mojo) e Hermano Freitas. Após rápida CONFABULAÇÃO, decidimos incluir os dois no staff oficial. O troço continuou crescendo. Só o Pellizzari levou pro COL cerca de 300 assinantes, num fenômeno que ficou conhecido como EFEITO MOJO. Nos meses seguintes, procuramos loucamente por uma MULHER para escrever no zine, até que o próprio Mojo nos apresentou essa sua amiga recém-chegada de São Paulo. Era Clarah Averbuck. Pra fechar o time em número PAR, convidamos ainda o colaborador mais assíduo, Guilherme Caon. A essa altura o COL já havia virado um MONSTRO. Tínhamos mais de 4 mil assinantes em todos os estados brasileiros; jornais, revistas, rádios e TVs nos entrevistavam e havia dezenas de iniciativas semelhantes na rede.
Cardoso contando, ao Marcelino Freire, como tudo começou (uma dica do Inagaki, que lá do seu blog linca pro nosso).
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Julio Daio Borges
15/4/2005 às 08h37
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Os blogs e os macaquitos
Marcelo Tas, a quem respeito e admiro, publicou o seguinte post hoje e que muito me fez pensar: RACISMO OU TEMPESTADE EM COPO D`AGUA?.
Os blogs possibilitaram que as pessoas escrevessem o que quisessem. Podem dizer que o jogador Grafite realmente é um negro sujo, que o Tas é branco feito leite, ou que a imprensa argentina nos chama de macaquitos por brincadeira, apenas. O fato é que os blogs se tornaram as vozes das pessoas. E cada um tem uma voz diferente...
Sempre fui contra os blogs - apesar de ter um - mas, agora, começo a mudar de ideia. Blogs, como o supra citado, podem me mostrar vozes bem distintas da minha, e isso os tornam interessantes...
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Marcelo Maroldi
14/4/2005 às 20h35
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Faroeste Caboclo
(...) num momento (...) ficou claro para mim que aquilo que eu chamava de poesia era, na verdade, prosa. Imagine: meus poemas tinham personagens e até mesmo tramas. A prosa era a minha praia. Tanto que cheguei a transformar um poema (...) num conto (...) Parei de vez com a poesia. Parei por respeito à poesia e aos poetas que respeito. De vez em quando, alguns de meus contos acabam se desenhando, do ponto de vista da forma, quase como poemas. Mas não é poesia. É prosa. Tudo isso, porém, não me impede de continuar a dar atenção especial, como leitor, à poesia. Acho que qualquer prosador que se preze precisa ir à poesia. É lá a oficina onde se gesta a linguagem.
* * *
A literatura, assim como toda forma de arte, é a grande esperança contra a barbárie. A arte, que deve sempre causar algum tipo de desconforto, serve pra que não nos esqueçamos nunca de que somos humanos. Se, ao escrever, eu olhasse para a realidade sem nenhum tipo de filtro, certamente não estaria fazendo literatura, mas jornalismo. E isso não iria me interessar. Acho que também está ligado ao meu processo de criação. Veja: nunca sei muita coisa sobre o que vou contar no momento em que começo a escrever. Investigo, avanço, e vou "me contando" aquela história.
* * *
Este nem é o pior momento do jornalismo cultural brasileiro, embora espaços importantes continuem a ser fechados (...) Há, é claro, o problema crônico do número de leitores no Brasil - é só pensar nas tiragens dos livros em relação ao contingente populacional. Lê-se muito no Brasil, mas quase nunca literatura. Outro dia, conversando com o Fernando Paixão, (...) falamos sobre a perda da importância social que se abateu sobre a literatura. É assustador. (...) há uma série de outros apelos muito mais sedutores para corações e mentes do que o livro. (...) No que acredito: vão sempre existir leitores e profissionais de mídia, não sei em que quantidade, que devotarão um amor absoluto à literatura e aos livros. Talvez vire uma espécie de seita, não sei. (...) É com essa gente que nós, escritores, vamos dialogar.
Marçal Aquino, num entrevista velha que encontrei só hoje.
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Julio Daio Borges
14/4/2005 às 17h20
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Orkuto, logo existo
Dia desses, faz pouco tempo, fiz 32 anos. Logo antes do tal dia chegar, insisti que não deviam mais me dar presentes nem parabéns. "Tou chegando na idade em que a gente começa a dar pêsames, não parabéns" e "em que a gente começa a fazer aniversário a cada 2 anos" foram meus auto-sarcasmos prediletos no período. Pois bem: nunca recebi tantos parabéns na vida como nestes 32 anos. Só no Orkut, foram mais de 30 recadinhos de pessoas mais ou menos próximas - e olha que não sou daquelas figuras ultrapopulares da comunidade, que parecem querer concretizar o desejo do Roberto Carlos ("eu quero ter 1 milhão de amigos..."). E foi assim que esta balzaquiana cética - a mesma que já prometeu um artigo anti-Orkut nesta página, que já deu entrevista apontando mais contras do que prós na ferramenta, que sempre achou invasivo e constrangedor o tal recurso de enfiar foto e data de aniversário das pessoas, a cada login, na cara do usuário - passou a ter fé no tal do Orkut. Orkuto, logo existo!
Gabi Dias no interessante pero caótico Pessoas do Século Passado.
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Julio Daio Borges
14/4/2005 às 14h48
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Agostinho e Davi
Santo Agostinho, no livro XII, de "Confissões", diz a Deus que, fosse ele o escritor do "Gênesis", o faria melhor que Moisés: "Quereria eu, se então estivesse em lugar de Moisés (...), se eu fosse o que ele foi, e Vós me tivésseis encarregado de escrever o 'Gênesis', eu quereria receber de Vós uma tal arte de expressão e uma tal modalidade de estilo que até esses que não podem compreender como é que Deus cria se não recusassem a acreditar nas minhas palavras, por ultrapassarem as suas forças", num arroubo de vaidade de escritor. Pouco antes, pedia humildade. Como Davi, que abandonava em prece todo o corpo no chão: "põe em mim um coração puro", mas matou um homem para viver um amor com a mulher que cobiçava. Como punição, Deus mata-lhe o filho. Davi aceita e continua orando e pedindo o tal coração puro. No fim da vida, confessa à esposa, por quem precisou assassinar dois homens, considerando a morte do filho com que foi punido: "por ti, eu faria tudo novamente". A alma ansiava pelo divino, o corpo vencia. Graças a Deus.
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Andréa Trompczynski
14/4/2005 às 14h29
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Alminha
Sou brasileira e portuguesa por parte dos pais, alemã e árabe por parte dos avós, e paulistana por opção. Uma salada. Que, aliás, está até presente no meu último nome, Vinagre. Sou uma quase jornalista, quase balzaquiana e quase escritora. Meus amigos costumam reclamar de algumas manias e sumiços, mas acabam entendendo que um bipolar às vezes não é muito coerente em suas atitudes. Amo literatura e gatos. E sou mais ou menos normal algumas vezes por dia...
Patrícia Köhler do Striptease Cerebral, que linca pra nós.
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Julio Daio Borges
14/4/2005 às 08h04
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Hamlet: o óbvio, a fonte
A verdade é que tragédia de Hamlet bagunçou a minha vida. Correu de lá para cá na minha alma, levantando poeiras que eu julgava já assentadas todas. Arrancou de mim confissões inimagináveis de culpa. Me libertou de pecados que eu tomava por meus. Dizer que sou outro homem depois da primeira leitura de Hamlet pode soar mais uma hipérbole, das tantas que fazem parte do meu dia. Mas, desta vez, estou sendo é econômico.
Tudo aquilo que eu julgava óbvio eu reaprendi. Foi como me descobrir um ser humano novamente. Foi como se eu tomasse um porre do tal do sopro de vida. Sem aquele óbvio de que fala Shakespeare parece ser impossível viver. Eu não entendo, sinceramente, como pode tanta gente viver na ignorância do óbvio. Fico pensando, às vezes, em quantos males não nos seriam poupados se o óbvio fosse assim tão óbvio quanto parece. Se tivéssemos assimilado mesmo o óbvio.
(...)
Fechei o livro com uma sensação de incompletude. Soube, assim que o recoloquei na estante, que a ele voltaria em breve. Porque ali há todas as dúvidas - e também algumas respostas. Sou contra estas pessoas que transformam livros em oráculos. Não é esta a minha intenção. Quero apenas voltar a Hamlet porque, voltando a ele, volto a mim. Não posso negar que, de vez em quando, fico certo de quem sou - o que é um pecado enorme na minha idade. Hamlet é minha consciência mais crítica; é o encontro de mim com minhas porções boas e más. A leitura da peça é uma reunião de forças conflitantes que lutam para predominar nesta carcaça. Ainda que as reuniões jamais cheguem a um denominador comum (o que é próprio do humano), o resultado sempre é bastante interessante. Tanto que hoje não sou mais o que fui ontem. O que significa um começo de melhora. Sempre.
Paulo Polzonoff Jr., dando razões à minha mania de ler os mesmos três gatos pingados todos os dias, em "Humilhação e Bravata"
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Andréa Trompczynski
13/4/2005 às 18h18
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O uivo do coyote
(...) eu acho que os principais cadernos de cultura do país estão adormecidos (...) os editores e repórteres (...) ficam esperando chegar o release das grandes editoras na redação, e também às vezes o que vale é você ficar fazendo amizade com os caras, puxando o saco, e eu sou incompetente para isso, aliás tenho aversão.
* * *
(...) eu faço parte de uma geração que ficou meio prensada, porque houve aquela geração dos anos 60 que teve um trabalho muito forte no campo da música, do teatro, do cinema, etc. e que ficaram em evidência por muito tempo. Durante muito tempo ficaram voltados para esses criadores sem prestar atenção nas coisas que aconteciam em volta, e já vinham outras pessoas surgindo, trilhando outros caminhos, assimilando coisas novas, trazendo outras informações e estava todo mundo olhando para trás. (...)
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Eu acho que literatura não é natural. Se você plantar um pé de café, ele nasce, tudo bem, há um processo natural de interação, da terra, da água, da luz solar, que propicia que aquilo nasça e pronto. Literatura não é, a língua não é natural, como dizia o Leminski, a palavra é suja de história, ela traz ideologia. Se você pensar em um rio e falar, a palavra já vem cheia de sentimentos, que no momento que você está operando, ou você está consciente deles, e é impossível você estar consciente totalmente senão você vira esquizofrênico e rompe com qualquer possibilidade de comunicação, mas você está mais ou menos consciente disso, trabalhando com toda uma carga que é herdada.
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Isso aí é um assunto muito sério [direitos autorais], se é um "negócio" tão ruim [o do livro] como é que tem tantas editoras no mercado? Como é que tem tantas livrarias grandes abrindo por aí (pequenas não, porque as grandes acabaram engolindo) tantos sebos em São Paulo? Esse papo de que é ruim parece que é pra manter o escritor longe do quinhão dele, porque 10% como a parte que cabe ao escritor eu acho um absurdo. Como pode o escritor que é o principal elo dessa cadeia produtiva ficar só com 10%? E o distribuidor que recebe a coisa pronta e só vende, ficar com 50%, 60%? Alguma coisa tá errada...
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Tem uma mitificação muito grande de blog. Eu acho que não tem literatura de blog. (...) Tem escritores, poetas e tal que tem seus blogs, mas literatura de blog eu não vi ainda. Eu não sou um cara que fica o dia inteiro no computador indo de blog em blog, vejo alguns como o do Marião (Bortolotto) que dá algumas dicas do que está acontecendo em teatro, algum livro. (...) Eu acho que na maioria dos blogs a gente percebe uma necessidade da pessoa em se fazer presente, dizer "olha, eu estou aqui" e eu acho isso até legal mas não é isso que vai fazer a pessoa se tornar interessante.
Ademir Assunção, em entrevista à Revista Etcetera.
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Julio Daio Borges
13/4/2005 às 16h38
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